A russa Margarita Sikorskaia
nasceu em 1968 em São
Petesburgo, onde estudou Arte, estudando o mesmo depois nos
EUA, onde se encontra radicada. Há quem diga que a artista tem como mentores Botero
e Botticelli. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus.
Boa leitura!
Acima, Casulo. O casulo é o retiro, o aconchego do lar, numa sensação de
segurança, de certeza, como no famoso espírito Patrícia, o qual disse se sentir
muito bem protegido na Dimensão Metafísica, onde acordou em uma cama com
lençóis suavemente perfumados, numa cama arrumada com muito Amor e Carinho.
Aqui, mãe e filho formam um continuum, na arquetípica imagem do binômio
mãe filho, como a Madona com a criança. O menininho parece estar se
amamentando, e a mãe repousa profundamente, numa sensação de familiaridade e
pertencimento. Vemos uma majestosa aurora, na mítica Estrela Dalva, uma amostra
da beleza inabalável de um lar lindo, muito lindo, um lugar onde nada se perde,
no qual nos sentimos como grandes estrelas, com toda a Eternidade pela frente,
pois qual seria o sentido de tudo se um dia simplesmente acabássemos? Tao, o
pertinente, o lógico. A aurora é como um grande tesouro, num momento em que
tudo parece ser de ouro, como na coroa inglesa, tão preciosa que jamais pode
ser tirada do cofre, fazendo com que a monarca desfile com uma imitação menos
valiosa, na ironia de Chanel, a qual libertou as mulheres do uso de joias,
usando lindas e exuberantes bijuterias, pois, na inteligência de Coco, o que
importa é o efeito, numa estilista que simplesmente rejeitou as ambições
mundanas, seguindo Tao, o revolucionário, pois o Mundo precisa (muito) de transgressores.
Aqui, a nudez é inocente, como Adão e Eva antes da infame maçã do pecado, pois
a nudez é obra de Tao, e como este pode sentir vergonha do que ele mesmo fez?
Aqui, é como a personagem mutante Ripley, da franquia Alien, mergulhando num covil de extraterrestres, sentindo-se
absolutamente confortável e familiarizada, como em divertidas vésperas de Natal
com toda a família reunida, naquela gritaria onde todo mundo se entende, como
disse uma prima para minha mãe: “Eu achava a casa de vocês cheia de Vida, de
graça, com aquelas irmãs emprestando as coisas umas para as outras”. É como um
parente meu, que está prestes a ser pai, e recebeu, de sua prima, todo o
enxoval dos nenês desta. A aurora é uma amostra da majestade de Tao, como Zeus,
o rei dos deuses, no modo como as hierarquias são inevitáveis, pois estas
trazem organização, lógica e funcionalidade, só que a hierarquia espiritual é
imposta suavemente, gentilmente, pois um espírito auxiliador só pode nos
mostrar as portas – se vamos cruzá-las, é nossa escolha própria, na Lei do
Livre Arbítrio. É como uma fina e gentil anfitriã numa sala elegante, com
coloridos cristais. Desse modo, a hierarquia não é impositiva, apesar de
irresistível. Aqui, é como o Marte dormente de Botticelli, em transe profundo,
absolutamente entregue, alheio a tudo e todos ao seu redor, no gostoso
pecadinho da Preguiça, curtindo umas horinhas a mais na cama, pois a Preguiça é
irmã do Minimalismo, da Limpeza, no famoso termo “menos é mais”, e não foi da
Preguiça que grandes invenções vieram ao Mundo, como a roda, o elevador ou o
telefone (e depois a Internet)? Aqui, o azul do manto é o Mar, a grande mãe
primordial, indagando-nos se há Vida fora da Terra, num Universo tão
enigmático, que tão pouco revela de si. É como contemplar as estrelas numa
noite de céu limpo. Aqui, ouvimos uma gentil brisa fazendo o capim farfalhar,
num quarto tão silencioso, como meu quarto em Capão da Canoa, quando durmo de
janela aberta para o som das ondas embalar meu sono, no modo como o Mar
respira, indo e vindo, embalando-nos em seu líquido amniótico delicioso. Aqui,
é uma terra bela, pois o capim não é alto nem espinhento, como se um zeloso
jardineiro tivesse feito seu trabalho com dedicação, como numa pessoa que tem
algo a fazer, ocupando-se, e não é insuportável ser desocupado? A mãe é a casa,
o lar com camas feitas e quartos arejados, nas inúmeras manhãs nas quais minha
mãe fez sua própria cama, a de minha irmã e a minha, num gesto de dedicação e
carinho – hoje, eu mesmo faço minha cama!
Acima, Cavalos. Os cavalos aqui são coadjuvantes, num ator que teve que se
contentar com uma pontinha num filme, na questão em que a qualidade se sobrepõe
à quantidade, como na fábula da mulher pobre, que doou moedas que para ela eram
valiosas, ao contrário do rico, que ostentava ricas esmolas, as quais era meros
restos para tal homem rico. O cavalo é a majestosa liberdade, como num Superman
voando ao próprio prazer, nos sonhos da Humanidade em voar antes da invenção do
avião. Neste quadro, temos um casal gordinho, remetendo inevitavelmente a Botero,
obras do qual já analisei. O cavalo no pasto é a abundância nutritiva, numa
mesa farta onde nada falta, como num belo café da manhã de hotel. A cena ao ar
livre é a liberdade, a saúde, num reino de encantos naturais, no modo como a
Amazônia faz “inveja” aos países que observam o Brasil. O casal aqui se beija
apaixonadamente, no auge do relacionamento, num casal que soube conservar o
calor da relação em meio a décadas de relacionamento, no modo como é preciso
ter paciência para um casamento ser longevo, pois todos temos carências e
defeitos, como uma mulher não fumante que aguenta um marido fumante. O casal é
a intimidade, o aconchego de um lar sem frescuras nem formalidades, num lugar
onde a confortável pantufa substitui o duro e apertado sapato social. O casal
são os opostos se unindo, na ação sexy de unificar o Universo, fazendo metáfora
com a sexy Internet, a rede que interliga tudo a todos, fazendo com que nos
sintamos nus e impotentes quando a Internet em nossas casas cai
temporariamente. Então, o deus Eros unifica o Cosmos, fazendo com que as
inúmeras galáxias sejam como numa vizinhança, um lugar silencioso no qual há
tanta Paz, onde ninguém enche o saco de ninguém, pois só há força na Paz – as
Guerras são raivosas interrupções, sujeiras, inutilidades, no talento humano em
colocar o poder no centro de tudo, como num presidente infeliz ao ponto de se
matar, indo para o Vale dos Suicidas, muito além de seu glamoroso e poderoso
gabinete, na escuridão e na sujeira do Umbral, o lugar onde a pessoa esquece
que é um filho belo e estelar de Tao, o delegador de dons inatos, como cantar,
por exemplo, pois quando Fulaninho não sabe cantar, não tem Cristo que possa
interceder... Abaixo na cena, a criancinha, que é a inocência infantil, num
pequenino ser que puxa a saia da mãe para obter a atenção dela, pois a criança
não faz ideia do que é namorar ou casar, ou beijar, ou transar. A criança quer
logo ir embora dali, encontrar com seus brinquedos e seu computador. O vestido
da mulher e o verde do pasto formam um continuum, e tudo fica fértil e
abundante. Já, o homem tem trajes que remetem ao Céu, num mito de Cosmogonia em que Terra e Céu fazem
amor e originam tudo o que existe, na junção de contradição dialética entre
Razão e Loucura, como numa gueixa, que simboliza valores femininos como Beleza,
Graça, Delicadeza e Perfume, longe do competitivo mundo dos homens, no modo
como cada pessoa tem dentro de si Yin e Yang, ou seja, não é de serventia
projetar meu Yang em
outrem. Todos aqui estão de pés descalços, à vontade, numa
casa em que o anfitrião recebe tão bem, deixando de lado as formalidades, como
num casamento à beiramar que fui em Salvador, no qual os convidados eram
convidados a tirar seus sapatos e calçar chinelos! O homem aqui envolve completamente
a mulher, protegendo-a, representando-a frente ao Mundo, neste duro mundo de
homens. É o invólucro, a proteção, e garantia de que há segurança dentro de tal
lar, como disse a mãe Gisele Bündchen: “Prover um ambiente seguro para que as
crianças sejam a luz que elas são”. Aqui, é uma cena rural, e podemos ouvir
aquele silêncio arrebatador das zonas rurais, temperado pelo canto dos
pássaros, como um quero-quero cruzando as terras gaúchas, no som da noite de
lua cheia, na qual o Negrinho do Pastoreio cavalga livre e destemido.
Acima, Escuta. Este casal me remete a um casal de amigos meus, os quais se
casaram, ambos de branco, na Igreja, algo inusitado para o traje tradicional de
um noivo. Aqui, temos extrema candura, muito Amor, num bebê que está sendo
carinhosamente colocado no Mundo. O casal é um tanto andrógino, pois não há
extrema diferença de gênero aqui, assim como o casal andrógino Neo e Trinity de
Matrix. O branco é a candura, a
limpeza de um lar regido com carinho por uma mãe que quer proteger ao máximo os
próprios filhos. O branco é a bandeira da Paz, e aqui, neste quadro, temos
muita Paz, diferente dos momentos de dor num parto, como na divertida cena
inicial do clássico dos anos 80 Cuidado
com as Gêmeas, com duas mães: uma, experiente e fazendo do parto algo muito
natural; a outra, mãe pela primeira vez, vendo o parto como algo deplorável e
até nojento. O homem acaricia a barriga, a qual, pelo tamanho, não demorará
muito a expelir o bebê, como disse uma famosa mãe: “A gravidez e o parto são
grandes piadas de Deus para com as mulheres”, como numa grande amiga minha, a
qual passou por uma profunda depressão pós parto. Aqui, a paisagem é um
ambiente perfeito, como uma grande sala de visitas ao ar livre, fazendo do
capim um macio carpete, num mundo muito além das vicissitudes materiais. As
vestes aqui são confortáveis, limpas, perfumadas. Podemos sentir a doce brisa
que varre a cena, num momento de grande intimidade, no modo como, depois, na
adolescência, os pais mal reconhecem os próprios filhos, os quais mudam com o
passar doa anos, na medida em que a Infância é deixada para trás. O branco é
uma casa limpa, como numa tia minha, que foi uma mãe para lá de zelosa, ao
ponto de esterilizar as roupinhas da filha e guardar cada peça em um saco
plástico, como no apelo mercadológico do sabão Omo, o qual vende o conceito da
mãe perfeita e impecavelmente zelosa, algo que destoa da Realidade, pois as
mães são humanas. O céu aqui é de um doce de morango ou cereja, numa luz de
indescritível beleza, nas fascinantes cores de um prisma, no fascínio que
exercem os objetos brilhantes, dando uma rala amostra do Mundo maravilhoso que
invariavelmente nos esperava após o Desencarne, numa linda festa de volta ao
Lar, cheia de convidados que nos amam incondicionalmente, como numa grande
família, no maravilhoso fato de que os vínculos de família não se desfazem com
o Desencarne, mostrando inúteis os esforços que um sociopata em querer desunir
e destruir uma família. Este quadro nos dá vontade de entrar e gozar dos
privilégios de tal plano perfeito. A grama de carpete é o aconchego do Lar, no
costume que os baianos têm em andar dentro de casa com os pés descalços, como
nos pés nus dos santos, pisando em nuvens fofinhas, numa dimensão de extrema
simplicidade, na qual tudo o que a pessoa tem a fazer é arranjar um trabalho,
na construção de carreira do espírito, visando chegar à grande formatura dos
Arcanjos, os espíritos que correspondem ao que Tao quer para os próprios
filhos, no modo como Tao quer ter orgulho dos filhos. O casal aqui sorri
suavemente, como no plácido sorriso de Nefertiti, num quadro de sutileza e
suavidade, numa Margarita querendo transmitir tal tranquilidade, num Mundo
etéreo, um Mundo que exige, na Terra, a produção de Pensamento, Virtude e
Bondade. Aqui, o casal forma um só ser, como se ambos estivessem grávidos, no
termo para se dizer de um casal que espera uma criança: “Eles estão grávidos”.
O casal é jovem, como toda uma Vida pela frente, e nenhum dos dois dá sinais de
cabelos grisalhos. Ambos estão aprumados, como se estivessem fazendo uma sessão
de fotos. O homem está impecavelmente barbeado – é o garbo, o modo como as regras
da Vida em Sociedade exigem que a pessoa saia de casa devidamente aprumada, na
questão de eu, no meu garbo, querer respeitar tal vida social. Aqui, o silêncio
é profundo, como se não quiséssemos acordar o bebê, num casal que está prestes
a sentir tal peso de responsabilidade. E por que o homem está acima da mulher,
envolvendo-a? Talvez, há uma artista querendo criticar o Machismo.
Acima, Imagem de uma Mãe. Temos aqui um tanto de Botero. A mãe é uma
autêntica mamma italiana, remetendo-me ao nome de um restaurante, o Fat
Mamma’s, ou seja, Gorda Mãe. É o conceito de generosidade, numa pessoa que
gosta de presentear os outros, como meu ex-cunhado, que, antes da véspera de
Natal, tirava o dia no shopping para fazer compras para todos da família,
inclusive eu – a Generosidade é uma virtude, uma característica do espírito, o
qual simplesmente nasce assim. Aqui, o bebê mama com calma e tranquilidade, no
modo como é gostoso mamar numa caixinha de leite condensado, no pecadinho
formidável da Gula – nada de errado em sentir prazer. A mãe está arrumada, com
o cabelo ajeitado, no ato de autoestima de uma mulher em ir semanalmente ao
salão de beleza, cuidando de si para, assim, por consequência, cuidar do Mundo,
pois como pode me pertencer um Mundo o qual não trato bem, o qual não trato com
cidadania, como vândalos que destroem pés pequenos de árvores? Esta mamma é um
confortável sofá, como simplesmente adormecer e meio a tal infinidade de
almofadas, na deliciosa sensação do bebê na barriga da mãe, como na deliciosa sensação
espírita de Liberdade na Experiência Extracorporal, as EECs. Aqui, o bebê é
carequinha, recém nascido, talvez com os olhinhos ainda fechados, só percebendo
o Mundo por outros sentidos. O bebê é a fragilidade, a entrega, no delicioso
ponto de intimidade de um casal, com um se jogando nos braços do outro, como
Jack e Rose em Titanic, um casal que
só tinha a si mesmo em meio a tal horroroso evento de naufrágio. Aqui, a mãe
envolve integralmente o bebê, como em um filme em que uma mãe, cujo filho estava
prestes as ser executado por um crime, disse que, se abraçasse o filho antes
deste ser executado, não conseguiria mais largar o filho, como me disse minha
madrinha: “Quando a mulher se torna mãe, isso muda completamente o modo dessa
mesma mulher de se relacionar com o Mundo”. Aqui, temos um terreno um tanto
árido e inóspito, e o colo da mãe é o único acolhimento aqui, como numa mãe
pinguim, abrigando abaixo de si o filhote, preservando este do frio antártico.
Nesse desolamento, a mãe se encarrega de que o filho não passe qualquer
necessidade, como na mãe em Esqueceram de
Mim, disposta a vender a alma ao Diabo em nome do filho “abandonado”. Aqui,
o Céu combina cromaticamente com as vestes da mãe, nas cores marítimas de
Iemanjá, a mãe generosa que enche as redes dos pescadores, como em um filme de
Fellini, numa matter generosa, uma
mãe gorda que provê o Mundo, como na fartura de um reino que é regido por um
rei competente, que rege sob Tao, ao contrário de um país regido por um
ditador, num país miserável, que pouco dá ao cidadão, no termo taoista de twisted guidance, ou seja, regência
turbulenta, ao contrário da reviravolta positiva na História da Inglaterra que
foi o reinado da primeira Elizabeth, numa pessoa com talento de estadista.
Aqui, temos um reino farto, com um país rico, limpo, farto e organizado como o
Canadá, um lugar que, já ouvi dizer, faz com que a cidade de Nova York
pareça-se com o Terceiro Mundo. Aqui, é a dedicação maternal, talvez numa Margarita
que teve uma boa mãe zelosa, querendo homenagear esta, talvez numa artista que
ela própria é mãe. Os pés descalços trazem a informalidade, como escovar os
dentes na frente da outra pessoa, ou numa mulher que se sente à vontade dentro
de casa sem precisar usar maquiagem, como uma dama que conheço, a qual sai de
casa devidamente maquiada e aprumada. Aqui, a mãe e o filho formam um só ser,
na poderosa imagem da Virgem Maria, um conceito cujo objetivo é fazer com que o
Ser Humano entenda que Metafísico está acima de Físico, numa ironia, com as
colônias espiritual pairando sobre a crosta terrestre. O Ser Humano precisa
entender que somos todos príncipes concebidos imaculadamente, na poderosa sensação
metafísica de pertencimento, de construção de trajetória, de carreira mesmo.
Aqui, o coque é a Disciplina, numa mãe que terá a grande tarefa de incutir, na
cabeça do filho, conceitos nobres.
Acima, Pai. Aqui, o amor materno é substituído pelo paterno, como um rei
abraçando o filho, vislumbrando o futuro reinado, como na cena icônica de
abertura do filme O Rei Leão, numa
inocente criancinha que mal sabe o que a espera. É como uma notícia correndo
por um reino inteiro quando um bebê herdeiro nasce. É na obsessão de Henrique
VIII em colocar no Mundo um herdeiro do sexo masculino, numa dinastia que
acabou morrendo, limitada. O pai aqui tem cabelo raspado – é a masculinidade, a
ausência de glamour, como num fisiculturista que conheci, uma pessoa
simplesmente não deixava o cabelo crescer. O cabelo raspado é a disciplina
espartana, num pai que tem o desafio de criar o filho em meio a valores como
disciplina e bom comportamento. A camisa verde do pai são os campos verdejantes
de seu reino, no modo como a beleza de um reino não está nos palácios, mas ao
ar livre, dando uma amostra da majestade de Tao, o arquiteto dos saudáveis
campos ao ar livre. O bebezinho é absolutamente frágil e indefeso, inspirando
cuidados extremos, no modo como muda a vida de uma pessoa com a paternidade,
como me disse certa vez uma pessoa íntima minha: “Se tu gostas do teu estilo de
Vida, não tenha filhos. Se tu tiveres filhos, tu NUNCA MAIS poderás voltar para
a tua Vida como esta é agora”. Ou seja, é o assoberbador peso da paternidade e
da responsabilidade. O bebezinho é o modo como, no fundo, os pais e mães têm de
seus próprios filhos, por mais que um dia esses filhos virem adultos e deem
netos. Os bebês dormem em seu sono tão quieto e profundo, com os doces sonhos
de infância, numa vida demandosa, com a criança acordando aos berros no meio da
madrugada, sacrificando a noite de sono dos pais – é um sacrifício. É como na
canção pop Papa Don’t Preach, numa
adolescente que engravidou por descuido, pedindo ao próprio pai para que este não
a veja mais como um bebezinho. Aqui, é uma cena noturna, com uma discreta Lua
ao fundo – a Lua é o ciclo menstrual, a força das marés, as forças femininas
que entremeiam o masculino, na dança de sedução entre Yin e Yang. A Lua aqui
traz uma luminosidade branda, prateada. As estrelas salpicam no Céu, como grãos
de sal, convidando o Ser Humano a contemplar as estrelas, na fome humana por
mais e mais Conhecimento, uma cultura que é passada de geração para geração,
fazendo com que herdamos tal curiosidade em relação ao Universo, com espíritos
elevados encarnando na Terra, trazendo todo um instinto, toda uma sabedoria
inconsciente, no modo como talentos e aptidões não são aprendidos – a pessoa
simplesmente nasce assim. A branda Luz projeta uma sombra pelo chão, e temos
aqui um cenário onírico, nos enigmas dos códigos dos sonhos, no modo como a
escola psicológica da Gestalt crê que os sonhos são projeções do self da pessoa
que sonha, e que os sonhos têm a função de dar mensagens existenciais ao
indivíduo. O bebezinho é como a Lua, numa graça, na beleza arrebatadora das
criancinhas, como numa Evita Perón empenhada em construir a Cidade das
Crianças, num lugar onde todos nos tornamos crianças novamente, no modo como o
adulto nunca pode perder parte dessa candura infantil, desse espírito
brincalhão. O pai e o bebê são carecas, como no bordão do programa humorístico
de Chico Anysio: “Meu garoto! Meu papai!”. É como um bondoso senhor que
conheci, uma pessoa que passou pela devastadora experiência de perder o próprio
filho num acidente de carro, numa dor extrema, pois o normal é o filho enterrar
o pai, e não o contrário. Aqui, o semblante do pai é bem plácido, num momento
de “folga”, pois o bebê não está nem com fome, nem chorando. É o zelo
incondicional, como meu pai, o qual levou um grande susto quando minha irmã era
bebê, pois ela quase morreu intoxicada pelo cheiro de tinta fresca. Então, o
senso de responsabilidade é aprendido, como num alcoólatra que, por força de
vontade, está há décadas sem colocar uma gota de álcool na boca.
Acima, Retorno de um Herói. Aqui, uma cálida cena de enamorados, talvez
numa saudade extrema, num marinheiro que estava havia meses sem ver a amada.
Aqui, os enamorados têm completa privacidade. O marinheiro é a obrigação, o
dever, numa pessoa sisuda, que se entrega em total disciplina, como na sisuda
Elizabeth II, na rainha que aprendeu, na marra, a ser humilde em meio à comoção
da morte de Di. A mulher aqui segura o chapéu do marinheiro – é como se ela
estivesse tirando um peso das costas do namorado, no modo como vi em público, em Porto Alegre, o
escritor LF Verissimo, um senhor que parece que carrega o Mundo nas costas.
Podemos ouvir aqui a respiração das ondas do Mar atrás, nas ondulações do Mar
pelo qual navegou o marujo, fazendo com que este pise finalmente em terra
firme, como na icônica foto no fim da II Grande Guerra, com um militar beijando
apaixonadamente a amada, depois de muito tempo de separação por causa da guerra
– matando a saudade. Aqui, também podemos observar a paixão de Margarita por
Botero, com modelos gordinhos – a gordura é a fartura, a abundância de um reino
próspero, no gordo saco de Papai Noel, trazendo fartura de presentes, como numa
figueira, rendendo muitos doces figos, numa amostra da generosidade de Tao, a
figueira que nunca cessa de gerar frutos, num Tao sempre trabalhando, sempre
criando, dando-nos o exemplo de uma vida produtiva – arregace as mangas e faça
algo! Aqui, as respirações dos dois formam uma só, e a brisa é doce, cálida,
com dois amantes que atingiram um pico maravilhoso de intimidade, na diferença
clara entre fazer Sexo e fazer Amor. Porém, o céu aqui é cinzento, incerto,
numa tarde chuvosa e fria de Inverno, nas incertezas cinzentas da batalha entre
Bem e Mal, num dia que nem faz bem, nem faz mal, desafiando a Fé, fazendo com
que nos questionemos se há de fato a Dimensão Metafísica, o plano onde Tao
revela seu maravilhoso plano divino para conosco. Talvez podemos ouvir aqui uma
trovoada, e os amantes não têm muito tempo a sós, pois talvez o marujo esteja
prestes a embarcar novamente, penando por mais meses sem ver a amada, como uma
prima minha, que se casou com um piloto de avião, e ela brinca, dizendo: “Casei
com a mala”, pois o marido fica sempre de cá para lá, cruzando os céus do
Mundo. Aqui, os enamorados não têm muito tempo, e as trovoadas anunciam a
triste chuva, como na canção: “Está chegando a hora. O dia já vem raiando, meu
bem. Eu tenho que ir embora”. Os pés descalços são a naturalidade, com duas
pessoas que se conhecem profundamente, numa completa falta de formalidade. O
marujo parece um vampiro, sugando o pescoço da moça, no modo como um psicopata
vampiresco e manipulador pode ser sedutor, convidando-nos a uma vida sem
sentido ou propósito, fazendo de nós um simples provedor de sangue. As pedras
na orla são a dureza da Vida, no termo “colocar os pés no chão”, talvez num
relacionamento sem futuro, com duas pessoas que vão caminhando para sentidos
diferentes uma da outra, no modo como o que importa é a qualidade do tempo, e
nunca a quantidade. O homem pega a mulher pela cintura, talvez numa valsa ou
outra dança de salão, num casal que só tem olhos um para o outro, no modo como
é gigantescamente privilegiada a pessoa que passou pela experiência de se
entregar existencialmente nos braços de outra pessoa, numa relação de confiança
de Amor num modo amplo, numa pessoa que continuará sendo nossa amiga no Plano
Metafísico, ou seja, para sempre. O vestido da mulher é escuro e plúmbeo, como
no céu atrás, numa cor discreta, como na cidade cinzenta e úmida de São Paulo,
um lugar tão diferente da Mar, do Céu e dos majestosos rochedos cariocas. A
fita do chapéu do marinheiro são os laços afetivos, os laços divinos que unem
pessoas em amor fraternal, laços que jamais são perdidos, pois sempre serei
neto de meus avós, antes ou depois de meu inevitável óbito. A frágil fita
tremula no vento, como uma bandeira, tremulando forte em sua leveza, no modo
como nada de errando há em ser patriota, pois assim exercitamos o Amor e a
Beleza da dimensão acima, a grande e suprema pátria de toda e qualquer pessoa.
Aqui, o marinheiro pode ter um amor em cada porto.
Referências bibliográficas:
Margarita Sikorskaia. Disponível em: <www.jornalggn.com.br/cultura/artes-graficas/margarita-sikorskaia/>.
Acesso em: 1 jul. 2020.
MORAES, Dado. A Arte de Margarita Sikorskaia. Disponível
em: <www. dadomoraes1950.blogspot.com>. Acesso em: 1 jul. 2020.
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