quarta-feira, 7 de abril de 2021

Mares de Martín

 

 

De origem judaicoalemã, Martín Blasko (1920 – 2011) fugiu da Alemanha em 1939 da perseguição nazista, fixando-se na Argentina. Muito reconhecido nacional e internacionalmente, como em Londres, Veneza, Bruxelas e São Paulo, MB teve uma grande retrospectiva em 1990 no Museu de Arte Moderna de Nova York. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, A Bota Feliz. Aqui é como um embrulho se desembrulhando, num processo de transformação, de mudança, de evolução, na agenda espiritual de alguém encarnado, evoluindo moralmente como espírito. O pedestal aqui é mínimo, no fascinante minimalismo japonês, na bandeira nacional mais simples e linda do Mundo. O pedestal é o sustentáculo, a base, como um patriarca mantendo a família unida, havendo, na morta de tal líder, uma desintegração da família, com partes da família passando o Natal separadas. Aqui vemos algo como uma manivela, na pujança industrial, talvez no formato da suástica que tanto aterrorizou Blasko, no episódio tão sombrio e mau que foi o Nazismo, havendo na Arte o antídoto para tais ditaduras, pois estas querem controlar o cidadão, na metáfora de Matrix, remetendo-me a uma cena que vi recentemente em Caxias do Sul, com um grupo de pessoas empunhando bandeiras do Brasil em frente ao quartel da cidade, pedindo pela volta do Regime Militar – será que blogs serão proibidos no Brasil? Conhecimento e informação trazem Liberdade. Aqui é uma triste cor cinzenta, como num horroroso campo de concentração, num momento em que seres humanos foram tratados como nem se trata um cachorro, na inclinação humana para a Crueldade. Aqui é como um complexo de maquinário numa indústria, num processo complicado de esteira de montagem, como numa Detroit industrial, cinzenta, no parque industrial caxiense, e podemos ouvir todas as máquinas operando no turno na empresa, numa dedicação ao trabalho, como numa Maria Callas interpretada por Marília Pêra, dizendo que dedicação é essencial, pois como posso ter uma boa horta se não me ocupo com a mesma? Ao mesmo tempo, a dosagem sábia é necessária, pois de nada serve o workaholic. Aqui são linhas retas e tensas, num modernismo, no boom de Arte Moderna no Século XX, desafiando tradições seculares de Arte, na necessária transgressão para que o Mundo evolua, derrubando, assim, rançosos preconceitos, havendo na Juventude a esperança para a quebra de tal suja poeira de ignorância. Aqui são como setas apontando para direções diferentes, numa indecisão, numa dúvida existencial, numa placa com várias direções, confusas, numa pessoa que pouco sabe o que quer da Vida, como na hora de escolher um curso universitário, na tentativa da pessoa em se encaixar em algo, descobrindo seu lugar no Mundo, numa pessoa marginalizada, incerta, num limbo de indefinição, não tendo identidade, estando a “milênios” de se encontrar, nas naturais dúvidas humanas, num Mundo cinzento, entre a Luz do Bem e a Escuridão do Mal, no esforço de Fé, num Mundo que nunca nos dá certezas, havendo no Plano Metafísico o término de tal dúvida, num plano em que nos sentimos inacreditavelmente especiais, melhor do que muitos príncipes sobre a face da Terra. Aqui é um duelo de mentes, numa acalorada discussão, com pontos de vista apontando para direções diferentes, no termo “da discussão nasce a luz”. É como num tenso debate político, ou vizinhos brigando numa reunião de condomínio, na inclinação humana pela Guerra, pelo Ódio, pela Raiva, tão longe de Tao, o pai que quer o melhor do melhor para nós. Aqui é uma máquina complexa, tendo que ser operada por um expert, nos avanços tecnológicos de maquinário, com máquinas modernas suplantando as antigas, como nas máquinas de datilografar sendo substituídas por computadores e impressoras, no galgar incessante da chamada Terceira Onda, digitalizando a Humanidade. Esta coloração é como fuligem sedimentada, nas poluições inevitáveis de hoje em dia, longe do descobrimento de fontes limpas de combustível, no engajamento ambiental de um Leonardo DiCaprio, no fato de que a Terra é nossa única morada de encarnados.

 


Acima, Constelação Cósmica. Aqui é como um marceneiro extremamente talentoso, complexo, competente, mestre no ofício. Aqui é como uma teoria, um pensamento complexo teórico, num físico querendo desvendar os segredos do Universo, no modo, já me disseram, a Ciência é como descobrir como funciona um relógio sem abrir este. Este talento de Blasko traz tal complexidade arquitetônica, num talento digno de reconhecimento e valorização. É uma sábia junção de elementos, na tarefa plástica de (re)combinar elementos e produzir algo novo, no modo como aqui dá a impressão de que MB tinha muito prazer em trabalhar e produzir o que produzia, no modo como os gênios, como Pelé, dão a impressão de que tudo é muito fácil. Aqui é como um complicado paciente sendo desdobrado por um psicoterapeuta, num paciente impaciente, cheio de conflitos, talvez imaturo, ao ponto infeliz de uma pessoa querer ser qualquer outra pessoa, menos ela mesma, pois como posso ser feliz se não vejo valor em mim mesmo? É o caminho da autoestima, numa pessoa que passa a viver de coração aberto para o Mundo, relacionando-se com este. Aqui é como um jogo de encanamentos e esgotos, como veias e artérias suprindo e filtrando um organismo, uma cidade. Aqui temos uma interdependência, pois as partes estão associadas, unidas, ligadas umas às outras, formando um aparelho digestivo, com vários órgãos, vários “atores”, vários “personagens” numa história, dando embalo a um enredo no qual cada personagem tem sua função e importância, desde o protagonista até o coadjuvante. Aqui temos algo estranho, formidável, complexo, brilhante, na saudável sensação de estranheza, a qual precede o reconhecimento, na eterna dúvida humana: O que é Arte? Arte é penetrar poderosamente na mente das pessoas, como num filme blockbuster causando comoções mundiais, arrastando multidões aos cinemas, ou como um certo álbum de Michael Jackson tornando-se, “apenas”, o álbum mais bem vendido da História, na eterna competição, como num concurso de beleza, com uma miss querendo ser mais linda do que a outra, como em eventos de gala, com as mulheres competindo para ver qual tem o vestido mais maravilhoso. Aqui é como um reaproveitamento de peças, de restos numa linha de montagem industrial, transformando lixo em luxo, num visionário, vislumbrando serventia em coisas que, até então, eram ignoradas e desprezadas, como num artista desmontando suas obras e remontando obras nessa reciclagem, no poder de mãos transformadoras, como Deus fazendo o Homem a partir do barro, havendo em Tao este artista, esta mente sempre fazendo, inventando e inovando, como fãs esperando avidamente pelo próximo álbum de seu cantor predileto. Neste prédio complexo de Blasko, temos um labirinto, com pessoas que só podem ali transitar se souberem os segredos de tal enigma labiríntico, num complexo de escadas, rampas e elevadores, como numa pessoa se sentindo presa e querendo se libertar, encontrando uma saída para tal traiçoeiro labirinto, numa pessoa com muita vontade em se tornar independente e assumir o “painel de controle” de sua própria vida. Se transformada em prédio de fato, esta obra causaria comoção mundial, naqueles apolíneos sonhos de arquiteto, enriquecendo uma cidade com tal ousadia de projeto, como na formidável Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre, quebrando com mediocridades e mostrando talentos, na vitória da Arte sobre o niilismo; na vitória que transgride paradigmas, abrindo os olhos do Mundo. MB nos dá a impressão de ter muito prazer em produzir, praticamente brincando ao compor tais peças complexas, pois como posso ser feliz se odeio o que faço? Se fosse um prédio, este obra traria um jogo complexo de incidência solar, com partes do todo sendo banhado pelo Sol de formas diferentes. Aqui parece ser um corpo em incessante transformação, e nos dá a impressão de que sempre caberá uma nova pecinha anexada ao todo. É como um molho de chaves ou um celular multifuncional.

 


Acima, Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido. O sangue espirra em todas as direções, neste talento humano em levar as coisas a ponta de faca. É uma escultura elegante, com uma cintura delgada, nesses sonhos arquitetônicos de Blasko, com prédios elegantes, de engenharia ambiciosa, parecendo desafiar a pura Lei da Gravidade. O monumento se eleva ao Céu, ao Reino no qual temos nosso lugar garantido, numa vida mais maravilhosa do que qualquer momento de nossas vidas na Terra, num lugar apolíneo onde ótimos empregos nos esperam – nunca trabalhos subservientes. É como no auge da agência de Propaganda portoalegrense DCS, na qual dez entre cada dez publicitários portoalegrenses gostariam de trabalhar, num tesão, uma vontade, uma união cósmica de orgasmo mental intergalático. Aqui são como espadas reunidas, unidas por uma solda, na vocação plástica de se produzir coisas novas a partir de elementos dissociados. Aqui é como uma irmandade, num lugar onde todos nos unimos como irmãos, como iguais, no eterno esforço dos padres ao púlpito, sempre querendo nos lembrar de que somos sangue do sangue do próximo, com belas mensagens que, infelizmente, perdem-se a partir do fim da missa de domingo, num fiel saindo da Igreja e esquecendo de tudo o que ouviu ali dentro. Aqui temos uma ventilação, como numa cabeça arejada, sem preconceitos, com pessoas que, apesar de mais velhas, têm a cabeça mais oxigenada do que muita gente mais jovem, e Tao é assim, sempre respirando e vivendo, nunca se colocando no centro de tudo, como se soubesse que há perigo na soberba. Aqui é como se fosse um prédio amassado na cintura, num arquiteto empenhado em deslumbrar o Mundo, como no Guggenheim de Nova York, com seu vão espiral vazio, sempre útil em seu vazio, sempre servindo para mostras de espetaculares artistas plásticos, sendo Tao este vazio, pois, deveria se saber, a sensualidade reside, precisamente, no vazio, ao contrário de uma pessoa que vai decorando sua própria casa com mais e mais objetos, atingindo um visual de loja de enfeites, havendo no excesso esta carga, este peso, numa pessoa que vai se tornando escrava de seus próprios objetos, como nos casos extremos de acumuladores compulsivos, no apego humano à Matéria, ao palpável, na ilusão das pedras e metais preciosos, os quais são Matéria, e não Pensamento, ou seja, materiais que, definitivamente, não sobrevivem à Eternidade. Aqui são como artérias retilíneas, como no organismo de um robô, os quase fazem metáfora com a plenitude desencarnada, no espírito que, livre de seu corpo físico, é puro Pensamento, tendo, dentro de si, uma sensação de Paz avassaladora e indescritível – a Vida não é um inferno quando carece de Paz? Esta estrutura se eleva ao alto, arranhando os Céus, na passagem da Torre de Babel, nesta ambição humana que nunca deixa o Ser Humano contente com o que tem, pois se o que tenho não julgo ser o suficiente, então nunca terei o suficiente, pois é melhor um apê pequenino e alegre do que um palácio triste. Aqui é como um foguete pronto para decolar, no ímpeto humano em explorar os mistérios cósmicos que nos cercam, num Cosmos que tem mais estrelas do que grãos de areia em todas as praias da Terra juntas, e Tao é isto, o infinito, algo MUITO além da compreensão humana. Aqui é como uma pessoa acordando e se espreguiçando, espantando a Preguiça e abraçando um novo dia de deveres e prazeres, na sisudez do termo: “Primeiro o dever; depois o prazer”. Aqui há algo sendo erguido, talvez num esqueleto esperando por preenchimento de cimento e tijolos, no boom imobiliário de Balneário Camboriú, com torres gêmeas de oitenta andares cada, nesta competição fálica para ver qual país tem o prédio mais alto, desfiando os limites materiais, como se uma pessoa quisesse tocar o Divino aqui, na Terra. Aqui é como uma borboleta alçando voo, saindo de seu casulo e revelando-se ao Mundo, no patinho feio que se dá conta de que ele próprio não se tornou, mas é, nunca se tornando, mas sempre sendo o cisne que é, até a pessoa olhar a si mesma de modo atemporal.

 


Acima, material de divulgação de uma mostra do artista. Aqui temos um abraço, com suas pessoas se consolando, no arrebatador final de Titanic, com Jack e Rose só tendo um ao outro ao final, com Jack sendo o herói, escolhendo morrer para salvar a namorada, no termo “uma mão lava a outra”. Aqui temos uma reação em cadeia, como numa faísca de pólvora mínima incidindo num barril de pólvora, como numa pessoa que sabe quando algo tem potencial, sendo um breve empurrãozinho o suficiente para detonar tal fator, como num escândalo chocando tudo e todos, nas palavras do mestre Dalí: “Feliz daquele que provoca o escândalo”. Aqui são duas coisas formando uma só, na canção romântica das Spice Girls: “Esta é a noite em que dois se tornam um”, como nas musiquinhas românticas nas reuniões dançantes de pré-adolescentes, na regra social: a menina tem que ter um papel passivo, esperando para que o menino a tire para dançar, nos inevitáveis preconceitos de gênero, sendo malvista a menina de iniciativa, que tira o menino para dançar, numa transgressão, como numa mulher ousada, a qual paga o preço por ser uma mulher num mundo de homens, e não é misógino tolher uma mulher apenas por esta ser mulher? Aqui são duas torres, como duas galáxias que, no decorrer de bilhões de anos, vão atraindo uma à outra, fundindo-se numa valsa cósmica, como numa fusão de empresas, num negócio sendo fechado por cavalheiros, no qual não há o desejo secreto e imoral de querer passar o outro para atrás – a Ética é muito subestimada pelo Ser Humano, sendo este um ser eternamente seduzido pela perspectiva de obter vantagens, havendo no sociopata este ser ávido por vantagens, esquecendo que só os honestos gozam da boa felicidade – tenhamos pena de um sociopata degradado, o qual vaga pelas terras infernais do Umbral, a dimensão do sofrimento. Aqui são namorados num profundo beijo, num momento de alta intimidade, no momento o qual nenhum dinheiro pode comprar, o momento em que se fica existencialmente nu em frente ao outro, num momento de entrega e confiança, quando deixa-se de fazer Sexo para se fazer Amor. Aqui são como os prédios gêmeos do Congresso em Brasília, como gêmeos siameses, com pontes de interligação, na incrível provação existencial que é encarnar como um gêmeo siamês, nesta exigente escolha cuja água fria nos limpa, num amargo remédio que surte doces efeitos, no caráter positivo das crises, das desilusões. Aqui é uma sociedade, como numa banda de Música, com bandas tão longevas como o U2, sobrevivendo a décadas, num casamento sem Sexo, num casamento em que é necessária toda a paciência para se lidar com os defeitos uns dos outros, como numa paciente esposa não fumante, a qual tem que aturar um marido fumante... Aqui temos uma fusão, num certo prédio que vi certa vez, no qual uma árvore, ao passar dos anos, foi “abraçando” a cerca de metal, fundindo-se com a cerca, no caráter líquido da Matéria, sempre fluindo e alimentando Vida, num Universo onde tudo é processo, nos processos de Eternidade, este presente imensurável que nos foi dado, na glória da imortalidade da Mente – é muita areia para este caminhãozinho. Aqui é como a combinação das coroas dos faraós, combinando a coroa do Alto Egito com a do Baixo Egito, na árdua função de se manter coeso e unido um reino, primando pela Ordem e pela Paz, no peso que reside sobre a cabeça coroada, num enorme desafio – o de se obter o respeito do próprio povo e dos povos vizinhos. Aqui é como um cãozinho que vai se afeiçoando ao novo dono, numa construção de intimidade e familiaridade, na construção de um relacionamento e de uma cumplicidade, como uma criança fazendo amiguinhos na Escola. Aqui é como a foice e o martelo da bandeira soviética, na combinação de dois setores, na glória do Labor, esta força que faz com que a pessoa se sinta útil ao Mundo, pois não é triste a pessoa que não sabe o seu lugar no Mundo? Aqui é como um católico respeitando um espírita, ou respeitando um protestante, nas inevitáveis diferenças entre as pessoas.

 


Acima, sem título (1). Os furos são como alguém baleado, numa pessoa que tomou uma “surra” da Vida, tendo que se reerguer e recomeçar do zero, admitindo a derrota, tendo a humildade para aceitar que não existe perfeição no Ser Humano, como uma pessoa que, abandonando uma faculdade, dá-se conta depois de que cometeu uma bobagem enorme, tendo que admitir a derrota e, curvando-se assim, começar um autopacto de reconstrução, a sós consigo mesma. Os furos são poros, são brechas que nos fazem respirar, como numa roupa de Verão, de mangas curtas, nesta brecha que é Tao, esta força que nunca interrompe a Vida, sempre deixando esta fazer o seu próprio trabalho, que é fazer com que cresçamos e evoluamos, pois a Vida não tem sentido sem vicissitudes – eu gostaria muito de dizer isto para uma certa pessoa, a qual está em crise existencial. Os furos são um desafio, para que joguemos uma bola que passe por esta goleira, num trabalho persistente de tentativa, num aprimoramento, no modo como a pessoa, por si mesma, tem que aprender a brilhar, num caminho autodidata. Aqui temos uma solda potente, combinando peças, havendo união e concórdia, como ao ser questionado em sua posse recente como presidente, Joe Biden disse querer ver o Mundo unido. Aqui é como um cachorro geométrico, com seu rabo abanando, neste fiel amigo que deixa muito claro quando está e quando não está gostando de algo, numa transparência leal, naquele amigo de longa data o qual conhecemos muito bem, aquele amigão com o qual não falamos pessoalmente há décadas e, quando o vemos depois de tanto tempo, parece que foi ontem a última vez em que o vimos, ao contrário do amigo fútil, só para a hora do oba oba, um relacionamento que acaba ficando para trás. Aqui é como um robô de design enigmático, fazendo do artista tal enigma, sempre assombrando o Mundo, como na Academia de Hollywood, apaixonada por atores que desaparecem perante os respectivos papéis, em interpretações assombrosas, nas quais mal podemos reconhecer o artista que está na tela. Aqui há equilíbrio e estabilidade, como num prédio à prova de terremotos, numa árvore de profundas raízes, forte, resistente, desafiando os mais fortes ventos, havendo em Tao tal estabilidade, tal força de coesão, como num patriarca agregando a família numa noite de Natal, no talento que certas pessoas têm em agregar as pessoas, agindo como Tao, o Pai que mantém a família unida. Aqui vemos uma parte saliente, como uma alavanca, como numa máquina industrial, numa pujança industrial de desenvolvimento, como num Japão, reerguendo-se depois da humilhação das bombas atômicas, num voo de Fênix, renascendo depois de ser esquecida e desprezada, num retorno, como uma Tieta do Agreste, humilhada e expulsa da cidade natal, prometendo voltar para se vingar de todos que a maltrataram, no pecadinho da Ira, na amarga frase: “A Vingança é um prato que se come frio”. Aqui, nestes dois furos, há uma opção, como num tamanho de roupa, como nas redes de Saúde pública e privada, na ponderação do pensamento de Keynnes, sem os xiitas liberais e sem os xiitas comunistas, na ponderação que busca resolver o eterno talento humano para a desavença. Estes furos, em seu vazio, são de serventia, como furos nas costas de uma cadeira, ajudando-nos a puxar a cadeira, havendo no vazio de Tao esta força que abriga o Universo inteiro, num ponto em que temos que acreditar numa Inteligência Suprema, numa costureira que une os fios numa roupa só. A parte inferior desta obra é como uma guilhotina, nas punições da Revolução Francesa, guilhotinando Maria Antonieta, a menina que nasceu e viveu em alienantes privilégios, muito distantes das simples demandas do cidadão comum francês. Esta peça, alvejada de tiros perdidos numa favela, num tiroteio entre polícia e traficantes, é uma sobrevivente, no visual de calças jeans rasgadas, num visual de sobrevivente de hecatombe nuclear, e a Vida não exige que sejamos fortes para que possamos sobreviver?

 


Acima, sem título (2). Um dançarino se contorcendo, assombrando com sua técnica, sua disciplina e sua dedicação ao ofício. O amarelo é a cor do Sol, do Ouro, da áurea vida que nos espera depois de nossa “faculdade” na Terra, num recreio que, depois de um livre descanso, acaba dando espaço ao fato de que não se pode parar de trabalhar, havendo no Umbral tal inutilidade, tal vadiação sem sentido, como uma água parada, que passa a ficar pestilenta e tóxica. Aqui é como uma estrela geométrica, no modo como as estrelas no céu noturno sempre encantaram a Humanidade, com seu fino brilho, como o mais fino cristal, coruscando, como numa mulher glamorosa num vestido de pedras cintilantes, encantando todos no salão de baile. Aqui é um jogo complexo de dobras, como num hábil origami, ou nas sofisticadas dobraduras de guardanapos numa mesa de um restaurante chic, como no formato de um cisne ou de uma flor, no poder transformador das mãos humanas, na gloriosa sensação de se sentir útil ao Mundo, como um copo vazio preenchido de água, de Vida, de fartura, como flores numa mesa de centro, na vitória da Vida sobre o improdutivo Umbral. Aqui é como um parquinho de crianças, no ensurdecedor barulho de criancinhas brincando no intervalo da aula, educando a criança a dosar a Vida entre dever e prazer, tendo de haver ambos estes na Vida da pessoa, num equilíbrio. Esta obra nos convida a passar debaixo dela, num portal que exige que nos curvemos e sejamos humildes, como na cozinha do Oráculo de Matrix, pois que vida é esta na qual nos achamos Deus? É como é insuportável a arrogância. Aqui é um organismo se desdobrando, ampliando-se, examinando possibilidades, num esclarecedor processo de crescimento autocognitivo, no qual a pessoa se descobre ser algo que sempre foi e sempre será, num Tao que nos trata como príncipes, com uma colher de prata em nossas bocas, mas um Pai que quer que cresçamos como espírito, sendo este o sentido da Vida. Aqui temos um jogo de vãos, como no maravilhoso vão do MASP, num enigma de Engenharia: como foi possível construir tal estrutura? As partes aqui que tocam o chão são mínimas, como nas estruturas de visual leve de Niemeyer, dando a impressão dos prédios em Brasília serem feitos de uma fina folha de papel, parecendo tão frágeis. Este vão é um rito de passagem, como numa gloriosa cerimônia de formatura, no fechamento de um ciclo, de um esforço, de uma coroação depois de tantas manhãs acordando para ir ao Colégio, numa luta. Aqui as formas buscam partir em várias direções, examinando possibilidades, no boom das Navegações, quando o Europeu se deu conta da vastidão da Terra, com tanta, mas tanta terra do planeta. Aqui esta forma está bem sedimentada, estável, como uma sonda enviada a Marte, fixando-se no chão marciano e começando sua missão exploratória, num sistema solar que, fora da Terra, é tão inóspito, como no verdadeiro forno que é a superfície de Vênus. Aqui é como os anjinhos de Primavera, na polinização, numa estrutura tão frágil e volátil, havendo no artista este desejo de se tornar tal delicadeza estelar, fino, sofisticado, civilizado, libertando o Homem de suas raízes símias. Aqui é um exótico óvni terrisando, no modo como, em Marte, nós, da Terra, somos os alienígenas. É algo novo aparecendo, como num novo artista pop sendo revelado ao Mundo, causando febres de popularidade e comoção, no poder da Arte em se tornar tal abalo sísmico, tal comoção, tal explosão de percepções, atiçando os sentidos do espectador, seduzindo este, formando fã clubes numerosos, como o de Whithey Houston, com o seu mais famoso clipe, I Will Always Love You, com mais de um BILHÃO de acesso no Youtube. Esta obra nos convida à observação em três dimensões, no fato de como é uma pena que grandes trabalhos, como o Davi ou a Pietà de Michelangelo, só possam ser vistos de frente. Aqui é um ser estranho e único, exótico, como na revelação de um talento como Lady Gaga.

 

Referências bibliográficas:

 

Martín Blasko. Disponível em: <www.br.pinterest.com>. Acesso em: 31 mar. 2021.

Martín Blasko. Disponível em: <www.es.wikipedia.org>. Acesso em: 31 mar. 2021.

Martín Blasko. Disponível em: <www.facebook.com>. Acesso em: 31 mar. 2021.

Martín Blasko. Disponível em: <www.fama.eal.com>. Acesso em: 31 mar. 2021.

Martín Blasko. Disponível em: <www.malba.org.ar>. Acesso em: 31 mar. 2021.

Martín Blasko. Disponível em: <www.sicardi.com/artists>. Acesso em: 31 mar. 2021. mar. 2021.

REBELLO, Tati. Martín Blasko. Disponível em: <www.serurbano.wordpress.com>. Acesso em: 31 mar. 2021.

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