quarta-feira, 11 de agosto de 2021

O Andy Warhol Britânico

 

 

Pai da Pop Art Britânica, Peter Blake, inglês de 1932, sempre amou Música e retratismo, tendo tido várias mostras retrospectivas e regulares. Blake sempre amou a Cultura de Massa e colagens de imagens, tornando-se importante ao ponto de receber no ano de 2006 o título de Sir da rainha Elizabeth II. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, certamente a obra mais famosa da carreira de Blake, capa do álbum célebre dos Beatles, abocanhando o troféu Grammy de Melhor Capa de Disco do ano de 1968, num trabalho em que PB traduz toda a sua paixão pela Cultura de Massa, no boom midiático do Século XX, na função da Pop Art em conciliar Arte com Mercado, no boom da Cultura Pop como um todo. O grande tambor ao centro é algo retumbante, com alarde, nos gigantescos esquemas de Marketing por trás do lançamento de algum artista pop, como num videoclipe bem dirigido e executado, veiculado pela MTV no Mundo todo, com uma gravadora fazendo investimentos em um certo artista, no boom inicial da carreira internacional de Ricky Martin, com um clipe muito bem produzido, neste privilégio de poucos artistas, como Michael Jackson, de fazer um dos dez clipes mais caros da História da Indústria Fonográfica Mundial. O tambor aqui pulsa, como um coração, no modo como já li que o nervo da Arte é a Vida. No centro, é claro, os Beatles, com suas cores vibrantes, no boom estilístico dos anos 1960, trazendo cor a uma Londres cinzenta. Logo ao lado esquerdo, uma autocitação, com os mesmos artistas com suas vestes de início de carreira, dando uma ideia da passagem de Tempo, no modo como é duro uma banda sobreviver a décadas de carreira. Aqui há um ar de citações, e numerar todas fica inviável, tal a riqueza, num Blake que faz o que um artista plástico faz, que é associar coisas anteriormente dissociadas e, associando-as, produzir algo novo. Marilyn Monroe é este superarquétipo feminino, provocadora, escandalosa, fascinante, com filas intermináveis em cinemas para ver a deusa da telona, num artista que fez a maior campanha de Marketing da história do perfume Chanel n. 5, dizendo dormir nua, com algumas gotas da fragrância que perdura até hoje no Mercado. O cenário aqui, desculpem a morbidez, remete a um enterro, com flores no túmulo, talvez em artistas querendo sepultar o passado, abraçando novos tempos de trabalho, novas metas, uma nova fome de vencer, no intuito de manter dentro de si esta chama, este ardor pelo Trabalho, no modo como cada pessoa tem que saber sobreviver às intempéries da existência. As flores são o implacável romper da Vida na Primavera, num jardim de Botticelli, no termo Flower Power, ou seja, Poder Floral, tão em voga naqueles tempos, remetendo à juventude de meus pais, havendo no início dos anos 1990 uma febre nostálgica, voltando à Moda tal poder das flores, como na icônica banda finada Deee-Lite. Os trajes coloridos dos Beatles aqui remetem a um visual um tanto militar, numa contradição, pois a Arte não quer reproduzir a rígida hierarquia militar, havendo no Amor a força que traz a verdadeira hierarquia, que é, assim, irresistível, nunca brutal. Cada beatle veste uma cor, numa diferenciação, apesar da semelhança ao mesmo tempo, como na concepção do nome da banda de Pagode, a Constelação, ou seja, cada membro da banda é um astro em si. Aqui é como uma reunião de turma de colégio ou faculdade, numa festa de reencontro, com todos reunidos para bater a foto e, logo depois, dispersar, indo cada um para um lado, no modo como é inevitável que cada um siga seu caminho particular, em amizades que se transformam em relacionamentos, pois a Eternidade é tempo para qualquer reencontro. Aqui é como na foto da abertura do televisivo Escolinha do Professor Raimundo, com cada aluno distinto, como num panteão, numa cor de diversidade. Vemos uma Marlene Dietrich, cheia de atitude, na capacidade de poucos em brilhar. Vemos até Karl Marx, marcando a onda comunista do século passado, num álbum feito em plena Guerra Fria, numa atitude corajosa em colocar Marx na capa de um grupo inglês, ou seja, de um país não comunista – a Arte precisa de Liberdade. Vemos Marlon Brando, um astro controverso e fabuloso. Vemos muita gente, e minha ignorância é gigantesca.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (1). O ônibus é esse caminho da Vida, como “Tao” quer dizer “caminho”, com Elis Regina tocando no veículo, nesta capacidade de pessoas em se tornar ícones que guiam gerações por seus caminhos, neste dom nato da liderança. Existe figura mais pop do que o Super Homem? É metáfora com os espíritos desencarnados, de alto valor moral, espíritos da Verdade, que odeiam mentiras, as quais são grandes perdas de Tempo. O SH é este homem de grande caráter, com seu tímido e despretensioso alterego Clark Kent, um humilde e pacato jornalista acima de qualquer suspeita, discreto, subestimado – seja subestimado e serás um homem descomunal. É a luta de tantas pessoas que ingressam na Política, buscando construir toda uma imagem, todo um caráter junto a um povo, na construção desses ídolos, campeões de urnas eleitorais, no modo como cada um tem que aprender por si a ser tal homem de caráter construído, como na construção tijolo por tijolo, numa pessoa que está aprendendo a lição da Dignidade, Simplicidade e Humildade, como na carismática figura de Papa Francisco, o papa do Povo, num rei que, apesar de morar num suntuoso palácio, pouco dá valor a este, pois os campos e florestas são muito mais belos. Existe figura mais pop do que Elvis Presley? Foi na aurora do Rock n’ Roll, no caldeirão musical norteamericano, no modo como os movimentos de Arte e Música estão em constante processo de transformação, como no recente surgimento da Música Eletrônica, iniciando na tecnologia digital dos anos 1980 – o Universo está sempre se transformando, havendo em Tao tal agente de transformação, tornando ridículo o homem de verdades inabaláveis, rançosas e mofadas. A estrela rubra aqui traz corajosa alusão comunista, num Mundo Ocidental que, no século passado, tanto rechaçou a URSS, no bangue bangue da Guerra Fria, neste eterno jogo de cadeiras de estados e reinos. A estrela é esta revelação, em algo explodindo e deslumbrando o Mundo: “É um pássaro? É um avião?”. É numa pessoa que não mais pode ser ignorada, impondo respeito, como na explosão de uma Gisele, na força grande de certas pessoas em aturar todas as vicissitudes, num processo de fortalecimento psicológico, pois o Mundo não é dos fortes? Este caminhão faz divulgação de um site de Arte, das Galerias CCA, inclusive com o site na fronte do veículo, trazendo a Pop Art, que nasceu na Tecnologia Analógica, para a Tecnologia Digital, do Terceiro Milênio, na digitalização do Universo das Celebridades, com artistas com milhões de seguidores no Facebook ou Twitter, como num clipe de Whitney Houston, com mais de um bilhão de visualizações no Youtube, trazendo um sopro de renovação à Cultura de Massa, como na geração de meu sobrinho, o qual nasceu no ano de 2003, em plena Era Digital, no casamento entre Indústria e Arte. Neste busão vemos uma figura de alvo, num artista visando o sucesso, produzindo um álbum, fazendo um belo clipe, para atingir altos índices de popularidade, numa precisão cirúrgica, num enigma, pois ninguém sabe ao certo o que é necessário para que alguém se torne astro – há muitos corpões, rostos belos e vozes boas que jamais serão astros... O que então é necessário? Não se sabe. Vemos listras em preto e branco, numa faixa de segurança, num artista que está seguro de que seu trabalho obterá sucesso, num código binário em dois tons, em preto e branco, como em fotos de grandes astros e estrelas hollywoodianos do Século XX, o século do Cinema. Vemos também uma lolita, uma mulher tão atraente, só que menor do que os homens no mesmo painel, nos eternos preconceitos do patriarcado, castrando mulheres, como em filmes pornôs, nos quais só ao homem é permitido ter orgasmo. Aqui é como um artista em turnê, nesses megashows internacionais que tanto demandam de estrutura técnica, com grandes aviões viajando pelo Mundo, transportando numerosas equipes, num espírito circense, no modo como Dercy Gonçalves se dizia mambembe.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (2). Uma releitura Pop Art de Alice no País das Maravilhas. O coelho é a fertilidade, como na abertura de um filme de Woody Allen que fala sobre Sexo, com coelhinhos se reproduzindo em alta velocidade, na fertilidade de ovos num cesto de Páscoa, na celebração da Vida, na Vida brotando em toda a sua força, como num ninho de aves, cheio de filhotes famintos, dependentes, tendo que ser alimentados constantemente pelos pais, nesta responsabilidade que é colocar um filho no Mundo, numa criança que vira adulta, assumindo a carga de responsabilidade. A mesa aqui é comedida, espartana, simples, e não é farta, muito longe de uma farta mesa de galeteria, numa fartura que espanta o turista ou visitante. A mesa é o vazio sensual de Tao, o espaço vazio pronto para abrigar Vida, como num vaso vazio, pronto para receber flores, como num grande vão público, feito para que o cidadão aproveite o espaço com lazer, caminhadas, bicicleta etc. O vazio é a serventia, a dignidade, numa pessoa que se sente útil ao Mundo, sentindo-se a serviço deste, na dignidade de uma vida produtiva, como após o Desencarne, quando o espírito desencarnado vê que, mesmo assim, não pode faltar trabalho, no modo como a Vida, com ou sem carne, revela-se em toda a sua seriedade, numa construção de carreira, pretendendo uma “formatura”, como nos arcanjos, os espíritos perfeitos, de apuro moral impecável, nossos “irmãos mais velhos”, por assim dizer. Alice aqui está entediada, enfadada, num chá tão monótono, numa festa tão chata, num anfitrião não muito empenhado em bem receber, fazendo das festas tais momentos de descanso e diversão, pois, depois da festa, a Vida retorna em toda a sua seriedade, ou seja, o playboy, a pessoa que só quer se divertir, tem uma existência miserável, no modo como uma pessoa rica que conheço, a qual, por dentro, é uma mendiga de miserável. A cartola é o galanteio, num homem elegante, como vi certa vez em Porto Alegre na Rua um famoso colunista social, com uma flor na lapela, uma flor pronta para ser dada a alguma donzela bonita e sorridente, como me disse certa vez uma amiga mais idosa do que eu: “Não se fazem mais cavalheiros como antigamente!”. Vemos um pequeno roedor se insinuando na mesa, talvez atraído por migalhas, na luta diária pela Vida, como li em frente a um atelier de costura: “Qualquer trabalho que garanta o pão de cada dia é essencial”. A Alice aqui fica no limiar adolescente, não se sentindo atraída pelo Mundo das Crianças; nem pelo Mundo dos Adultos, na idade da “galera”, quando o jovem só vê propósito e diversão com os amigos, nessa idade em que a pessoa é prisioneira de seus próprios hormônios, numa insaciável sede por Sexo. Atrás no quadro, um mosaico rico e colorido, na diversidade da Vida em Sociedade, como num momento de Paz como uma Olimpíada, num momento em que os povos se unem e esquecem-se de suas diferenças – como seria bom se o tempo todo fosse assim! O mosaico é um enigma de quebra cabeça, como um detetive desvendando um caso, um assassinato, um mistério, como num enigma de Agatha Christie, sempre desafiando a inteligência do leitor, pregando peças neste, confundido-o. Aqui é uma cafeteria chique, como amigos meus, que se mudaram para outra cidade e lá abriram um café muito sofisticado, certamente um dos melhores da cidade. Este mosaico é a paixão de Blake por fotomontagem, associando imagens, como num Frankenstein sendo montado, como num vinho assemblagem, com várias castas misturadas, ou numa salada de frutas. A Alice é como uma jovem debutante, muito jovem ainda, sem entender completamente os significados da Vida em Sociedade, numa época em que acreditamos em milagres, como numa criança que crê em Papai Noel. Podemos ouvir o tilintar das xícaras nos pires, na universalidade das infusões, como no chá inglês ou no chimarrão gaúcho. É um momento chic, de ritual polido, na sabedoria de que o fino é mais forte do que o grosso.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (3). O rinoceronte é a força, a resistência, como no recente anúncio de uma marca de cimento: “Não é forte; é fortaço!”. É no modo como a Vida vai exigindo que fiquemos mais fortes para, assim, não sofrermos tanto. O bicho aqui está exposto como num zoológico, com seres fadados a um confinamento, no modo como a encarnação em si é tal prisão, na boa notícia de que um dia o dia de soltura chegará, sempre, na questão de Santo Agostinho, colocando o Ser Humano como um vínculo entre carne e espírito, um vínculo fadado ao término, como num produto cuja da data de validade chegou – não é formidável? O rinoceronte é uma sedimentação, como numa carreira sendo construída, no modo espírita como uma encarnação na Terra tem um valor curricular muito grande, nesta dura escola cuja disciplina vai nos deixando com os pés no chão, bem no chão, no caminho de mortificação, como no adulto que parou de acreditar em Papai Noel. Aqui temos uma cena de Carnaval de Veneza, com suas exuberantes fantasias, na magia renascentista de descobrimento de novos mundos, no impacto global que seria o descobrimento de Vida – e inteligente – fora da Terra, numa revelação, no modo como o Desencarne nos mostra tal maravilhoso plano divino para conosco. Aqui temos uma praça movimentada, cheia de Vida, num merecido momento de lazer, algo proibido ao workaholic, aquela pessoa que simplesmente não para de trabalhar, trilhando o caminho da falta de respeito consigo mesma, pois como posso ser respeitado se não me dou ao respeito? Vemos palmeiras exuberantes, na magia de cidades como Los Angeles, na fábrica de ilusões, numa terra tão cheia de sonhos fracassados, nos altos e baixos, como num megaastro, o qual não está o tempo todo no topo... Aqui é um delicioso dia de Verão, com suas noites amenas, frescas, sensuais, numa praia de férias a qual sempre terá de se abandonada, pois o Verão passa, e o que vem depois? A Vida é uma coisa séria. O rinoceronte aqui se alimenta, neste ato tão primordial como o da alimentação, nos problemas de fome e subnutrição pelo Mundo, com um bilhão de pessoas na Terra mal tendo do que se alimentar, neste Mundo tão desigual como o nosso, com irmãos sendo separados por abismos sociais. Aqui é um momento de lazer em tal parque zoológico, num dia de Sol, belo, vibrante, nas diversões com amigos na beira de uma piscina, em doces memórias de diversão e amizade, como me disse uma grande amiga sobre a Adolescência: “Nós éramos felizes e sabíamos!”. Saudades daqueles amigões, havendo na Eternidade o tempo para qualquer reencontro. Bem ao fundo no quadro vemos painéis pintados, numa ironia de metalinguagem – artista falando de artista, tal qual uma atriz interpretando outra atriz, no brilho de Goldie Hawn em O Clube das Desquitadas, uma das maiores comédias da década. Podemos ouvir o som dos patins sobre o asfalto, em um momento de forte interação social, como encontrar por acaso um amigo e papear com este, nos mágicos momentos de Vida Social. Atrás deste muro pintado, um Céu de Brigadeiro, perfeito, sem qualquer vestígio de nebulosidade, num turista que vai à Califórnia sabendo que o Sol lá brilhará como sempre, no estado mais rico dos EUA, como seus vastos vinhedos. O Carnaval aqui é como uma trupe teatral, como um amigo meu, apaixonado por Teatro, na magia do palco, de uma cortina se abrindo e nos convidando a entrar na mente do escritor e do diretor. O Teatro é esta arte tão milenar, desde a Antiguidade, nos mistérios que sempre rondaram a pergunta: O que é Arte? É um mistério. É humano. É fantástico. O rinoceronte aqui é a passagem do Tempo, numa pessoa que vai adquirindo sabedoria com os anos, neste divisor de águas que é ter juízo, ao contrário de rapazes que vi na Rua estes dias, os quais corriam de bicicleta em alta velocidade – cuidado, moleque! Então, chega a Maturidade e nos dá o senso de consequência. Esta cena me remete a uma máscara de Veneza que uma pessoa de minha família me deu, com um nariz pontudo, exigindo distância e respeito. E as leis exigem em nome da manutenção de tal respeito, no caminho do apuro moral, da verdade, de uma pessoa autêntica como uma joia rara.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (4). Blake gosta desses espaços vazios, como se soubesse que a sensualidade está exatamente nos espaços vazios, disponíveis ao uso do dia a dia, do cotidiano. É como decorar uma prateleira ou uma mesa de centro – deve haver espaços vazios para o uso, para a dignidade, na serventia de tal móvel. O ônibus é uma carreira, uma estrada, uma história, como uma cobra trocando de pele várias vezes, no chocalho de uma cascavel, ou na barriga de um homem, contando toda uma história, ao contrário da mulher, que precisa ser jovem e pura para sempre, sem poder se realizar numa carreira – é a misoginia social. Trata-se de uma paisagem americana, pois os cavalheiros ao fundo têm chapéus de caubói, neste símbolo de Cultura Popular Estadunidense. O chão pardo é a terra, a mãe, a pátria, na capacidade de um grande líder em, ao amar a própria nação, é amado pelo próprio povo, num reconhecimento, pois que líder é esse que mal se importa com o povo nem com o preço do pão? É um líder tirano, que abusa de impostos, oprimindo um povo, o qual não suporta mais impostos. O jogo de Xadrez é a paciência, o raciocínio, numa negociação diplomática, no modo como um homem de Tao nada terá a ver com guerras ou devastações, nunca ceifando vidas em conflitos, pois quando o Tao entre as nações é perdido, perde-se tudo, principalmente a Paz. O jogo é um relacionamento truncado, com uma pessoa que resiste em se entregar aos braços de outra pessoa, talvez com medo de se machucar, no modo como é maravilhoso uma pessoa se entregar, deixando de fazer Sexo para fazer Amor, no modo como o Amor respeita integralmente o Apuro Moral, num lar seguro, com crianças sendo amadas e preparadas para a dureza do Mundo, havendo no lar proveniente um ambiente de recarregamento de energias, de porto seguro. O homem ao tabuleiro está entediado, talvez enfadado com o óbvio, com o evidente, numa equação ridícula, que diz que 1 é igual a 1. Então, o Amor vem e toca fundo, tornando-se algo de plena importância numa encarnação, pois a privação trazida pelo Mal só leva ao Umbral, a dimensão suja e escura na qual não sabemos quem somos. O vestido floreado da moça é delicado, na força da Vida, numa exuberante cerejeira em floração, com uma flor tão delicada, tão bela, na prova do talento de Tao, o autor da beleza inequiparável dos campos e florestas, num Ser Humano infelizmente obcecado com palácios e joias, ou seja, num ser mundano, sujeito ao “prazo de validade” de tudo ligado à Matéria. A moça tem colado em si bilhetes, como num mural de recados, com informações, referências – são as lembranças, as memórias de uma vida, com lembranças doces de infância, como no estimado trenó Rosebud de O Cidadão Kane, remetendo a uma época em que a Vida era mais simples, sem as afetações patéticas das ambições humanas adultas. É como no meu adorado Castelo de Grayskull, o qual não mais me pertence. A terra aqui é erma e árida, como numa paisagem marciana, sem uma gota de Vida – é a aridez de uma mente preocupada com riquezas mundanas, como numa senhora materialista que conheço, a qual é a prova de que dinheiro não traz felicidade, no modo como uma pessoa pode ser tão rica e, ao mesmo tempo, miserável como um indígena jogado numa calçada pedindo moedinhas. O rosnar do ônibus é a força da Vida, num motor que bate como um coração vigoroso, numa pessoa que se mantém com tesão pela Vida, sempre aceitando olimpicamente os desafios, os obstáculos, numa pessoa que se excita frente a uma montanha a ser escalada, ao contrário da pessoa deprimida, prostrada numa cama, sem qualquer tesão, como num lutador borocoxô, xoxo, atirado nas cordas do ringue da Vida, pois nunca ouvimos que Deus a ajuda a quem ajuda a si mesmo? O vento corta este vazio, numa página em branco, na capacidade do grande ator em se tornar uma página em branco sobre a qual um personagem será “escrito”.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (5). Um quadro de tons renascentistas, num momento em que a Europa passou por um forte sopro de renovação. A mulher é Flora, com seus braços de árvore, na imaginação fértil de um artista, sempre imaginando, com coisas estranhas e fabulosas, pois o óbvio, realmente, não é amigo da Arte – bem pelo contrário. A donzela é a beleza da Natureza, em terras devolutas sendo desbravadas por colonizadores, fazendo relatórios a seus respectivos monarcas, no modo como os navegadores foram ídolos e heróis da Renascença. Aqui é uma Primavera de Botticelli, na capacidade da Natureza em se renovar e ficar jovem para sempre com tais ciclos de renovação, como na pessoa idosa, que, ao desencarnar, rejuvenesce e vive jovem e bela para sempre, no modo como as pessoas são de fato, no Mundo Metafísico, que é o Mundo Real, de verdade, fazendo da Terra tal arremedo precário, como uma amiga que tenho, a qual na Terra não é bela, mas, no Plano Metafísico, é belíssima. É como na beleza interior revelada por uma Susan Boyle fisicamente pouco atraente, a qual, subestimada por sua aparente feiúra, revelou tudo de belo que tem, como num aspecto feio exterior de uma pedra de ametista, uma pedra que, bipartida, revela tudo de belo que tem por dentro, no modo como a Elegância está nas atitudes, e não numa peça de roupa cara e luxuosa, pois, quem tem Estilo, pode ficar extremamente bonito se vestindo em lojas populares como as da rede Pompéia, no caminho da Simplicidade, deixando para trás afetações pernósticas e desnecessárias. A donzela floreada aqui é assediada por um pretendente, nos instintos da selva, com o macho procurando pela parceira numa terra sem leis, na força do instinto, como numa pessoa que se move instintivamente pela Vida, sabendo que não há livro ou faculdade que nos ensine a brilhar, no caminho autodidata, num aprendizado que somente a pessoa pode dar a si mesma. A donzela é o princípio passivo, como numa indefesa rede de goleira de Futebol, na moça virginal tendo que ser protegida por seus fiéis soldados, numa Jackie O. sendo acudida atenciosamente após o famoso e brutal assassinato de seu marido presidente, no mito de Nossa Senhora, a mulher desprovida de Sexualidade, no modo como as feministas odeiam este esquema de colocar a mulher ou como santa, ou como diaba. Ouvimos o sensual farfalhar das folhas dos braços desta deusa vegetal, nas árvores fornecendo os frutos, numa atribulada colheita de maçãs no município gaúcho de Vacaria. É a árvore do Éden, culpando Eva por todos os sofrimentos do Mundo, colocando Adão como uma vítima de sedução mundana, numa Vênus entorpecendo Marte, minimizando as guerras, estes terríveis eventos nos quais Tao é definitivamente perdido, dando espaço à brutalidade de Caim assassinando Abel. O cavalheiro aqui tem saia de soldado romano, como na recente saia de Mulher Maravilha, no Cinema, uma mulher guerreira, feminista, que mostra que pode dar conta de qualquer marmanjo mal intencionado. Este quadro tem uma brisa, uma volatividade, com tecidos finos esvoaçantes, nos deslumbrantes tecidos metafísicos, vaporosos, além de qualquer tecido fino mundano, no modo como as cidades físicas buscam imitar as cidades perfeitas metafísicas. A luminosidade aqui é num limiar – ou é fim do dia, ou é início do dia. É uma luz dúbia, sem declarações terrivelmente claras. É uma insinuação, como numa luz de luar, que ilumina e, ao mesmo tempo, oculta, num limiar sensual, provocante, como num striptease. A mulher tem continuidade aqui com a Natureza, remetendo ao saudoso seriado televisivo O Elo Perdido, havendo em um episódio uma Medusa traiçoeira, a qual aprisionava homens com suas heras fortes e envolventes – por que a Medusa tem que ser mulher? Por que Jesus tem que ser homem? O Marte aqui é uma pedra firme, um porto seguro para a errante Flora, como num homem sério, que propõe sério matrimônio, como num amigo que tenho, o qual desde cedo em sua vida sonhava em ter uma mulher para casar.

 

Referências bibliográficas:

 

Sir Peter Blake. Disponível em: <www.ba-reps.com/illustrators>. Acesso em: 21 jul. 2021.

Sir Peter Blake. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 21 jul. 2021.

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