quarta-feira, 12 de maio de 2021

Dan Calabresa (Parte 2)

 

 

Volto a falar sobre o ilustrador americano Dan Craig. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (1). Um momento privado de solidão e introspecção, no modo como é importante que cada pessoa tenha um momento de solidão, de companhia consigo mesmo, como num casal que conheço, os quais não estão o tempo todos “grudados” – uma pitada de solidão é positiva. A moça paquera a Maçã do Éden, a Caixa de Pandora que tanto mal espraiou pelo Mundo, na arrogância e na malícia de um sociopata. A maçã é a vida saudável, na alimentação balanceada, no modo como os costumes alimentares norteamericanos causam tanta obesidade mórbida na população daquele país. A moça está desviando os olhos da leitura para fitar a maçã, em dúvida se deve comer ou não, ponderando, talvez avaliando os riscos, numa pessoa hesitante em se apaixonar e mergulhar num relacionamento amoroso, talvez num amor impossível, cheio de dificuldades e percalços para acontecer, no modo como é triste uma pessoa que leva vida dupla, nem cem por cento feliz aqui, nem cem por cento feliz ali. É numa irresolução, uma dúvida perene, talvez numa pessoa que quer tomar uma decisão radical em sua vida, como abandonar uma carreira, como num homem que conheço, o qual, frustrando-se como ator em quinze anos de infrutífera carreira, resolveu virar advogado, “dar uma sacudida na poeira” e ver se, assim, leva uma vida mais feliz e realizada – todos temos o direito de sonhar com uma vida melhor. Como numa artista plástica que conheci, a qual, decepcionada em suas expectativas, largou a carreira, e o segredo para não se frustrar é não construir expectativas, no caminho da mortificação espírita, num ponto em que a pessoa não mais crê em fúteis sinaizinhos auspiciosos, observando o Mundo da forma mais realista e “fresquinha” possível, no modo como, depois de desencarnada, a pessoa se depara com o fato de que segue a necessidade de trabalhar e ser produtiva. Vemos uma taça de vinho quase vazia, nos pequenos prazeres mundanos, em pecadinhos tão gostosos como o da Gula, na carga do pecado, o que levou Niemeyer, em Brasília, a construir uma igreja sem as camadas de escuridão do pecado mundano. Esta moça deita num divã numa majestade de uma Cleópatra, a mulher infeliz ao ponto de se suicidar – Poder e Dinheiro trazem felicidade? As vestes da moça são grecoclássicas, dignas de uma deusa grega, na fabulosa Eos, a deusa dourada que traz os raios de renovação da Aurora, resolvendo mistérios e revelando Tao, o grande plano divino para conosco. O vaso de flores aqui é perfeito, vivo, gracioso, como na beleza de um buquê de rosas sem os espinhos, no espírito abraçando uma vida tão distante da inevitável dor encarnatória, uma dor com a qual temos que aprender a conviver. A paisagem aqui é um tanto romana, italiana, fazendo da Itália tal país de gastronomia que ganhou o Mundo. Aqui temos um fim de tarde ou um início de manhã, numa luminosidade transitória, nem negra, nem iluminada. É uma cidadela com traços antigos e medievais, e estrelas se pronunciam no Céu, na beleza de joias metafísicas, no poder revolucionário da bijuteria, libertando a mulher da obrigação de, para ser bela, ter que usar joias caras. Ao fundo vemos a Lua da qual Craig tanto gosta, numa discreta casca de unha, nos ciclos lunares insanos que regem a fertilidade na Terra, na dureza que é ser mulher e conviver com cólicas, algo que os homens não entendem. A grade da sacada da janela é bela, clássica, com linhas tortuosas de hera, nesse processo que vai se desenrolando lentamente, em passos de bebê, como um dia amanhecendo lentamente, como um disco de vinil que, com seu espiral, vai lentamente se aproximando do ponto vazio, que é Tao, o sensual vazio pelo qual podemos passear. A moça aqui passa por um momento de distração de desconcentração, atordoada talvez por um belo rapaz, ponderando se deve ou não construir expectativas em relação a ele, numa pessoa que aprendeu a proteger o próprio coração, evitando sofrimentos, na metáfora da Paixão de Cristo, o calvário encarnatório.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (2). Impossível aqui não remeter à franquia Frozen, da Disney, um grande sucesso principalmente entre meninas, na cosmogonia de Yin e Yang fazendo amor e gerando o Universo – temos a feminilidade da beleza virginal da donzela e, ao mesmo tempo, a prática agressividade efetiva da flecha, como num médico fazendo um diagnóstico preciso. O cenário é gélido, frio como a maravilhosa Razão Matemática, esta ciência tão subestimada pelos alunos na Escola, havendo na Matemática toda a beleza e o senso de humor de Tao, como nos números primos, havendo por toda a eternidade de números os números que só são divisíveis por um ou por si mesmos, para sempre – não é irônico? Aqui temos a tão esperada neve por turistas no Sul do Brasil, com fenômenos como a geada, numa manhã de Sol dourado na qual o gramado parece ser feito de cristal, nas belezas de cada estação climática, na ironia dos círculos em ciranda, numa mandala de eterno retorno, sempre voltando ao ponto primordial, que é Tao, a referência que mantém unido o Reino dos Céus tão prometido por Jesus. A moça aqui tem um agudo olhar gélido, focado, concentrado, na definição de um escopo de pesquisa, buscando aprender tudo relativo ao escopo, até se tornar uma expert no assunto, como numa médica dermatologista que conheço, a qual, antes de se tornar médica, teve a doença Lúpus e, depois de tanto pesquisar sobre a enfermidade, passou a se interessar pelo campo de Dermatologia. Ao fundo vemos um majestoso castelo, e talvez aqui haja uma princesa, talvez na responsabilidade de herdar um trono, numa enorme carga, no áureo desafio de conquistar a confiança e o respeito de seu próprio povo, num príncipe que, de jure, encara o desafio de ser príncipe de facto, no discernimento entre teoria e prática, como numa verdade sendo revelada no frigir dos ovos, pois, não canso de dizer, somos todos príncipes filhos do mesmo Rei, havendo, de certa forma, sangue azul em todos nós, muito além das crueldades mundanas. As vestes esvoaçantes da donzela revelam um vento cortante, num dia de Inverno bem rigoroso, numa situação adversa, como numa Thatcher encarando um distúrbio em território britânico, as Malvinas, trazendo um gostinho das crueldades da II Grande Guerra, num eterno cabo de guerra, ao ponto de, no comercial dos anos oitenta do jogo de tabuleiro War, ou seja, Guerra, haver uma sósia de Margareth. Esta moça é muito independente, com uma espada em sua cintura, numa mulher que, ao deixar de ser menininha, observa que os contos de fadas não condizem muito com a realidade, como no mito do príncipe encantado, numa menina projetando seu próprio Yang, na ilusão de que há algo fora de mim, em outra pessoa... A moça paladina aqui parece pouco ser afetada pela adversidade do frio rigoroso, e parece produzir calor dentro de si, com coragem, não aceitando provocações de reinos vizinhos, nesta ancestral sede humana por Poder, como num Antigo Egito, sempre impondo, por meio da força, extensões territoriais imperialistas – esta sede humana é atemporal, realmente, com tantos egos mundanos inflando e desinflando todos os dias, esbarrando na simplicidade de Jesus, nunca cobiçando o lote do outro cidadão, do irmão. Bem ao fundo vemos aves majestosas em plena liberdade de voo, em estados felizes, que não oprimem o próprio cidadão. É a liberdade proporcionada pela espada do Pensamento Racional, com este medo que os ditadores têm em que o seu próprio povo adquira conhecimento e, assim, adquira liberdade. É a liberdade metafísica, numa mente imaginativa, vibrante e criativa, imitando Tao, o artesão que está sempre criando em perfeição e notoriedade, como num fã esperando ardorosamente pelo próximo álbum de seu popstar favorito. Esta moça tem beleza de princesa, e sua aparência faz metáfora com a beleza de seu reino. Sua delgada flecha é minimalista, fazendo só o que é necessário, evitando a “sujeira” de ações desnecessárias, como numa pessoa lavando a louça após o almoço, sabendo que não precisa esfregar demasiadamente o prato sujo. Aqui, temos uma pessoa que está acertando em cheio, ganhando o respeito de outrem.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (3). É claro que aqui temos um quadro de aprisionamento, com correntes que prendem, na “prisão” dos corpos carnais, na boa notícia de que chegará o dia de soltura, na canção de Freddy Mercury: Quem quer viver para sempre? É como num dia de frio, vento e umidade, no modo como somos todos prisioneiros de tais intempéries climáticas, numa ilusão, pois acima das nuvens o Sol brilha majestosamente, na ilusão que é a morte do corpo carnal, em horrendos rituais fúnebre, com aquele caixão sendo impiedosamente enterrado, na ilusão de que jamais veremos aquela pessoa novamente, no modo como os espíritas lidam de modo mais arejado e tranquilo em relação à Morte Física, como diz Tao: Se o seu corpo físico morrer, não tem problema. O cavalheiro aqui espera pacientemente, sabendo que tem que fazer algo para que o tempo não passe tão lentamente, no modo como é excruciante a vida de uma pessoa inativa, que se acha sexy demais para arregaçar as mangas e fazer algum trabalho. Podemos ouvir o tilintar das correntes, como fantasmas vagando. As correntes também são a segurança, no modo como Jesus nos prometeu tal Reino Metafísico, o único reino de fato em todo o Universo, fazendo das dinastias mundanas meras cópias de tal divindade imaterial. Estas impiedosas e restritivas correntes remetem à franquia de filmes de terror Hellraiser, com um deus infernal que rasga a carne de espíritos sofredores, os quais não sabem (nem querem saber) amar, no modo como não há espaço para Amor no coração podre de um sociopata, numa pessoa que simplesmente não tem amigos de fato, ao contrário do espírito de bondade e humildade, o qual desencarna para ingressar num mundo onde há somente amigos, numa dimensão absolutamente bloqueada para corações insensíveis. Em contraponto, temos uma bela borboleta dourada – é a Esperança, na luz de um dia novo que nasce, num mundo que se revela em toda sua plácida beleza, num lugar onde, acima de tudo, há Paz. As asas da borboleta são essa liberdade, este livre arbítrio, na metáfora das asas dos anjos, as quais representam o fim da etapa em que o espírito esteve encarnado em sua prisãozinha de carne. A borboleta é a Vida da Primavera brotando com toda sua força e beleza, numa explosão de cor de Vida. A borboleta é a Fé, esta força que passa por tantas privações, no desafio que é não deixar o coração se embrutecer. O cavalheiro aqui veste roupa garbosa, no modo como o desencarnado pode escolher que roupa usar, que cabelo ter, rejuvenescer e ser jovem e vibrante para sempre etc., longe das vicissitudes da Matéria, nas quais temos que abraçar o que nos é colocado nas mãos, no modo como não há vítimas: antes da reencarnação, todos selecionamos as privações pela quais passaremos, como um universitário se matriculando para mais um semestre, selecionando as cadeiras que cursará. O cavalheiro aguarda pacientemente, na Fé de quem sabe que a Matéria é finita, limitada, submetida a um prazo de validade, na ilusão das pedras preciosas, as quais, definitivamente, não são eternas – apenas o Metafísico é eterno. A borboleta é bela e graciosa, dando uma pitada de beleza e leveza a um quadro tão pesado e escuro. Este contraste é a necessária base de comparação, pois quando digo que algo é belo, é porque sei o oposto, que é feio, no modo dialético no qual tudo traz em si sua própria contradição, como duas faces para a mesma moeda, numa prova do senso de humor de Tao, o lógico. O rapaz aqui tem um mínimo esboço de sorriso, muito discreto, sutil, talvez acalentado pela borboleta esperançosa, na vitória da Beleza sobre a Morte, numa festa de volta ao Lar, na oportunidade de abraçarmos aqueles que imaginávamos mortos e enterrados. A frágil borboleta é forte, no discernimento taoista: Quanto mais arrogante, mais fraco. A borboleta é um recomeço, no caixão sendo aberto e invadindo pela luz dourada da Terra da Estrela da Manhã – todos os encarnados têm um anjo da guarda exclusivo.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (4). O balão são os sonhos, no modo como a Vida não é só árduo labor cotidiano, mas a possibilidade da pessoa em ter sonhos, sonhando se tornar uma pessoa sábia, a qual é vista, amada e respeitada pelas pessoas em geral. Neste balão, há a ilusão da Matéria, na qual estamos todos de corpo presente na mesma dimensão, tanto pessoas boas quanto pessoas más, na letra dos Beatles: Todos nós vivemos num submarino amarelo, ou seja, é o palco da Vida em Sociedade, e em tal prisão nos vemos obrigados a nos relacionar com as pessoas, tendo que construir tolerâncias para com as inevitáveis divergências, como no célebre seriado de Chaves, o qual fala, sobretudo, de convivência. O balão inflado, cheio de ar, é uma pessoa cheia de vida, encontrando simplicidade em seus dias na Terra, numa pessoa que passou a rechaçar os sinais auspiciosos da Matéria, não mais se deixando seduzir pelos apelos da Sociedade de Consumo, este mundinho capitalista no qual jamais estamos satisfeitos, pois se o que tenho não julgo ser o suficiente, então nunca terei o suficiente! Aqui, no plano de fundo, vemos uma pessoa brincando com o balão, como na Divina Providência cuidando de nós na Terra, sempre com lições essenciais sendo aprendidas, numa tecelã, tecendo as vidas, fazendo com que uns passem pela vida dos outros, construindo assim amizades e amores fraternais que duram para sempre, na invencibilidade do Amor, esta força que mantém unida a grande família de Tao, na qual somos todos nobres, belos e eternos – há um grande plano divino para conosco, numa vida que vai se revelando após o Desencarne, este glorioso dia de soltura, como no último dia de aula do ano, com as crianças brincando esfuziantemente, encerrando mais uma série de estudos, num recreio, um refúgio, um clube maravilhoso e plácido ao qual todos pertencemos, num lugar onde o teatro das classes sociais se encerra e perece, só havendo castas em relação ao apuro moral de cada espírito – os finos regem os grossos. Na porção bem inferior do quadro vemos uma escadinha de acesso, numa pessoa que quer muito ingressar em tal sociedade, como numa pessoa trabalhando e batalhando para conquistar o respeito de outrem, num caminho cheio de excitantes obstáculos, os quais temos que vencer com elegância olímpica, sempre com vontade, sempre com tesão, no modo como as hierarquias espirituais nunca são impostas por meio da força, ao contrário do eterno talento humano em impor as coisas do modo mais brutal possível, como num rei ambicioso, que cobiça o reino vizinho – existe algo melhor do que morar num lugar onde não há mundanas ambições? A pessoa por trás disso tudo brinca delicadamente, como se não quisesse ferir ninguém, numa forma de governo tão sutil a qual tem, na Terra, um representante, que é o homem de Tao, o cavalheiro que brilha em polidez e sensibilidade, sempre se colocando nos sapatos do outro e entendendo com este se sente, havendo então a definição de Amor, que é entender como o outro se sente. No plano mais à frente no quadro, vemos um balãozinho, num subconjunto, como num submundo, o qual é apenas um pequeno setor do quadro geral, havendo nos submundo essas ilusões delimitadoras, como numa pessoa que, ao contemplar a Monalisa, só consegue enxergar as mãos da Monalisa, perdendo o contato com algo essencial, que é o Senso Comum, esta força soberana de conhecimento, a qual vai absorvendo outras formas de Conhecimento, como o Científico. Neste balãozinho, um homem toca uma corneta, anunciando algo, como nas cornetas anunciando o Apocalipse, no momento crucial do Desencarne – para onde vou: Céu ou Inferno? Este homem ainda segura um lampião, que é a luz do Conhecimento, com doenças sendo tratadas e curadas, como no advento da Radioquimioterapia, tendo hoje curado Evita. Vemos várias cordas tensas aqui, que são a segurança, os pés no chão, na realidade, pois como posso conquistar o Mundo se vivo num mundinho marginal; num subconjunto?

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (5). A menina aqui parece estar grande demais para a casinha de boneca, como numa criança que vai desenvolvendo a sexualidade e se desinteressando pelos brinquedos, no inevitável advento do Tempo. Aqui é um quadro extremamente feminino, remetendo à capa de um álbum da banda Helmet, do gênero heavy metal, com uma feminina moça colhendo flores em um campo ensolarado, num premeditado contraste, na resposta masculina agressiva à sedução delicada feminina, numa relação de provocação – o Yin provoca, o Yang responde. A mocinha ensaia para uma carreira de dona de casa, nos termos machistas “bela, recatada e do lar”, talvez ensaiando para uma carreira de socialite, vulgo perua ou dondoca, numa anfitriã chic, promovendo elegantes festas pomposas, no doloroso fato de que festas não marcam época; trabalhos marcam época. É como uma mulher que abandonou uma promissora carreira brilhante para se tornar dona de casa e passar o resto da vida sob a sombra de outra pessoa, ou seja, o marido, no machismo religioso que priva a mulher de ter prazer, no modo como a Sociedade cobre o gênero feminino de expectativas puras e castas, no mito de Nossa Senhora, uma mulher que nunca teve prazer sexual, na busca de fazer com que o Ser Humano entenda a Imaculada Conceição sob a qual todos fomos gerados, como Zeus animando um pedaço de barro e criando a Mulher Maravilha. A menina aqui é sexualmente tolhida desde sempre, em contraste aos meninos, cuja sexualidade é encorajada, sendo mal vistos os rapazes femininos; sendo mal vistas as moças de libido. São os eternos e indestrutíveis preconceitos do Patriarcado, na universalidade do cacique neolítico, num machismo que nasceu muito antes do advento da Escrita. Aqui a casa é o refúgio, num lugar gracioso e delicado, como num aconchegante interior de uma casa quentinha no Inverno. A moça não ousa cruzar as pernas, como na icônica cena da vulva de Sharon Stone, fazendo da Arte este instrumento transformador de provocação, de transgressão, e, por que não, de agressão, atingindo em cheio preconceitos tão atemporais, no fato de que o espírito não tem sexo – o sexo é uma condição dos espíritos encarnados e, a sexualidade, também, na enorme força de influência da Matéria sobre o espírito acorrentado e encarnado. A saia da moça também é recatada, e sequer mostra os joelhos, sendo malvistas as mulheres que posam nuas, com exceção da revista Playboy brasileira, num nu de bom gosto, sem expor a mulher a uma agressão – Jesus, o que há de errado com uma mulher nua? As estampas florais aqui são a Vida brotando, como numa araucária fêmea sendo polinizada por uma araucária macho, na dança de sedução da Natureza, no advento implacável da Vida, como salmões nadando obstinadamente contra a correnteza e, ao chegar ao destino, o orgasmo é o ponto final no ciclo, num salmão que morre logo após cumprir sua obrigação biológica de reprodução, como uma viúva negra devorando o próprio parceiro, na impactante cena inicial de Instinto Selvagem, num orgasmo implacável em meio a um brutal assassinato com um picador de gelo. Podemos aqui sentir um doce perfume, feminino, delicado, floral, numa mulher que tem um enorme prazer em se aprumar para a interação social, no caminho da autoestima, pois idade não é pretexto para a pessoa para de se arrumar, como na elegante socialite idosa novaiorquina vivida por Maggie Smith. Aqui é o refúgio do lar, num pai de família que chega em casa no final do dia, cansado, querendo se sentar, tomar um drinque a colocar pantufas nos pés. Esta casinha é a felicidade, numa pessoa que faz escolhas visando sempre a felicidade. É a realização, a felicidade numa escolha, num casamento que, além de conveniência, tem que ter afeto, pois, do contrário, que inferno de casamento! Esta menina é bela como uma boneca, na competitividade das baladas de adolescência, nas quais as meninas querem ser a mais bela de todas.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (6). É claro que temos aqui uma libertação, uma ânsia por libertação, remetendo-me a uma empregada doméstica que minha família teve, numa empregada que, com pena de um passarinho na gaiola, libertava este! Aqui a vida nasce graciosamente em ramos que vão se envolvendo, tortuosos, no ditado popular de que Ele escreve reto por linhas tortas, no fato de que nunca podemos observar claramente as ações da Divina Providência, esta força metafísica que sempre coloca o espírito acima do corpo, no discernimento de Santo Agostinho entre carne e alma, sendo esta eterna e aquela finita, num dos pilares da Doutrina Espírita, a doutrina do futuro, nas nobres intenções democráticas em igualar todos os cidadãos, independente de sexo, classe social, raça etc. Podemos ouvir aqui o canto alegre dos pássaros, festejando a glória libertadora. A gaiola aberta não mais prende, e, aberta, parece linda, toda feita de ouro, como nos cabelos de Gisele, este monstro global que simplesmente engoliu tudo e todos como um tsumani de talento e instinto, pois não há livro ou faculdade que nos ensine a brilhar, no caminho do autodidata, que aprende por si mesmo. Mais uma vez aqui temos a paixão de Dan Craig por uma tímida lua crescente ou minguante, transitória, como numa pessoa que sabe que o “dia de soltura” chegará, e não demorará séculos. Aqui são como raminhos espirais de vinhedo, na força dos vinhedos em ressuscitar no Verão, na doce vindima, na celebração da vida e do labor, no modo como o Plano Metafísico é assim, uma terna Festa da Uva, com beleza, graça e bondade, mas num mundo que, apesar de tão belo e apolíneo, segue cobrando do indivíduo a questão de se manter produtivo, pois Tao é este criador incessante, sempre ativo, sempre absorvido pelo labor prazeroso. Aqui, flores douradas explodem nesta aurora, nos órgãos sexuais das plantas, nesta libido primaveril, com adolescentes que simplesmente são escravos de seus próprios hormônios. Aqui temos um céu de baunilha, mencionando o filme de Tom Crise Vanilla Sky, numa doce memória, havendo nas crianças este aspecto inocente, de um espírito que há pouco encarnou, fazendo com que a inocência infantil traga um residual da glória metafísica, com desenhos animados que buscam dar à criança o discernimento entre Bem e Mal, apesar de algumas crianças sociopatas se identificarem com os vilões. Aqui é a etapa da floração antes das uvas virem ao vinhedo, como em generosas azaleias anunciando os tempos finais de Inverno, no modo como a Primavera Nórdica pode ser tão gélida, ainda fazendo a transição para o Verão, como disse uma amiga minha que mora hoje na Alemanha. Estes elegantes ramos tortuosos fazem uma caligrafia fina, artistocrática, como no boom estético da Art Nouveau, com seus ramos sedutores pulsando em Vida, como numa hera que vai, aos poucos, despercebida, tomando conta do muro, sempre avançando silenciosamente, sempre subestimada, dando o bote da cobra, conquistando seu espaço. Vemos uma singela e pequenina borboleta, no modo como a diva Mariah Carey passou vários anos de sua carreira trazendo borboletas, este ser que, depois de ser um feio casulo opaco, explode como uma supernova, cheia de Vida e Beleza, na graciosidade feminina, num animalzinho tão silencioso e delicado, vulnerável a gotas de chuva, morrendo ao ter suas asas encharcadas, na melancólica marchinha de Carnaval: “Foi a camélia que caiu do galho, que deu dois suspiros e depois morreu”. Aqui temos uma terra formidável, dando um contentamento tamanho ao ponto da pessoa, que mora ali, não querer estar em qualquer outro lugar, na deliciosa sensação de Paz e pertencimento, num lugar que tem apenas um nome: Lar. Os pássaros são coloridos e carnavalescos, no fascínio de um prisma dividindo a luz branca em luzes coloridas, no fascínio de objetos cristalinos, como a cristalina Galadriel de Tolkien, estranha, bondosa e intimidante, muito diferente de uma fadinha de Disney, no modo como O Senhor dos Anéis é uma história sombria, para adultos.

 

Referência bibliográfica:

 

Dan Craig. Disponível em: <www.ba-reps.com/illustrators>. Acesso em: 28 abr. 2021.

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