O pintor argentino Antonio
Berni (1905 – 1981) teve pais de origem italiana, sendo o pai um alfaiate.
Berni é tido como mestre do Novo Realismo e do Social Realismo, retratando a
pobreza e a industrialização de Buenos Aires. Já foi exposto ao redor do Mundo.
Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, A Lua e seu Eco. O quadro me remete a quando visitei a praia de
Nudismo Galheta, em Florianópolis, na sensação libertadora que é se deitar nu na
areia, integrando-se com o ecossistema ao redor, ou nadar nu no mar. Esta
mulher tem uma magreza e uma palidez cadavéricas, e está se banhando sob a Lua,
na célebre canção: “Tomo um banho de Lua, fico branca como a neve...”. A Lua
são os mistérios cíclicos da Natureza, num Universo totalmente enigmático, na
vastidão que vai de encontro ao termo islâmico: “Alá é grande”. O Mar aqui é
bem plácido, doce, sem revoltosas ondas, e parece ter uma temperatura
deliciosa, como uma piscina térmica. Podemos ouvir o sutil requebrar das
mínimas ondinhas, num lugar doce e prazeroso. O Mar é a plenitude dos que têm
calma, ao contrário de muitas pessoas estressadas que conheço – manter a
estabilidade emocional é uma dádiva, no modo como me impressiona o controle emocional
dos lutadores profissionais, ao ponto de não levar as pancadas para o lado pessoal,
com os lutadores cordialmente se cumprimentando ao final do embate. O Mar é a
nossa origem, nos mistérios da Vida que veio da água, no agradável cheiro de
Mar nos peixes expostos no supermercado. O Mar é ao sabor da Vida, nas
gigantescas levas de veranistas que migram para o Litoral todos os verões,
perturbando quem mora o ano inteiro na praia, como Capão, uma cidade que não
para durante o ano. Vemos um avião decolando, e podemos ouvir o ruído dos
motores, no modo como é sexy um avião voando pela noite, com suas luzes piscando,
unindo o Universo numa agradável noite, como esta noite retratada por Berni. O
avião é o sucesso, no termo “deslanchar”, na ambição de uma pessoa que, através
do trabalho, quer atingir tal ponto de reconhecimento e valorização, no sonho
de qualquer artista em ser valorizado, com suas obras bem contadas, expondo ao
redor do Mundo, obtendo renome mundial, como uma estrela hollywoodiana, com
pessoas que se dão bem e pessoas que se dão mal, como uma pessoa que conheço,
que abandonou a carreira de ator para entrar para o ramo do Direito – pode não
parecer, mas as frustrações são positivas e libertadoras. O avião é potente,
glamoroso e moderno, talvez num quadro pintado numa época em que voar era um
programa glamoroso, ao contrário de hoje em dia, com aeromoças distribuindo
mínimos saquinhos de salgadinho e um mísero copinho de suco ou refrigerante, na
lembrança glamorosa que tenho quando voei em 1985 para o Rio de Janeiro, na
então operante Varig. O avião é a vontade de viver e de lutar pelos sonhos, ao
contrário de uma pessoa que conheço, uma pessoa com aptidão para a Música mas
que, ao chegar o momento de pisar nos palcos e começar a batalhar pela carreira
de músico, esta pessoa “se borrou” todinha nas calças, frustrando-se em meio
sua própria hesitação – a Vida é dos guerreiros. Esta Lua está perfeita, plena,
cheia, e é a beleza de uma cidade sexy banhada por tal luar, na beleza de uma
noiva toda de branco abrindo os presentes de casamento, desembrulhando um belo
prato de aço inox, no modo como a Lua é assim, uma feminista independente,
pouco se importando com a sisudez responsável diária do Sol, o qual nasce invariavelmente.
O Mar aqui reflete o luar, na lembrança que tenho de uma Lua cheia sobre o Mar
de Capão, fazendo da Lua tal espelho de reflexão, refletindo de forma branda e
doce os inclementes sóis diários, numa luz tão dúbia, que nem revela, nem
encobre, num limiar entre luz e escuridão, na frase clássica de Aquarela do Brasil: “Nas noites claras
de luar”. O avião aqui desafia a Lei da Gravidade, desafiando a Natureza,
fazendo desta mulher uma sacerdotisa da batida rítmica desta Lua que nunca se
revela totalmente ao Ser Humano.
Acima, A Morte Assombra em Cada Esquina. A cabeça decepada é a finitude, o inevitável fim que
nos espera, no modo como a psique sobrevive à morte do corpo físico, como diz
Tao: “Se o seu corpo morrer, não se preocupe”. É o brutal modo de execução, no
modo humano de assustar o Povo com a Morte, pois se o povo teme morrer, a pena
de Morte pode prevalecer soberana. A cabeça é o discernimento do que é
essencial, do que realmente importa, na limpeza minimalista, rejeitando o
supérfluo e atendo-se ao primordial, como numa galeteria, quando chega à mesa o
que mais importa, que é o galeto, ou como na lembrança de Infância que tenho,
numa missa próxima ao Natal, quando o padre disse para cada criança no templo
ir ao presépio e levar uma peça do presépio ao altar, e eu fui logo no que
interessa, que é o Menino Jesus, no modo como um artista persegue tal nervo,
tal coisa importante, no modo de perseguir aquilo que nos dá prazer e
realização, no desafio que é o autoencontro, um encontro que tem que acontecer
dentro da pessoa, não fora. O homem aqui decepado tem um elegante bigode,
talvez numa pessoa com autoestima, querendo impressionar as moçoilas, no
momento de interação social onde ocorre o flerte. O grande peso dourado é o
modo como as riquezas mundanas podem pesar sobre os ombros da pessoa rica,
talvez numa pessoa ambiciosa, que nunca está satisfeita, sempre querendo mais,
na citação de Matrix: “O que um homem poderoso quer? Mais poder”. É
como o Espiritismo coloca: Você não faz ideia a que estado fica reduzida uma
pessoa considerada feliz na Terra, ou seja, uma pessoa rica. Ao contrário de
uma feliz pessoa que conheço, uma mulher que tem o ouro, mas o ouro não a tem.
Como numa canção de Jazz: “Tudo o que teu dinheiro pode ter dar é um ataque
cardíaco”. É a fixação do Tio Patinhas com sua caixaforte, numa pessoa que não
nota que está ficando escravizada e aprisionada, pois o melhor da Vida não está
à venda. Este peso dourado é como a tradicional bigorna Acme dos desenhos
animados, sempre caindo em cima de um desavisado, no modo como a Vida trata de
nos jogar essas bigornas esmagadoras, abreviando o supérfluo e nos ensinando a
ficar atentos ao essencial, àquilo que o Dinheiro não pode adquirir. Vemos uma
grande e elegante letra V, talvez o V da Vitória, o doce momento que,
infelizmente, passa, pois, doce ou amarga, esta hora passará, numa pessoa que
acorda no outro dia e percebe que a luta continua. Este V é um paladino e
impenetrável escudo, numa pessoa que aprendeu a dizer NÃO, pois como posso ser
dono de mim mesmo se fico nas mãos de outrem? Este escudo tem a cor de sangue,
talvez do sangue do pobre homem executado. Atrás na cena, o Céu é de um
majestoso azul profundo, no encanto de belos dias abertos, arejados, secos,
numa dona de casa que aproveita a manhã para colocar a casa em ordem, na luta
diária contra o Caos e a Desorganização, sendo estes a via de regra no Umbral,
a dimensão dos improdutivos, dos fúteis e dos fofoqueiros. Também vemos na cena
um prédio de tijolos à vista, no paciente trabalho diário de construção e
reconstrução, como num empreiteiro, com a paciência para levar anos até
finalizar uma construção, no termo: “Roma não foi construída em um só dia”, ou
seja, ficarei ansioso se quiser ir de zero a cem em um piscar de olhos, no
termo “passinhos de bebê”, ou seja, fazer de cada dia um discreto passinho de
encontro a uma meta, que é a conquista do respeito das pessoas. O prédio é a
construção de uma carreira, no persistente trabalhinho de formiga, numa pessoa
que sabe que não pode parar, tirando, no máximo, umas férias para, depois do
descanso, voltar ao “ringue” da Vida, como me disse uma simpática médium
espírita: “Deus não quer que nos atiremos nas cordas”, ou seja, um Pai que quer
ter orgulho de nós, como no orgulho de um pai ou uma mãe na cerimônia de
formatura universitária do filho. Aqui, a cabeça cortada é um vestígio, talvez
um aviso para o cidadão comum, como na exposição do cadáver esquartejado de
Tiradentes, amedrontando tal cidadão comum, assustando este com a Morte, ou
seja, vale a máxima: “Comporte-se!”.
Acima, A Sesta e seu Sonho. Vemos um solitário farol vermelho, talvez
sangrando, ardendo em sua vida de lobo solitário, até chegar um ponto em que a
pessoa não mais aguenta tal vida. O mar aqui é revoltoso – é a rebeldia, a
irreverência, na virtude de uma pessoa que tem senso de humor e que não leva a
si tão a sério, ao ponto de aceitar uma inocente brincadeira em relação à sua
roupa, por exemplo, pois a pessoa que leva a si a sério de mais fica fria,
amarga e rançosa, tal qual chantilly rançoso. Podemos ouvir a fúria marítima
aqui, como no mar inóspito do filmão A
Ilha do Medo, numa ilha de insanidade, em que o protagonista acaba por ser
desnudado em sua loucura, revelando-se inapto para lidar e contornar tal
distúrbio, um filme que se passa em uma época em que não havia os milagrosos
medicamentos psiquiátricos de hoje em
dia. O farol é uma pessoa carente, obcecada em ter um namoro,
talvez sobrecarregando de expectativas tais relacionamentos. Vemos um carro
verde, que é a autonomia, a independência, no modo como foi da Preguiça que se
originou esta máquina que abrevia distâncias e poupa as pernas da pessoa que
passeia dentro de tal veículo. O carro é a modernidade, o avanço tecnológico,
fazendo com que os cavalos se tornassem símbolos elegantes e belos de uma era
que ficou para trás, na Era da Cavalaria. O carro é de um charme retrô, vintage, no modo como dá gosto de ver na
rua um carro antigo bem mantido, bem cuidado, fruto de um dono carinhoso, que
sabe cuidar daquilo que ama, no modo como dá gosto de ver um jardim bem
cuidado, com buchinhos devidamente “esculpidos”, na beleza da Disciplina, esta
força que faz com que saiamos da cama depois de passadas as oito horas
necessárias de sono. O carro é o paradoxo, pois ao mesmo tempo que é tão útil,
polui... As ondas requebram em rochedos, como numa Elis Regina possessa de
ciúmes, jogando no Mar a coleção de vinis raros do marido, numa Elis tão
pequenina e tão expressiva. O rochedo é a firmeza, a ponte firme que dá a
sensação de segurança, como numa pessoa que decidiu colocar a própria vida em
ordem, disciplinando-se e tratando de ficar produtiva, mesmo em tempos de
isolamento social. A rocha é a inevitável dureza da Vida, no tesão de uma
pessoa forte, que aprendeu a lidar com tal dureza, no desafio atlético que é
encarar tal ringue, numa pessoa que viu que precisa ser produtiva e ativa,
nunca esperando pelo príncipe encantado, este montado num cavalo branco – pare
de esperar por tal príncipe. No centro do quadro, vemos uma estrutura metálica
estranha – desculpe-me por eu não saber o que é exatamente. Apesar de ter
formas orgânicas e tortuosas, é de duro metal, como a flor metálica de Buenos
Aires, homenageando as vítimas no conflito, na infelicidade bélica, com irmão
tirando a vida de irmão; com príncipe tirando a vida de príncipe. Vemos também
um pequeno castelinho amarelo, só que deserto, desabitado – é a desolação de
uma vida solitária, num lento, gradual e imperceptível processo de
empobrecimento existencial, numa pessoa que foi perdendo a virtude, o chão, a
noção, perdendo-se num labirinto cheio de traiçoeiros sinais auspiciosos, num
Minotauro pronto para devorar tal vítima, como uma mosca numa teia de aranha,
no gigantesco desafio que é uma pessoa se reerguer, como na parlamentar gaúcha
Nega Diaba, que erguia a cabeça, indo à propaganda política se dizendo ex
prostituta e ex presidiária, ou seja, venceu a vicissitude, desencarnou e
voltou à maravilhosa e única vida plena espiritual. A casa aqui é a firme
referência do lar, num lugar cheio de cuidados e amor, numa mãe zelosa mantendo
a casa em ordem, com um pai trabalhando de Sol a Sol para garantir um excelente
sustento às crianças e à esposa. O céu aqui não é de escuridão nem de dúbio
cinza, mas um céu consideravelmente azul, dando esperança em meio a tantas
tempestades feias. Não canso de dizer que interpretar sonhos num consultório de
Psicologia é uma análise semiótica, com códigos sendo decifrados, buscando
trazer clareza à mente do paciente.
Acima, Desocupados. Temos aqui um entorpecimento, como no sonolento ou sedado
Marte de Botticelli, como na sesta após a refeição no filme Comer, Rezar, Amar, na gloriosa sensação
de, depois de uma boa refeição, afrouxar o cinto da calça e deitar para um
cochilo, no modo como desde pequeninho me acostumei a ver meus pais sesteando
depois do almoço. Aqui, é como no divertido episódio de Chaves, quando este
acidentalmente misturou calmante com sucos, com as pessoas tomando tais sucos e
caindo no sono em plena Rua. Podemos
ouvir o ronco, como uma pessoa que conheço, a qual simplesmente nega que ronca,
o que não é verdade, pois esta pessoa ronca sim! Aqui são os ricos códigos
oníricos do clipe Bedtime Story de
Madonna, com esta sedada e entregue às tempestades dos sonhos, com códigos tão
enigmáticos e misteriosos, prontos para uma decodificação psíquica. É como no
filme de ficção científica A Cela,
com uma terapeuta, sedada, entrando na mente do paciente, também sedado, numa
espécie de sonho consciente, na terapeuta que sabe que está lidando com códigos
do Inconsciente, esta jaula cheia de “monstros”, medos e excitações, como no
calabouço do brinquedo Castelo de Grayskull, com seres horríveis e selvagens
contidos pelas grades do Pensamento Racional, da Ordem, da Clareza, da Saúde.
Podemos ouvir aqui um ronco coletivo, numa espécie de orquestra. Aqui, é o
pecadinho da Preguiça, pois esta pode estar aliada ao Essencialismo, ao
Minimalismo, à Limpeza de ações, numa pessoa que sabe do poder da Simplicidade,
com o essencial impondo-se sobre a desnecessidade suja das frescuras e das
afetações frívolas, como num machão Clint Eastwood, atento ao que realmente
importa, sem frescuras. Aqui, os chapéus são a segurança do Lar, como um
telhado sobre uma casa, no modo como uma mãe protege o filho ao máximo, quase o
castrando. Aqui, é como um albergue para pessoas em situação de Rua, dando
cobertas e um teto para que a pessoa não durma ao cruel relento, apesar de ser
tão sedutora a indisciplina desregrada do mendigo atirado numa calçada, pedindo
dinheiro – por que tenho que trabalhar se me dão dinheiro de graça? Aqui, temos
rochedos ao fundo, na lembrança que tenho de Infância de observar o pescoço
envelhecido de minha tia avó, parecendo-se com tais sinais erosivos de encostas
terrosas, ou como um pescoço de tartaruga, na mais plena noção de discernimento
de que temos que respeitar os mais velhos, pois um dia serei um idoso, espero
que nunca perdendo o senso de humor... Aqui, parece o cansaço depois de um
árduo dia de labor, ou como pessoas num aeroporto brasileiro pedindo refúgio,
fugindo de países governados por algo que Tao chama de direção tortuosa, ou seja, governos que pouco se importam se seu próprio
povo tem saneamento básico, assistência de Saúde, comida etc. Vemos uma senhora
com uma criança de colo – é o zelo maternal, numa mãe que quer uma vida melhor
para o filho, sem tanta privação, querendo ver o filho saudável e bem
alimentado. Aqui, podem ser judeus mortos numa câmara de gás, nos
incompreensíveis genocídios dos quais o Ser Humano é capaz, numa crueldade de
fazer inveja a Freddy Krueger, o vilão assassino dos pesadelos. Aqui é como uma
longa lista de espera numa unidade de Saúde para a retirada de medicamentos
gratuitos, com senhas sendo distribuídas e horas passando até que a pessoa seja
atendida finalmente. Aqui, é como uma quarentena, com pessoa que foram
involuntariamente isoladas para evitar um caos epidêmico, como na terrível
Gripe Espanhola. Aqui são como imigrantes italianos chegados à América, no
sonho de ter terra própria e de enriquecer, num imigrante sonhando com uma
farta mesa de galeteria, como nos pobres imigrantes negros atuais em Caxias do
Sul, pessoas que levam uma vida muito, muito dura. Aqui, é o sono se impondo
impiedosamente, ao contrário da plenitude metafísica, na qual não há fadiga.
São desempregados querendo um trabalho apenas, numa longa fila, no Desemprego
Brasileiro.
Acima, O Cavalinho. Um doce registro de Infância, talvez autobiográfico,
com Berni retratando os doces dias de menino, numa época simples, muito longe
das sisudas exigências adultas, numa época em que a criança se contenta com
pouco, na inocência herdada de um espírito que recém saiu da Dimensão
Metafísica para reencarnar. O cavalinho é a força motriz, a vontade de viver,
numa pessoa que está centrada, dedicando energia e esmero para realizar algum
trabalho, pois a vida dos ociosos é insuportável, no fato de que, assim que
desencarna, a pessoa percebe a necessidade de procurar um emprego, algo para
fazer, a exemplo de Tao, que está sempre criando, como um maravilhoso popstar,
enchendo de expectativas os fãs que esperam por um novo álbum da estrela – Tao,
o brilhante. A camisa listrada do menino é o discernimento entre dia e noite,
entre Amor e Ódio, com linhas em chamativo contraste, como um farol, guiando de
longe os marinheiros, impondo um pouco de ordem e referência a um Mar tão
caótico, tão entregue às intempéries materiais. Montar neste cavalinho é como
ingressar num curso universitário, na deliciosa sensação de se esforçar para
caprichar nos trabalhos exigidos pelos professores, no catatau de tarefas que o
estudante precisa fazer para se formar, no modo como são tristes as histórias
de vida de pessoas que abandonaram a faculdade no meio do curso, não
finalizando o que começaram, como numa transa sem orgasmo – volte para a
Universidade e forme-se, rapaz! O plano de fundo é de feminino e encantador
floral, numa praça muito bem cuidada. As flores são o lado belo da Vida, o
perfume, as coisas finas e delicadas que acabam por derrotar o brutal e o
grosseiro, em povos tão polidos como os ingleses e os japoneses, dando ao Mundo
um exemplo civilizatório, talvez querendo colonizar outros povos, impondo
valores de sofisticação e polidez. O chapéu branco do menino é esta sensação de
Paz neste parque, como narrou uma pessoa que, em coma, teve uma experiência
extracorporal, e ficou por um templo numa praça da Dimensão Metafísica,
acompanhada de sua avó, num lugar com muita, muita Paz, podendo sentir a
respiração de tal avó, num momento em que as “tempestades” mundanas se
dissipam, dando espaço à intenção primordial de Tao, o apaziguador, o conciliador,
o unificador, o agregador, como um patriarca ou uma matriarca, unindo a família
numa noite da Natal. O menino aqui tem um sorriso muito, muito brando, quase
imperceptível, e seu semblante plácido traz um pouco desta Paz, num momento
tranquilo, em que tudo o que a pessoa tem a fazer é respirar e curtir tal
momento singular de Paz e contentamento. O chão aqui tem uma estampa colorida,
vibrante e elegante, no esmero de um arquiteto em fazer um ambiente da forma
mais conveniente e bela possível, seguindo os moldes da sofisticadíssima
Arquitetura Metafísica, remetendo a lugares oníricos como a argentina Ciudad de
los Niños, Gramado ou um parque da Disney. Temos aqui uma pincelada
renascentista de Berni, projetando no chão uma sombra muito discreta, feita por
quem entende do riscado, ironicamente falando do filho de um alfaiate. As
rédeas rubras são, é claro, o controle emocional, os brios, o juízo de adulto,
num pai que sabe que tem que zelar por um filho, sabendo que as crianças estão
o tempo todo perigando fazer bobagens que podem resultar em eventos
desagradáveis, quiçá terríveis. As rédeas são os vínculos de sangue numa
família, no modo como os vínculos de família na se dissolvem com o Desencarne,
fazendo da Eternidade esta oportunidade para que sejam resolvidas todas as
desavenças, como uma pessoa que conheço, uma pessoa que se magoou comigo, mas é
claro que reatarei com essa pessoa, antes ou depois do Desencarne, pois o
Perdão é eterno, e o poder supremo de Tao reside no fato de que passaremos a
Eternidade tentando, sem êxito, compreender tal poder imensurável.
Acima, Primeiros Passos. Temos aqui uma perspectiva renascentista, num
movimento que sepultou de vez os moldes medievais de Arte. A costureira
entediada é a frustração, num sentimento depressivo de se “quebrar a cara”, no
modo como as frustrações são inevitáveis e partir do momento em que a pessoa
tece expectativas, pois tecer estas é uma tendência bem humana, bem comum, bem
corriqueira. Podemos ouvir o som da máquina de costura, numa pessoa que não
está muito absorvida pelo trabalho, talvez infeliz, irrealizada, como numa
pessoa que conheci, uma pessoa que abandonou a carreira de ator para abraçar
uma carreira de advogado, no modo como todos temos o direito de sonhar com uma
vida melhor, no modo como são comuns as trocas de carreira, como Ronald Reagan,
um ator que entrou para a Política, ou vários colegas meus de faculdade, que
não seguiram a profissão pela qual fizeram tal curso, pois o autoencontro é
este grande desafio, na pessoa olhando para si mesma, querendo saber qual é o
Norte, a noção para que se saia deste labirinto que é a vida de uma pessoa
perdida. Aqui, a mente da costureira está bem longe, do outro lado do Mundo – é
uma pessoa perdida, entediada em tais meandros traiçoeiros deste labirinto,
fazendo com que o ofício de costurar não lhe traga tesão, vontade ou sentido.
Ao lado, vemos uma menina magérrima – é a elegância, o minimalismo preguiçoso e
maravilhoso de Tao, o limpo, o puro, o perfumando, o essencial. A menina dança,
feliz com o que faz, em contraste com a costureira prostrada. A menina é a
felicidade de uma pessoa que gosta de viver seus dias na Terra, numa pessoa que
encontrou Disciplina, percebendo que a Dança é um trabalho como qualquer outro,
exigindo dedicação e esmero. A costureira frustrada tem a ilusão de que existe,
em algum lugar, um trabalho maravilhoso, o que não existe, pois, como disse
Silvio Santos: “Televisão é um trabalho como qualquer outro”, na dignidade de
uma pessoa que pega numa enxada e vai carpir um lote. Porém, a pessoa não pode
ficar tão empedernida, e deve permitir a si mesma sonhar, fazendo algum
trabalho que lhe traga tal realização. Aqui, temos um arejamento, pois porta e
janela estão abertas – é a Vida, a respiração, a vontade de viver, numa pessoa
que, apesar de produtiva e disciplinada, quer curtir os gostosos pecadinhos
capitais, ao contrário de uma pessoa que conheço, uma pessoa que simplesmente
não se permite ter tais prazeres, pois a Vida não é só labor disciplinado. A
moça dançarina delgada é a delicadeza de cristal de uma bailarina, com pés tão
frágeis que parecem que vão quebrar, na dádiva que é a Dança, como dançar até
suar numa pista de Dança, num momento em que a pessoa expressa a si mesma, como
dançar num baile de gala até o amanhecer. A moça joga as mãos para o Céu como
que em gratidão, talvez agradecendo por ter Saúde para dançar, no modo como, no
frigir dos ovos, tudo se resume a Saúde, havendo na Dimensão Metafísica tal
incondicional Saúde, numa dimensão em que as doenças orgânicas ou psíquicas
perdem a força totalmente, e a pessoa se depara com uma vida simples, jovem e
bela, podendo se dedicar integralmente a algum trabalho, algum emprego, na
construção técnica da carreira espiritual, num lugar onde nos sentimos
verdadeiras estrelas, havendo nas estrelas mundanas uma mera cópia grotesca da
glória metafísica – tudo no Mundo Físico gira em torno da dimensão acima, e
isso inclui as dinastias nobres mundanas, apesar de ser difícil acreditar nisso
que falo. Ao fundo na cena, algumas garrafas numa prateleira – as garrafas são
o invólucro, o envoltório protetor do Lar, num lugar onde nos sentimos tão
seguros, tão pertencentes a um lugar repleto de pessoas boas, num lugar onde a
Criminalidade nada significa. As garrafas remetem ao seriado Jennie é um Gênio, no qual a mulher se
refugiava em seu mundinho dentro da garrafa, deixando lá fora todas as
preocupações diárias da Vida, no modo como todos precisamos desses momentos de
solitude, de reserva, como num casal saudável, no qual há tais momentos
pertinentes de solitude, pois como não vou cansar de uma pessoa a qual vejo
vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana?
Referências bibliográficas:
Antonio Berni. Disponível
em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 1 jul. 2020.
Antonio Berni. Disponível
em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 1 jul. 2020.
Antonio Berni. Disponível
em: <www.wikiart.org>. Acesso em: 1 jul. 2020.
Antonio Berni Obras. Disponível em: <www.google.com>. Acesso em: 1
jul. 2020.
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