quarta-feira, 19 de maio de 2021

Dan Calabresa (Parte 3)

 

 

Falo pela terceira vez sobre o ilustrador americano Dan Craig. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (1). A coruja hesita entre se mostrar e se esconder, excitada e ao mesmo tempo tímida, traduzindo o próprio Dan Craig, numa pessoa que, apesar de ter sucesso, quer se manter um tanto reclusa, discreta. As folhas rubras são outonais, numa fase da Vida em que a pessoa quer paz, sem mais as inconsequentes tempestades da juventude, no caminho da maturidade. Mais uma vez vemos aqui uma paixão de Craig, que são as luas quase novas, discretas, vazadas, por assim dizer, nunca querendo se apossar do quadro, numa posição de discernimento e humildade, sempre respirando, sempre permitindo que possa ser visto o que está além. São as folhas douradas da mítica floresta de Lothlórien, de Tolkien, um lugar mágico onde se tem a impressão de que o Tempo não passa, com majestosas árvores caduciformes. É a sabedoria de Tao, numa árvore que, nua, deixa o Sol penetrar no Inverno e, no Verão, produz sombras fresquinhas, na dança incessante das estações climáticas, nos ritmos da Natureza, envolvendo o Ser Humano e fazendo este ver divindades em aspectos naturais, como o Sol, a Lua, as estrelas, as águas, as árvores etc., como nas divindades egípcias antigas, personificando animais do reino faraônico, como crocodilos, gatos, escaravelhos, chacais etc. Aqui, a coruja ou está acordando para a noite, ou indo adormecer no advento do dia, na metáfora dos pais corujas, os quais não descansam em paz sem ver os próprios filhos em casa, a salvo dos perigos da boemia, num perigo como condutores embriagados, por exemplo. Vemos aqui estrelas dúbias, e não sabemos se estão sendo escondidas ou reveladas, na dúbia hora em que a luz fica mais suave, porém não em escuridão, como na luz do luar, a qual revela escondendo, nunca explícita, nunca clara, numa espécie de limiar, num espírito que ou merece a colônia espiritual dos desencarnados, ou merece o Umbral, no modo como as vidas na Terra são pautadas pelo apuro moral, pois os imorais pouco merecem o consolo do Reino dos Céus – não soo às vezes como um padre? Podemos ouvir o sensual farfalhar das folhas, num som de incessante transformação, num processo sempre se desenrolando, num ponto em que o espírito nota a estagnação, vendo-se encorajado a abraçar novos aprendizados, talvez numa nova encarnação na Terra. A coruja aqui está totalmente entrosada e familiarizada com a árvore, no instinto animal de se integrar ao bioma, na busca existencial da pessoa em compreender e aceitar o Mundo que a cerca, sempre mantendo o crítico senso, como ao observar a típica crueldade humana em relação a pessoas negras, ou pobres etc. A coruja é a Consciência, a lucidez, com olhos sempre atentos, tensos, que nada deixam escapar, como nos olhos despertos nas máscaras mortuárias do Egito Antigo, no espírito que tem toda a consciência de que desencarnou, deixando para trás um corpo irrecuperável, condenado à danação da Matéria – a Consciência sobrevive à morte do corpo; a Consciência é o que realmente importa, e apenas o de melhor permanece. A coruja aqui nos fita impiedosamente, desconfiada, como se soubesse das implícitas intenções do espectador, como numa pessoa que aprendeu a ver o Mundo da forma mias simples e realista possível, desprendendo-se de sinaizinhos auspiciosos e desenvolvendo uma noção de realidade, uma noção do que realmente importa, num caminho de evolução espiritual – nós morremos melhores do que quando nascemos, no sentido de que o sentido da Vida é o crescimento. As penas da coruja são de cores discretas, como se soubesse que é perigoso ser indiscreto, como num vizinho que cuida para ser o mais silencioso possível, nunca querendo ser detectado pelo vizinho acima, abaixo ou ao lado. A coruja são os notívagos, as pessoas que curtem a noite, seja para produzir, seja para se divertir, no modo como o adolescente vai sendo seduzido pela Boemia, este hábito que, além de divertir, pode aprisionar aqueles que só querem saber de festa... O bico da coruja é pontudo, agressivo, ameaçador, e nos aconselha a manter respeitosa distância. Em tal discrição, a coruja quer paz.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (2). O sapo levita em certeza e erudição, na mente leve das mentes morais e tranquilas. O sapo é a elevação, no modo como certa vez matei um sapo, e fique com pena do bicho, apesar de eu usar roupas de couro e comer carnes de todos os tipos... É o sapo pronto para ser beijado e transformado em príncipe, numa feiúra subestimada, digna de surpreender a todos e se tornar uma majestosa borboleta colorida. O sapo é o intermédio que os anfíbios fazem entre peixes e répteis, na escala evolutiva que foi se desenvolvendo na Terra, esta esfera tão rica em Vida, talvez dando inveja a civilizações alienígenas um tanto mais pobres do que a Terra biologicamente. Vemos uma pena, que é a caneta, o estilo, a cultura, no modo como foi a Escrita o que tirou o Homem dos moldes primitivos de Neolítico, no modo como algumas tribos indígenas das Américas desenvolveram sistema de Escrita; outras, não. A pena é a leveza da inspiração. É a fragilidade, a vulnerabilidade, e qualquer ventinho pode agitar a pena, como numa pessoa “surfando em ondas”, deixando-se levar pelos ritmos do Mundo, como numa estrela de Cinema, a qual entende que deve deixar o Mercado fazer o trabalho em torno de uma película desta estrela, numa pessoa “preguiçosa”, que deixa os outros fazer o trabalho de divulgação de um filme, como no contrato que a Pepsi fechou para divulgar a aventura Batman, o Retorno, numa pessoa que de certo modo se deixa levar, aproximando-se o “nada a fazer” taoista. O Livro é a base, a carga de Conhecimento, como a Bíblia é para tantas religiões, no livro mais vendido de toda a História. O Livro aqui está fechado, amarrado, atado, como se representasse algum perigo aos ditadores, pois um cidadão culto e letrado, inteligente, é mais difícil de ser governado do que um cidadão obtuso e ignorante, no modo como certas religiões têm medo do poder de uma Globo, em religiões que enriquecem a partir da desobrigação tributária, aproveitando-se da ignorância de tais fiéis, remetendo-me a uma grande amiga psicóloga, a qual fica muito indignada ao ver pessoas sendo lesadas e sugadas financeiramente. Abaixo do livro vemos uma espécie de mandala, no ciclo das estações climáticas, numa pessoa que observa o Mundo de forma cíclica, sabendo que passado e futuro não existem um sem o outro, ou seja, a História, de certo modo, se repete, neste palco de egos vaidosos que cobiçam poder, sempre poder, esta droga que tanto escraviza e corrompe homens, com egos ascendendo e descendendo, nesta dança de vaidades frente a Jesus, esta poderosa mente que, apesar de genial, não soube neutralizar as indestrutíveis mazelas humanas. Neste quadro vemos papéis, de aparência antiga, como registros raros, dignos de pesquisa acadêmica, com papéis que são guardados como verdadeiras relíquias, no poder transformador da Cultura Erudita, este força dos bancos escolares, formando cidadãos dignos de respeito, como em nações tão finas como a Suécia. O sapo flutuante é como a deliciosa Experiência Extracorporal, as EECs, num momento em que o espírito, em sã consciência, se desprende momentaneamente do corpo físico, numa deliciosa sensação de Paz e Liberdade, num plano técnico de construção espiritual, como numa faculdade, uma grande faculdade, esta encarnação que tanto faz com que cresçamos em moralidade e elegância, nos deliciosos perfumes metafísicos, tão imitados pelos perfumes à venda nas lojas da Terra – tudo gira em torno da dimensão acima da Terra, na hierarquia espiritual. O sapo dorme plácido, relaxado, em doces sonhos de Paz. É um merecido momento de descanso, como o Criador descansou no sétimo dia, no modo como o trabalhador colono italiano no Rio Grande do Sul via o Domingo como uma dia excruciante, na proibição de trabalhar. O sapo aqui está altamente concentrado, na concentração de um médium numa sessão mediúnica, num momento mágico interdimensional no qual os desencarnados fazem contato com a Terra.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (3). A moça é a beleza da Natureza, no frescor de Primavera, com pássaros ensandecidos, agitados nos Céus, anunciando um momento novo, como num glorioso Desencarne, no maravilhoso fato de que o dia de soltura vai chegar, sempre. Flores brotam como numa mente criativa, pulsante, como no buquê de uma noiva branca, no machismo da moça ser entregue pura casta ao marido no Templo. É como um colar havaiano de flores, dando as boas vindas aos visitantes numa terra tão única e exótica, no perfume tropical, cópia fiel das apolíneas praias metafísicas, doces, prazerosas, fazendo com que não desejemos estar em qualquer outro lugar. A menina é jovem, beirando a puberdade, no modo como começam tão cedo as meninas em carreira de modelo, num mercado implacável, sempre em busca do frescor de rostinhos novos, adotando e descartando modelos todos os dias, num mercado volúvel e cruel, no qual não é considerada sexy uma mulher que não esteja na antessala da Anorexia. Vemos aqui um discreto fio sustentando uma flor, a Rosa Mística de Maria, no segredo da sensibilidade, numa flor sensitiva, que serve nos parreirais de uvas, numa flor que já avisa de antemão se alguma praga está se insinuando no vinhedo, fazendo da flor tal símbolo do feminino, da beleza, da delicadeza, do perfume, de coisas agradáveis, necessitando de um pingo de agressividade, ao ponto da mulher não mais se colocar como propriedade de outrem, num grito de independência, pois que Vida é esta sobre a qual não tenho controle sobre mim mesmo? O fio é a sustentação, a união, unindo membros de uma família, na Grande Família Metafísica, indestrutível, eterna, fazendo de Jesus Cristo nosso querido irmão, num filho de Tao, o mistério eterno. Podemos aqui ouvir o som dos passarinhos, numa dança de acasalamento, no instinto de um animal em construir ninhos tão perfeitos, tão simétricos, ou como as casinhas de joão de barro, como duas pessoas que se unem e vão morar juntas, sendo felizes, em aspectos tão simples, como tomar café da manhã no colo do cônjuge, nas pequenas delícias cotidianas da vida a dois. A maçã é o fruto, a recompensa por um trabalho árduo; é também a tentação, na malícia da serpente do Éden, condenando a Humanidade, no mito misógino que faz de Eva tal elemento de má fé, de malícia, de desarmonia – Jesus, quanto machismo. O fio aqui busca unificar o quadro, agregando as pessoas, no homem de Tao, o qual, no seu vazio desprovido de arrogância, torna-se a “força gravitacional” que une as pessoas, como num bom líder estadista, causando bem e prosperidade a seu próprio país, fazendo das ditaduras cópias muito grotescas da Paz de Tao, a sagrada vizinhança à qual tão ardorosamente pertencemos, pois que vizinhança é esta na qual só há guerras, bombas e mortes? Vemos uma singela e bela borboleta polinizando, na beleza de algo sendo revelado depois de um casulo tão feio e subestimado, na revelação da Beleza, de um mundo que faz inveja a qualquer lugar sobre a face da Terra. Esta menina tem um quê de Monalisa, indagando misteriosamente o espectador, no poder da Arte em se tornar algo tão forte, marcante e arrebatador, na missão artística em causar comoções em torno de algo, como num bom filme, no melhor filme do ano. O papel de parede, atrás, é bem feminino, com estampa floral e vegetal, numa identidade feminina, como numa mulher que, apesar de independente, gosta de se manter feminina, ao contrário de uma certa atriz, cujo nome não mencionarei, uma atriz que vai a eventos solenes sem um mísero batonzinho, ao contrário de Meryl Streep, uma atriz que, apesar de tão séria, sempre se arruma quando vem a público. Uma suave luz penetra pela janela atrás, numa promessa de ressurreição, de volta por cima, numa luz fina renascentista, acordando a Europa para um novo sopro de Arte, fazendo da Arte tal elemento transformador, marcando épocas, sempre trazendo sopro de novidade, na eterna juventude de espíritos que não ficam estagnados.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (4). Aqui temos um grande assédio, sexual ou moral. As zebras estão cercadas e confinadas num casulo de proteção, como numa casa segura, a salvo de ladrões ou invasores. A multidão de leões fareja a carne para o almoço. A paisagem africada é majestosa, dourada, no ouro do rei da selva, e estamos num belo amanhecer, e as zebras são reveladas, assim como uma estrela é revelada nos Céus. O carro é o controle, numa pessoa com o controle sobre si mesma. Aqui a fuga é possível – é só que as zebras queiram fugir. Mas parece que as zebras aqui gostam do assédio, como na relação de amor e ódio que Diana tinha com a Imprensa: no mesmo passo que a princesa amava aparecer nos televisores do Mundo inteiro, a mesma Diana se sentia muito invadida e desrespeitada por essa mesma imprensa. Aqui é o assédio dos paparazzi, como insetos gravitando sobre uma lâmpada acesa à noite. É um perfume de atração, como na fêmea no cio, sendo disputada por ferozes machos, para ver quem é o real rei da selva, nas competições da Vida em Sociedade, fazendo da universalidade dos Esportes tal força de competição, com embates atraindo a atenção do Corpo Social, num momento de puro entretenimento para as massas. As zebras estão encurraladas, e o carro é a última bolha de resguardo, como numa pessoa trancada em casa, num terreno com cercas elétricas, no instinto de proteção e de autopreservação, num animal que, a partir da Evolução, foi adquirindo noções instintivas de autoproteção, na Teoria da Seleção Natural, pois o animal sem instinto de sobrevivência não vive para passar adiante seus próprios genes. Os leões aqui estão absolutamente entretidos, como cachorros cobiçando frangos de padaria na calçada, no instinto mais primitivo, que é o da Alimentação, em restaurantes que, apesar de finos e elegantes, trazem esse mesmo instinto de matar a Fome. O capim aqui é um macio carpete, nessa combinação dos felinos em geral, aliando a suavidade felina, como no caminhar sutil do gato, à agressividade de garras e dentes afiados, como na Mulhergato, uma mulher que apesar de ter toda a sensualidade de veludo felino, tem garras agressivas e um chicote que trata de manter os homens sob controle, na relação de Disciplina entre domadora e leão. Aqui é um programa televisivo de alta audiência, com em grandes sucessos de Teledramaturgia, como em telenovelas icônicas como Roque Santeiro e Que Rei sou Eu?, unindo os brasileiros em torno de histórias tão deliciosas, recheadas de personagens que tratam de consagrar atores e atrizes, em momentos de glória na carreira, no amargo fato de que ninguém está por cima o tempo todo... O carro aqui rosna os motores, talvez provocando os leões. Os leões são a fome, a gana, a luta pela Vida, num artista que arduamente quer ser reconhecido ainda em Vida. Nesta cena crepuscular temos toda a majestade africana de Natureza, remetendo a tempos em que ainda era permitida a caça de animais como leões e elefantes, fazendo da divisão entre os século XX e XXI o boom da consciência ecológica, pois, de fato, a Terra é nosso único lar. Aqui as zebras cozinham em um microondas, e os leões mal podem esperar pelo momento da refeição, no modo quando um mesmo grupo de leões come, não há regras, e cada um tem que impor para poder comer um pedaço do pobre herbívoro que se tornou almoço, nos modos da Dimensão Material, na necessidade da Cadeia Alimentar, pois nada mais humano do que ter que se alimentar. Aqui é um jogo de sedução, como mulheres belas atiçando o macharedo. É como modelos na passarela, na superficialidade do Mundo da Moda e do Estilo – as tops fingem que são deusas; nós fingimos que acreditamos nisso. Aqui é um grande filme sendo lançado, num sopro de novidade, ou no galgar das tecnologias, como na geração de meu sobrinho, uma geração altamente digital, que mal sabe o que foi a era da Tecnologia Analógica, em tempos em que sequer havia um simples controle remoto. As zebras aqui parecem gostar de fazer tal provocação, e têm prazer em atiçar o Mundo. É como uma pessoa que, acostumada a tomar vinho de mesa, delicia-se com um belo vinho fino.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (5). Aqui temos uma ironia de inversão, pois o peixe, tão pescado e fisgado, torna-se caçador, invertendo papéis. Temos aqui uma paisagem um tanto inglesa, com uma mansão aristocrática ao fundo, digna de casa de Bruce Wayne. Os peixes estão vestidos com toda a discrição de lordes ingleses, apontando as armas ao alto, sonhando alto, e podemos ouvir os impiedosos tiros, num trabalho masculino tão universal, no modo como até em tribos amazônicas o serviço de caça e pesca é feito pelos homens da tribo, deixando às mulheres o papel de coletoras, ou seja, de fazer compras no supermercado. Vemos um anzol ao alto com uma tentadora e deliciosa isca – são os sinais auspiciosos, as ilusões que tanto enganam homens, desviando o interesse do que importa, que é a virtude, o apuro moral, num homem digno de respeito; num homem como Jesus resistindo às tentações do Diabo no deserto, num coração que, mortificado, não se deixa leva por ilusões, observando o Mundo da forma mais clara e fresquinha possível, sem ter tolas expectativas. Aqui o campo inglês tem um farfalhar, num país de terras vastas, com campos de paisagem aristocrática, em tradições como a caça que vemos aqui, num serviço que dificilmente uma mulher inglesa pode desempenhar, no modo como sobrevivem até hoje os ancestrais preconceitos patriarcais, relegando a mulher a um eterno papel coadjuvante, causando furor e escândalo grandes mulheres artistas que ousam apitar contra tal stablishment, na coragem da transgressão. Estes peixes caçadores estão alinhados, unindo forças para mirar na mesma direção, aumentando assim as chances de acertar a ave no Céu, num trabalho em equipe, ao contrário de certas pessoas não gostarem muito de interferências em seu trabalho, como uma pessoa que tem dificuldade em fazer trabalho em grupo na faculdade. Os dois peixes mais ao longe estão focando na mira, no Céu, mirando com uma precisão cirúrgica, fruto de anos de prática em caça. Já, o peixe em primeiro plano está sendo seduzido e distraído pela isca, na canção de Chico Buarque que narra como uma bela mulher pode anuviar o pensamento sisudo do homem que sai para trabalhar. O dia aqui é dúbio, e não sabemos se está encoberto ou aberto, com altos e baixos, às vezes nos permitindo ver o azul anil; outras vezes, não. A isca é a Serpente do Éden, seduzindo, no modo como o Ser Humano, no claro e fácil caminho único de Tao, é levado sempre por tentadores atalhos ilusórios, como numa busca incessante por Poder, no modo como pode ser infeliz a vida de um ganhador da Loteria, uma pessoa que, aos olhos do Mundo, é a pessoa mais feliz deste, nas eternas ilusões da Matéria, do tangível, na ilusão do objeto, do fetiche material, da ilusão de que podemos possuir algo, havendo no Desencarne tal libertação, pois o que é mundano, no Mundo fica. O peixe aqui está hesitante, um tanto amedrontado, mas muito excitado, como há certos homens que, apesar de ter uma aura tão masculina e destemida, são pessoas que, no fundo, têm muitos medos – quanto mais pouso de valentão, mais medo tenho, havendo o caminho da Humildade, ou seja, nunca mostrar uma coragem que não tenho, havendo no homem corajoso este discernimento – forte é fraco; fraco é forte. A isca são os gostosos pecadinhos capitais, e aqui temos o da Gula, num doce que marca um momento especial, como numa torta de aniversário. Por este terreno no quadro, vemos montículos verdes, como cercas vivas podadas, meticulosamente podadas, frutos de um jardineiro dedicado, como uma pessoa que, ao produzir, toma cuidado no que faz, encontrando Amor naquilo que faz, pois que vida é esta na qual odeio o que faço? Os peixes mais longínquos estão de casaco abotoado com disciplina, apertados, rígidos. Já, o peixe em primeiro plano está mais à vontade, desabotoado, como se estivesse no conforto do lar, num estilo de vida mais relaxado, só tendo disciplina quando realmente tem que ter, numa pessoa que aprendeu que não vale a pena ser workaholic.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (6). Vemos aqui um ataque aéreo, como no episódio de Pearl Harbor, num ataque implacável, nos terríveis barulhos de guerra, de bombas, neste talento humano em assassinar o próprio irmão, dando inveja a Caim. Podemos ouvir os zunidos das abelhas, num sopro primaveril, quando a Vida renasce em toda sua força, neste papel polinizador tão importante das abelhas, num misterioso processo que transforma o pólen em mel. É como no ataque terrorista mais infame da História, num momento em que os EUA se viram alvo da fome ditatorial por poder, em estados totalitários obcecados em manter o próprio cidadão sob controle. Vemos aqui uma abelha protagonista, ladeada por coadjuvantes, na hierarquia num set, com atores estelares sendo cumprimentados por jornalistas, os quais sequer olham para os atores menos estelares, neste jogo mundano de status, na fogueira das vaidades de egos, com pessoas obcecadas em se tornar algo, indo contra uma iluminada frase que ouvi recentemente: “Não se torne; seja”. Ou seja, tenho que ver aquilo que sempre fui e sempre serei, como uma pessoa descobrindo a si mesma, numa revelação, no patinho feio que se dá conta de que sempre foi cisne – o patinho não se tornou; o patinho passou a ser. Mais uma vez aqui temos esta indubitável paixão de Dan Craig por discretas luas quase novas, como numa casca de unha, num papel tão discreto, tão retirado, como se soubesse o valor da discrição, numa Lua que nunca tem as ambições mundanas de controlar tudo e todos, na metáfora do Anel: malícia, crueldade e desejo de controlar toda Vida. As flores aqui são altamente tentadoras às abelhinhas, e um grande jogo de sedução acontece, nos óvulos inertes sendo assediados pelos ensandecidos espermatozoides, no jogo de sedução entre passivo e ativo, como num gol sendo marcando, desvirginando a goleira tão bem guardada pelo goleiro – a passiva, a porta e a passagem são a Virgem Maria que, eroticamente inofensiva, precisa de um guerreiro para lhe proteger, na relação erótica entre guardacostas e guardado. As flores estão em seu auge, e são majestosas como se fossem renascentistas, claras, belas, definidas, neste sopro inédito que foi a Renascença. Como sabemos, as flores são as genitálias das plantas, num Tao que jamais tem vergonha do que ele próprio inventou, como na beleza do Corpo Humano – o que há de errado na nudez classuda e elegante? Uma das flores aqui é uma ovelha negra, pois não está aberta ou receptiva, mas arredia, arisca, fechada para a interação do cortejo sexual, talvez numa pessoa que não sabe ao certo seu lugar no Mundo, com dificuldade para se encontrar, como uma pessoa antipática, complicada, a qual tem dificuldade e até medo para interagir socialmente, uma pessoa que, apesar de fazer um bom trabalho, tem a reputação de ser difícil e árdua para se relacionar. É uma exceção, numa pessoa muito excepcional, a qual não quer se encaixar em indistintos padrões, talvez numa busca por identidade, por diferenciação, num triste caminho por um intrincado labirinto, num fundo de poço tamanho que faz com que esta pessoa não curta os seus próprios atributos, e como posso ser feliz se não estou de bem comigo mesmo? É um jogo de diferenciação. Darei um exemplo. Na arrebatadora cena final de Titanic, na qual os espíritos se reencontram no Plano Metafísico, uma multidão de espíritos bondosos aplaudem Rose e Jack e, assim que a câmera desliza e mostra todas as pessoas aplaudindo, o comandante do navio começa a bater palmas só quando a câmera lhe mostra, ou seja, ficou distinto e diferenciado, marcante, no caminho de cada pessoa em se tornar digno de tal diferenciação, pois Tao nunca cria dois espíritos iguais, dotando-nos de uma infinita individualidade – somos todos muito especiais. A flor fechada é a promessa de um dia melhor, numa flor que se abrirá no momento oportuno, fazendo uma linda revelação, no Grande Plano Divino para conosco, num espírito que encara a realidade de que nunca podemos ficar improdutivos.

 

Referência bibliográfica:

 

Dan Craig. Disponível em: <www.ba-reps.com/illustrators>. Acesso em: 12 mai. 2021.

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