Volto a falar sobre a
pintora russoamericana Margarita Sikorskaia. Os textos e análises semióticas a
seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, Primeiro Amor. Uma candura sonhadora, num mundo idealizado, muito
longe da dureza natural da existência, num momento em que a pessoa deixa a
dureza de lado para sonhar um pouco, e desfrutar de um momento único em sua
vida, como diz a canção de Tim Maia: “Quando a gente ama, não pensa em
dinheiro; só se quer amar”. Quando a pessoa está em harmonia com o Universo ao
seu redor, esta pessoa não liga para talheres de ouro maciço. Aqui, a flor
anjinho desliza pelo ar, com graça, com leveza, num momento em que a pessoa
pega leve, querendo curtir a vida em sua simplicidade, no abismo que existe
entre fazer Sexo e fazer Amor. As nuvens sonhadoras são doces como marshmallow,
e parecem ser feitas de algodão, e é fácil observar como o rapaz está
apaixonado, num momento em que o Amor cura todas as feridas da pessoa, pois os
machucados são inevitáveis num mundo tão duro, tão fechado para momentos
delicados de intimidade e envolvimento, no modo como há pessoas que têm medo de
se envolver, de se entregar, talvez para proteger o próprio coração de
eventuais danos. As nuvens são as cidades lindas metafísicas, num mundo
agradável no qual só há espaço para o Bem, na promessa cristã da Terra
Prometida, o mundo em que a fraternidade reina absoluta. Então, o Amor na Terra
dá uma pequena amostra da vida que nos espera após o Desencarne, numa grande
festa de retorno ao lar, com entes queridos brindando o triunfo de uma pessoa
que cumpriu uma grande missão na Terra, uma tarefa exercida com coragem, graça
e zelo, pois o que é de um jardim sem um zeloso jardineiro? O rapaz está aqui
nu, revelado, disposto, e seu frágil pescoço sustenta uma cabeça sonhadora,
numa fragilidade, fazendo com que o frágil se imponha ao bruto, no
discernimento taoista no qual o frágil é forte; o forte é frágil, num livro que
deu um “nó” na minha cabeça, por assim dizer, mas um nó do Bem, trazendo-me
para o plano em que
Pensamento é tudo; Matéria é nada, numa pergunta simples: O
que é melhor – sem fino ou ser grosseiro? Então, olhamos para o Céu e só vemos
nuvens num infinito azul, e onde está a Terra Prometida? Está além de nossos
olhos feitos de carne. Aqui, o rapaz sopra a flor, espalhando sementes, ou
seja, num ato de fertilidade. O sopro é a Vida, no nenê que sai da barriga da
mãe e, pela primeira vez, respira ar, numa espécie de choque térmico, no trauma
que é sair de uma barriga quentinha para um mundo frio e desafiador, e
esplendoroso, numa grande escola que forma seus alunos, fazendo da Terra um
destino tão buscado por espíritos em busca de aprimoramento moral, pois a
Moralidade é o maior presente que uma pessoa pode ter para dar e receber, no
sentido de que a Moralidade tem que ser exercitada diariamente, e o dia só se
salva se o indivíduo tiver feito algo de apuro moral, como observar que a caixa
registradora não registrou um produto e, mesmo assim, falar isso para a desatenta
operadora de caixa – Papai do Céu está sempre vendo direitinho o que fazemos,
numa metáfora do árbitro de Futebol – não joga, mas fiscaliza. As nuvens
deslizam delicadamente pelo Céu, no sentido de que as coisas, na Vida, passam,
e que tudo o que a pessoa tem a fazer é aprender as lições, na maravilhosa
canção de Alanis Morrisette You Learn:
“Você sangra, você aprende; você grita, você aprende etc.”. Então, o indivíduo
nota a necessidade de aprendizado aprimoramento, deixando de lado as
comodidades e encarando uma existência cheia de percalços, no sentido de que
morremos melhores do que éramos quando nascemos. O cabelo rubro do menino é o
fogo, a Vida, num coração ardente, que encontrou algo de nobre para fazer, ao
contrário de uma pessoa obtusa e fofoqueira, a qual perde tempo cuidando do
fiofó dos outros, com o perdão do termo chulo. O rapaz aqui é o Pequeno
Príncipe em seu reino, no modo como a casa é o mundinho de cada uma, nosso
reino onde tudo é do nosso jeito. As nuvens são a delicadeza de um terno beijo,
ardente, em chamas, porém suave e gentil – como é privilegiada a pessoa que
encontra tal momento, um momento que dura para sempre, mesmo que
cronologicamente delimitado.
Acima, Mito de Oden. No mito, dois confiáveis amigos corvos diziam o que
está ao redor – o de trás, diz do passado; o da frente, o futuro. É no conceito
taoista de que passado e futuro não existem separadamente, ou seja, se quero
ver o futuro, tenho que ver o passado, no modo como as pessoas não mudam;
apenas crescem e amadurecem, ficando mais sábias e virtuosas, no caminho
espiritual de depuração, num espírito que sente a estagnação e que quer se
desenvolver como alma moral. A imagem remete a uma recente propaganda do
Ministério da Saúde, em relação à AIDS, na qual um jovem rapaz se equilibra em
uma corda e, estando com os olhos vendados, desequilibra-se, e entra o texto em
off, dizendo que fechar os olhos não adianta, e que quando mais cedo é o
diagnóstico, melhores serão os resultados de tratamento. Margarita adora usar a
cor branca como vestes em suas pinturas, pois o branco é a cor da Pureza, da
Saúde, dos espíritas, numa página vaga, vazia, que está prestes a ser
preenchida em um aprendizado, pois quando a pessoa tem a vontade de passar a
borracha num erro e repará-lo, é porque uma lição importante foi aprendida, e
não nos dá essa vontade de voltar no tempo e reparar os erros? NADA DE ERRADO EM ERRAR. Aqui, a vara é
o equilíbrio trazido pela mente racional, fazendo com que a bela frieza
matemática aniquile a maliciosa serpente do Éden, como na contundente imagem de
Nossa Senhora esmagando com os pés tal símbolo de malícia, maldade e ódio.
Aqui, é a necessidade de equilíbrio, como numa dieta balanceada, numa pessoa
sabe que qualquer coisa em excesso é prejudicial, como cavalgar: Sentir a
liberdade ao cavalgar por verdes campos é maravilhoso, mas se cavalgo demais,
isso vai acabar me incomodando. Os corvos negros, apesar de querer guiar Oden,
são da cor do imprevisível, no sentido de que o futuro só pode ser parcialmente
previsto, nunca integralmente. É como uma densa cortina, cheia de camadas, e
quanto mais queremos desvendá-la, menos conseguimos enxergar, no sentido de que
há uma Divina Providência, um grande escritório metafísico que decide o que é
melhor para cada um, como fazer com que as pessoas passem umas pelas vidas das
outras, construindo-se assim amizades, vínculos, aqueles amigões que
reconhecemos integralmente no Plano Metafísico, como uma grande amiga minha,
bem mais velha do que eu, que me disse: “Um dia vou te espiar lá do Céu!”. Que
doce! Ao fundo no quadro, vemos gélidas cordilheiras nevadas, na frieza do
Pensamento Racional, nos heroicos esforços de professores empenhados em mostrar
para a gurizada a beleza matemática, numa das maiores provas do intelecto e da
sofisticação humanos. As vestes de Oden são uma extensão das montanhas ao
fundo, como na terrível nevasca que quase aniquilou a Sociedade do Anel, de
Tolkien, com heroicos personagens que têm a “simples” missão de salvar o Mundo.
Os olhos vendados são o imprevisível, pois se eu soubesse o que me espera na
esquina, aquilo que precisa me esperar na esquina, eu não iria, perdendo-se
assim o plano divino de Tao para conosco – a Vida é um mistério, e sabedoria é
saber que não podemos subestimar as lições de Tao, como num surfista que tem a
tarefa de pegar uma gigantesca onda. Será que vou arcar com isso tudo?As dúvidas
e as incertezas são naturais; são humanas, como no cativante personagem Charlie
Brown, um ser que não se sente tão normal, tão confiante. Mais abaixo de Oden,
vemos um vertiginoso abismo, que é a Loucura – fugir do Mundo, da realidade,
tem um preço alto demais, que significa o autoabandono, como numa pessoa na
situação de rua, seduzida pela falta de regras e de disciplina de tal vida
marginal – é necessária a Disciplina. Podemos ouvir aqui o ranger da corda,
tensa, resistente, como num escravo negro sobrevivendo a tal vida árdua.
Podemos ouvir os corvos dando palpites, como um psicoterapeuta dando palavras
de auxílio, mostrando portas.
Acima, Pietà. Aqui, uma divertida releitura pós moderna, na Mãe das Águas
chorando pelo filho que virou almoço em restaurante de frutos do Mar. As
lágrimas se juntam às ondas, e podemos ouvir o delicioso som das ondas
requebrando, como numa canção de ninar, numa mãe zelosa passando Vick Vaporub
no feito do filho doente. Aqui, as vestes da Rainha são as águas, e seus fartos
seios lactantes estão livres, como disse recentemente uma amiga minha
psicóloga: “A mulher tem que ser livre”, tendo a coragem para desafiar as
limitações do Patriarcado, o stablishment
no qual a mulher tem que sempre estar submissa a um homem, como o Papa, por
exemplo. Este Mar é doce, agradável, muito longe do mar brabo e revolto que
tanto encanta surfistas, como num filme que vi, em que um surfista ficara
absolutamente frustrado frente a um mar sem ondas – são exatamente os percalços
o que dá sabor à Vida. Os pés descalços são a familiaridade, a ausência de
formais garbos sociais, muito longe de um baile de gala, no qual a pessoa tem
que se aprumar para integrar tal evento, no modo como a autoestima faz com que
uma pessoa se arrume antes de sair de casa, dando aos outros o exemplo de uma pessoa
que se gosta e arruma-se, louvando o momento de interação social, como um filho
que, antes de se encontrar com a mãe, arruma-se, pois sabe que as mães exigem
isso de um filho, como me disse certa vez uma colega de faculdade: “Sabes como
é mãe – ela repara em tudo”. Aqui, temos a clássica tristeza da Pietà, cuja réplica caxiense vi recém
quando eu estava me conhecendo por gente. O peixe é a Vida, o alimento, a
liberdade de cruzar águas com garbo e beleza, num ser tão lindo como o peixe,
para o qual perguntamos se há Vida fora da água, e o peixe dirá: “Não, pois
fora da água não dá para respirar”, algo que serve como o Ser Humano encara a
possibilidade de Vida Extraterrestre. O peixe é a sedutora tortuosidade, como
uma voluptuosa coluna barroca, que parece que está viva e pulsante, como uma stripper
dançando num mastro, paralisando o público de homens pasmos. O Peixe é a luta
pela Vida, como um rapaz batalhador que conheço, uma pessoa digna, que acorda
todos os dias de manhã e vai à luta, na dignidade produtiva. O Céu atrás nesta
cena traz um pouco de esperança, pois podemos ver um pouco de Céu limpo, de um
respiro por trás de um dia que parece ser tão escuro e triste como o dia em que Jesus Cristo
foi brutalmente executado como criminoso, como lixo, como psicopata, num homem
que acabou dividindo a História em duas. Este
Céu traz um tanto renascentista, no momento em que a Mundo
Antigo passou a fascinar a Europa Ocidental, num momento de forte paradigma
monárquico, num momento em que não se via forma de governo mais legítima, ao
contrário de hoje em dia, em que a Democracia é tal paradigma longevo. Os
rochedos atrás são a dureza natural, numa pessoa que tem que encontrar conforto
ao dormir sobre uma pedra. Os seios desta Virgem são como amas de leite, na
dignidade de uma ama de leite que amamentou um bebezinho que se tornaria faraó,
como no termo “mãe preta”, o qual um senhor que conheci usava para se referir a
uma senhora que ajudou a criar tais filhos de outrem. Aqui, a Virgem tem a pele
bronzeada, muito distante da tradicional pele alva que é usada para retratar a
Virgem Santíssima, e muito longe da imagem da negra Nossa Senhora Aparecida,
dando um recado ao Mundo de como este foi cruel para com a força de trabalho
escravo, no talento humano para a falta de delicadeza. Aqui, a Virgem tem cabelos
brancos, que são a sabedoria, a passagem do tempo, a ponderação ajuizada que os
anos trazem. Aqui, é uma mãe angustiada indo a um centro espírita para poder,
de algum modo, falar com o filho cujo corpo físico pereceu – mas apenas o corpo
físico.
Acima, título não informado
na referência bibliográfica (1). Margarita adora cálidas cenas de enamorados,
talvez uma pessoa romântica, shakespearana. Parece que os enamorados aqui estão
num mundinho só deles, como no micromundo do Pequeno Príncipe, uma esfera em
que o Mundo fica lá fora, só restando, entre quatro paredes, a intimidade, o toque,
o beijo, o cheiro natural. Ele acaricia os cabelos dela – é o zelo, o cuidado,
numa pessoa cuidando da outra, no juramento na Igreja: “Na Saúde e na Doença”.
Ela se agarra no pescoço dele, como se estivesse sendo salva num naufrágio, no
modo como Jack salvou Rose em
Titanic. A cabeça
raspada do homem é a ausência de glamour, a crueza, num homem simples, que
simplesmente não usa xampu ou condicionador – apenas sabonete. Os enamorados
aqui são absolutamente corpulentos, revelando, mais uma vez, o “namoro” de MS
com Botero, numa abundância, como uma mesa farta de café colonial, encantando o
turista com tal generosidade, na cultura de fartura que se originou na árdua
vida espartana do imigrante italiano, nos primórdios da Imigração na Serra
Gaúcha. Aqui, delicadas flores silvestres brotam, como nas flores silvestres de
Primavera, enchendo de cor terrenos baldios, flores que não tiveram que ser
plantadas para nascer, na generosidade que Tao coloca nos campos, nas
florestas, com tanta Vida, tanto alimento. É a força da Vida, fazendo da flor
tal símbolo de Beleza e Força, numa mulher que teve que se fazer forte em um
duro mundo de homens, fazendo com que o cavalheirismo seja tão encantador e
virtuoso, como um homem beijando a mão de uma mulher, no encanto poético entre
Yin e Yang, no eterno flerte que une todos os cantos do Universo, no arquétipo
Rei & Rainha, como diz uma canção de Cher: “O poderoso forte e a poderosa
fraca”. Aqui, a veste discreta em cinza faz continuum cromático com o gramado,
que não é verde. O cinza é a cor do vestígio do dia, com uma lareira tendo que
ser limpa para voltar a arder em chamas, nas demandas corriqueiras do dia,
colocando uma casa em ordem, numa mulher brigando com o marido, dizendo: “Eu me
‘matando’ para manter esta casa limpa e organizada!”. O vermelho é a cor do
romance, da sensualidade, como em lingeries sexys vendidas em sexshops, na cor
da sedução feminina, como na grife Victoria’s Secret, como um amigo certa vez
me descrevendo o interior uterino de um bordel, dizendo: “Cheirando a Sexo!”. É
a glamour do tapete vermelho, aglutinando celebridades que fingem ser deuses,
como uma plateia que finge que acredita em tal inocente “fraude”, como disse
certa vez uma estrela pop: “Você não quer ser uma estrela? Ora, fala sério!”.
As estrelas mundanas nada mais do que são amostra toscas da vida estelar que
nos espera no Plano Metafísico, onde nos sentimos verdadeiros príncipes, com um
Pai para lá de divino, numa imaculada conceição, num plano em que a dúvida
cinzenta é dizimada por abertos céus azuis, como o Sol ardendo em toda a sua
majestade, porém sem ofuscar as vistas, na liberdade de uma pessoa que não tem
mais olhos fotossensíveis. Aqui, os apaixonados murmuram palavras um para o
outro, numa intimidade sendo tecida, no momento mágico que é eu entregar minhas
tristezas nas mãos de outro ser humano, revelando-me como realmente sou, nu,
sem maquiagens, sem pretensões, na metáfora da lua de mel de Evita, que disse
não precisar se maquiar em tal lua de mel. Aqui, os dois entram num liquidificador
e se misturam, numa sensação de lar, como diz uma canção triste de Jennifer
Lopez, machucada pela frieza do companheiro: “Aqui rapaz, comigo, você tinha um
lar”. Quem ama está no topo do Mundo, havendo a ilusão da Cocaína, a droga que
faz com que a pessoa se sinta, falsamente, no topo do Mundo, na piada que é uma
droga tentar ter algo tão maravilhoso como amar – graças a Deus, sempre passei
longe de Maconha e Cocaína, sequer experimentando por curiosidade. Aqui, os
cabelos da mulher são como algas marinhas, molhadas, deslizando, no cheiro de
beiramar, na Mãe dos Oceanos em seu hálito convidativo. É a força da Vida se
revelando em muitos ambientes, na força de uma pessoa que está fazendo algo de
produtivo de seus dias na Terra.
Acima, título não informado
na referência bibliográfica (2). A flor é a força majestosa da Vida, como um
Sol banhando um reino inteiro, como na juba do Rei da África, num sorriso
radiante, sincero, numa pessoa que mostra os dentes de forma sincera e alegre,
na alegria habitual dos gordinhos, pessoas alegres e agradáveis, ao contrário
de uma infeliz anoréxica. O menininho é a inocência, num espírito puro, um
espírito que está encarnado para ter uma proveitosa agenda existencial, como um
aluno se preparando para um ano letivo, como um espírito indisciplinado, que
decidiu encarnar com pais absolutamente rigorosos em relação a Disciplina, no
sentido de que nenhuma encarnação é em vão; nenhuma encarnação é um simples
passeio, numa agenda muito séria de vicissitudes, num remédio amargo que gera
efeitos doces, como uma grande amiga que tenho, uma pessoa que está se dando
conta da seriedade da Vida. O menininho é a candura, numa doce criança que crê em Papai Noel, no modo
como o Espiritismo coloca as crianças como algo lindo, pois as crianças, recém
encarnadas, trazem ainda um doce residual da Dimensão Metafísica, de onde
vieram. O menino nos oferece esse símbolo de Beleza que é uma flor, na
fertilidade implacável da Natureza, no modo como a energia positiva da Beleza
acaba se impondo implacavelmente, destruindo todas as malícias, todas as
maldades, fazendo da Beleza a prova de que uma vida indescritivelmente
majestosa nos espera após o absolutamente inevitável Desencarne – sim, meus
amigos, morreremos, ou como na frase célebre de um chef gaúcho: “Voltaremos!”,
ou seja, voltaremos a um lugar para chamarmos de Lar, fazendo da Terra um
simples lar de passagem, no sentido de que cada pessoa tem que escolher fazer
algo de bom nos seus dias materiais na Terra, como dizia minha querida avó Nelly:
“Sem a poesia, o que faria eu desta tarde brumosa?”. O girassol aqui é a
vontade de viver, numa flor que vai girando junto com o astro rei, desejosa de
calor, de Vida, na vontade de viver de uma pessoa que nota a necessidade da
pessoa ser batalhadora e lutar por sonhos, no modo como a Vida não é apenas
“carpir um lote”. A flor é uma explosão de orgasmo de uma supernova, encantando
astrônomos, nas forças naturais que regem o Cosmos, com inúmeros meteoros
ameaçando cair na Terra e dizimar a Vida, assim como foram dizimados os
dinossauros. O girassol é uma pessoa que encontrou tesão na Vida, no modo como
a Dimensão Metafísica é um paraíso para aqueles que gostam de estudar e
trabalhar, no modo como é delicioso estudar e caprichar nos trabalhos exigidos
pelo professor, nesses seres fantásticos que são os professores pelos quais
passamos, mestres que, além da fria tarefa de lecionar, acabam se tornando
amigos do estudante. Margarita adora colocar em seus quadros pessoas de pés
descalços, simbolizando a Simplicidade, numa pessoa que encontrou
familiaridade, como num psicoterapeuta que simplesmente ama exercer a
profissão, pois sem Amor, qual é a esperança? O menino nos oferece a flor,
talvez querendo nos tocar, no modo como o adulto tem que tomar cuidado para não
ficar empedernido ou brutalizado, no modo como a chegada de um neto dá uma
certa “derretida” nos corações dos avós. O girassol é o ciclo diário, num dia
produtivo, no modo como é complicada a vida de uma pessoa que simplesmente não
produz, pois diz a sabedoria popular: “O Ócio é a oficina do Diabo”. O girassol
é a fonte da Vida, como nas cores mágicas de vitrais dentro de um templo, na
magia de um prisma, nos elegantes lustres de cristal, em salas elegantes,
belas, limpas, agradáveis, com convidados sendo recebidos com tanta elegância,
tanto garbo, pois a feiura e a grosseria não reinam absolutas no Umbral? O
menininho tem um sorriso brando, calmo, sem um radiante sorriso, num momento de
contentamento, como uma criança pobre, que tem que se contentar com simples
brinquedos improvisados, sonhando em morar numa loja de brinquedos, pois tenho
em memória uma frase emblemática em minha infância: “A maior riqueza é se
contentar com pouco”, pois como posso ter Paz se estou o tempo todo querendo?
Acima, Viajantes Noturnos. Aqui, um cenário de desolação, remetendo-me ao
programa televisivo Largados e Pelados,
no qual casais têm que sobreviver nus numa selva, enfrentando todo o tipo de
dificuldade e privação. Aqui, são duas almas jogadas no Umbral, passando frio,
fome e tudo mais de ruim. Um é incapaz de consolar o outro, talvez num
relacionamento disfuncional, em que um está insensível para com o outro, num
Mundo insensível, o qual mal quer saber se a pessoa está feliz ou não, ou seja,
de certo modo, temos que mostrar o dedo do meio para o Mundo, pois como posso
ser feliz se sou refém das expectativas de outrem? Ambos aqui estão em posição
fetal, querendo um lar quente, uma fogueira, uma mesa farta, no modo como
cidades majestosas como Nova York podem ser bem duras e cruéis para com quem é
pobre, no ancestral modo humano de centrar tudo ao redor de Dinheiro, num Ser
Humano que não consegue entender que o dinheiro mundano faz menção a algo
superior, que é a plenitude dos desencarnados. Neste cenário de Margarita,
vemos uma neblina fria e desoladora, e podemos ouvir os sons da selva, como
pássaros ou até lobos, farejando a carne humana, fazendo deste casal um galeto
num espeto, no modo como existe a luta pela Vida, num pai trabalhador, que
trabalha de Sol a Sol para, no fim do dia, trazer leite e pão para as crianças.
Aqui, é um retrato depressivo, numa pessoa que atingiu o fundo de poço
existencial, numa pessoa que se sente devastada, árida, estéril, com pouca
vontade para continuar tocando a Vida em meio a um Mundo tão frio e cruel. A
nudez é a vulnerabilidade, numa pessoa que nada tem – apenas a si mesma. A
nudez é a verdade nua e crua, desagradável, pois diz Tao: “Ninguém gosta da
verdade nua e crua”. A selva aqui é um mundo misterioso, virgem, não
desbravado, não civilizado, e parece que aqui o dia vai morrendo, dando espaço
à desoladora escuridão, como na cruel e maligna toca de Laracna, o monstro
criado por Tolkien, um monstro em forma de aranha, sempre faminto, sempre com
fome, o que faz metáfora com a insaciez permanente do Ser Humano, um ser que
nunca está contentado: Se está no campo, quer ir para a cidade; se está na
cidade, quer ir para o campo. Aqui, o dia morre melancolicamente, como pessoas
que conheço, as quais detestam essa etapa do dia, o momento em que a Vida
parece morrer. É interessante observar a forma frequente com que MS retrata homens
de cabelo raspado, em contraste a mulheres cabeludas, talvez querendo fazer um
contraste entre Yin e Yang. O cabelo raspado é árido e inóspito como esta
selva, e aqui as esperanças parecem morrer, jogando este casal vulnerável à
própria sorte, num momento em que o fundo do poço é atingido e a esperança
morre, mas tudo isso é uma ilusão, pois Tao sempre vence sobre as vicissitudes,
pois qual seria o sentido de tudo se não houvesse esperança e superação? Qual
seria o sentido de tudo se não fosse a Eternidade? Qual seria o sentido da
finitude? Aqui, cada um abraça a si mesmo, e não parece haver consolação mútua,
com duas pessoas que não se deram conta de que uma pode consolar a outra. Aqui,
o romantismo cai por terra, e nenhum dos dois parece notar que não está de fato
sozinho. Aqui, a selva é espinhenta, como um ouriço, como uma cerca elétrica,
rechaçando invasores, ou como uma pessoa arisca e arredia, nunca relaxando para
aceitar a interação com outrem. Aqui, é como se fosse um útero maligno, ou uma
Disneylândia maligna, num momento em que é perdida a metáfora com o útero
imaculado de Nossa Senhora, um mito que foi criado para que o Ser Humano
entenda que todos os luxos e glórias mundanas giram em torno do Metafísico,
pois este é o lugar onde são concretizadas as boas intenção democráticas de
igualdade, derrubando, por exemplo, o Racismo, o qual é absurdo como afirmar
que dálmata não é cachorro. Aqui, ouço as palavras de uma enfermeira: “Depois
da noite mais escura vem o dia mais belo”.
Referência bibliográfica:
Margarita Sikorskaia ART. Disponível em: <www.facebook.com>. Acesso em: 1
jul. 2020.
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