quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Adoro Doran (Parte 1 de 11)

 

 

O premiado inglês vintão David Doran já trabalho para clientes de peso como a fabricante Apple, a marca Nespresso, o troféu Oscar, a revista Vogue e outras importantes empresas, dedicando-se a publicações de várias mídias. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (1). Aqui temos um sonho de paz, quietude e simplicidade, numa vida simples, honesta, sem afetações de Ego, como num senhor que conheço, o qual tem sua casa de sítio com o chão de terra, remetendo a uma formidável adega que conheci, do marido de minha tia avó, uma adega de chão de terra, pois vinho não tem a ver com terra, com um lirismo telúrico? É como eu disse a uma grande amiga, a qual está num relacionamento feliz: “A vida é boa quando é simples”, e torço muito para minha amiga ser feliz. Aqui é um cenário de frescor de Primavera, na libido do bioma, com plantas e animais em êxtase reprodutivo, na força de renovação da Natureza, nos mistérios do planeta Terra, uma esfera autossuficiente, que se renova por si mesma, num mecanismo perfeito de reciclagem, e não é Tao perfeito no que faz? A absurda vastidão do Cosmos não é um retrato de tal poder imensurável? Aqui, nesta quietude, a pessoa tem todo o sossego, como nos lotes da Colônia Italiana no Rio Grande do Sul, na paz de terras devolutas, com os sons misteriosos da mata, com índios e animais selvagens. Aqui é o conselho de Tao para um governante: Nunca interfira no dia a dia pacato do cidadão, pois tudo, no fim das contas, resume-se a convivência de vizinhos, sempre primando pela Harmonia, procurando se parecer ao máximo da Grande Vizinhança Metafísica, na qual a Paz segue indestrutível, fortíssima, pois não é altamente lógico – quase óbvio – dizer que a Guerra atrapalha a Paz? Aqui sentimos aquele silêncio rural de colônia, com tal quietude que chegamos ouvir aquele zunidinho em nossos ouvidos. Aqui ouvimos o canto dos pássaros, neste perfume para os ouvidos, no canto de quero quero, esta ave tão gaúcha, cantando pelos pampas banhados de luar, como vento cortando as altivas araucárias, no espírito gaúcho de liberdade e amor à própria terra, no fracasso gaúcho em querer independência na Guerra dos Farrapos, na tragédia que fundou tal orgulho, o qual segue indestrutível. Esta cena é um sonho de Paz, numa construção de pedras, simples, rústica e pitoresca, talvez com uma lareira, na famosa canção: “Eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor”, com seus livros e discos, recebendo os amigos. E há algo mais prazeroso do que uma conversa com amigos? É a magia da sala de estar, o ambiente no qual a pessoa, estando de bem consigo mesma, não quer estar em qualquer outro lugar, até a pessoa resolver fazer as pazes com o Mundo e perceber que este não tem culpa se eu fracasso, no pensamento liberal, no qual o homem é dono de si mesmo, sem estar sob o controle de um estado esmagador comunista, fazendo dos EUA tal nação livre, invejada por ditadores, os quais dão “um tiro no próprio pé”, por assim dizer. Aqui é como na liberdade cantante da Noviça Rebelde, com a diva Julie Andrews se tornando tal ícone de diva, encarnando a altiva rainha do país fictício de Genovia, no filme bom O Diário da Princesa – as deusas são deusas em qualquer idade. Aqui o dia é de um glorioso Céu de Brigadeiro, sem qualquer nuvenzinha, numa certeza em que a pessoa vê a si mesma de modo existencial, no privilégio de uma pessoa em se encontrar e saber o que quer da Vida, como num mistério sendo esclarecido, no modo como a Eternidade é tempo para a resolução de qualquer desavença, num Tao que sempre acaba se impondo, assim como os ramos linguísticos acabam se rendendo ao Senso Comum, como o termo “tão pouco” virar “tampouco”. Aqui as flores desabrocham em libido, num sonho primaveril de Botticelli, no triunfo da Vênus sendo revelada na concha, na revelação de algo divino, como na vida de desencarnado, numa vida gloriosa onde todos gozamos da mais plena saúde para que, assim, permaneçamos produtivos, pois que sentido há numa vida improdutiva? Qual a esperança para quem não faz merda nenhuma, com o perdão do termo chulo? Trabalho traz Paz.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (2). Aqui temos um isolamento, como uma pessoa que enlouqueceu, refugiando-se num mundo de mentirinha, vivendo uma ilusão, como na miserável Norma Desmond de Crepúsculo dos Deuses, mergulhando numa loucura incontornável. Aqui temos uma placidez, numa pessoa que passou a viver em Paz consigo mesma, sabendo que somente Zé é responsável pela felicidade ou infelicidade de Zé, no termo católico Mea Culpa. Aqui nesta ilha temos um acesso restrito, na revolução na Humanidade na construção de pontes, fazendo de uma ilha como Manhattan algo tão alimentado diariamente pelas pontes ao redor da urbe célebre. O barquinho aqui é a travessia existencial, como na tradição do egípcio antigo, quando o indivíduo morre e tem que atravessar o submundo. Aqui é o poder da Paz, num lago que é um espelho de tão plácido, no espelho de Narciso, no narcisismo sociopático, no qual o sociopata se considera Deus – duvide do caráter de um sociopata; não duvide da capacidade ardilosa da inteligência manipuladora de um sociopata. É a Ana Terra, de Veríssimo, se olhando na água de um córrego, fazendo do espelho tal símbolo de Feminilidade, como no Espelho de Galadriel, de Tolkien, como num televisor com fatos sendo revelados, como nas profecias de Nostradamus, fazendo do espelho esta metáfora do autoencontro, no termo coloquial “enxergar-se num espelho”, fazendo com que a pessoa, em autocrítica, não se torne hipócrita, pois não é insuportável a pessoa que se acha imune a erros? A Arrogância não precede a queda? Os pássaros voando alto são a liberdade da Racionalidade, no poder libertador do Conhecimento, da Ciência, libertando a Humanidade de superstições, na frieza racional que, apesar de tão gélida, tem o poder de curar e limpar, na metáfora do remédio amargo que surte doces efeitos, como numa crise existencial, no modo como as crises são positivas, pois estas assinalam um ponto de renovação e refôlego na vida da pessoa em crise, como num grande amigo meu, o qual está dando sinais de reação pós crise. A casa aqui é suntuosa e elegante, mas é modesta, pois não busca se apoderar do quadro inteiro. É um talento de arquiteto, com prédios de desenho que nos deixa perplexos, como nos prédios do Plano Metafísico, desafiando limites como a Lei da Gravidade, numa dimensão do demiurgo, concretizando sonhos de Engenharia, numa dimensão onde todos temos a oportunidade de mostrar nossa própria inteligência, como num aluno brilhante, que merece até mais do que nota dez. O por do Sol aqui é corado, como num delicioso sorvete de morango, havendo nos doces esse prazer metafísico, com os doces divinos que não engordam, havendo nas sorveterias essa cópias desses lugares metafísicos de beleza elevada, tal qual um excitante quadro renascentista, fazendo da Arte este enigma, algo girando em torno de algo nobre e indestrutível, no mistério de inspiração que tanto enche e enriquece nossos corações e mentes, como na manifesto antiinsensibilidade de Titanic, numa existência que nos testa para ver se perdemos tal sensibilidade, no caminho da Fé – não há garantias científicas, pois Tao é mistério infindável, com a humildade de nunca colocar um ponto final. Este lago é o Guaíba em Porto Alegre, num por do Sol encantador, como tomar um café na Fundação Iberê Camargo olhando as águas do lago gaúcho, numa cidade tão rica em opções culturais, como numa Bienal de Artes Plásticas, o evento em que os artistas nos convidam para que entremos na mente destes. Aqui é uma quietude aparente, que pode ocultar algo que “ferve” mais embaixo, como num artista começando a ser reconhecido, impondo respeito aos poucos, pois aprendi que ninguém tem a obrigação de ir de zero a cem em um piscar de olhos. O isolamento aqui é a solidão eterna, no modo como cada um se recolhe a si mesmo, mas é claro que, ao mesmo tempo, estamos cercados de amigos, e até Tao tem que se retirar de vez em quando, no modo como Deus descansou no sétimo dia pós a Criação. Aqui é a placidez da paciência, numa pessoa sem pressa ou desespero.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (3). Aqui é uma cena do conforto do lar, como num anúncio de rádio que ouvi recentemente: “Um ambiente aconchegante, com um visual só seu, onde você passa os melhores momentos de sua vida. O melhor lugar do Mundo é a sua casa”, no termo carioca “muvuca”, para falar do calor do lar. E não é gloriosa a sensação de chegar em casa no fim do dia e relaxar, colocando chinelos como estes neste quadro de Doran? Os chinelos são este conforto, como numa caricatura que vi há tempos, com Marilyn Monroe vestindo chinelos e tomando uma caipirinha, bem à vontade, longe das obrigações glamorosas de uma grande estrela de Cinema. É o happy hour, numa hora do dia em que empresários, executivos e advogados afrouxam suas gravatas e vão tomar um chope ou algo que o valha, afinal ninguém é de ferro. O gato aqui, em sua maciez e estilo sedoso, é tal sensação de acolhimento, num bicho que passa a fazer parte deste lar, no relacionamento afetuoso com o dono, em cuidados cotidianos como regar uma planta na sacada, no dia a dia de passar uma vassoura na casa e dar conta de roupa suja na máquina de lavar, como na fala de um papel teatral de Ney Latorraca: “Casa é uma delícia! Que delícia que é casa!”. É o prazer de estar num lugar limpo, longe das sujeiras cotidianas do Mundo lá fora, num lugar onde tudo pede uma trégua, no hábito da discrição, numa pessoa quietinha no seu canto, talvez recebendo amigos íntimos para um café, com o anfitrião bem à vontade, talvez calçando meias, sequer com chinelos, deixando os convidados à vontade. Como numa pessoa que tem o hábito de ficar nua dentro de casa, talvez atendendo à porta como veio ao Mundo, como no seriado Friends, no qual o personagem Joey tinha o hábito das “quintas-feiras peladas”, quando, em sua casa, ele e os convidados tinham que ficar pelados, à vontade como um útero quentinho, a nossa primeira casa, fazendo de tal aconchego uma metáfora com o extremo conforto e bem estar do Plano Metafísico, o Lar Supremo, num lugar tão bom que faz com que não desejemos estar em qualquer outro lugar. É como na inocência das praias de Nudismo, sem a malícia da serpente do Éden. O gato aqui é esta combinação de Yin, que é o tato sedoso, e o Yang, que são as garras afiadas, como na absoluta Mulhergato de Pfeiffer, combinando suavidade de silenciosas patas com unhas afiadas e chicote ferino. As flores e plantas aqui são a Vida, num momento de Lar, de vida íntima, no prazer do convívio, como no seriado Chaves, o qual fala de convívio, com os personagens da vila tendo que suportar uns os defeitos dos outros, e casamento não se baseia em tal tolerância? Não temos que amar incondicionalmente? Pois, em amizade, não pode haver cobrança. Em detalhes do quadro, vemos furtivas abelhinhas, discretas, vivendo em quietude suas vidas, e podemos ouvir o zunidinho, talvez num inseto atraído pelo odor das flores na cena, numa abelha que exige que mantenhamos respeitoso distanciamento, pois eu já levei uma ferroada de abelha, e dói pra cacilda! Aqui é uma cena de Vida, com coisas entremeadas acontecendo ao mesmo tempo, como num bioma, onde cada ser tem um papel a desempenhar, como numa peça de teatro, ou num filme, com atores que, apesar de coadjuvantes, têm papel importante nesta “trama”. O chinelo aqui me remete ao estado da Bahia, o qual é um país à parte, com os salvadorenhos andando muito à vontade na Rua, ao ponto de passear de chinelos nos melhores shoppings da cidade, algo um tanto impensado para um gaúcho como eu. Os chinelos são as férias, a folga, como num professor que tive, o qual perguntou porque praia é tão bom, e eu respondi: “Por causa da simplicidade. Você precisa sair de casa? Coloque os chinelos e saia. Simples assim”. E a Vida não é boa quando é simples? Neste quadro temos cuidado, zelo, carinho, amor, com plantas bem cuidadas e um gatinho bem alimentado. Aqui há vida e prazer em viver.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (4). Aqui é o quadro da vitória, do êxito, numa pessoa que não mais passou a sofrer por si, encarando a lida e vendo que apenas é Luizinho quem está no controle da vida de Luizinho. Aqui é uma espada afiada, num psicoterapeuta fazendo diagnósticos de precisão de bisturi, observando o paciente da forma mais fria e isenta possível. Aqui são os versos do poeta: “Navegar é preciso; viver não é preciso”. É numa excitante competição acirrada, em que os oponentes estão palmo a palmo, como num pleito eleitoral acirrado, apertado, no modo como Hilary Clinton passou tão perto de se eleger presidente dos EUA. Aqui é a elegância aristocrática e atlética da estampa listrada, elegante, fina, esguia, em toda a fineza imortal do Sangue Metafísico, o qual corre nas veias de príncipes, mendigos e plebeus, igualmente, fazendo das classes sociais terrenas uma ilusão de separação, no modo como a verdadeira hierarquia existe na base do apuro moral – os mais honestos, os mais dignos, são os que têm o Mundo. Aqui é um domingo ensolarado de campeonato, numa copa, na excitação de torneios para ver quem merece a cobiçada taça, qual é o receptáculo feminino, como na jarra prateada da Galadriel de Tolkien, a recompensa do paraíso aos que tombaram na guerra, como numa briga de herdeiros, para ver quem é que fica com os bens do falecido, neste eterno talento humano de guerra entre Caim e Abel, como num homem embriagado de Poder, não imaginando a Vida sem este, suicidando-se, indo para o Umbral, o lugar das almas mundanas, que não querem sair da “prisão” – só vaga no Umbral quem quer. Aqui é o empenho, a credibilidade do Yang, num Senna brilhando, trazendo taças na volta ao lar, na musiquinha célebre dos domingos de Fórmula 1, numa nação unida em verde e amarelo em tempos de Copa do Mundo – quisera o Mundo fosse o tempo todo assim, unido em concórdia. Aqui é este esmagador patriotismo americano, pois ao alto no quadro vemos uma bandeira dos EUA, como no ato de fixar tal bandeira na Lua em 1969, num territorialismo ferrenho, orgulhos que, infelizmente, podem acontecer em guerras, num banguebangue de fome e destruição. Aqui é o avanço da velocidade, num Ser Humano que ainda engatinha em desenvolvimento de tecnologia de velocidade, havendo na Velocidade da Luz, a qual é aparentemente rápida, uma velocidade muito, muito lenta em termos cósmicos, com galáxias que precisaríamos de bilhões de anos em tal velocidade para cruzarmos tal galáxia de ponta a ponta. Aqui é a retilinidade, a precisão, o pensamento racional que abrevia frescuras e vai direto ao ponto, como na chamada dos programas de entrevista de Marilia Gabriela, com a apresentadora com uma espada fincando esta bem no meio de um alvo. É como no termo target, alvo de Inglês, para denominar o público alvo de uma campanha publicitária, no modo ocidental científico, como em marcas de produtos que visam atingir o público infantil, tentando entender como funciona a cabeça das crianças para que estas sejam interpeladas por anúncios de brinquedos, fazendo das crianças inocentes vítimas de apelos marqueteiros. Aqui há a predominância elegante de azul marinho com branco, na beleza de uma camisa com listras intercalando azul com branco, como num elegante balneário, como Nice, na França, com os faróis listrados para chamar a atenção dos navegadores, como nos uniformes listrados de marinheiros. A água aqui é cortada, violada, furada pela fúria dos navegadores, como num domador domando uma fera, no condicionamento de animais selvagens, até chegarmos ao gato doméstico, primo de animais selvagens. Aqui é a excitação da competição, com torneios de parar o Mundo, no modo como as ruas do Brasil ficam desertas nos momentos de jogo da seleção, fazendo de raras exceções quem não quer ver a seleção em campo. Aqui é um mágico domingo ensolarado, convidando-nos a aproveitar tal dia de folga e beleza, pois a Vida tem que trazer um tanto de folga e contemplação. Aqui é a saúde do ar livre, da orla, do ar puro. As listras são a retidão do caráter, da nobreza.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (5). Certa vez encontrei na Rua uma ex professora minha de Inglês, e, conversando em Inglês, é claro, descobrimos que ambos já viajamos para a fabulosa Nova York, e eu disse para ela: “Aquela cidade é fascinante”, e ela concordou, dizendo: “É fascinante!”. NY transpira Arte, museus, galerias, na sofisticação da ilha de Manhattan. Nesta obra de Duran, o artista tenta sintetizar o que faz da cidade tal ícone entre as urbes do Mundo. As letras garrafais são simples, nítidas, gigantescas, nessa praticidade americana, como as canecas sem pires, práticas, fazendo dos americanos um povo tão pragmático, adquirindo um verniz cultural próprio, inconfundível, distanciando-se muito de Mãe Inglaterra, com um abismal oceano cultural entre as duas nações de Língua Inglesa. Vemos a famosa silhueta da cidade, com suas torres afiadas e paladinas, abrasivas como as pirâmides do Egito, talvez com estruturas dando identidade a tal potência, como o foi o Egito na Antiguidade – será que as marés da História farão dos EUA uma nação cujo poder não durará para sempre? Aqui é a sofisticação de ouvir Jazz em meio às paisagens novaiorquinas, como os plátanos dourados outonais do Central Park, numa cidade que muito bem recebe os turistas, e recebe também imigrantes de todo o Mundo, fazendo assim tal colcha de retalhos cultural, numa cidade que é uma Babilônia. Aqui é a paixão incondicional de Woody Allen pela ilha, num homem que, diz a lenda, não consegue ficar mais do que dois dias longe de Manhattan, tal a paixão. É uma busca por identidade, assim como Porto Alegre se diz a cidade da dupla Gre-Nal, no modo como cada comunidade busca tal identidade própria, como na Festa da Uva de Caxias do Sul, num momento em que a comunidade se une e se engaja em torno de uma celebração que é fruto de Cultura Popular Brasileira, pois a Cultura Popular vem do povo e a este sempre pertence, sempre. Num pequeno detalhe vemos um helicóptero, num sonho de elevação, no sonho humano em voar e vencer a rígida Lei da Gravidade, como na deliciosa sensação espiritual de plainar, uma sensação metafísica de que recebemos uma pequena amostra quando estamos dormindo sonhando, num momento de Experiência Extracorporal – a EEC espírita –, em que temos um gostinho da plenitude gloriosa dos felizes desencarnados, nossos entes queridos que tanto nos abençoam lá de cima. Vemos aqui uma partida de basquete, o esporte que é tão popular entre os americanos, com seus atletas altos, enterrando com vontade e virilidade a bola na cesta, no modo como a pessoa tem que ter tal tesão pela Vida. Vemos também uma cena pitoresca de um plácido lago do Central Park, com suas folhas caindo silenciosamente, pintando de dourado a paisagem cinzenta da selva de pedra, remetendo-me aos furtivos esquilinhos que vemos passeando tranquilamente pelo parque da cidade, convivendo pacificamente com o vaivém frenético da agitada cidade. O lago aqui é um espelho de plácido, na dádiva que é a pessoa estar em paz com o lugar onde mora, pois como posso viver em paz se odeio a cidade onde moro? É o caminho do contentamento, fazendo da ambição tal inimiga da Paz. Vemos também uma marca registrada de NY, que são as gigantescas caixas de água no topo dos prédios, remetendo ao vídeo de um quadro famoso do popular talkshow de David Letterman, com caixas de água sendo mostradas nos topos das edificações. A caixa de água é a reserva, na sabedoria da formiguinha fazendo o estoque para passar tranquilamente pelo Inverno, como um urso, o qual, antes de hibernar, trata de se alimentar muito bem, fazendo reservas de gordura. Num detalhe, vemos o prédio do novo World Trade Center, numa cidade que jamais esquecerá do Onze de Setembro, numa cicatriz, apesar do novo arranhacéu parecer esquecer do ocorrido. Aqui temos a visão de um inglês sobre os EUA, colocando elementos que remetem aos conceitos de um turista.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (6). No título do filme Perfume de Mulher. O perfume, o olor é este jogo de sedução, em fragrâncias que buscam personificar a irresistível fragrância metafísica, comportamental, num cheiro de anjo, de elevação, de elegância, de algo bom, positivo, cheio de graça e sentido, como uma história sendo contada. É como testemunhas dizendo que podiam sentir o perfume espiritual de Chico Xavier, pois de que adianta um sociopata malévolo cheirando a Chanel n. 5? Perfumes são como molduras – se a pintura é boa, a moldura ajuda a vender; se é ruim, não há moldura que salve o dia. O Bem é assim, agradável, sempre deixando algo de bom no ar, algo positivo, algo que dê sentido à Vida e ao processo intermitente de depuração espiritual. Aqui é a magia de uma bandeja de banheiro, com frascos coloridos, perfumados, na magia do ritual de purificação de um banho, para que nós, os encarnados perfumados, possamos nos parecer ao máximo com os espíritos livres, desencarnados e felizes. Aqui é uma fonte incessante de magia perfumada, numa mulher se aprumando frente ao um espelho, como numa Evita, a qual, diz a lenda, demorava quarenta minutos em frente a um espelho se arrumando. O perfume é o frescor, numa terra em eterna Primavera, num quadro de Botticelli, na Beleza sendo revelada em toda a sua força implacável, na vitória da Beleza, no dia nascendo dourado, inevitável, numa avalanche de coisas belas e perfumadas, na luta do Bem contra o Mal, ou seja, do perfumado sobre o fétido, pois o Umbral é assim, com cheiro de fezes, num espírito que simplesmente não quer sair de tal plano degradante; num espírito definitivamente sem autoestima, sem amor próprio, pois só posso ser feliz se eu me permitir ser feliz, e ninguém pode fazer isso no meu lugar, na questão da pessoa adquirir o controle sobre sua própria vida, como num motorista, guiando o próprio carro, na questão da virilidade, até a pessoa parar de sentir coisas enfiadas em sua própria goela abaixo – que vida é esta na qual sou refém das expectativas de outrem? Aqui, é um momento final, de coroação, numa mulher que levou tempo na aprumação, no modo como, para a Mulher, a diversão não começa só ao chegar na festa, mas começa no próprio ritual de aprumação: banho, secar o cabelo, arrumar o cabelo, fazer a maquiagem, vestir-se e, por fim, usar gotas de perfume, na magia de uma pessoa deixando perfume pairar no ar, com rapazes embriagados com moças que deixam no ar seu perfume feminino, no jogo cósmico de sedução entre Yin e Yang, no modo como a própria pessoa tem que encontrar ambos dentro de si, sem eu precisar projetar algo em outrem. Os dedos da moça aqui são bem finos, delgados, delicados, numa atitude delicada, fina, refutando quaisquer grosserias, ao contrário de um sociopata, o qual se disfarça de cordeiro para, na prática, ter ações de lobo, no modo como todo Mal acaba se revelando, revelando-se finito, curto, fraco, fadado à ruína, no modo como os desenhos animados de super heróis educam as crianças sobre a diferença entre Bem e Mal, ou seja, entre infinito e degradável. Podemos ouvir aqui o delicado ruído do perfume sendo borrifado, numa pessoa com autoestima, que se arruma para o momento de interação social, no modo como as criancinhas, nas festinhas de aniversário dos amiguinhos, começam a conhecer os rituais sociais de interação, de festas. É um salão radiante, com lustres do mais fino cristal multicolorido, mágico, com pessoas finas, que JAMAIS agem de forma grosseira ou imoral, no caminho do apuro moral, até a pessoa ficar blindada em relação aos apelos materialistas de consumo, num caminho de desilusão e mortificação espiritual – as crises, nas suas desilusões, são positivas, pois assinalam um novo dia dentro da pessoa. Aqui é o prazer de sentir bem dentro de si mesmo, pois o autoencontro é sempre dentro da pessoa, nunca fora, equivocando-se os que creem que cujas vidas mudarão só porque se mudaram de cidade; de local de moradia. Então, o indivíduo se depara consigo mesmo, como num espelho, até ver que a “moldura” tem que girar em torno da “pintura”

 

Referência bibliográfica:

 

David Doran. Disponível em: <www.ba-reps.com/illustrators>. Acesso em: 29 set. 2021.

Info. Disponível em: <www.daviddoran.co.uk>. Acesso em: 29 set. 2021.

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