quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Donald Trump, digo, Judd

 

                   

Volto a falar sobre o artista plástico americano Donald Judd. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 

Acima, sem título (1). As listras retas impõem disciplina, numa distinção clara entre dia e noite, numa pessoa organizando a própria vida, tendo um apego nobre, uma meta, um norte, centrando a vida no trabalho, no modo como o trabalho é a única forma de se dar a volta por cima. As listras são como várias pistas de automobilismo, e podemos ouvir o vaivém de carros nas demandas de uma urbe gigante, como São Paulo, a cinzenta cidade dos negócios. Aqui, temos um contraste entre o vibrante sanguíneo e o cinzento, como Drácula, sedento por sangue na sisuda e moralista Era Vitoriana. É o contraste entre vibrante e sério, entre festa feminina e responsabilidade masculina, na junção de opostos do Universo, no modo como todos temos, dentro de nós, Yin e Yang, fazendo de Tao o grande piadista, que separou a Humanidade entre homens e mulheres, uma condição que cai por terra no momento do Desencarne. As listras são como uma sensual persiana, insinuante, escondendo e, ao mesmo tempo, revelando, na sedução de venezianas no Verão, deixando o quarto na penumbra numa quente tarde de férias, no lugar perfeito para namorar com quem se ama, deixando o Mundo lá fora, curtindo um gostoso momento de intimidade, no gostoso pecadinho da Luxúria. As listras parecem ter saído de uma esteira de fábrica, talvez fabricando tecidos, disciplinadas, impondo ordem e discernimento a uma Natureza tão caótica e enigmática, no retilíneo querendo aplacar o liquidiscente, na relação de continuidade entre Matemática e Ritmo, fazendo das batidas uma repetição de padrões frios, matemáticos, no jogo rítmico entre grave e agudo, na sedução de um salão de baile, pois a frieza dos números guarda toda a beleza de Tao, nosso professor. Aqui é como uma massa passando pela máquina para fabricar fios de massa, no acolhimento de uma comida caseira, não industrializada, na forma materna de se expressar carinho por meio gastronômico, sempre conquistando o paladar da família e amigos, no ato de dedicação e carinho que é cozinhar para outrem, como minha avó materna, cujos Natais eram inesquecíveis, numa mãe e avó que, desde manhã cedo na véspera de Natal, já começava os afazeres da ceia, num amoroso ato de doação e dedicação. As listras são as grades de uma prisão, num tempo de reclusão, como é todo o encarnado, fazendo com que este encontre algo de bom e produtivo para fazer nos seus dias na Terra, pois o Ócio é uma sucursal do Inferno – nunca ouvimos falar que cabeça desocupada é oficina do Diabo? É como uma improdutiva pessoa fofoqueira, que se tornou uma pessoa desinteressante. Aqui, o cinzento é o asfalto, o cheiro da poluição do desenvolvimento, no modo como a Imigração Italiana no RS foi uma reforma agrária que deu certo, resultando em riqueza e desenvolvimento. Aqui, há chapas metálicas cinzentas, na natural dureza do Mundo, a oficina em que temos que nos encontrar, abraçando sonhos, nunca fazendo da Vida uma senzala de trabalhos forçados, workaholics. As listras são a organização, vencendo o caos, estabelecendo a vitória do Bem sobre o Mal; da Beleza sobre a Morte, como uma rainha da Festa da Uva desencarnada, permanecendo bela para sempre no Plano Metafísico, devidamente trajada e coroada. A chapa metálica é a pujança industrial, o empenho, o esforço e a disciplina para se sair da cama e trabalhar. O vermelho é uma geleia de morango, seduzindo como combinações entre morangos e espumante. Aqui, são como veias retilíneas, como se do corpo de um robô, na construção técnica evolutiva do espírito, o qual, apesar de não ser mais escravo das emoções mundanas, permanece amoroso, cuidando de todos os seus irmãos, como uma cadela deitada, deixando a ninhada mamar, na arrebatadora imagem da loba amamentando Remo e Rômulo. As listras são como uma escalada, uma progressão, numa grande escada evolutiva, no modo dialético como tudo é processo, numa Natureza em constante processo evolutivo, mutante, como na canção: “Prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

 

Acima, sem título (2). Aqui temos um tijolo que se perdeu dos seus, ficando abandonado na Rua, no termo “cachorro que caiu do caminhão da mudança”, talvez num artista catarseando uma sensação de abandono e despertencimento. O tijolo aqui é oco, com um vão no meio, como se precisasse respirar, como janelas numa casa, como Tao, sempre vivendo, sempre respirando, nunca colocando um saliente e arrogante ponto final, trazendo a nós a Eternidade, na noção de que jamais pereceremos, num poder que é grande demais para caber na infante cabeça do Ser Humano. Aqui é como um presídio, uma sucursal do Umbral, num ambiente infernal no qual reina a descordialidade, com homens muito longe de ser cavalheiros, na eterna inclinação humana em achar que grosseria é melhor do que fineza, pois a indagação de Tao é muito clara: O que é melhor – o Bem ou o Mal? Sendo muito claro de se observar a sociopatia em quer crê, de fato, que o Mal é mais interessante, como alguns professores sociopatas que tive, os quais um dia visitarei no Umbral, estendendo-lhes minha mão numa intenção de auxílio, mas como posso ajudar uma pessoa que não quer ser ajudada? Como posso ajudar uma pessoa que se identifica com os vilões de Disney? O tijolo aqui é como uma arca, talvez guardando as moralizadoras tábuas dos Mandamentos, noções eticocivilizatórias, no esforço de pais incutindo valores nobres na cabeça dos filhos, na gigante responsabilidade de fazer com que os filhos se tornem cidadãos de Bem. Este tijolo não tem alça, e é difícil de se pegar e carregar, como se fosse um fardo, como uma pessoa rica demais, a qual acaba reduzida espiritualmente um estado inacreditavelmente pobre, ao contrário de uma pessoa boa que conheço, a qual tem o Ouro mas não é escravizada por este, permanecendo uma pessoa simples, pois as pessoas afetadas são desinteressantes. Aqui temos uma casa de tijolos à vista, nua, revelada, como um bolo com vários andares revelados, sem cobertura, como na recente moda nude, com roupas cor da pele, como numa Whitney Houston na abertura da Copa de 1994, vestindo roupas exatamente da cor de sua pele, na questão do orgulho racial, numa pessoa que ser orgulha de ter raízes africanas, numa Humanidade cruel ao ponto de forçar o trabalho escravo – Deus Jesus, quanta desumanidade na Humanidade. Aqui é como um prédio de indústria recebendo raios de sol por meios de tais brechas, e podemos ouvir os barulhos da rotina, numa cidade industrial como Detroit, no modo inglês de colonizar o Mundo por meios civilizatórios de indústria, na cruel jornada de trabalho na Revolução Industrial, com mais de doze horas de labor diário. Estas brechas são o que impede um apartamento de ficar embolorado, com o ar sempre circulando, sempre circulando, num processo ininterrupto, como na sensação que tenho ao ouvir o suave farfalhar de copas de árvores no silêncio de uma noite de brisa ou vento, na sensação de um processo se desdobrando, evoluindo, transformando, na dádiva libertadora que é amar alguém, ingressando num namoro mágico, íntimo, único, como uma Lua de Cristal em meio a um submundo tão sem brilho. Aqui, as brechas não são todas da mesma largura, e temos um jogo de progressão, como brechas que vão ficando cada vez maiores, no modo como Judd gosta de organizar, como numa dona de casa dedicada, tirando a roupa do varal e colocando mais roupa na máquina, nas demandas rotineiras do dia. Esta obra pode ser usada como um banco de praça, num design ousado, no modo como devem ser fascinantes cidades como Barcelona, com tantas relíquias arquitetônicas, como no complexo de igrejas salvadorenhas, com cidades de pulsam Arte – podemos observar a depuração cultural de uma cidade por meio de suas instituições artisticoculturais. Aqui, é como se uma bengala tivesse saído do meio do tijolo, revelando uma face, um interior, como uma pessoa que, não exatamente bela, vai se revelando belas aos poucos, de forma fina, na vitória da Mente sobre a Bunda.

 

Acima, sem título (3). Temos aqui peças dissociadas, numa desconstrução, talvez num objeto de estudo científico, com um escopo sendo definido, no modo científico ocidental. É como algo caindo e se quebrando, espatifando-se fulgorosamente, e podemos ouvir o som do desmantelamento. São como listras de uma zebra, no processo evolutivo que privilegia aqueles que se escondem de predadores, salvando-se, ou ficando imperceptível para presas, no modo como o instinto e a esperteza estão geneticamente programados, no claro modo darwinista de Seleção Natural, num Tao dinâmico, sempre criando, sempre transformando, num processo ininterrupto, no modo como a Eternidade é o único caminho lógico, no incompreensível poder de Tao, o infinito – prepare-se, pois você mal sabe em que aventura você mesmo embarcou... Aqui, é um enigmático quebracabeça, no desenvolvimento do pensamento lógico de Sherlock Holmes, no fascínio das grandes inteligências, deixando o Mundo perplexo com tais avanços de intelecto, pois já ouvi dizer: “Tudo que precisas mostrar é tua inteligência”, no desafio que é ganhar o segredo secreto das pessoas. Aqui é como uma escrita estranha, estrangeira, talvez de outras eras, no modo como foi a Escrita o que tirou do Neolítico o Ser Humano, a partir do momento em que o pensamento é decodificado, trazendo a sofisticação que tanto nos diferencia dos demais animais, fazendo que o Homo sapiens chame-se Homo sapiens sapiens. Aqui é um jogo complexo de fechaduras, confundindo, como nas questões de vestibular chamadas pegarratão, buscando desafiar os que acreditam que estudar não é necessário, pois o que é de uma sociedade sem seus intelectuais? Como já ouvi uma respeitada jornalista brasileira dizer: Quando você viaja para qualquer lugar do Mundo e, lá, entra em contato com a inteligência local, você se dá conta claramente da universalidade do Ser Humano. Aqui são objetos de uso misterioso, como uma pessoa existencialmente perdida, confusa, como num labirinto, sem saber para onde ir ou quem consultar, no modo como só o Trabalho é o que há de capaz para tirar uma pessoa de tal miséria existencial, fazendo com que a pessoa dê a tão desejada volta por cima. Aqui é um móvel que foi vendido desmontado, para que o comprador monte em casa. Os cacos quebrados acompanham o termo “quebrar a cara”, ou seja, as frustrações, as quais são causadas pelas expectativas: No dia de hoje, vi na rua duas pessoas que não esboçaram a mínima gratidão por um ato de gentileza, ou seja, se não espero por um “muito obrigado”, não me frustrarei, como Tao, observando o Mundo sem expectativas, entendendo que o Ser Humano foi feito para errar e crescer com tais erros, no trecho da oração Ave Maria – “nós pecadores”, no modo como todos estamos na Terra para crescer moralmente, num caminho de depuração, numa espécie de curso universitário sem universidade. Aqui, não podemos contemplar um quadro completo, numa prisão para a mente que são os submundos, subesferas em que a pessoa, por exemplo metafórico, ao se deparar com a Monalisa, só consegue ver as mãos desta, perdendo a noção de totalidade, de conjunto, de abrangência. Aqui, é uma foto de um subconjunto, impedindo que vejamos o que é de fato, pois como saberei o que é tal Monalisa se só vejo suas mãos? Aqui é um jogo de adivinhações, e temos que adivinhar perante tal mistério, no modo como os avanços científicos acontecem frutos dessa curiosidade, dessa vontade de se desvendar mistérios. Aqui é como um trecho de um labirinto, como na claustrofobia de O Iluminado, um livro que, já ouvi dizer, faz com que o leitor se sinta dentro de tal atmosfera dantesca, e assim é o Umbral, o infinito labirinto que nos faz caminhar em círculos, até a pessoa, em tal submundo, dar-se conta de tal trânsito circular sem sentido. Aqui é como uma cena de microscópio, com pequenos seres lutando para viver, como os cachorros, os quais, na sua força de viver, nunca sentem pena de si mesmos.

 

Acima, sem título (4). Poleiros numa gaiola, no empenho de um psicopata em aprisionar outrem em gaiolas psíquicas, como no filmão Silêncio dos Inocentes: Nunca dê informações pessoais a um psicopata, pois, se der, ele entrará em tua mente, brincando com ela, no modo como qualquer psicopata se acha Deus, no completo avesso do caminho da humildade. Aqui é como uma arquibancada num estádio, no clamor de torcidas enlouquecidas, como o barulho do foguetório e da torcida berrando, no modo como os Esportes têm essa vocação de puxar torcidas e unir as pessoas em torno de seus times do coração, ou em torno de atletas que representam toda uma nação. Aqui são como os “poleiros” do Theatro São Pedro, de Porto Alegre, com assentos no nível mais alto e remoto da plateia, com ingressos mais baratos, é claro, como num jovem Chico Buarque, o qual só entrava no estádio do Maracanã no segundo tempo, quando os portões eram abertos aos que não queriam pagar pelo ingresso. O vermelho são os laços de sangue que unem um clã, no modo espírita em que os vínculos de família não se dissolvem com o Desencarne, ou seja, quaisquer desavenças em família serão resolvidas, pois a Eternidade é isso – a possibilidade de sempre predominar o Perdão, o qual é eterno, ao contrário do Ódio, que é aprisionador, finito. Aqui é como uma escada que leva a algo, como pirâmides, as quais causam elevação no Ser Humano, no caminho de depuração que é a contramão da ambição, no caminho do desapego, pois como posso ter Paz se nunca estou feliz? É o modo como as crianças muito têm a ensinar aos adultos, pois as crianças, em sua simplicidade e inocência, contentam-se com pouco, muito longe das vertiginosas ambições materialistas e mundanas dos adultos. Quase todos os poleiros aqui são rubros – apenas um é azul marinho. É a diferenciação, na pessoa que tem a coragem de destoar e de adquirir uma identidade em meio a um mundo tão medíocre, óbvio e sem graça. É o desejo de um artista em se diferenciar, impondo uma espécie de marca registrada, original, criativa, nova, pois uma coisa é se inspirar; outra, copiar. Este azul é discreto, em destonia com o vermelho ardente. É como se fosse uma pitada de racionalidade num contexto selvagem, bruto, como uma família de leões devorando junta um cadáver de búfalo, no modo como é importante que a pessoa nunca perca o contato com sua própria família, pois se tais vínculos sobrevivem ao Desencarne, é porque são vínculos importantes, consideráveis, necessários. Aqui os poleiros se dispõem na diagonal, talvez para quebrar a caretice retilínea. É como um varal de roupas, nas demandas diárias de uma casa, no modo como uma pessoa não pode ser apenas dona de casa, tendo que ter uma atividade extra Lar, para que, assim, tal dona de casa adquira uma identidade, uma vida produtiva, remetendo à triste história de Grace Kelly, uma artista brilhante que abandonou tal brilhante carreira, tudo para se tornar uma dona de casa, no frigir dos ovos. Aqui é como um portarrevistas, com cada revista sendo disposta em uma das varas. As varas são a força, a sustentação, a vontade de viver, numa pessoa realista que construiu para si mesma uma base existencial, centrando a vida no trabalho, na carreira, como já ouvi de uma pessoa íntima minha: Para se ter sucesso, é necessário que haja trabalho, trabalho e trabalho. As varas são a vontade, como só vence a pessoa que deixou de se atirar nas cordas do ringue da Vida. Aqui são como os relevos de um tanque de lavar roupa, exigindo força de tal frágil mulher, na rotina do dia a dia, rotina que nunca deve sufocar sonhos, pois que Vida é essa na qual nada mais faço do que carpir um lote ou lavar uma pilha de roupa suja? Aqui é um degradê, um gradiente, como num relacionamento, o qual, depois de um breve estranhamento inicial, vai se desenvolvendo ao ponto de resultar em alta intimidade. O poleiro azul é a coragem, fazendo com que a pessoa não seja uma escrava das expectativas de outrem, mandando outrem à merda, com o perdão do termo chulo.

 

Acima, sem título (5). Uma cela que não aprisiona, no sentido do livre arbítrio, o princípio de Liberdade que, em inspiração na Dimensão Metafísica, gera as maiores e melhores nações do Mundo, causando inveja a sistemas ditatoriais, os quais, por suas vezes, estabelecem a Paz por meios artificiais. Aqui é uma prisão facultativa, como seguindo o Feng Shui na hora de posicionar os móveis da sala de estar: formar, com os assentos, a forma de U, com a abertura virada para a fora, ou seja, sai quem quer; entra quem quer. Temos um Judd amante das formas retas, sem muito espaço para sensualidades liquidiscentes. A obra se integra com a galeria, e talvez vemos aqui uma paisagem novaiorquina, a cidade materialista na qual tudo gira em torno de Arte e o valor monetário desta. É como um ringue aprisionador, no modo humano de eleger os melhores, colocando um homem contra o outro, para ver qual dos dois é o macho alfa da alcateia, neste bicho competitivo que é o Ser Humano. Esta obra gera um respiro, um ar livre, no ato saudável que é sair de casa num majestoso dia ensolarado, rejeitando um tanto a clausura da muvuca, gíria carioca para “lar”. Aqui é o glorioso dia de soltura, num presidiário que, ao sair da prisão, tem uma vida para reconstruir, preferencialmente longe do Mundo do Crime, numa chance de recomeço, ao contrário de um homem que conheci, numa vida destroçada pela Cocaína, sem chance alguma de reconstrução. Aqui é o cenário do Submundo, numa pessoa viciada em tal esfera, pois é muito fácil dizer a um alcoólatra que é só para de beber, numa pessoa que, frente ao vício, tem que ter uma força de vontade enorme para contornar tal vicissitude. Nesta abertura, nessa libertação, é como um animal selvagem solto de volta na Natureza, talvez depois de passar por cuidados veterinários. As linhas retas são a Disciplina, a virtude que desde muito cedo é cobrada da criança, na criança que é inevitavelmente punida após fazer alguma malcriação, no desafio que é mostrar para a criança e para o (pós) adolescente a seriedade da Vida. Este vão nos convida para passar, para viver a vida cultural de uma urbe vibrante, como no famoso vão do MASP, cenário tradicional paulistano para concentração de grandes manifestações públicas, no local mais fino de toda a maior cidade da América Latina. Temos aqui um azul esverdeado, discreto, profundo, das profundezas de hálito marinho da qual nasce a Vênus numa concha, como uma pérola, revelada ao Mundo, como numa estrela estourando em carisma e sucesso, como uma Britney Spears, a qual, depois de conhecer o doce sucesso, conheceu a amarga vicissitude, tendo que empreender um esforço enorme para se reerguer, no desafio enorme que é a pessoa se manter simples, mesmo em meio às tentações narcisistas do sucesso, como numa pessoa celebridade, a qual só sabe falar de si mesma, de sua própria vida, como se estivesse dando uma eterna entrevista – de perto, o Mundo das Celebridades é desinteressante. Esta obra dá um escudo, um envoltório, um teto acolhedor, e somos convidados a entrar na mente do artista, como um anfitrião generoso, na arte de bem receber, no termo “Encham os copos!” de uma certa personagem de filme. Aqui é como uma embalagem descartada, e o que importa, o que estava dentro acondicionado, já foi retirado e consumido, como numa embalagem de telefone celular, nas tentações consumistas do Capitalismo, sempre inventando coisas para arrancar dinheiro das pessoas, como Hollywood, a terra da esperteza, sempre elocubrando alguns filmes para arrancar dinheiro do espectador, o qual não é burro, pois o Mundo percebe quando quer ser ludibriado – o Ser Humano é pretensioso. Neste vazio temos Tao, sempre respirando, como numa sala de estar ao ar livre, arejada, leve, no prazer de se sentar numa sala e bater papo com amigos, nas elegantes salas metafísicas, lugares onde não vemos o Tempo passar. Aqui temos uma armação, um esqueleto, uma base sobre a qual algo será criado, preenchido com carne e sangue. É uma folha em branco, esperando para ser preenchida, como no ator valoroso, que se deixa “tatuar” pelo personagem.

 

Acima, sem título (6). Temos uma pequena escada, mínima, numa dimensão que está ligeiramente acima da outra, numa hierarquia, pois as cidades da Terra tentam imitar as plenas cidades espirituais, as quais não são acometidas por vicissitudes como coleta de lixo, limpeza de calçadas, manutenção de canteiros e recapeamento do asfalto. São cores vibrantes e divertidas, contrastando com o discreto e sisudo cinzento chão desta galeria de Arte, na majestosa capa rubra em Drácula de Bram Stoker, revelando a sede, o vício do protagonista sociopata, o qual devora a felicidade alheia. Temos aqui um prédio de dois andares, com duas grandes varandas, no prazer de se apreciar a vista para alguma cidade ou paisagem campestre. As cores aqui são doces como pirulitos, na magia de uma colorida mesa de aniversário de criança, com guloseimas prontas para a devoração, na magia dos doces, remetendo aos felizes dias que antecederam o Reencarne, ou seja, os dias metafísicos, os quais estão ainda fresquinhos, recentes na mente da criança. Aqui é um prédio de arquitetura modernista, talvez num arquiteto que pensou na hora da limpeza, ao contrário de estilos mais carregados, mais difíceis para a limpeza ou pintura, na impressionante arquitetura futurista de Teotihuacán, a Cidade dos Deuses, uma cidade que, apesar de muito antiga, permanece moderna e sofisticada, alimentando a imaginação de quem crê que o Ser Humano é o resultado de uma colonização alienígena instrutora, que educou tal ser, numa espécie de “empurrãzinho” na escala de evolução humana. A escada é a evolução, o aprimoramento, numa pessoa que morre melhor do que quando nasceu, no objetivo da Vida, que é a depuração moral, numa pessoa que vê a Honestidade como tal meta de aprimoramento, pois como posso melhorar se sou alguém de má fé? A Desonestidade é uma grande perda de tempo, uma ilusão. As rampas e escadas são brilhantes e simples invenções que nasceram da Preguiça, pois porque preciso escalar um prédio se posso tomar as escadas? Ou seja, nada de errado no gostoso pecadinho da Preguiça. Aqui, o nível superior é menor, menos volumoso, talvez numa pessoa que está passando por um processo de desapego, como se soubesse que as riquezas mundanas são sobrevivem ao Desencarne, na ilusão de abarrotar com tesouros o túmulo de um faraó, acreditando que o Metafísico é uma piada materialista. Aqui temos disciplinadas linhas retas, só que num detalhe em diagonal, numa espécie de liquidiscência matemática, por assim dizer, no modo como as áreas do Conhecimento Humano se interligam, como numa família onde cada membro tem importante função. Podemos ouvir o som de pessoas subindo e descendo, num movimentado shopping, numa demanda de consumo, com filas em caixas de supermercado, nas inevitáveis necessidades mundanas. Aqui temos o esmero de um marceneiro, serrando, lixando e pintando, no modo como nada nem ninguém é pequeno demais para desmerecer a total atenção de Tao, o Pai zeloso que quer o melhor para os filhos, tratando estes como príncipes, pois é na Dimensão Metafísica em que podemos observar com clareza o Plano Divino para conosco, fazendo da Terra um mero lar de passagem, uma mera etapa anterior ao retorno à Vida Real, que é o Reino dos Céus, a terra prometida pelo filho de Maria, a Mãe Virgem que nos gerou imaculadamente. Aqui temos o enigma de construção inca, com pedras que se encaixam perfeitamente, numa técnica perdida na noite dos tempos, com todas as charadas que o Ser Humano jamais conseguiu desvendar. Aqui, o corte nos revela um interior roxo, como um bolo sendo fatiado, num doce irresistível, recheado, rico, consistente, num doce que pode ser amplamente comido sem resultar em sobrepeso ao apreciador. Aqui é como um mirante, num ponto de observação, como num drone filmando das alturas. Esta é a prova de como a Simplicidade é fascinante, livre de frescuras e afetações. Aqui é a ascensão num pódio, havendo na celebração da vitória a doce vida produtiva que nos espera.

 

Referência bibliográfica:

 

Art. Disponível em: <www.juddfoundation.org>. Acesso em: 5 ago. 2020.

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