quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Artista do Tio Sam

 

                     

Samantha Bittman nasceu em Chicago, EUA, em 1982. Encontra-se radicada em Nova York. Estudou em três institutos de Arte. Já fez 22 mostras, entre individuais, duplas e coletivas. Multiplamente premiada. Também leciona Arte. Suas mostras iniciaram no ano de 2008. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Interlace. Obra feita no Museu de Artes e Design de Nova York. Samantha faz aqui uma intervenção. Os elevadores são a opção, no livre arbítrio, assim como um artista tem que se sentir livre para produzir, no modo como deve ser infernal a vida de um artista em meio a regimes ditatoriais, os quais fazem da Arte uma mera ferramenta de propaganda estatal ideológica, o que é uma grande ofensa, pois a Arte é a obra do espírito livre, corajoso e amoroso, com anjos batendo suas asas pelas vastidões da Criatividade, fazendo da Arte uma das maiores provas do que nos faz Humanos, pensantes e livres. O estilo de SB remete a costura, a tricô, no trabalho paciente do artesão, juntando retalhos e fazendo uma colcha, na tarefa do artista plástico em associar coisas dissociadas e, nessa assemblagem, produzir algo novo. As cores são a alegria metafísica em criar, num Mundo no qual as vicissitudes da Matéria estão esquecidas. São as obras das mãos humanas, sempre operantes, sempre úteis ao Mundo, numa mãe dedicada, cozinhando, passando, lavando, costurando, talvez num machismo patriarcal que faz com que a mulher viva, a vida toda, na sombra de um homem: se é uma mulher sustentada por um homem, tudo bem; se é o contrário, não pode... Então o espírito desencarna e, ao se tornar anjo, dá-se conta de tais tolices preconceituosas, num Ser Humano empenhado em decodificar os mistérios cósmicos dos opostos Yin e Yang, cercando de ritualidade os casais heterossexuais, na gueixa doce ao lado do marido sisudo. Aqui, SB trabalha como por pixels, num trabalho que remete a computador, na construção técnica do espírito, como num frio número impessoal que identifica cada um, na humildade de sermos irmãos e iguais, apesar de estarmos em pontos diferentes de depuração espiritual. Em meio a tanta frieza numérica, entra o Amor, este milagre que faz com que nos sintamos irmãos e iguais. Estes elevadores são independentes, e um não manda na vida do outro, como num casal saudável, no qual não há o desejo de controle, obsessivo, como um amigo meu, o qual se separou da namorada porque esta queria controlá-lo, e esse desejo possessivo destrói casamentos, os quais, para ter sucesso, precisam ter respeito mútuo, num amor que não foi comprado por um e noventa e nove. Estas portas levam a outras dimensões, tanto para o glorioso Plano Metafísico, quanto para o horrível e inclemente Umbral, na questão da livre escolha – o espírito vai para onde quer ir. É como nas ludibriosas portas do filme Labirinto: uma sempre diz a verdade e outra sempre mente, num jogo confuso de raciocínio, com a personagem Sarah confusa, não sabendo ao certo em qual porta pode confiar – talvez as duas mentem; talvez a duas dizem a verdade... É como uma pessoa perdida e desnorteada pela Depressão, este labirinto cheio de pistas falsas, na dádiva da pessoa centrada, que organizou a própria vida em torno de um Norte nobre, produtivo. Aqui é uma SB querendo trazer um pouco de cor e alegria a um mundo tão cinzento e duro, como Nova York, uma cidade que, apesar de tanto pulsar deslumbrante Arte, pode ser uma cidade bem dura e cruel, como qualquer lugar do Plano Material, com vicissitudes universais, no modo como é ilusório crer que se pode fugir disso tudo apenas mudando-se de cidade ou país. Aqui é como um cachecol tecido na máquina de tear, com as cores se mesclando, como uma pessoa se entrosando, descobrindo amigos e semelhantes, como numa pessoa encontrando-se com os seus, fazendo amigos e adquirindo aliados, aquelas pessoas que nos ajudam na obtenção de respeito. Aqui é uma Primavera geométrica e retilínea, no encanto de Porto Alegre em tal estação, com flores lilases caindo elegantemente sobre as calçadas. Muito lindo, cara.

 


Acima, sem título (1). A maestria de SB com as linhas geram formidáveis ilusões óticas, pois a impressão que se tem é a de que a obra tem saliências abrasivas e agressivas, como num potente escovão de aço, ou como paladinas pirâmides, erguendo-se falicamente aos Céus, como se estivesse desafiando os limites da Matéria, como me narrou minha avó, a qual, ao ver um moderno avião decolando ruidosamente, perguntou-se: “Até onde o Ser Humano quer ir?”. Aqui é como um origami, engenhosamente dobrado, produzindo coisas novas, como no andróide de Blade Runner, fazendo um origami, na máquina que supera o Homem, como no campeão mundial de Xadrez, sendo derrotado pelo robô, na ironia de criatura dominando criador, no termo “Fiz um monstro”. Aqui é como uma sanfona, na cena divertida do sitcom The Nanny, com a senhora obesa vestindo um vestido fashion, com a filha dizendo: “Parece que você engoliu uma sanfona!”. Aqui vemos um jogo de sedução entre reto e torto, no desejo de organizar e desorganizar, como nas modas, nas ondas, nas vogues, como no terrível visual capilar dos anos 80: desbastado na frente a comprido atrás – ainda bem que as modas passam, pois, dizia Elis, o novo sempre vem, no modo como a pessoa tem que se deixar envolver por cada momento, como uma amiga minha, a qual cultua o astro imortal James Dean, ouvindo esta da própria professora: “Tu tens que viver no teu tempo!”. Aqui é como uma mata de folhagens farfalhando sedutoramente, como na balada romântica Kisses in the Moonlight, ou seja, Beijos sob o Luar – não é sexy? Aqui existem influências múltiplas, como no convívio entre dois artistas, um influenciando o outro, com interferências inevitáveis, talvez aqui numa SB sofrendo influência do mago Escher, com seu jogo fascinante entre linhas e contrastes. Aqui temos as tortuosas linhas femininas, como numa topmodel requebrando esplendidamente numa passarela, na sedução de uma explosão de flores perfumadas, na vitória de Beleza sobre o horrível, incivilizado e grosso Umbral. E temos aqui as linhas retas do Pensamento Racional, numa cabeça fazendo interconexões, como me disse uma professora: “Inteligência é saber conectar os fatos”. Este quadro de SB não seria possível sem os contrastes, sem a passagem constante entre dias e noites, no modo humano de compartimentar o Tempo, dividindo entre passado, presente e futuro. Aqui temos o jogo de ilusão entre côncavo e convexo, e não sabemos ao certo como classificar a obra, na característica do grande artista, que é se tornar um enigma eternamente sem resolução, como tudo é processo, e nem a Eternidade fará com que entendamos o que é Tao, aquele que sempre esteve aqui e sempre estará, fazendo do Ser Humano algo ainda tão limitado, incapaz de entender que o caminho lógico é a Eternidade. Aqui é como no jogo de ondas do calçadão no Rio de Janeiro, num jogo de ótica, fazendo com que a pessoa, ao caminhar pela extensão de tal calçamento, tenha e impressão de que, sob seus pés, ondas vêm e vão, no papel do artista, que é deslumbrar o Mundo com imaginação, ousadia e elegância, no poder do Bem, da Vida, da Virtude, como no clímax de um grande show, num artista puxando-nos para sua mente, no modo como não devemos subestimar o ponto de vista alheio, pois são caminhos infinitamente diversos que levam ao mesmo destino, que é Tao. Aqui são como arestas prontas para ser aparadas, no modo como qualquer pessoa está no Mundo para aparar tais arestas, nunca pensando que atingiu a perfeição, pois é arrogante aquele que acha que nada mais tem a aprender, e a arrogância precede a queda, meu amigo. Aqui temos tenso e relaxado, na natureza matemática dos ritmos, fazendo repetição simétricas, envolvendo-nos com tal aquosidade, na relação de continuidade entre Matemática e Fluidez, ou seja, entre Yin e Yang, os opostos universais que nasceram de Tao, o Uno.

 


Acima, sem título (2). Temos aqui um labirinto, como na metáfora labiríntica de O Iluminado, com um homem surtado querendo matar a própria família a machadadas, como a história de um menino perturbado, que matou o próprio pai a machadadas. Temos aqui um tom de artesanato indígena, com suas linhas simples e primitivas. Samantha nos brinda com tais efeitos cinéticos, parecendo que a obra se mexe. O labirinto é o cérebro, com todos os seus meandros, no caos dos impulsos primevos do Inconsciente, esses demônios que têm que ser reprimidos e disciplinados, como disse certa vez um psiquiatra: “Nunca desperte a fera dentro de si mesmo”. Aqui é a planta baixa de uma cidade complexa, como uma cidadela medieval, com meandros que só um nativo pode compreender. Aqui, as linhas vão na horizontal, vertical e diagonal: A Cultura de Massa vai pela horizontal; a Erudita vai na vertical; a Popular vai na diagonal, havendo nesta última o charme de algo que veio do povo e com este permanece, no enigma popular: Quando, como e onde surgiu exatamente? Não se sabe. Aqui é como uma complexa impressão digital, ou aquele código que devemos decodificar com a câmera de nossos celulares. É a identidade do cidadão, como no registro biométrico nas Eleições, tendo a certeza de que é mesmo o eleitor quem ali está votando, evitando a falsidade ideológica. É a ironia de que, mesmo com bilhões de seres humanos sobre a Terra, cada um tem a sua identidade digital, fazendo metáfora com o número identificador de cada espírito, na lição de humildade, pois somos todos iguais, tais quais os cidadãos no momento de voto livre e democrático, nas nobres intenções de igualar os seres humanos, só havendo entre nós as diferenças no nível de depuração moral – os mais depurados regem os menos nobres. Aqui é como um chip de computador, no modo como os circuitos de um aparelho eletrônico lembram a organização de uma urbe, com seus prédio e vias, no império da Ordem e do Trabalho. É como as linhas simples e futuristas da enigmática Teotihuacán - o Ser Humano evoluiu sozinho ou recebemos um “empurrãozinho” civilizatório de civilizações extraterrestres mais evoluídas do que nós? Pois, um dia, o Ser Humano pisará em Marte, sendo ali, então, um extraterrestre. Aqui são como cerdas abrasivas de uma escova, como no formato abrasivo piramidal, como os seios cônicos de Madonna, a mulher que ousa desafiar o Patriarcado, combinando feminilidade com força, numa ironia, pois, já ouvi dizer, Madonna, no fundo, é careta, sendo que cada um de nós tem um lado moderno e um lado conservador – eu sou meu próprio inimigo. Portanto, conheça a ti mesmo. Aqui é a paciência de um artista em tecer suas linhas. São como vários furúnculos ou espinhas, pedindo para ser espremidos, na dolorosa limpeza de pele, no modo como as mulheres fazem “loucuras” em nome da Beleza, no arquétipo Yin do espelho de Galadriel, na tarefa social da mulher em representar socialmente a Beleza inabalável do imaculado Nível Metafísico – a Vida em Sociedade é repleta de rituais. Aqui as linhas ficam tensas nessa ilusão ótica, e tal efeito é obtido com a mesma espessura das várias linhas, como em filmes tensos como Argo, no trabalho de americanos querendo fugir da maior praga social, que são as ditaduras. Aqui podemos ver subjetivamente uma figura humana, como se estivesse caminhando, como um robô, fazendo metáfora com a evolução técnica do espírito, um ser sem as dores das paixões terrenas, como numa eterna anestesia, numa vida em que as dores materiais se dissipam, e, ainda assim, com os espíritos que, apesar de frios, são tão amorosos, tão afetuosos, como velhos amigos que se (re)encontram no Nível Metafísico, na festa de rever grandes amigos, como um avô ou uma avó, no Mundo em que todos somos jovens, belos, produtivos e divertidos. Aqui é como um tapete artesanal indígena, num nível de depuração psíquica ainda muito distante das sofisticações contemporâneas, como no legado arrebatador de grandes museus como o Louvre ou o Met. Aqui é um sistema complexo de encanamentos, como nas vísceras de um organismo.

 


Acima, sem título (3). Samantha tem uma certa afinidade pela Indústria Têxtil, com suas formas remetendo ao kilt inglês/escocês. Aqui é um objeto estranho, como um OVNI, na estranheza do choque entre americanos e europeus na Era das Navegações, no momento em que o Ser Humano se encarregou de ser, como sempre, o mais cruel possível, escravizando seus irmãos, seus iguais, algo muito, muito distante da Hierarquia Espiritual, a qual é imposta sem força, sem estupidez e sem brutalidade, no caminho do Livre Arbítrio – só obedeço se eu quiser, ao contrário das ditaduras, os sistemas em que o Ódio impera soberano. Aqui temos arestas a ser aparadas, no modo como todos, em todos os momentos da Vida, temos tais arestas, pois pobre daquele que acha que sabe tudo, num caminho arrogante, muito distante da humildade técnica do espírito, o qual tem um número de identificação como um frio telefone, por exemplo. Aqui temos arestas cortantes, num ser horrível e impiedoso, matando a própria família tudo em nome de uma coisa só – Poder, na metáfora do Oráculo de Matrix: “O que um homem poderoso quer? Mais poder”, numa sede absolutamente insaciável, como numa pessoa, a qual, apesar de ter várias plantas em casa, sempre quer ter mais uma, no caminho patológico dos acumuladores compulsivos, soterrando-se abaixo de objetos, no caminho do apego material, o qual nada tem a ver com o desprendimento de Tao, aquele que observa sem expectativas o Mundo, pois a Expectativa é irmã da Frustração. Aqui a monotonia em preto e branco sofre interferência do azul, remetendo a um certo quadro de Mondrian, no qual um pequeno quadrado azul tenta equilibrar um instável quadro em preto e branco. Aqui é um paciente trabalho de tear, remetendo a uma relíquia de família que tenho, a máquina de costurar de minha bisavó Antonieta, numa época em que costurar roupas era a regra e, comprar em lojas, exceção. E felizes são as mãos que servem ao Mundo, pois como pode ser feliz a pessoas improdutiva, que só produz fezes e urina? Na frase: “Nada mais trabalhoso do que não trabalhar”. Esta peça de Samantha parece que gira, numa artista com certo dom cinético, compondo corpos dinâmicos que desafiam as regras físicas de estabilidade. Aqui é como um complexo tabuleiro de Xadrez ou Damas, numa releitura pós moderna, nas funções de cada peça em atuar de forma própria, nas diferenças entre as regras de movimentos entre Torre e Bispo, por exemplo. Aqui é uma persiana exótica, na sensualidade de tardes de Verão, com o ar morno da tarde passado pelas fendas, trazendo ao cômodo uma sexy luz na penumbra, no cenário perfeito para os enamorados, como beijos sob a luz do luar. Aqui remete à logomarca do Banco do Brasil, complexa, um tanto complicada, diria um marqueteiro, pois a mensagem simples e limpa é a mais poderosa, no caminho de Tao, indo contra as pretensões narcisísticas de uma pessoa que se acha simplesmente o centro do Universo, que é Tao, não eu. Aqui é como um gato preto se esquivando sorrateiramente, no termo em Inglês catwalk, que é a passarela de Moda, com modelos pisando suavemente, no charme e na beleza de um bicho tão peculiar como o gato. O “gato” aqui está meio revelado, meio escondido, e é exatamente nessa contradição que vem a sensualidade, como ouvir o farfalhar de folhas de árvore numa noite amena de Verão, pois tudo é processo, tudo é transformação, abrindo alas para a Vida Eterna, a maior prova do poder imenso de Tao, o infindável – não é poderosa demais a ideia de que jamais findaremos? Remete aqui ao vinho chileno Gato Negro, um tinto, na magia do símbolo de azar, pobrezinhos dos gatos negros, tão inocentes! Este jogo cinético remete ao mago Escher, brincando com as percepções do espectador, no eterno jogo de contradição entre côncavo e convexo, no divertido modo em que tudo traz a sua própria contradição. Aqui é como uma galáxia girando, no modo como, no centro de nossa própria galáxia, há milhares de buracos negros, nos enigmas do Universo, um corpo tão além de qualquer julgamento humano, no termo: “Escrever certo por linhas tortas”.

 


Acima, sem título (4). Temos aqui uma água borbulhando, fervendo, como o sangue de uma pessoa que está extremamente irritada, estando apenas a um passo de perder o controle. Aqui as cores lutam para colorir um quadro sem cores, num contraste entre um enterro e um baile de Carnaval. Aqui é um jogo ludibrioso de videogame, com ciladas aparecendo e desaparecendo, num labirinto traiçoeiro, cheio de pistas falsas, como num romance de Agatha Christie, sempre desafiando o leitor a desvendar o mistério antes deste ser revelado ao fim do livro. Aqui são como agressivos granizos que caem impiedosamente, ferindo e destruindo. É como num game de Atari, com coisas nocivas caindo, desfiando o jogador a se esquivar e a se salvar, nos desafios de qualquer jogo, da Vida, este grande desafio que se impõe a nós todos os dias, exigindo espírito atlético da pessoa, pois a Vida não tem sentido sem vicissitudes, pois são estas o que faz com que a pessoa cresça e depure-se, ou seja, a Vida é um ringue no qual não podemos nos atirar nas cordas, como num corajoso Aragorn de Tolkien, guiando os homens em meio a jornadas duras e desafiadoras, num espírito de caçador ou pescador, indo à luta para ganhar o pão do dia. Aqui são várias luminárias, um tanto Decô, como as discretas luzes de uma sala de Cinema antes do início da projeção, nesta forma de Arte que se tornou esmagadoramente popular e adorada, dando ao Século XX tal matiz. Aqui são como várias vulvas coloridas, como no bom gosto dos nus da Playboy brasileira, com fotos que nunca expõem totalmente a modelo, no jogo sutil que estabelece uma linha divisória clara entre sexy e vulgar, com outras revistas que, por suas vezes, são menos sutis e menos finas, revelando a mulher de forma vulgar, óbvia e agressiva, ou seja, perdendo o Cavalheirismo. Aqui são como fontes com cascatas, sempre fluindo e gerando Vida, no milagre da multiplicação dos pães, num Cristo que demorou séculos para ser devidamente reconhecido, com a Humanidade se redimindo por ter ignorado, em vida, o Grande Homem, como a rainha Elizabeth II, a qual teve que voltar atrás ao ter subestimando o impacto global da morte de Di, num caminho de humildade e devido reconhecimento, como num artista que só é reconhecido postumamente, como num genial Van Gogh. Aqui é um jogo complexo de persianas, num Sol que luta para entrar e iluminar, na luz que entra no quarto e diz à pessoa que está na hora de acordar, deixando para o lado os impulsos de prazer do Id, numa pessoa que se deu conta do valor da suma necessidade de se ter Disciplina. Aqui é como um papel dobrado muitas vezes. É como um conjunto de estrelas, como se estivessem competindo para ver quem brilha mais, na eterna e inevitável competitividade da Vida, quando a criancinha, desde cedo na Escola, sente-se pressionada a ter a nota mais alta e a ser a queridinha da professora. Aqui são como várias bombas explodindo simultaneamente, como na Polícia deflagrando alguma operação com vários mandados de busca e apreensão, num bandido que subestimou a inteligência e a esperteza dos policiais, fazendo do bandido tal pessoa equivocada, que definitivamente subestimou a importância de se adquirir depuração moral, como nas noções moralizadoras dos Dez Mandamentos, diretrizes básicas que buscam fazer com que a Terra se pareça ao máximo com a Sagrada Terra Metafísica, a dimensão onde estamos entre amigos. Aqui são vários túneis sendo revelados, vários úteros, numa mulher sedutora que adquiriu uma posição passiva, atraindo como a Lei da Gravidade, numa mulher que descobriu que, para agarrar seu homem, tem que se dar ao respeito, mostrando ao homem que ela não é qualquer fulana ordinária. Aqui são vários olhos em torno de uma obra só, na capacidade de certos artistas em obter a atenção de muitas pessoas, sentindo-se compreendido e valorizado, na dádiva que é ser reconhecido, neste grande e capital desafio que é se fazer entender.

 


Acima, sem título (5). Aqui temos uma corajosa seta cortando o quadro, no termo “arqueiro” do sobrenome Archer em A Época da Inocência, numa personagem objetivada, com os pés no chão, querendo casar e constituir família, no modo como a pessoa tem que ter norte, pois, do contrário, torna-se um “piano de cauda”, o qual todos acham lindo mais ninguém sabe direito onde colocar, como num misterioso objeto sem uso conhecido, como numa pessoa deprimida, chocha, sem a força para virar as páginas e tocar a Vida para frente. É a flecha do cupido, fazendo sofrer os corações nas dores da paixão, como num Cristo carregando o peso da cruz que cada um de nós carrega. É a imagem da santa tendo o peito flechado por um anjo, numa pessoa que sabe, com todo o seu coração, o que deve fazer da Vida, como na palestra que ouvi num centro espírita: “O se encontrar é um desafio capital”. Aqui temos as linhas sensuais da Garota de Ipanema, numa moça fina e discreta, jamais vulgar, conquistando o respeito do compositor, na arrebatadora cena de Gisele cruzando o Maracanã ao som da famosa canção – Deus Jesus, que estrela. Aqui, as ondas são como bandeiras tremulando, orgulhosas, sendo hasteadas de Norte a Sul, num país que busca se tornar unido, uno, no desafio do regente, o qual, sempre sob a luz de Tao, é um líder clemente, que respeita o cidadão comum, na lição de Tao: “Nunca interfira do pacato dia a dia do cidadão comum”. Aqui são como as ondas do Mar, nas curvas de Iemanjá, num vestido imenso, da extensão dos Mares, como nas descomunais saias esvoaçantes na vinheta de abertura do programa Saia Justa do GNT, numa identidade feminina, festiva, quebrando o siso das durezas masculinas, num jogo de sedução entre Razão e Loucura. Já, na parte superior do quadro, vemos linhas retas e racionais, na menor distância entre dois pontos, num mistério que é solucionado, como na iluminada Galadriel de Tolkien, uma espécie de aranha iluminada, terrivelmente clara, quase assustadora de tão poderosa, na criatura mais nobre da Terra Média da trilogia célebre. Aqui é como um leque se abrindo, numa mulher se abanando, num jogo de diversidade, com toda uma gradiente de opções, como numa cartela de cores, num prisma, numa peça de cristal encantando com sua força, sua vida, numa sala de estar muito fina, muito bonita, porém simples, sem pretensões arrogantes. É o modo como as nojentas massagens de Ego, tão frequentes na Terra, perdem o sentido na Dimensão Metafísica, pois, nesta, não há a dúvida cinzenta, mas a certeza de que somos todos especiais, príncipes filhos do mesmo Rei, ou seja, as puxações de saco são perdas enormes de tempo, num mundo repleto de corrupção passiva e ativa. A porção superior do quadro traz a minimalista energia binária de Preto e Branco, numa foto sem cores de deslumbrantes estrelas hollywoodianas, estas pessoas tão bajuladas, como mostra o genial Woody Allen no filme Celebridades, uma película na qual o diretor expressa todo o seu desprezo pelo stalishment das celebridades, as quais são mimadas, chegando a um ponto em que creem, de fato, que são deuses, e não seres humanos. A porção inferior do quadro também traz traços negros, mas com cores, como no quente amarelo e na feminina cor de rosa. É como num contraste entre cabelos lisos e ondulados, na eterna busca insaciável do Ser Humano, o qual nunca está contente ou satisfeito: se o cabelo está liso, quer encaracolar; se está encaracolado, quer alisar. Até a pessoa chegar a um ponto em que percebe que não existe fugir da Vida, no erro humano da pessoa querer se encontrar fora de si, e não dentro – existencialmente, pouca coisa muda com uma cirurgia plástica, por exemplo. De um invisível ponto na margem esquerda do quadro, explodem estas linhas e cores, como num Big Bang, a grande explosão de Tao que gerou nosso Universo, esta dimensão vasta, quiçá infinita, muito além da pequena esfera azul que habitamos – o que é o Universo? É como a luz entrando na câmera fotográfica, na revolução que foi o surgimento da Fotografia. É uma mínima e subestimada faísca que tem o potencial para detonar um barril inteiro de pólvora.

 

Referências bibliográficas:

 

CV. Disponível em: <www.samanthabittman.com>. Acesso em: 30 set. 2020.

Portfolio. Disponível em: <www.samanthabittman.com>. Acesso em: 30 set. 2020.

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