quarta-feira, 8 de julho de 2020

Amargura de Lado



A russa Margarita Sikorskaia nasceu em 1968 em São Petesburgo, onde estudou Arte, estudando o mesmo depois nos EUA, onde se encontra radicada. Há quem diga que a artista tem como mentores Botero e Botticelli. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Casulo. O casulo é o retiro, o aconchego do lar, numa sensação de segurança, de certeza, como no famoso espírito Patrícia, o qual disse se sentir muito bem protegido na Dimensão Metafísica, onde acordou em uma cama com lençóis suavemente perfumados, numa cama arrumada com muito Amor e Carinho. Aqui, mãe e filho formam um continuum, na arquetípica imagem do binômio mãe filho, como a Madona com a criança. O menininho parece estar se amamentando, e a mãe repousa profundamente, numa sensação de familiaridade e pertencimento. Vemos uma majestosa aurora, na mítica Estrela Dalva, uma amostra da beleza inabalável de um lar lindo, muito lindo, um lugar onde nada se perde, no qual nos sentimos como grandes estrelas, com toda a Eternidade pela frente, pois qual seria o sentido de tudo se um dia simplesmente acabássemos? Tao, o pertinente, o lógico. A aurora é como um grande tesouro, num momento em que tudo parece ser de ouro, como na coroa inglesa, tão preciosa que jamais pode ser tirada do cofre, fazendo com que a monarca desfile com uma imitação menos valiosa, na ironia de Chanel, a qual libertou as mulheres do uso de joias, usando lindas e exuberantes bijuterias, pois, na inteligência de Coco, o que importa é o efeito, numa estilista que simplesmente rejeitou as ambições mundanas, seguindo Tao, o revolucionário, pois o Mundo precisa (muito) de transgressores. Aqui, a nudez é inocente, como Adão e Eva antes da infame maçã do pecado, pois a nudez é obra de Tao, e como este pode sentir vergonha do que ele mesmo fez? Aqui, é como a personagem mutante Ripley, da franquia Alien, mergulhando num covil de extraterrestres, sentindo-se absolutamente confortável e familiarizada, como em divertidas vésperas de Natal com toda a família reunida, naquela gritaria onde todo mundo se entende, como disse uma prima para minha mãe: “Eu achava a casa de vocês cheia de Vida, de graça, com aquelas irmãs emprestando as coisas umas para as outras”. É como um parente meu, que está prestes a ser pai, e recebeu, de sua prima, todo o enxoval dos nenês desta. A aurora é uma amostra da majestade de Tao, como Zeus, o rei dos deuses, no modo como as hierarquias são inevitáveis, pois estas trazem organização, lógica e funcionalidade, só que a hierarquia espiritual é imposta suavemente, gentilmente, pois um espírito auxiliador só pode nos mostrar as portas – se vamos cruzá-las, é nossa escolha própria, na Lei do Livre Arbítrio. É como uma fina e gentil anfitriã numa sala elegante, com coloridos cristais. Desse modo, a hierarquia não é impositiva, apesar de irresistível. Aqui, é como o Marte dormente de Botticelli, em transe profundo, absolutamente entregue, alheio a tudo e todos ao seu redor, no gostoso pecadinho da Preguiça, curtindo umas horinhas a mais na cama, pois a Preguiça é irmã do Minimalismo, da Limpeza, no famoso termo “menos é mais”, e não foi da Preguiça que grandes invenções vieram ao Mundo, como a roda, o elevador ou o telefone (e depois a Internet)? Aqui, o azul do manto é o Mar, a grande mãe primordial, indagando-nos se há Vida fora da Terra, num Universo tão enigmático, que tão pouco revela de si. É como contemplar as estrelas numa noite de céu limpo. Aqui, ouvimos uma gentil brisa fazendo o capim farfalhar, num quarto tão silencioso, como meu quarto em Capão da Canoa, quando durmo de janela aberta para o som das ondas embalar meu sono, no modo como o Mar respira, indo e vindo, embalando-nos em seu líquido amniótico delicioso. Aqui, é uma terra bela, pois o capim não é alto nem espinhento, como se um zeloso jardineiro tivesse feito seu trabalho com dedicação, como numa pessoa que tem algo a fazer, ocupando-se, e não é insuportável ser desocupado? A mãe é a casa, o lar com camas feitas e quartos arejados, nas inúmeras manhãs nas quais minha mãe fez sua própria cama, a de minha irmã e a minha, num gesto de dedicação e carinho – hoje, eu mesmo faço minha cama!


Acima, Cavalos. Os cavalos aqui são coadjuvantes, num ator que teve que se contentar com uma pontinha num filme, na questão em que a qualidade se sobrepõe à quantidade, como na fábula da mulher pobre, que doou moedas que para ela eram valiosas, ao contrário do rico, que ostentava ricas esmolas, as quais era meros restos para tal homem rico. O cavalo é a majestosa liberdade, como num Superman voando ao próprio prazer, nos sonhos da Humanidade em voar antes da invenção do avião. Neste quadro, temos um casal gordinho, remetendo inevitavelmente a Botero, obras do qual já analisei. O cavalo no pasto é a abundância nutritiva, numa mesa farta onde nada falta, como num belo café da manhã de hotel. A cena ao ar livre é a liberdade, a saúde, num reino de encantos naturais, no modo como a Amazônia faz “inveja” aos países que observam o Brasil. O casal aqui se beija apaixonadamente, no auge do relacionamento, num casal que soube conservar o calor da relação em meio a décadas de relacionamento, no modo como é preciso ter paciência para um casamento ser longevo, pois todos temos carências e defeitos, como uma mulher não fumante que aguenta um marido fumante. O casal é a intimidade, o aconchego de um lar sem frescuras nem formalidades, num lugar onde a confortável pantufa substitui o duro e apertado sapato social. O casal são os opostos se unindo, na ação sexy de unificar o Universo, fazendo metáfora com a sexy Internet, a rede que interliga tudo a todos, fazendo com que nos sintamos nus e impotentes quando a Internet em nossas casas cai temporariamente. Então, o deus Eros unifica o Cosmos, fazendo com que as inúmeras galáxias sejam como numa vizinhança, um lugar silencioso no qual há tanta Paz, onde ninguém enche o saco de ninguém, pois só há força na Paz – as Guerras são raivosas interrupções, sujeiras, inutilidades, no talento humano em colocar o poder no centro de tudo, como num presidente infeliz ao ponto de se matar, indo para o Vale dos Suicidas, muito além de seu glamoroso e poderoso gabinete, na escuridão e na sujeira do Umbral, o lugar onde a pessoa esquece que é um filho belo e estelar de Tao, o delegador de dons inatos, como cantar, por exemplo, pois quando Fulaninho não sabe cantar, não tem Cristo que possa interceder... Abaixo na cena, a criancinha, que é a inocência infantil, num pequenino ser que puxa a saia da mãe para obter a atenção dela, pois a criança não faz ideia do que é namorar ou casar, ou beijar, ou transar. A criança quer logo ir embora dali, encontrar com seus brinquedos e seu computador. O vestido da mulher e o verde do pasto formam um continuum, e tudo fica fértil e abundante. Já, o homem tem trajes que remetem ao Céu, num mito de Cosmogonia em que Terra e Céu fazem amor e originam tudo o que existe, na junção de contradição dialética entre Razão e Loucura, como numa gueixa, que simboliza valores femininos como Beleza, Graça, Delicadeza e Perfume, longe do competitivo mundo dos homens, no modo como cada pessoa tem dentro de si Yin e Yang, ou seja, não é de serventia projetar meu Yang em outrem. Todos aqui estão de pés descalços, à vontade, numa casa em que o anfitrião recebe tão bem, deixando de lado as formalidades, como num casamento à beiramar que fui em Salvador, no qual os convidados eram convidados a tirar seus sapatos e calçar chinelos! O homem aqui envolve completamente a mulher, protegendo-a, representando-a frente ao Mundo, neste duro mundo de homens. É o invólucro, a proteção, e garantia de que há segurança dentro de tal lar, como disse a mãe Gisele Bündchen: “Prover um ambiente seguro para que as crianças sejam a luz que elas são”. Aqui, é uma cena rural, e podemos ouvir aquele silêncio arrebatador das zonas rurais, temperado pelo canto dos pássaros, como um quero-quero cruzando as terras gaúchas, no som da noite de lua cheia, na qual o Negrinho do Pastoreio cavalga livre e destemido.


Acima, Escuta. Este casal me remete a um casal de amigos meus, os quais se casaram, ambos de branco, na Igreja, algo inusitado para o traje tradicional de um noivo. Aqui, temos extrema candura, muito Amor, num bebê que está sendo carinhosamente colocado no Mundo. O casal é um tanto andrógino, pois não há extrema diferença de gênero aqui, assim como o casal andrógino Neo e Trinity de Matrix. O branco é a candura, a limpeza de um lar regido com carinho por uma mãe que quer proteger ao máximo os próprios filhos. O branco é a bandeira da Paz, e aqui, neste quadro, temos muita Paz, diferente dos momentos de dor num parto, como na divertida cena inicial do clássico dos anos 80 Cuidado com as Gêmeas, com duas mães: uma, experiente e fazendo do parto algo muito natural; a outra, mãe pela primeira vez, vendo o parto como algo deplorável e até nojento. O homem acaricia a barriga, a qual, pelo tamanho, não demorará muito a expelir o bebê, como disse uma famosa mãe: “A gravidez e o parto são grandes piadas de Deus para com as mulheres”, como numa grande amiga minha, a qual passou por uma profunda depressão pós parto. Aqui, a paisagem é um ambiente perfeito, como uma grande sala de visitas ao ar livre, fazendo do capim um macio carpete, num mundo muito além das vicissitudes materiais. As vestes aqui são confortáveis, limpas, perfumadas. Podemos sentir a doce brisa que varre a cena, num momento de grande intimidade, no modo como, depois, na adolescência, os pais mal reconhecem os próprios filhos, os quais mudam com o passar doa anos, na medida em que a Infância é deixada para trás. O branco é uma casa limpa, como numa tia minha, que foi uma mãe para lá de zelosa, ao ponto de esterilizar as roupinhas da filha e guardar cada peça em um saco plástico, como no apelo mercadológico do sabão Omo, o qual vende o conceito da mãe perfeita e impecavelmente zelosa, algo que destoa da Realidade, pois as mães são humanas. O céu aqui é de um doce de morango ou cereja, numa luz de indescritível beleza, nas fascinantes cores de um prisma, no fascínio que exercem os objetos brilhantes, dando uma rala amostra do Mundo maravilhoso que invariavelmente nos esperava após o Desencarne, numa linda festa de volta ao Lar, cheia de convidados que nos amam incondicionalmente, como numa grande família, no maravilhoso fato de que os vínculos de família não se desfazem com o Desencarne, mostrando inúteis os esforços que um sociopata em querer desunir e destruir uma família. Este quadro nos dá vontade de entrar e gozar dos privilégios de tal plano perfeito. A grama de carpete é o aconchego do Lar, no costume que os baianos têm em andar dentro de casa com os pés descalços, como nos pés nus dos santos, pisando em nuvens fofinhas, numa dimensão de extrema simplicidade, na qual tudo o que a pessoa tem a fazer é arranjar um trabalho, na construção de carreira do espírito, visando chegar à grande formatura dos Arcanjos, os espíritos que correspondem ao que Tao quer para os próprios filhos, no modo como Tao quer ter orgulho dos filhos. O casal aqui sorri suavemente, como no plácido sorriso de Nefertiti, num quadro de sutileza e suavidade, numa Margarita querendo transmitir tal tranquilidade, num Mundo etéreo, um Mundo que exige, na Terra, a produção de Pensamento, Virtude e Bondade. Aqui, o casal forma um só ser, como se ambos estivessem grávidos, no termo para se dizer de um casal que espera uma criança: “Eles estão grávidos”. O casal é jovem, como toda uma Vida pela frente, e nenhum dos dois dá sinais de cabelos grisalhos. Ambos estão aprumados, como se estivessem fazendo uma sessão de fotos. O homem está impecavelmente barbeado – é o garbo, o modo como as regras da Vida em Sociedade exigem que a pessoa saia de casa devidamente aprumada, na questão de eu, no meu garbo, querer respeitar tal vida social. Aqui, o silêncio é profundo, como se não quiséssemos acordar o bebê, num casal que está prestes a sentir tal peso de responsabilidade. E por que o homem está acima da mulher, envolvendo-a? Talvez, há uma artista querendo criticar o Machismo.


Acima, Imagem de uma Mãe. Temos aqui um tanto de Botero. A mãe é uma autêntica mamma italiana, remetendo-me ao nome de um restaurante, o Fat Mamma’s, ou seja, Gorda Mãe. É o conceito de generosidade, numa pessoa que gosta de presentear os outros, como meu ex-cunhado, que, antes da véspera de Natal, tirava o dia no shopping para fazer compras para todos da família, inclusive eu – a Generosidade é uma virtude, uma característica do espírito, o qual simplesmente nasce assim. Aqui, o bebê mama com calma e tranquilidade, no modo como é gostoso mamar numa caixinha de leite condensado, no pecadinho formidável da Gula – nada de errado em sentir prazer. A mãe está arrumada, com o cabelo ajeitado, no ato de autoestima de uma mulher em ir semanalmente ao salão de beleza, cuidando de si para, assim, por consequência, cuidar do Mundo, pois como pode me pertencer um Mundo o qual não trato bem, o qual não trato com cidadania, como vândalos que destroem pés pequenos de árvores? Esta mamma é um confortável sofá, como simplesmente adormecer e meio a tal infinidade de almofadas, na deliciosa sensação do bebê na barriga da mãe, como na deliciosa sensação espírita de Liberdade na Experiência Extracorporal, as EECs. Aqui, o bebê é carequinha, recém nascido, talvez com os olhinhos ainda fechados, só percebendo o Mundo por outros sentidos. O bebê é a fragilidade, a entrega, no delicioso ponto de intimidade de um casal, com um se jogando nos braços do outro, como Jack e Rose em Titanic, um casal que só tinha a si mesmo em meio a tal horroroso evento de naufrágio. Aqui, a mãe envolve integralmente o bebê, como em um filme em que uma mãe, cujo filho estava prestes as ser executado por um crime, disse que, se abraçasse o filho antes deste ser executado, não conseguiria mais largar o filho, como me disse minha madrinha: “Quando a mulher se torna mãe, isso muda completamente o modo dessa mesma mulher de se relacionar com o Mundo”. Aqui, temos um terreno um tanto árido e inóspito, e o colo da mãe é o único acolhimento aqui, como numa mãe pinguim, abrigando abaixo de si o filhote, preservando este do frio antártico. Nesse desolamento, a mãe se encarrega de que o filho não passe qualquer necessidade, como na mãe em Esqueceram de Mim, disposta a vender a alma ao Diabo em nome do filho “abandonado”. Aqui, o Céu combina cromaticamente com as vestes da mãe, nas cores marítimas de Iemanjá, a mãe generosa que enche as redes dos pescadores, como em um filme de Fellini, numa matter generosa, uma mãe gorda que provê o Mundo, como na fartura de um reino que é regido por um rei competente, que rege sob Tao, ao contrário de um país regido por um ditador, num país miserável, que pouco dá ao cidadão, no termo taoista de twisted guidance, ou seja, regência turbulenta, ao contrário da reviravolta positiva na História da Inglaterra que foi o reinado da primeira Elizabeth, numa pessoa com talento de estadista. Aqui, temos um reino farto, com um país rico, limpo, farto e organizado como o Canadá, um lugar que, já ouvi dizer, faz com que a cidade de Nova York pareça-se com o Terceiro Mundo. Aqui, é a dedicação maternal, talvez numa Margarita que teve uma boa mãe zelosa, querendo homenagear esta, talvez numa artista que ela própria é mãe. Os pés descalços trazem a informalidade, como escovar os dentes na frente da outra pessoa, ou numa mulher que se sente à vontade dentro de casa sem precisar usar maquiagem, como uma dama que conheço, a qual sai de casa devidamente maquiada e aprumada. Aqui, a mãe e o filho formam um só ser, na poderosa imagem da Virgem Maria, um conceito cujo objetivo é fazer com que o Ser Humano entenda que Metafísico está acima de Físico, numa ironia, com as colônias espiritual pairando sobre a crosta terrestre. O Ser Humano precisa entender que somos todos príncipes concebidos imaculadamente, na poderosa sensação metafísica de pertencimento, de construção de trajetória, de carreira mesmo. Aqui, o coque é a Disciplina, numa mãe que terá a grande tarefa de incutir, na cabeça do filho, conceitos nobres.


Acima, Pai. Aqui, o amor materno é substituído pelo paterno, como um rei abraçando o filho, vislumbrando o futuro reinado, como na cena icônica de abertura do filme O Rei Leão, numa inocente criancinha que mal sabe o que a espera. É como uma notícia correndo por um reino inteiro quando um bebê herdeiro nasce. É na obsessão de Henrique VIII em colocar no Mundo um herdeiro do sexo masculino, numa dinastia que acabou morrendo, limitada. O pai aqui tem cabelo raspado – é a masculinidade, a ausência de glamour, como num fisiculturista que conheci, uma pessoa simplesmente não deixava o cabelo crescer. O cabelo raspado é a disciplina espartana, num pai que tem o desafio de criar o filho em meio a valores como disciplina e bom comportamento. A camisa verde do pai são os campos verdejantes de seu reino, no modo como a beleza de um reino não está nos palácios, mas ao ar livre, dando uma amostra da majestade de Tao, o arquiteto dos saudáveis campos ao ar livre. O bebezinho é absolutamente frágil e indefeso, inspirando cuidados extremos, no modo como muda a vida de uma pessoa com a paternidade, como me disse certa vez uma pessoa íntima minha: “Se tu gostas do teu estilo de Vida, não tenha filhos. Se tu tiveres filhos, tu NUNCA MAIS poderás voltar para a tua Vida como esta é agora”. Ou seja, é o assoberbador peso da paternidade e da responsabilidade. O bebezinho é o modo como, no fundo, os pais e mães têm de seus próprios filhos, por mais que um dia esses filhos virem adultos e deem netos. Os bebês dormem em seu sono tão quieto e profundo, com os doces sonhos de infância, numa vida demandosa, com a criança acordando aos berros no meio da madrugada, sacrificando a noite de sono dos pais – é um sacrifício. É como na canção pop Papa Don’t Preach, numa adolescente que engravidou por descuido, pedindo ao próprio pai para que este não a veja mais como um bebezinho. Aqui, é uma cena noturna, com uma discreta Lua ao fundo – a Lua é o ciclo menstrual, a força das marés, as forças femininas que entremeiam o masculino, na dança de sedução entre Yin e Yang. A Lua aqui traz uma luminosidade branda, prateada. As estrelas salpicam no Céu, como grãos de sal, convidando o Ser Humano a contemplar as estrelas, na fome humana por mais e mais Conhecimento, uma cultura que é passada de geração para geração, fazendo com que herdamos tal curiosidade em relação ao Universo, com espíritos elevados encarnando na Terra, trazendo todo um instinto, toda uma sabedoria inconsciente, no modo como talentos e aptidões não são aprendidos – a pessoa simplesmente nasce assim. A branda Luz projeta uma sombra pelo chão, e temos aqui um cenário onírico, nos enigmas dos códigos dos sonhos, no modo como a escola psicológica da Gestalt crê que os sonhos são projeções do self da pessoa que sonha, e que os sonhos têm a função de dar mensagens existenciais ao indivíduo. O bebezinho é como a Lua, numa graça, na beleza arrebatadora das criancinhas, como numa Evita Perón empenhada em construir a Cidade das Crianças, num lugar onde todos nos tornamos crianças novamente, no modo como o adulto nunca pode perder parte dessa candura infantil, desse espírito brincalhão. O pai e o bebê são carecas, como no bordão do programa humorístico de Chico Anysio: “Meu garoto! Meu papai!”. É como um bondoso senhor que conheci, uma pessoa que passou pela devastadora experiência de perder o próprio filho num acidente de carro, numa dor extrema, pois o normal é o filho enterrar o pai, e não o contrário. Aqui, o semblante do pai é bem plácido, num momento de “folga”, pois o bebê não está nem com fome, nem chorando. É o zelo incondicional, como meu pai, o qual levou um grande susto quando minha irmã era bebê, pois ela quase morreu intoxicada pelo cheiro de tinta fresca. Então, o senso de responsabilidade é aprendido, como num alcoólatra que, por força de vontade, está há décadas sem colocar uma gota de álcool na boca.


Acima, Retorno de um Herói. Aqui, uma cálida cena de enamorados, talvez numa saudade extrema, num marinheiro que estava havia meses sem ver a amada. Aqui, os enamorados têm completa privacidade. O marinheiro é a obrigação, o dever, numa pessoa sisuda, que se entrega em total disciplina, como na sisuda Elizabeth II, na rainha que aprendeu, na marra, a ser humilde em meio à comoção da morte de Di. A mulher aqui segura o chapéu do marinheiro – é como se ela estivesse tirando um peso das costas do namorado, no modo como vi em público, em Porto Alegre, o escritor LF Verissimo, um senhor que parece que carrega o Mundo nas costas. Podemos ouvir aqui a respiração das ondas do Mar atrás, nas ondulações do Mar pelo qual navegou o marujo, fazendo com que este pise finalmente em terra firme, como na icônica foto no fim da II Grande Guerra, com um militar beijando apaixonadamente a amada, depois de muito tempo de separação por causa da guerra – matando a saudade. Aqui, também podemos observar a paixão de Margarita por Botero, com modelos gordinhos – a gordura é a fartura, a abundância de um reino próspero, no gordo saco de Papai Noel, trazendo fartura de presentes, como numa figueira, rendendo muitos doces figos, numa amostra da generosidade de Tao, a figueira que nunca cessa de gerar frutos, num Tao sempre trabalhando, sempre criando, dando-nos o exemplo de uma vida produtiva – arregace as mangas e faça algo! Aqui, as respirações dos dois formam uma só, e a brisa é doce, cálida, com dois amantes que atingiram um pico maravilhoso de intimidade, na diferença clara entre fazer Sexo e fazer Amor. Porém, o céu aqui é cinzento, incerto, numa tarde chuvosa e fria de Inverno, nas incertezas cinzentas da batalha entre Bem e Mal, num dia que nem faz bem, nem faz mal, desafiando a Fé, fazendo com que nos questionemos se há de fato a Dimensão Metafísica, o plano onde Tao revela seu maravilhoso plano divino para conosco. Talvez podemos ouvir aqui uma trovoada, e os amantes não têm muito tempo a sós, pois talvez o marujo esteja prestes a embarcar novamente, penando por mais meses sem ver a amada, como uma prima minha, que se casou com um piloto de avião, e ela brinca, dizendo: “Casei com a mala”, pois o marido fica sempre de cá para lá, cruzando os céus do Mundo. Aqui, os enamorados não têm muito tempo, e as trovoadas anunciam a triste chuva, como na canção: “Está chegando a hora. O dia já vem raiando, meu bem. Eu tenho que ir embora”. Os pés descalços são a naturalidade, com duas pessoas que se conhecem profundamente, numa completa falta de formalidade. O marujo parece um vampiro, sugando o pescoço da moça, no modo como um psicopata vampiresco e manipulador pode ser sedutor, convidando-nos a uma vida sem sentido ou propósito, fazendo de nós um simples provedor de sangue. As pedras na orla são a dureza da Vida, no termo “colocar os pés no chão”, talvez num relacionamento sem futuro, com duas pessoas que vão caminhando para sentidos diferentes uma da outra, no modo como o que importa é a qualidade do tempo, e nunca a quantidade. O homem pega a mulher pela cintura, talvez numa valsa ou outra dança de salão, num casal que só tem olhos um para o outro, no modo como é gigantescamente privilegiada a pessoa que passou pela experiência de se entregar existencialmente nos braços de outra pessoa, numa relação de confiança de Amor num modo amplo, numa pessoa que continuará sendo nossa amiga no Plano Metafísico, ou seja, para sempre. O vestido da mulher é escuro e plúmbeo, como no céu atrás, numa cor discreta, como na cidade cinzenta e úmida de São Paulo, um lugar tão diferente da Mar, do Céu e dos majestosos rochedos cariocas. A fita do chapéu do marinheiro são os laços afetivos, os laços divinos que unem pessoas em amor fraternal, laços que jamais são perdidos, pois sempre serei neto de meus avós, antes ou depois de meu inevitável óbito. A frágil fita tremula no vento, como uma bandeira, tremulando forte em sua leveza, no modo como nada de errando há em ser patriota, pois assim exercitamos o Amor e a Beleza da dimensão acima, a grande e suprema pátria de toda e qualquer pessoa. Aqui, o marinheiro pode ter um amor em cada porto.

Referências bibliográficas:

Margarita Sikorskaia. Disponível em: <www.jornalggn.com.br/cultura/artes-graficas/margarita-sikorskaia/>. Acesso em: 1 jul. 2020.

MORAES, Dado. A Arte de Margarita Sikorskaia. Disponível em: <www. dadomoraes1950.blogspot.com>. Acesso em: 1 jul. 2020.

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