quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Adoro Doran (Parte 4 de 11)

 

 

Falo pela quarta vez sobre o artista gráfico inglês David Doran. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (1). Um trato, numa igualdade entre os gêneros, como num casal num restaurante, rateando a conta. Aqui é o ambiente masculino do trabalho, do Poder, um lugar sem muito espaço para feminilidades. A mulher está condicionada a tal ambiente, trajada com roupas um tanto masculinas, longe de uma mulher num estonteante vestido de gala, longe esta de um ambiente glamour zero, sem frescuras ou sensibilidades, num ambiente racional, frio, técnico, na face Yang do espírito, na mortificação espiritual, a qual aniquila sofrimento, como uma máquina, a qual, apesar de tão fria, tem Yin, ou seja, afetividade, no modo como vi verta vez uma publicitária demitir um amigo, num ambiente em que apenas amizade e afeição não são o suficiente. A vista aqui é para uma cidade apolínea, muito limpa e organizada, com elegantes prédios cheios de gente laborando, fazendo coisas, criando, trabalhando, no poder terapêutico do Labor, como uma pessoa que decidiu aproveitar o dia, fazendo deste algo muito proveitoso, matando “vários coelhos” numa bela jornada. É uma cidade que faz com que não desejemos estar em qualquer outro lugar, num forte e profundo sabor de pertencimento, de Lar, com camas com lençóis suavemente perfumados, como no esmero de uma mãe em manter uma casa limpa e organizada, num trabalho de amor e dedicação, no modo como estão equivocados aqueles que pensam que é moleza ser dona de casa. O aperto de mãos aqui é cordial, igualitário, na igualdade de um pleito democrático, num momento em que somos todos filhos da mesma barriga, nas nobres intenções democráticas. Aqui é o oposto do quadro de Botticelli, que tem Vênus “enfeitiçando” Marte; aqui, é Marte quem “manda”, no deus daqueles que são guerreiros e que lutam pela Vida, acordando de manhã e encarando uma nova página, seja esta feita de sucesso ou insucesso – as páginas têm que ser viradas sempre. Aqui é uma reunião de escritório, com cada um dando sua opinião racional, mental, psíquica, num ambiente limpo e técnico. A mulher aqui é a Mulher Maravilha, a qual, apesar de ser bela como é uma filha de Zeus, é superforte, blindada, no Espírito da Verdade, como se soubesse que as mentiras têm “prazo de validade”, no termo: “A mentira tem pernas curtas”. Foi este espírito um dos que iluminaram Kardec quando este concebeu a codificação do pensamento espírita, numa pessoa que simplesmente odeia mentir, sentindo um peso de culpa ao proferir alguma mentira, ao contrário do sociopata, o qual mente irrefreavelmente, nunca sentindo qualquer pingo de remorso ou arrependimento – aqueles que mentem acabam rechaçados pelo Corpo Social, desencarnando e “acordando” no Umbral, a dimensão para aqueles que não querem se livrar dos valores mundanos, como Getúlio Vargas, o suicida que foi direto, sem escalas, para o Umbral, arrastando-se como um imundo mendigo em um chão gelado, passando fome e sede, perdendo qualquer noção e tempo e espaço, num homem que foi reduzido a este estado deprimente mesmo tendo sido tão poderoso na Terra – é preciso ter humildade sempre, como a Galadriel de Tolkien, negando o Anel do Poder e permanecendo ela mesma, humildemente. O céu claro aqui é a clareza do pensamento, das ideias, das concepções do poder de abstração humano, com ideias sendo esplanadas do modo mais claro possível, como num gráfico de estatísticas, ou de intenções de voto, ou dos números da Covid no Brasil, no poder do esclarecimento, aniquilando tolas superstições ignorantes, ao contrário de uma pessoa de má fé, aproveitando-se da ignorância de pessoas mais pobres e sem formação – é um horror. Vemos aqui pessoas com óculos, que são metáfora com a inteligência e a capciosidade, em pessoas com ideias felizes, inteligente e pertinentes. Os móveis aqui são simples, retilíneos, modernos e sem excessos curvilíneos, no modo como empresas americanas proíbem que haja flerte romântico no ambiente de trabalho, no ditado: “Onde se ganha o pão não se come a carne”.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (2). A planta e o Sol trazem um pouco de vida a esta casa, no prazer de uma pessoa, que mora na “selva de pedra”, em contemplar uma vista de mata nativa, virgem, na sedução entre campo e cidade, como crianças da cidade, encantadas em ir para uma paisagem campestre, selvagem. Aqui é um doce, doce momento de estar em casa à vontade, lendo alguma coisa, tomando um vinhozinho no fim de tarde, admirando um por do Sol, como na bela casa de uma prima minha em Porto Alegre, com uma deslumbrante vista para o Lago Guaíba, com seu entardecer ardente, digno de aplausos contemplativos. Aqui é uma casa impecavelmente limpa, como nas deslumbrantes casas metafísicas, nas quais não há uma só bactéria ou vestígio de poeira, no prazer de se entrar numa casa limpa e perfumada, cuidada, amada, nos rituais humanos de purificação, como chegar em casa depois de um dia de transpiração, tomando um glorioso o banho, o qual nos devolve o “status de ser civilizado”, como na limpeza dos anjos, sempre perfumados, como se estivessem recém saindo de um banho. A planta é o poder da Vida, a força e a vontade de lutar para viver, numa pessoa com tesão pela Vida, como num surfista prostrado em frente a um mar sem ondas. As ramificações da planta são a evolução das espécies, na árvore que relaciona o Ser Humano com outras espécies arcaicas de primatas, na ironia de que toda a Vida tem uma origem em comum, na Vida que foi surgindo nos oceanos da Terra, num galgar tão lento, nas sofisticações de espécies, na prova da única e deslumbrante riqueza biológica terrestre, num sistema solar que, até agora, mostra-se tão inóspito e hostil à Vida como a conhecemos, num Cosmos que, de tão vasto, é infinito, no poder de Tao, aquele que nunca desiste, sempre trabalhando, na gloriosa sensação de se sentir útil ao Mundo. O Sol é acalentador, gostoso, quentinho, no modo humano antigo em ver divindades nas forças da Natureza, como o deus solar ou o deus do trovão, nas mitologias que foram sendo gradualmente rechaçadas pela iluminação científica, até chegar à sofisticação espírita: Não há deuses; há nossos irmãos que são mais evoluídos do que nós. Os óculos repousam sobre um livro, num momento de retiro; os óculos são a erudição, o conhecimento, numa pessoa prazerosamente surfando pela Internet, construindo toda uma sofisticação – não basta ser inteligente, pois tal inteligência tem que ser mostrada par ao Mundo, deslumbrando este. Aqui é a clareza de um dia sem nebulosidade, longe de brumosas tardes na Serra Gaúcha, na dissolução de dúvidas, de coisas mistas e cinzentas, num dia claro no qual nos damos conta de quem somos metafisicamente – filhos do mesmo Rei. A luminária é tal esclarecimento, numa pessoa que não se permite levar por crendices ou superstições. É a luz da Ciência, buscando intensamente os tratamentos e curas para doenças como o Câncer ou AIDS, no modo como um cientista percebe tal desafio, como num professor que nos instiga e nos faz ir mais longe em nossos pensamentos, em professores que valem cada centavo da mensalidade da faculdade, quiçá valendo ainda mais, no fascínio de se deparar com tal professor exigente, inesquecível e formidável. O vinho são estes pequenos prazeres do dia a dia, tomado com parcimônia e responsabilidade, no modo como a Vida vai nos ensinando a ser mais cuidadosos e ajuizados, aniquilando a arrogância de quem se acha imune a erros e que acha que nada tem a aprender na Terra. A cortina aberta é uma revelação, na dissolução de um mistério policial, na revelação do Grande Plano Espiritual para conosco, na revelação de que Tao está infinitamente acima de qualquer teoria científica do Homem, na arrogância humana em achar que consegue aprender e apreender o que é a Eternidade. É como encontrar Paz em nossos dias aqui na Terra, fazendo com que a Terra se pareça o máximo possível com as fabulosas colônias espirituais, os lugares em que a Vida continua em toda a sua seriedade.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (3). Uma deliciosa cena de relaxamento, como chegar em casa no fim do dia, calçar chinelos e tomar um merecido drinque. A água aqui é absolutamente plácida, espelhada, numa Paz que reina tão absoluta, nas vizinhanças metafísicas, nas quais as ambições humanas mundanas desaparecem por completo. O espelho é essa reflexão, numa pessoa que aprendeu a enxergar a si mesma da forma mais realista possível, pois há algo mais insuportável do que uma pessoa arrogante, que se acha imune a erros? A arrogância não precede a queda? Os óculos são a intelectualidade, no charme de uma pessoa de óculos, inteligente, interessante, no modo como devemos tomar cuidado com sociopatas, pessoas as quais têm mau caráter mas, por outro lado, ardilosa inteligência, no modo como um sociopata consegue enganar “meio Mundo”, como numa pessoa de aparência acima de qualquer suspeita, como uma certa pessoa, a qual se envolveu com um sanguessuga de marca maior, numa desilusão que acaba causando crescimento à pessoa ludibriada. O lago espelhado é a Paz, a resolução de mistérios, num momento de libertação, como no funeral de minha avó paterna, num funeral no qual se respirava o ar de “missão cumprida”, como se eu pudesse ouvir minha avó dizendo: “Desencarno e deixo para atrás meu corpo físico” – é uma questão do odor da energia da pessoa. O Sol aqui é brando, sem causar queimaduras, forte e, ainda assim, clemente, como numa pessoa que quer aprender a brilhar e a ser valorizada pelo Mundo, neste grande desafio que é ganhar o respeito de outrem, de ganhar valor aos olhos dos outros, num grande desafio, numa grande provação de força e persistência, como uma querida professora antropóloga que tive, a qual chegava para o aluno e perguntava: “Como vai a luta?”. Como posso ser respeitado se nada mostro para o Mundo, escondendo-me deste? Qual a esperança que existe fora do trabalho? Aqui temos drinques sedutores, refrescantes, deliciosos, como um bom espumante geladinho em dias e noites quentes veranis. É o relaxamento, como ouvi em um seriado: “As pessoas não gostam do sabor do Álcool; as pessoas gostam dos efeitos do Álcool”. É o discernimento entre etilista e alcoólatra, no senso de responsabilidade, numa pessoa ciente de que é responsável por seu próprio sucesso e por seu próprio fracasso, no lema dentro da Igreja: “Mea culpa. Mea culpa. Mea maxima culpa”. É o modo como a droga pode destruir a vida de uma pessoa, em casos graves, nos quais não há chance de reconstrução, como um senhor que conheci, o qual, por causa de Cocaína, está condenado a passar o resto de seus dias numa clínica psiquiátrica, impedindo de viver, trabalhar, realizar-se, namorar, viajar etc., numa história de vida absolutamente deprimente, que é o exemplo de como o Mundo pode ser um calvário de sofrimento para almas desencaminhadas, na crença espírita acalentadora de que cada um de nós, em encarnação, é acompanhado por um anjo da guarda, espíritos amorosos que buscam nos levar sempre pelo bom caminho, mas anjos da guarda que nem sempre são ouvidos por nós... Os pedaços de limão cítrico são essa coisa abrasiva, ácida, como em agressivas pirâmides ou obeliscos, pontudos, como uma seringa, num aviso ao resto do Mundo – nunca se meta militarmente com os EUA, ou como, em outros tempos, o Egito era uma potência militarmente temida, em egos que vão acendendo a descendendo ao longo dos milênios, na permanência metafísica de Jesus, a maior cabeça de todos os tempos. A Paz aqui é esta fragilidade, tão vulnerável, tão fininha, eternamente sendo perturbada pelas ambições humanas, num rei que nunca está feliz dentro de sue próprio reino: Se o que você tem você acha que não é o suficiente, então você nunca terá o suficiente. A canoa é este veículo, como nas naus levando-nos embora para terras mais iluminadas e pacíficas, na Terra da Estrela da Manhã, no lugar em que os mistérios estão esclarecidos, com Tao nos revelando seu maravilhoso plano divino para conosco, seus amados filhos, num Pai que quer o melhor para nós.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (4). Prédios numa cidade colorida, diversificada, com ambiciosos sonhos de Arquitetura, com sonhos de projetistas desafiando os limites da Física, com em fabulosas cidades futuristas de Os Jetsons, com enormes prédios sendo sustentados por mínimos pilares, finíssimos, na metáfora de que, quanto mais fino, mais poderoso, na deliciosa hierarquia espiritual, com os depurados regendo os toscos, como num fino anfitrião que faz com que nos sintamos tão bem, numa sala maravilhosa iluminada por um deslumbrante lustre de cristal com suas multicores mágicas, finas, delicadas, chiques, na vitória da Virtude sobre a Vulgaridade, ou seja, da Cabeça sobre a Bunda, com o perdão do termo chulo. Aqui é uma espécie de “antianúncio”, por assim dizer, pois nos anúncios publicitários tradicionais os produtos, as marcas e a embalagens são expostos ao máximo na tela de TV, certificando-se que o consumidor, na gôndola do supermercado, identificará tal produto, adquirindo este por influência de um comercial sedutor, nesta capacidade que a Sociedade de Consumo tem em nos dizer que quanto mais consumo, melhor, o que é uma mentira, pois, na elegância minimalista e sábia, menos é mais; mais é lixo e desnecessidade. Como posso ter Paz se nunca estou contente com o que tenho? É como nos deprimentes casos de acumuladores compulsivos, ligados fortemente a objetos inúteis e insalubres, numa espécie de escravidão, numa vítima de apelo consumistas, como uma pessoa fuçando em lixeiras de lixo seco, em busca de tranqueiras. Num detalhe aqui, vemos aqui um brilho, num toque numa taça delicada de cristal, no poder da limpeza, do minimalismo, na sensação de se sair de um perfumado banho, num poderoso ritual de depuração, com todas as desnecessidades indo embora pelo ralo do boxe do banheiro. O brilho é de uma pessoa que vive próxima de Tao, numa pessoa que é respeitada pelo Mundo, pois, se sou respeitado, ninguém vai se importar se estou acima ou abaixo do peso; se não sou respeitado, posso ser feito de ouro maciço – as pessoas encontrarão defeitos em mim! O gelo aqui é aquele “balde de água fria”, no poder gelado, porém purificador, do Pensamento Racional – não ouça o coração; ouça a cabeça. É como numa mulher semimendiga que vi hoje na Rua, fazendo com que seus filhos pequenos fossem pedir esmola em carros no semáforo, expondo as inocentes crianças a terríveis riscos de atropelamento. Cuidado com o coração – ele te enganou antes e enganar-te-á depois, sem dúvida. É a questão da mortificação espiritual, até a pessoa ficar imune ao mundano, odiando mentir. Aqui a laranja cortada é o labor, a interferência de um barman, como nas mãos de um artista plástico, pegando elementos dissociados, associando-os e produzindo algo novo, criativo. Podemos ouvir aqui o som dos cubos de gelo sendo agitados com a bebida, como uma rainha confusa, não sabendo como agir, tomando um uísque para abrandar a dureza do dia. O copo transparente é a transparência de um amigo, uma pessoa na qual sabemos que podemos confiar, num confidente, num amigo que, nos amando, jamais tentará nos mentir ou nos ludibriar, como num empresário ético, correto, que jamais tentará passar o cliente para trás – Verdade, a amiga do Amor. Aqui é o canto sedutor da droga, como a Cocaína, uma droga que vende a ilusão de que, na pessoa no pico de euforia do pó branco, a mesma pessoa seja o suprassumo no topo do Mundo, ou seja, vende uma ilusão e uma mentira, nos nossos heróis da Polícia Federal, apreendendo drogas, no modo como a droga pode ser uma sentença de morte existencial. Aqui vemos uma laranja que ainda não foi cortada, talvez esperando por um momento propício de entrar em cena e mostrar a que veio, como numa pessoa que descobriu que é necessário que haja dentro de si duas coisas – potencial e persistência. Aqui vemos um conjunto reunido, como funcionários da mesma empresa, num tabuleiro de Xadrez onde cada um tem seu papel e modo de agir, no respeito às inevitáveis diferenças, pois Tao nunca faz dois filhos iguais – você é uma preciosidade de único; você é um príncipe.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (5). Um dia a dia humilde, com Paz em seus dias na Terra, molhando vasos e a horta, como certa vez numa aparição de Elizabeth II na mídia, com a monarca numa cena simples, colhendo flores em seu jardim, como qualquer outra simpática senhora de seu reino. O regador é o provedor da água, numa nascente de rio, como Tao, de onde a Vida vem, no modo como a Vida é um mistério, pois alguém sabe exatamente o que faz um coração bater? É um milagre. A pá é como um enterro, sem querer eu ser aqui lúgubre. É no modo como o Ser Humano evoluiu, enterrando seus mortos, diferenciando-se assim de qualquer animal, os quais não têm hábito funeral. O funeral é uma homenagem, um respeito, numa discrição, como num café forte servido no velório, para lembrar as pessoas de que não se trata de uma festa – quando a pessoa retorna ao Lar Metafísico maravilhoso, aí sim é uma festa, com entes queridos nos esperando para nossa reentrância, no maravilhoso modo como ninguém está na Terra para sempre, este lar provisório que pode ser doce e amargo, no caminho de crescimento e depuração espiritual, o sentido na Vida na Terra, como numa grande e formidável universidade, no glorioso dia libertador de formatura, num Pai que fica orgulhoso ao nos ver com o “diploma” na mão. Ao fundo vemos uma flor, que é a força e a beleza da Vida, como nas flores silvestres que brotam na Primavera, sem que ninguém precisasse plantá-las ou cultivá-las, no milagre da Vida que ressuscita, no milagre de vermos o túmulo de Jesus vazio, desocupado, inundado pela luz de um novo dia, com majestosos barcos que nos levam de volta para casa. Vemos aqui um vaso vazio, desocupado, esperando para servir ao Mundo, tendo em Tao tal vazio que é útil ao Mundo, como numa recente obra urbana de Porto Alegre, recebendo, em seu vazio, o portoalegrense em momento de lazer, num copo de água que, em seu vazio, é útil, pois como poderia eu tomar água em um copo que está com o interior todo ocupado? A flor heroica aqui é o modo como o Amor sempre encontra um caminho para fluir, como água, sempre encontrando um curso, nesta máquina autossustentável que é a Terra, numa biodiversidade de dar inveja a qualquer outra esfera do Cosmos. As folhagens aqui crescem heroicas, persistentes, numa pessoa que percebe que há apenas um caminho para cima, e que o coração deve atingir tal caminho, numa pessoa que percebe que, se desistir, que esperança haverá? Como minha avó, que se tornou poetisa ao se aposentar como professora de Língua Portuguesa: “Sem a poesia, o que faria eu desta tarde brumosa?”, ela escreveu, mencionando os dias brumosos da Serra Gaúcha. O chão aqui é de terra, simples, rústico e acolhedor, como receber amigos para um cafezinho, no prazer de sentar e conversar, trocar ideias, num hábito que, de tão prazeroso, existe na Terra e no Céu, mas não no Umbral miserável e degradante. É como um chão de terra numa adega, formidável, simples, terroso, com vísceras na terra, gerando vinhos consequentes do aspecto químico do solo. A pá é o trabalho, na imagem da foice do martelo na bandeira comunista, no engano de um campo de concentração nazista, o qual trazia na porta de entrada a frase: “O trabalho liberta”, na mentira de que tais oprimidos um dia seriam livres – o Nazismo é um horror sem precedentes na História da Humanidade. Aqui é a Vida brotando sempre, numa dedicação, pois se sou digno de respeito, respeito obterei, no modo como o Mundo pertence ao dignos, aos merecedores, às pessoas honestas, que não querem nos enganar nem nos passar par atrás, no caminho essencial e vital do apuro moral, na superioridade moral dos grandes espíritos, os arcanjos, de apuro moral impecável – como pode me amar uma pessoa que quer me enganar? Não é a verdade infinita e a mentira finita? Aqui é o fruto do trabalho e da dedicação, na árdua vida rural do imigrante italiano, com suas mãos calejadas e suas pernas doendo depois de uma jornada de labor e dedicação.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (6). A delícia de se viajar, e notar que o Ser Humano é universal, fazendo com que em qualquer lugar haja pessoas agradáveis e desagradáveis. Remete-me à viagem que fiz com minha família para o verão da Flórida, EUA, num complexo de parques temáticos que são simplesmente deslumbrantes, numa grande experiência de Vida, no incrível desenvolvimento norteamericano, com demandas colossais de hotéis, por exemplo. O chapéu é a proteção, o resguardo, numa pessoa que se protege do “Sol”, nas coisas degradantes e nocivas, numa pessoa que aprendeu a se proteger e a não se relacionar com sociopatas, no caminho do amor próprio, numa pessoa que parou de “dar murro em ponta de faca”. O passarinho é essa sensação de liberdade numa viagem, num passeio por terras estranhas e exóticas, numa aventura que é viajar, conhecer outros lugares e olhar nos olhos de estrangeiros, obtendo uma experiência de Vida. O passarinho é a liberdade do pensamento, numa pessoa que não mais quer ser refém das expectativas de outrem, adquirindo o controle sobre sua própria Vida, como num amigo meu, o qual largou o curso de Medicina, no qual não estava feliz, e abraçou o curso de Jornalismo, o qual amou. As folhagens aqui são essas terras exóticas, tropicais, no calor do Rio de Janeiro, seduzindo turistas do Mundo inteiro com suas praias, seu povo bonito e bronzeado, seus morros e vistas como a do Corcovado, numa cidade que aprendeu a bem receber o turista, dando lições a outra Meca turística brasileira, que é Gramado, numa cidade com um estilo cada vez mais inconfundível, ficando mais soda a cada ano que passa. A mala aqui é o fardo inevitável, num espírito carregando um corpo carnal, numa carga, numa responsabilidade, havendo, no fim de tal processo de encarceramento, o dia de soltura, num momento em que os problemas mundanos somem, na bênção do retorno ao Lar. A garrafa térmica é a Vida, a água suprindo e irrigando, numa gloriosa chuva que impede que alguma região entre em crise hídrica, havendo na água o retrato de Tao: sem cor, sem gosto, sem cheiro, e ainda assim, absolutamente vital, num Tao discreto, pois a sensualidade reside exatamente nos lugares vazios, os quase servem ao Mundo. A bagagem é como numa carreira de ator, interpretando vários papéis, como numa pessoa que já esteve em muitos lugares, físicos ou metafísicos, na carreira espiritual, numa pessoa que, ao encarar as vicissitudes encarnatórias, cresce como espírito, morrendo mais depurada e refinada. A mala é a responsabilidade, como numa colega de colégio que tive, a qual se tornou mãe ainda adolescente, tendo que amadurecer “na marra”, encarando certos sacrifícios em relação ao próprio bebê, sacrificando boa parte de sua juventude, no peso de uma responsabilidade. O pássaro e as folhagens são a Vida, num Rio de Janeiro tão rico de Vida, com seus cantos de pássaros exóticos, com o Samba e o Pagode rolando nos morros num domingo de churrasco, fazendo do Carnaval do Rio o maior espetáculo da Terra, deslumbrante, na decisiva interferência africana na Cultura Popular Brasileira. Aqui é como uma Dercy Gonçalves, a qual fez a mala e fugiu de casa para integrar uma companhia circense, abraçando a carreira de mambembe, numa mulher guerreira, a qual, ao ser questionada sobre o que é a Vida, disse: “A Vida é luta!”. Como pode ter realização uma pessoa que nada faz por merecer? Aqui é o fascínio que as terras tropicais exercem sobre regiões menos quentes do Mundo, como nos intermináveis invernos nórdicos, indo para uma praia brasileira com seus sucos de maracujá e acerola, ou granola com açaí, na riqueza popular da Culinária Baiana, com frutas exóticas desconhecidas pelos brasileiros gaúchos, remetendo-me a um casamento baiano em que fui, na beira da praia, ao som de uma banda similar à famosa Olodum. Aqui é uma pessoa que quer fugir um pouco da sisudez do dia a dia, abraçando uma aventura de Indiana Jones em terras estranhas, como visitar o Vale dos Reis no Egito, numa civilização extinta tão inesgotável. Aqui é um desligamento do cotidiano.

 

Referência bibliográfica:

 

David Doran. Disponível em: <www.ba-reps.com/illustrators>. Acesso em: 29 set. 2021.

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