quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Sem Pagar o Pato

 

O americano Donald Judd (1928 – 1994) é tido como um minimalista que gostava de fazer obras tridimensionais. Estudou em duas respeitadas instituições de Ensino Artístico em Nova York. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 

Acima, sem título (1). Um caixão, mas com formas extremamente simples, fazendo de Judd um “namorado” da Arquitetura Moderna, com suas simples linhas retas, limpas, humildes, sem pretensões neoclássicas, sem frescuras. É como no episódio de Chaves em que Quico é acidentalmente preso dentro de uma caixa, fazendo com que as crianças, ao ouvir a voz de Quico ali dentro, pensassem que a infame Bruxa do 71 tivesse feito uma mágica para transformar o menino em caixa! A caixa é o resguardo, a reserva, como numa pessoa que vai poupando lentamente, acumulando riqueza para realizar algum sonho de consumo, como um carro ou uma casa. O marrom aqui é bem discreto, profundo, na discrição das cores escuras, como azul marinho ou bordô. A caixa é o mistério, pois não nos é permitido saber o que há dentro, se é que há algo dentro. É a famosa Caixa de Pandora, a qual jamais poderá ser aberta, pois, se aberta, libertará uma maldição inominável, numa fábula que busca mostrar ao Ser Humano as limitações deste, na ousadia de Eva em comer a infame Maçã do Pecado e oferecer esta ao inocente Adão, num mito muito misógino e machista, colocando a Mulher como o epicentro de absolutamente todos os males do Mundo – Jesus, que machismo. Aqui, temos um visual primoroso, numa caixa habilmente pintada, impecável, numa caixa digna de abrigar algum tesouro, alguma relíquia, algum lindo presente. A caixa é o receptáculo do lar, o lugar no qual colocamos chinelos e ficamos à vontade, como no trabalhador que fica contando os minutos para sair do trabalho em mergulhar em tal ambiente confortável, na sensação de Lar, de pertencimento, pois nada de errado em sentir prazer – só há problema no hedonista, a pessoa que simplesmente não produz, como uma depressiva Grace Kelly, que abandonou uma carreira (muito) brilhante para se tornar uma dona de casa, aquilo que, no frigir dos ovos, uma ociosa princesa é, como a inglesa Kate Midleton, transformada numa fábrica de parir filhos, o completo oposto do Feminismo. O caixão aqui é um enigma, pois não sabemos como abrir – não há fendas, brechas ou fechaduras. São os enigmas que incitam a Ciência, pois sem tal mistério, qual graça haveria no Universo e nos cientistas? Aqui é uma caixa de bombons, só que também feita de chocolate, na sedução que o chocolate causou no Mundo, conquistando pelo paladar, no modo como as especiarias do Oriente encantaram a Europa nas Navegações, mais uma prova da universalidade do Ser Humano, um ser que, apesar de tantas abismais diferenças, é o mesmo ao redor deste pequenino globo que habitamos. O chocolate é o prazer, a sensualidade, como dois amantes se banhando de chocolate e lambendo um ao outro, no modo como todos temos que ter alguns momentos de diversão, pois qual é o sentido de uma vida sem prazer, sem um pingo de diversão? É como o infante Michael Jackson, uma criança que simplesmente não foi permita a ser criança, com este trauma estourando mais na frente, na idade adulta, num homem adulto que simplesmente construiu para si um parque de diversões particular – de nada adianta tolher as pessoas na Infância, no cruel modo como a Sociedade cobre o indivíduo de preconceitos, proibindo um homem de ter sentimentos e proibindo uma mulher de ter razão. Jesus, quanta falta de cérebro. As paredes desta caixa são bem frágeis e delgadas, no discernimento taoista, no qual o fino é forte e o grosso é fraco, uma lição que só pode ser aprendida instintivamente, uma lição bloqueada para psicopatas, em cujos corações não há espaço para Amor algum. Aqui, é como um majestoso sarcófago de faraó, mas pós moderno, simples, sem as afetações decorativas e excessivas que buscavam guiar o morto ao Mundo da Morte. É como uma caixa de celular novinho, na sedução das novas tecnologias, num Ser Humano em constante processo de aprimoramento.

 

Acima, sem título (2). Uma moderna edificação, construída com paciência durante os anos de incorporação. É como uma escada, um caminho de evolução e depuração, visando a excelência moral, como vi hoje um senhor num café que, ao ver que a moça do caixa deixara de cobrar um café, este senhor a lembrou da ausência de cobrança, ou seja, um senhor com apuro moral, sem a malícia de uma pessoa que deixaria de ser cobrada, pois Papai do Céu está vendo direitinho tudo o que fazemos aqui na Terra. Aqui, é uma elegante escada, numa grife chique de roupas, a Escada, talvez numa alusão à ascensão social, numa perua que se acha sexy demais para carregar as sacolas das próprias compras. É o jogo entre as classes sociais, na ilusão de que está no topo quem tem mais grana – está no topo quem é mais honesto. É como uma divertida senhora eu conheci, à qual dizíamos, brincando, que era a namorada do porteiro de seu prédio, um senhor também idoso, e a senhora disse: “Não, aí tu queres que eu desça – eu quero subir!”. São as inevitáveis hierarquias, como numa empresa, com as ordens partindo de cima e comprometendo, afetando todo o grupo, no modo como o Patriarcado vê com maus olhos a mulher poderosa, a mulher em posição de destaque hierárquico, no modo como, para o machão misógino, é humilhante e insuportável receber ordens de uma mulher, na universalidade patriarcal – Tao não tem sexo. Aqui, é uma escada sólida, que inspira confiança, num prédio bem construído, entregando ao proprietário um produto de qualidade, no modo como tudo, em matéria de Mercado, gira em torno deste Q, pois nem a campanha publicitária mais maravilhosa do Mundo seria capaz de vender bem vendido um produto/serviço de qualidade baixa, carente, no mito que cerca a Propaganda – não há publicitário o qual transforma em ouro tudo o que toca. Aqui, é uma prateleira organizacional, nos programas de TV nos quais casas caóticas e bagunçadas são submetidas à redentora disciplina organizacional, no prazer de se pegar um pano e limpar poeira, ou tomar um banho, ou escovar os dentes, nos rituais diários de limpeza, purificação e renovação, na sensação gloriosa de se sair do cabeleireiro com o cabelo cortado, disciplinado, com perfume de xampu. Aqui, é como um belo bolo de casamento, nas trágicas videocassetadas nas quais o bolo é acidentalmente derrubado, agourando enlace. É como uma pilha de roupa limpa, dobrada, organizada, no termo “Vá lavar uma pilha de roupa suja!”, endereçado a pessoas que estão perdendo o tempo com bobagens, ou no equivalente “Vá carpir um lote”, no poder de cura que o trabalho tem sobre a pessoa, sendo doente e deprimente a vida de uma pessoa que simplesmente não produz, sentindo-se inútil ao Mundo, pois só é feliz quem serve a tal Mundo, na dignidade que cobre gloriosamente o trabalhador, no modo como a vida pós Terra é assim, a necessidade da pessoa continuar produtiva, mesmo não mais estando acorrentada ao corpo carnal, pois Tao é assim, altamente produtivo, pois sabe que o Ócio é uma miséria só. Aqui, são como livros numa biblioteca, num sistema organizacional racional, fazendo da Razão aquilo que nos faz sobre humanos, na sobrevivência da Mente ao Desencarne. Aqui, temos um resultado de persistência e esmero, num abonamento, uma recompensa, como anos de trabalho resultando em imóveis que servem de moeda de troca, como nos vertiginosos arranhacéus de Camboriú, SC, numa pujança imobiliária que mal parece ser uma praia deste pobre Brasil no qual vivemos, na fábula da Torre de Babel, num Ser Humano que simplesmente desfia limites de Engenharia, como se quisesse desafiar Tao, o inspirador. Aqui, é como um sanduíche rico, com vários pavimentos, como no esfomeado e esquálido Salsicha, de Scooby Doo, no modo como os deliciosos doces metafísicos não engordam, no adorável pecadinho da Gula. Aqui, é a força da organização, do garbo, do esforço racional de contar um número após o outro, na fria Beleza Matemática.

 

Acima, sem título (3). Um engarrafamento de carros, dando lentidão ao tráfego, num problema que acomete qualquer grande cidade, num problema sem muita solução, como numa caótica São Paulo, a qual, apesar de complicada, tem meu apreço. Aqui, temos uma noção de velocidade, como alimentos sendo assimilados por um aparelho digestivo. Podemos ouvir som dos carros rosnando, nos barulhos de urbe grande, como no cheiro de poluição em Nova York, a cidade maravilha que pode ser mãe e pode ser madrasta, no sentido de que a Vida é dura em qualquer lugar. Aqui, quanto menor a peça, mais distância ela toma, num trabalho de diferenciação, numa pessoa que quer adquirir identidade própria, num artista que tem tal instinto de diferenciação, podendo até se inspirar em outros artistas, mas adquirindo uma identidade própria, como as bolas e os círculos de Yayoi Kusama, ou como as paisagens fantásticas de Dalí, num artista que percebe a necessidade de se reinventar, ao contrário de muitos artistas talentosos que jamais sobreviveram aos anos 1980, por exemplo – a Vida exige força de nós. Aqui, é uma noção de prioridade, como numa fila de embarque em aeroportos, com idosos tendo a prioridade no atendimento, em leis que buscam a cordialidade e a gentileza, impondo estas regras a pessoas que não são muito finas... Temos aqui uma prateleira criativa, pós moderna, só que vazia, esperando por um uso, por uma dignidade, querendo muito servir ao Mundo, como num jogador de Futebol no banco de reservas, querendo, com todas as suas forças, ser chamado pelo técnico para entrar em campo, como um ator que é requisitado por um grande diretor, numa pessoa que quer muito mostrar o seu valor, o seu talento. Aqui, a prateleira é essa serventia, essa dignidade, como uma esposa no harém de um faraó, sonhando em ser a mãe do próximo rei, subindo assim na hierarquia da corte, catapultada ao status de Rainha Mãe, como Kya, a esposa secundária que trouxe o faraó Tutancâmon ao Mundo, no modo machista que reduz a Mulher à mesa função de útero reprodutor, preferencialmente produtora de filhos varões, no modo como a Filosofia não tem o poder de mudar o Mundo, pois nem Jesus Cristo Nosso Senhor soube mudá-lo. Aqui temos uma organização, como numa fila em uma escola primária, na ordem de tamanho, com os menores mais à frente e os maiores mais atrás, na concepção de “os últimos serão os primeiros”, no modo como é complicado o desencarne de uma pessoa materialmente apegada, fazendo com que a pessoa desapegada vá direto ao Céu, sem passar pelas terras dantescas do Umbral, o purgatório para onde vão as almas que subestimam o Amor. Aqui é como no programa televisivo que traz uma organizadora profissional que dá ordem a ambientes caóticos, no poder organizador e limpador de Tao, o limpo, o perfumado, o minimalista, o simples. Aqui, temos uma ordem, como um Darwin catalogando espécies, impondo organização a uma Natureza tão caótica e selvagem, tão longe dos conceitos civilizatórios de cortesia e gentileza, fazendo com que terras tropicais como o Brasil exerçam fascínio sobre outras nações menos exóticas, menos selvagens, como numa Elis Regina, a qual, numa pequena turnê pela Europa, foi apresentada como uma exótica cantora de um selvagem e fascinante país, ou como Marisa Monte, que nos EUA é rotulada como uma exótica artista de World Music, ao contrário de como MM é vista no Brasil – uma deusa da MPB. Aqui, é uma dona de casa colocando ordem em tudo, mandando, aos berros, que os filhos vão tomar banho, na tarefa árdua que é impor Ordem ao Caos, como nos belos canteiros da cidade de Gramado, no modo germânico de jardinagem, encantando turistas com tal gracejo cromático. Aqui é como organizar objetos numa cômoda, deixando que os maiores fiquem mais atrás, para que os menores, mais à frente, também sejam vistos, deixando, também o espaço mais externo livre, para que este tenha a serventia de abrigar objetos “nômades”, no modo como é o vazio taoista que dá utilidade a algo, pois como posso entrar num jardim que está bloqueado?

 

Acima, sem título (4). Um depósito de produtos encaixotados, neste modo de Judd em trazer ordem, organização. Aqui, cada caixa tem sua função, abrigando objetos diferentes uma da outra, como nas especializações que povoam o universo da Medicina. Aqui, é como um cadáver sendo dissecado, com cada parte dissociada do corpo, no modo ocidental de seccionar e analisar peça por peça, num trabalho de desconstrução, como um muro sendo desmantelado tijolo por tijolo. É como no embalsamento de uma múmia no Antigo Egito, com partes do corpo sendo colocadas em jarras diferentes, na crença de que a Vida Metafísica é uma mera extensão da Vida Física, o que não é verdade – o Desencarne é um filtro, deixando na Terra tudo relativo à Matéria, como raça, sexo, posição social etc. É uma purificação, uma filtragem. Aqui são como malas dispostas num aeroporto, submetendo-as a um cão farejador, em busca de drogas, no divertido modo canino no qual o farejamento não é trabalho, mas diversão. Aqui, são tijolos prontos para constituir alguma estrutura, como soldados, esperando o momento de convocação das patentes superiores. É uma reserva, uma adega, uma coleção, no modo como demorei anos para colecionar os brinquedos relativos ao universo de He-Man – vários aniversários, vários natais e vários dias da criança. Aqui é como material de demolição, como uma casa que foi metodicamente desmantelada para ser reconstruída em outro lugar, como um transplante de órgãos em busca de uma nova “casa”, ou um orfanato, numa lista de espera de crianças que sonham em ter família, como um casal de amigos meus, que adotaram uma criança, dando a esta um lar, uma proveniência, uma base de acolhimento, um pertencimento. Aqui, as caixas são indistintas, e não há uma mínima diferenciação para que possamos fazer uma distinção. É como pessoas medíocres, indistintas, sem a coragem par adquirir diferenciação, pois que mérito há em um imitador de um cantor famoso? Que vida é esta na qual me escondo atrás de uma mera imitação? Aqui, é no termo em Inglês “brick in the wall”, ou seja, um indistinto tijolo na parede, no modo como os regimes opressores ditatoriais não permitem que o cidadão evolua como espírito, fazendo do cidadão uma mera bateria de carro, um escravo de um sistema que teme ao máximo a Liberdade, fazendo com que tantas pessoas tenham o sonho de morar num país livre de democrático como os EUA. Aqui, é como um jogo de adivinhação, como se tivéssemos que descobrir qual das caixas está cheia ou vazia, num enigma, no modo como ser cientista é como imaginar como funciona um relógio sem abrir e examinar este. São os mistérios do Universo, num Ser Humano ainda muito infantil. Aqui são como palanques em um debate eleitoral, com cada candidato na sua mesa, na dádiva democrática que é a pluralidade, depositando no voto a esperança de que há um mundo igualitário no qual somos todos da mesma “ninhada”. As caixas são o resguardo, a reserva, a poupança, numa pessoa que vai lentamente acumulando, visando ter uma casa própria, no termo “galinha aos poucos enchendo o papo”. As caixas são como túmulos, caixões, como soldados mortos em combate longe de casa, voltando mortos para um respeitoso sepultamento, na loucura que é irmão matando irmão. Aqui, é como uma mudança chegando ou saindo, num Ser Humano que nunca está satisfeito, sempre querendo alterar algo, como duas pessoas que se invejam mutuamente. Aqui, é como um loteamento indistinto, no sonho comunista de igualdade, num sistema que tudo o que fez foi resultar em ditadura, no modo como as ditaduras são grotescas cópias do bem estar de um cidadão livre, como numa divertida campanha publicitária que mostrava ditadores assustados com um mouse de computador, no modo como a Liberdade coloca em xeque tal controle estatal, pois o homem poderoso teme perder tal poder, chegando ao ponto do suicídio, e quem não se ama, só tem para si o infernal Umbral.

 

Acima, sem título (5). As caixas são leves como o ar, e estão acima do chão, coladas à parede como se desafiassem a Lei da Gravidade, remetendo-me a um colega do Ensino Fundamental, o qual, num exame de Educação Religiosa, ao ser questionado onde o Evangelho começara a ser pregado, o colega escreveu: “Na parede”. As caixas aqui são reveladas como se estivessem brotando da parede. É uma revelação, como se fossem salientes, sobressaltando-se e transgredindo a regra da parede. São como roupas num varal, nas demandas diárias da vida de casado, muito diferente do lindo e glamoroso momento do enlace na Igreja – cedo ou tarde, a Vida se revela em toda a sua seriedade e, como diz uma certa canção, “Realmente não dá para fugir”. A cor dourada aqui é a riqueza, num reino abundante, regido por um líder que nunca interfere no dia a dia pacato do cidadão, respeitando este. É a obsessão humana por riquezas mundanas, as quais são cópias grotescas na plenitude espiritual na dimensão acima, uma vida libertadora que impõe sempre a necessidade da pessoa permanecer produtiva – como diz Cazuza, “O tempo não para”, fazendo do óbito carnal uma mera vírgula. O tom em magenta é a Feminilidade, na cor do universo de Barbie, como em lembro entrando na seção da boneca em uma suntuosa loja novaiorquina de brinquedos, com a boneca saudando as meninas na loja, dizendo “Boas compras!”, na incrível inclinação americana ao Marketing e às Vendas, sabendo interpelar o consumidor, fazendo este comprar muitas vezes sem muita necessidade de comprar. Aqui são como quadros gordinhos, de grande espessura, como num Botero com seus gordinhos, relendo grandes obras de Arte, no modo como é inevitável artista se inspirar em artista, numa retroalimentação, como Madonna aludindo a Marilyn Monroe, na linha tênue entre Inspiração e Imitação, uma linha que acaba fazendo toda a diferença. Aqui são como teclas num elevador, esta invenção que nasceu da preguiça de se subir e descer escadas, no modo como o gostoso pecadinho da Preguiça gerou grandes invenções – nada de errado em ter prazer, desde que com moderação. Aqui é como um sorriso de dentes de ouro, no sorriso carismático de pessoas que vivem de bem com o Mundo a seu redor, numa pessoa de coração aberto, que não projeta em outrem seus próprios defeitos. Aqui são como balões quadrados, bolas quadradas, na obsessão do personagem mexicano Quico em ter uma bola quadrada. Aqui é um jogo de adivinhações, como se tivéssemos que adivinhar qual das caixas tem algo de bom dentro, num enigma, como no Taoismo: Aquele de quem é possível falar não é o verdadeiro aquele, ou seja, a obra de Arte sobre a qual se pode falar não é a verdadeira obra de Arte, ou seja, eu, aqui neste blog, passo um “paninho” sobre a obra e a exibo com clareza, preservando o mistério e o fascínio de cada obra, sem niilismo – eu não chego a interferir na obra em si, pois esta pertence ao próprio artista, mesmo que comercializada. Aqui são como presentes de aniversário para seis filhos, talvez todos nascidos da mesma vez, no milagre da fertilidade feminina, no modo como Tao relega à Mulher tal função imprescindível, pois Tao não é machista; é equalizador, pois não vê diferença entre seus filhos, amando a todos na mesma intensidade, no caminho do Amor Incondicional que não exige recompensa, amando pelo prazer de amar. É como vestir crianças gêmeas com as mesmas roupinhas, para que não haja inveja entre as crianças, as quais, na idade adulta, adquirem identidade própria e passam a se vestir como bem entendem, no sentido da pessoa adquirir o controle sobre a própria vida. Aqui é como se as caixas tivessem sido elevadas para que a faxineira pudesse limpar abaixo delas, como uma pessoa de minha família, uma pessoa cuja paciência admiro, pois é uma pessoa que passa diariamente uma vassoura na casa, e Tao é assim, sempre paciente perante os erros de seus filhos, fazendo do Perdão algo infinitamente maior do que o Ódio, sendo este sempre derrotado. Aqui são como anúncios publicitários, visando se destacar visualmente para interpelar um possível consumidor, incitando a vontade que já existe dentro do Inconsciente da pessoa “alvo”.

 

Acima, sem título (6). Remete a uma lareira artificial, no aconchego de uma casa morna e seca em um tenebroso dia invernal, cheio de umidade, vento e frio. Aqui temos um sofisticado jogo de transparências, com coisas sendo reveladas, como numa sensual Monroe, nua, coberta por apenas um fino véu translúcido, numa energia transgressora como Vera Fischer, a qual dançou só de sutiã em uma casa noturna de Porto Alegre, numa fome constante de se quebrar barreiras, no brilho que cerca o artista transgressor, pois, já ouvi: “Uma sociedade só pode evoluir por meio de alguns cidadãos transgressores”. Aqui é um móvel nu, pronto para abrigar ou sustentar algo, no encanto de ambientes belos, porém ambientes simples, como no famoso espírito Patrícia, o qual, ao entrar num cômodo metafísico, disse: “Tudo muito bonito, porém simples”. Eu refaria a sentença, dizendo: “Tudo muito bonito, pois simples”. Aqui é um móvel que se torna objeto de desejo, seduzindo com seu desenho inovador e ousado, numa peça exibida com muito orgulho pelo comprador, exibida com destaque dentro de uma casa, como um prêmio, uma conquista, como uma amiga minha artista plástica, a qual me presenteou com uma obra sua quando eu sutilmente insinuei desejar ter a peça, no dom de pessoas generosas, intuitivas, que entendem a lição subjetiva de Tao, o conhecimento bloqueado para frios psicopatas imorais, pois o mau homem ri quando ouve de Tao. É o dom que artistas têm em fazer objetos que se tornam desejo, atingindo sucesso, como no boom de Andy Warhol, um artista que caiu nas graças do Mundo, tornando-se objeto de desejo, obtendo inúmeras encomendas, no modo amargo de certos artistas jamais obtém reconhecimento neste frio Mundo, às vezes muito frio em relação ao trabalho de tantas pessoas. Aqui é como um tijolo chique, bonito, fino, e podemos imaginar a peça numa elegante sala de visitas, com o anfitrião orgulhosamente ostentando tal obra de Arte, quase causando inveja nos convidados, como a apresentadora Eliana, que também é psicóloga, sendo questionada se causava inveja a outrem, e ela disse: “Não faço a mínima ideia”, ou seja, desprezando o sentimento invejoso. Aqui temos um azul marinho discreto e elegante, como no majestoso Ocimar Versolato vestido por Patricia Pillar numa entrega do Oscar, conquistando o respeito da revista Veja, a qual despreza uma outra certa artista, no modo como Respeito não pode ser comprado, mas conquistado. Aqui podemos ver o interior da peça, como num livro de Anatomia, desnudando os segredos do Corpo Humano, como num precursor Leonardo da Vinci, dissecando cadáveres, num homem absolutamente sedento por Conhecimento, abrindo espaço na Ciência e nas Artes, num talento raro de existir nas épocas do Mundo. Aqui é como um raio x penetrando na peça, possibilitando que vejamos o que há por trás, como conhecer uma pessoa ao ponto de poder conversar telepaticamente com esta, na intimidade entre dois espíritos, com dois amigos que se reconhecem plenamente no Plano Metafísico, a dimensão em que só há espaço para a amizade e a irmandade – só gente boa. Aqui é uma pessoa de boas intenções, nunca escondendo segundas intenções malévolas, ao contrário do psicopata, que é um lobo disfarçado de cordeiro, sempre querendo ludibriar com seu disfarce ardiloso – tome cuidado com os vampiros! Temos aqui um esmero da parte de Judd em fazer peças de impecável acabamento, sem matizes rústicas, num artista atento à Simplicidade, à limpeza das formas, dando a impressão de que recém foi passado um pano para limpar a peça, no prazer de se entrar numa casa que foi recém limpa, no modo como não há espaço para sujeira no Plano Metafísico, um plano livre da inevitável poeira da Terra, no Plano Material. Aqui é como um caixão que não é lúgubre, mas um caixão positivo, belo, como um caixão sendo aberto, sendo iluminado por dentro por um majestoso Sol, com a pessoa despertando de um sono e acordando no plano superior, uma espécie de região serrana, uma terra elevada na qual, após descansar, a pessoa sai em busca de ter algo para fazer, pois estar desencarnado é ter todo o tempo do Mundo.

 

Referências bibliográficas:

 

Art. Disponível em: <www.juddfoundation.org>. Acesso em: 29 jul. 2020.

Donald Judd. Disponível em: <www.guggenheim.org>. Acesso em: 29 jul. 2020.

Donald Judd. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 29 jul. 2020.

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