quarta-feira, 25 de maio de 2022

Alma de Almeida (Parte 2 de 2)

 

 

Volto a falar sobre o artista plástico paulista Caetano de Almeida. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Construção. 2019. Um trabalhinho paciente de formiguinha, construindo algo tijolo e tijolo, como numa construção de carreira, na maravilhosa sensação de que nenhum trabalho é em vão. É como na construção das grandes pirâmides, bloco por bloco, pixel por pixel, no aviso de uma grande potência como os EUA: “Se você tiver juízo, não se meta comigo!”, no formato abrasivo de um obelisco, neste mundo de homens no qual vivemos. Aqui é uma assemblage, como numa reunião de várias roupas numa Campanha do Agasalho, como num pacote de doces sortidos, encantando os olhos da criança, na magia de uma mesa de aniversário cheia de delícias coloridas, na máxima que a mãe do aniversariante diz aos convidadinhos: “Só pode comer depois de cantar o parabéns!”. Nesta alegria cromática, este quadro pode combinar com estofados de muitos tons: tons de azul, de rosa, de vermelho, de amarelo... Aqui é como um quebracabeça ainda não resolvido, embaralhado, enigmático, exigindo paciência da parte da pessoa, como na imagem da Nossa Senhora desatadora dos nós, no modo como a Vida exige que tenhamos paciência, não querendo pular etapas, sem pressa, saboreando cada passo do caminho, como degustar um vinho gole a gole. Aqui temos uma certa competição, como numa floresta, com as árvores competindo por um lugar ao Sol, na luta pela sobrevivência, como num baile da revista Vogue Brasil, num mar de plumas e lantejoulas, só para ver qual mulher é a mais maravilhosa da noite, como no evento beneficente do Met Gala, em Nova York, num desfile de inúmeros fotógrafos ávidos para clicar a mulher com o vestido mais deslumbrante da noite, numa certa fogueira de vaidades. Aqui é como um computador alegre, o qual, apesar de frio e racional, tem amor e calor, nos fios insolúveis de amor que ligam todos os filhos de Tao, no milagre da Ressurreição de Cristo – a Mente sobrevive ao óbito do Corpo Físico, na forte crença do egípcio antigo na Vida pós Morte, havendo na mumificação a esperança de que haverá tal sobrevivência, como uma amiga minha, a qual já desencarnou, uma senhora que viu em vida a própria netinha de poucos anos de idade morrer de forma trágica e brutal, e esta senhora desencarnou recentemente, certamente se reencontrou com a neta e viu que esta está viva, lépida e faceira – é o milagre metafísico. Aqui é como um computador alegre, num slogan antigo da Festa da Uva: “Na alegria da diversidade”. É como um cacho de uva com cada bago de uma cor, numa cidade acolhendo o visitante, numa tradição quase secular. Aqui é uma explosão de cores num fino lustre de cristal, na magia de uma sala elegante, com um anfitrião fino e agradável, fazendo com que nos sintamos tão bem e tão à vontade, ao contrário de lojas com um mau atendimento, num atendimento arredio e antipático, matando minha vontade de voltar a fazer compras em tal loja, pois só um cliente fiel trará dinheiro a um estabelecimento. Aqui é um tanto truncado, pois não vemos aquosidade ou linhas diagonais ou curvilíneas. São placas tectônicas tensas, querendo se acomodar, causando tragédias de terremotos e maremotos, nas forças da Natureza, fazendo com que o artista queira ser assim, uma espécie de força da Natureza, inundando as percepções do espectador, como num cantor querendo lançar um bom álbum, num trabalho de qualidade e excelência musical, na máxima: Quem não tem competência, não se estabelece. É o modo como o sucesso é complicado, fazendo com que tenhamos a ilusão de que é possível viver para sempre num orgasmo infindável, nos aquosos altos e baixos inevitáveis da Vida. Aqui são como camadas sobrepostas, leves, que têm um respiro, deixando o quadro respirar, numa pessoa querendo viver, namorar, beijar e ser feliz sexualmente, decidindo ser sincera consigo mesma, não mais querendo corresponder às tolas expectativas do Mundo. Aqui é um momento de prazer, como comer um belo doce, numa pessoa que decidiu ceder a gostosos pecadinhos, como na embalagem do chocolate em pó Nestlé, com dois frades faceiros fazendo um belo doce de chocolate, sem culpa.

 


Acima, Crux. 2019. Temos um registro, num alvo com vários tiros, como numa pessoa sofrendo ataques, como nos ataques às benesses extravagantes da Família Real Inglesa. Aqui são como os tiros que mataram a inesquecível personagem Odette Reitman na novela Vale Tudo, ou como na amante desvairada e louca vivida por Glenn Close, assassinada pelo próprio amante, na máxima: “Não seja a mulher número dois. Você está bem melhor ficando sozinha”. Ou seja, dê-se ao respeito. Aqui é como na constelação do Cruzeiro do Sul, como na bandeira nacional australiana, nas diferenças entre o céu noturno do Norte e do Sul da Terra. Aqui é como o registro de meteoros rasgando a superfície gasosa jupiteriana, numa marca de algo sofrido, como nas inúmeras crateras de Mercúrio, num registro, numa carreira, como num passaporte muitas vezes carimbado, num espírito que já passou por muitas encarnações de aprimoramento moral, o qual é o objetivo de nossas vidas na Terra – você tem que se tornar uma pessoa melhor, abrindo mão da estagnação. Aqui é como um tecido puído por traças, numa idade, num sinal do passar do tempo, na moda contemporânea dos jeans rasgados, num visual sobrevivente de hecatombe nuclear, no modo como a Vida vai exigindo que sobrevivamos às provações existenciais, em artistas tão sobreviventes como Cher e Madonna, com décadas de trajetória, no desafio de um artista não se repetir nem cair na mesmice, evitando o comentário: “Tal artista é sempre a mesma coisa; tal artista está com a carreira acabada”. É como a célebre artista Yayoi Kusama, a qual, apesar de ter a marca registrada de trabalhar com bolas e círculos, consegue não se repetir ao longo dos anos. É como no inconfundível estilo de Andy Warhol. É como um certo artista que plagia descaradamente Romero Britto, pois uma coisa é eu gostar de certo artista; outra coisa é copiar. É o desafio da pessoa “botar o pau na mesa”, com o perdão do termo chulo. Neste quadro temos uma perturbação, uma instabilidade, como gotas caindo numa água plácida e espelhada, numa influência, num abalo, num artista buscando ser tal abalo, sendo insuportável para um artista ser ignorado, no triste modo como mestres como Van Gogh só foram reconhecidos postumamente, num artista o qual, lá no Céu, ri de tal situação. Aqui temos algo batalhando para aparecer e ser compreendido, numa luta por singularidade, numa pessoa que está percebendo que não adianta ficar o tempo todo reclamando da Vida, a qual é o que é quer queiramos, quer não. O cinza é a cor da discrição, de um dia encoberto, frio e cinzento, e aqui partes nessa nuvem de melancolia lutam para deixar o Sol passar, como numa brumosa e cinzenta Londres, com sua cabines telefônicas rubras, como se quisessem quebrar tal melancolia cinzenta, na explosão de cores que a moda dos anos 1960 trouxe, no divertido personagem Austin Powers, uma sátira de 007. Essas formas arredondadas são como flores de crisântemo, na universalidade da beleza floral, num símbolo de elegância e polidez, como na Flor de Lis, o símbolo da realeza francesa, em símbolos que buscam remarcar a beleza de um reino, como no Antigo Egito, com deuses que louvam elementos da natureza do Nilo: chacais, crocodilos, escaravelhos, gatos, hipopótamos, gaviões etc. Aqui é como um grupo se articulando para formar algo, uma aliança, como em O Clube das Desquitadas, com mulheres se unindo para ensinar aos ex maridos uma dura lição de respeito. Aqui são como territórios ao redor do Mundo formando o Império Britânico, na agressividade ocidental em tomar para si territórios, numa competição entre potências, como no jogo de tabuleiro War, numa fome por anexação infindável de territórios vizinhos – não tem como ser saudável um líder tão sedento. Aqui é como o início de uma ebulição, numa revolta popular, como na deposição do czar Romanov, na covarde execução das crianças do rei, Deus que me perdoe. Aqui é como a união de partes na formação de uma banda de Música, num casamento sem sexo.

 


Acima, Muçunga. 2015. Ondulações como nos calçadões cariocas à beiramar, como nos ágeis quadris de Gisele na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, ao som da extraicônica canção Garota de Ipanema. Aqui são como azulejos quadriculados de piscina subvertidos às ondulações da água, como nos mistérios da Matéria Escura, o “líquido” invisível que mantém o Cosmos unido, num Universo tão além da compreensão humana, como na dificuldade de compreender o Infinito, que é Tao, a Vida Eterna na qual já nos encontramos, na prova do poder imensurável da Inteligência Suprema que nos rege, um poder tão forte que mal o percebemos. Aqui é como uma bandeira tremulando, na universalidade das bandeiras, com cada país tendo a sua, numa espécie de competição para ver quem tem a bandeira mais bonita, como no elegante e impecável minimalismo da bandeira nacional japonesa, no rubro sol nascente do Oriente envolto de brumas brancas, na prova de que simples e sofisticado estão no mesmo “saco”, na elegante simplicidade de uma Jackie O., caminhando tranquilamente pelas ruas de Manhattan, ao contrário de muitos astros, os quais simplesmente não podem caminhar na Rua como um cidadão comum, sofrendo insano assédio, fazendo da fama uma espécie de prisão, que é como olhar para uma linda orla mas simplesmente não pode colocar os pés na areia, numa dolorosa privação, fazendo da fama algo tão cobiçado e tão maldito. Aqui é como um tecido finíssimo, vaporoso, impossível de ser imitado fielmente pelos mais finos tecidos na Terra, fazendo de tal suavidade tátil metáfora com uma pessoa de fino trato, agradável, num anfitrião que faz com que nos sintamos reis, tal o modo como somos recebidos, no termo hispânico: “Minha casa, tua casa”. Aqui é como um feto extremamente confortável no útero, num sofá tão quentinho e fofo, agradável, acolhedor, no trauma que é o nascimento, na cicatriz de umbigo a qual todos temos, uma lembrança de tempos uterinos em que éramos tão felizes. Aqui é na deliciosa EEC, a Experiência Extracorporal, na qual o espírito se desliga momentaneamente do corpo físico, numa sensação de prazer como mergulhar numa piscina térmica, quente, acolhedora. Aqui definitivamente não temos truncagem ou tensão, mas harmonia, como numa Internet Cósmica, mantendo-nos unidos, na imensidão de irmãos que temos, na Grande Família Metafísica, a qual é ainda mais bela e adorável do que uma família de realeza mundana, numa acalentadora sensação de pertencimento, nos esforços de um padre em dizer sempre que somos irmãos, numa Terra tão aguerrida, com tanto irmão derramando sangue de irmão – nem a suprema majestade de Jesus Cristo soube resolver os problemas do Mundo, fazendo Dele a promessa de um mundo melhor, no modo duro e irônico como a Filosofia não muda o Mundo. Aqui é algo cedendo e decidindo se levar com o fluxo, no caminho do discernimento: O primeiro passo para sair de onde estou é aceitar onde estou, no caminho da humildade: Não sou Deus. Aqui é o trabalho paciente de um tecelão ou uma costureira, e podemos ouvir o som da máquina de costura, esta grande invenção que tanto progresso trouxe à confecção de roupas, na perfeição das teias tecidas pela Divina Providência, fazendo com que passemos pelas vidas uns dos outros, unindo-nos como irmãos e ensinando lições as quais levaremos para sempre conosco, no modo como morremos mais depurados do que quando nascemos. Aqui são cores suaves, brandas, sem provocações de um vermelho apimentado, num momento zen de tranquilidade, na capacidade de uma pessoa em bloquear o estresse e levar uma vida humilde e calma. Aqui é alguém cedendo e aceitando algo, sem resistir, como na aceitação da Virgem Maria ao ser anunciado que era a escolhida de Deus para dar a luz ao Seu filho. Aqui é um momento raro de harmonia, na plácida vizinhança metafísica, onde temos a forte sensação de que estamos cercados exclusivamente de amigos.

 


Acima, Quarteto. 2016. Aqui são como tripas assimilando um alimento, como numa pessoa sendo assimilada dentro de um grupo, o qual tem regras internas, as quais, se quebradas, podem acabar com a expulsão de um de seus membros, no aspecto da identificação: Repare que, dentro de um grupo de adolescentes, todos se vestem mais ou menos da mesma maneira. Aqui é um organismo complexo, como numa empresa, ou como nas rígidas hierarquias militares, as quais só funcionam se respeitadas, no modo como também existe uma hierarquia moral entre os espíritos, a qual é deliciosa e não rígida, ao ponto de fazermos questão de obedecer ao nosso irmão mais depurado. Aqui é como um complexo de encanamento, com veias e artérias, bombando o sangue venoso “sujo” e o sangue arterial “limpo”, num sistema autorregulável, na máquina perfeita que é o planeta Terra, filtrando a água que vem das nascentes das entranhas da terra, no modo como o Ambientalismo tomou tanta força na transição entre os séculos passado e atual, em instituições tão fortes como o Greenpeace, com arrebatadoras personalidades como Leonardo DiCaprio agitando a bandeira ecológica, dirigindo carros elétricos, remetendo à poluição de urbes como Pequim, na contradição chinesa: Comunismo na teoria; Capitalismo na prática. Aqui são incompreensíveis labirintos de formigueiros, os quais somente os insetos compreendem, como na bagunça de um atelier, na qual somente o artista consegue se situar e se organizar, numa espécie de “bagunça ordeira”, numa pessoa organizando a própria casa da forma que mais lhe apraz, fazendo com que os casamentos exijam paciência da parte dos cônjuges que moram juntos, pois nem tudo ali é do meio jeito, na paciência de uma pessoa que conheço, a qual, sem ser fumante, está há várias décadas casada com um fumante – meu cônjuge não é perfeito, mas é meu cônjuge e eu o amo mesmo assim. Aqui é como uma infecção tomando corpo, com bactérias se reproduzindo e atacando o funcionamento normal, no termo “borboletas no estômago”, para descrever o mal estar de ter comido algo que acabou me pesando no estômago, como na soja, um alimento que pode pesar no estômago se for um alimento consumido em excesso. Aqui é como um microchip, nos avanços industriais que fabricam maravilhas da tecnologia, na revolução dos pendrives, os quais podem, individualmente, abrigar toda uma coleção farta de CDs e vinis, fazendo com que as gerações que nasceram nos anos 2000 ou 2010 não fiquem tão perplexas, fazendo de minha geração uma geração transitória, que pegou os últimos momentos da Tecnologia Analógica, no incrível modo como os DVDs e as fitas VHS são hoje itens de museu. Aqui é uma malha viária absolutamente complexa e enigmática, numa certa confusão em um país vítima de algum golpe de estado, no reinado das confusões, num caos social no qual o cidadão não consegue se situar, no caos das guerras, num estado tal em que a prateleiras dos supermercados ficam vazias, em rastros de fome e destruição. Aqui é na canção que diz “Debaixo dos caracóis de seu cabelo”, na eterna insatisfação do Ser Humano: Se está crespo, quer alisar; liso, encrespar. Aqui é exército de espermatozoides ensandecidos, assediando o cobiçado e exclusivo óvulo, fazendo do espermatozoide este humilde proletário, uma pessoa comum, um peão de tabuleiro; fazendo do óvulo esta “princesa” tão especial e cobiçada pelo anônimo “motoboy proletário”. Aqui é um cenário de excitação coletiva, como numa pista de dança com uma canção popular e adorada, na capacidade de certos artistas em atiçar o público, no poder da Arte em “bombardear” nossas mentes e nos excitar num momento de união, como num megashow de alguma banda ou cantor, reunindo os que amam tal manifestação, num raro momento pacífico de comunhão. Aqui temos um momento de interação social, num vibrante baile, num momento de euforia em que a seriedade da Vida é deixada momentaneamente de lado, fazendo metáfora com a alegria inabalável do Plano Metafísico, onde o espírito, de tão feliz, é emoldurado por uma luz, que é o guia Tao, o Pai que quer o melhor para nós.

 


Acima, Remanso. 2015. Penas soltas ao vento, como num escândalo, com pedaços de merda para todos os lados, com o perdão do termo chulo. É no caos do clássico Os Pássaros, nas forças da Natureza, uma espécie de praga do Egito, na transição do Paganismo para o Cristianismo, com os altares da deusa Cibele tranquilamente substituídos pela imagem de Maria, a Mãe metafísica de todos, fazendo do mito da virgindade um modo de fazer com que o Ser Humano entenda que somos todos frutos de Imaculada Conceição, fazendo da gravidez carnal uma ilusão, numa espécie de renascimento, depois de nosso nascimento espiritual. Aqui são como elegantes casais numa valsa em um garboso salão, num evento grandioso, num momento em que a comunidade se vê projetada, como na eleição de uma rainha da Festa da Uva, no momento em que o feminino é respaldado pela forte mão masculina, na máxima para qualquer mulher: Você precisa de um homem que faça com que você se sinta uma rainha, ao contrário de um casal que conheço, o qual se separou porque o homem deixou que o calor na relação esfriasse, tornando-se um “sapo” e fazendo com que o sexo se tornasse mecânico, como me disse uma amiga psicóloga: Num casamento, todos os dias você tem que dar uma reconquistada no cônjuge, com coisas simples como um abraço, um beijinho ou flores que não custam uma fortuna. Aqui são como riscos, cicatrizes, como na superfície de um planeta rochoso como Mercúrio ou Marte, com inúmeras crateras que contam uma história, como na saga de um homem com uma vasta estrada, experiente, arrancando suspiros das donzelas, às quais não é permitido ser independente, na máxima patriarcal: A mulher não pode ter sexualidade, sendo representada pela liberdade sexual do homem – é um horror. Temos em Caetano de Almeida uma alma de tecelão, com quadros de texturas, num paciente tear, em roupas finas e chiques como malhas elaboradas, sofisticadas e caras, em artigos de luxo que não são acessíveis a todos, nos abismos sociais que nos dão a ilusão de que estamos todos separados uns dos outros, havendo a nobre intenção da urna eleitoral, num breve momento de igualdade. Aqui são como um cardume fluindo, num sistema harmonioso, funcional, como numa família saudável, na qual as pessoas respeitam umas às outras, ao contrário de famílias complicadas nas quais os irmão não ligam uns para os outros nem nos dias de aniversário uns dos outros, no fato severo de que os vínculos de família não se dissolvem com o Desencarne, como eu disse a uma senhora que recém perdeu o filho: “Ore pensando nele”. Aqui é um azul tão paradisíaco, como no sexy filme Lagoa Azul, uma película que fala bastante sobre sexualidade, lançando nomes como Brooke Shields, a qual, anos depois, não se tornou toda a Julia Roberts que esperávamos que se tornaria, pois Hollywood adora fazer promessas que acabam não se cumprindo completamente. Aqui é uma explosão de vida de girinos, no poderoso instinto de perpetuação da espécie, no hilário modo como o Ser Humano carrega em si tal descarga hormonal, num adolescente que quer sexo, sexo e sexo, na explosão da Vida na Primavera, fazendo das flores nada mais do que genitálias reprodutivas. Aqui são como pequenos rasgos que precisam de uma sutura, num cuidado, num tratamento. Aqui é como uma pessoa que passou por um momento complicado, ficando amplamente ferida, talvez desprezada amorosamente, no modo como a paixão dos enamorados pode se tornar algo tão doloroso e complicado, como nos filmes de Woody Allen, com um homem com o coração ao sabor do vento, facilmente descartando uma mulher para se juntar com outra, na máxima: Antes do coração, ouça a cabeça! Aqui é como a natação artística, sincronizada, bela e disciplinada, na imposição de ordem a beleza ao caos, como numa terra selvagem sendo coberta de nomes para montanhas, planícies etc., como no grande lago do Central Park que leva o nome de Jackie O., a mulher mais notável do História dos EUA.

 


Acima, sem título. 2004. Parece uma luta entre retas e curvas, no jogo de sedução entre masculino e feminino. Aqui é o fascínio das estampas, como papéis de parede, roupas ou papéis de presente, na dica estilística: não abuse das estampas, ou seja, quando for se vestir, certifique-se que você está contrabalanceando uma peça estampada com uma peça lisa, evitando o excesso visual, numa espécie de “respiro” na composição ao se vestir, remetendo a um formidável colega meu no Ensino Médio, um rapaz que, no desejo adolescente de transgressão, foi a um evento fino usando roupas todas estampadas! É como na transgressão de uma Sharon Stone no início do estrelato, indo cheia de joias a uma cerimônia de Oscar, num momento em que Hollywood estava estilisticamente tão clean, tão sisuda, tão “preto e branco” e tão sem joias. É o poder de uma pessoa em causar impacto, sendo uma espécie de pioneira. Aqui é como um terrível acidente, nos terríveis episódios de acidentes da companhia aérea Tam, numa ironia amarga, pois, antes dos acidentes, o checkin da companhia era de cor vermelha, remetendo a luxo e a tratamento de celebridades; depois dos acidentes, tais tapetes se tornaram sinônimo de sangue derramado, ou seja, não é o nome quem faz você, mas você quem faz o nome, no inútil modo de uma pessoa querer mudar de nome artístico. Aqui temos um quebracabeça bagunçado, irresoluto, desafiando a mente e a paciência da pessoa em resolver tal mistério, como num romance de Agatha Christie, desafiando a inteligência do leitor, jogando pistas falsas para confundir tal leitor, sendo poucas as pessoas que conseguem adivinhar quem é o assassino de fato. Aqui é como um bife sendo moído, processado, como numa esteira industrial, fazendo o alimento passar por muitas fases, no termo “ultraprocessado”, um tipo de alimento não recomendado por cozinheiras de mão cheia como Rita Lobo, pois, é claro, quando menos aditivos industriais, melhor, no modo como pode ser enjoativo um caldo de galinha industrial, sintético. Aqui é como uma tempestade de areia, em países do Oriente Médio, no modo, como há ouvi dizer, a areia entra em nossos olhos, narizes e ouvidos. Aqui é o paciente trabalho de reconstrução depois de um terremoto ou uma guerra, como formigas reconstruindo o formigueiro, e não ouvimos as pacientes formigas reclamar, num constante trabalho de reconstituição, na força da união, num poderoso instinto que faz com que as formigas trabalhem tão bem em equipe. Aqui são como pipocas estourando no microondas, no odor de milho invadindo a casa, neste alimento tão barato e delicioso. Aqui são como sugestivas nuvens no céu, e cada um, ao observar, enxerga o que quiser enxergar, nas várias e inúmeras interpretações ao redor de uma determinada obra de Arte, na capacidade da grande obra genial em gerar uma infinidade de interpretações, no modo como até hoje não veio uma definição resoluta da Monalisa de da Vinci. Aqui é como uma esteira de reciclagem, de triagem, com os materiais sendo dispostos numa esteira para ver o que pode ser aproveitado, com as coisas sendo espalhadas, num trabalho cansativo de atenção constante, numa era como a nossa, na qual o lixo seletivo veio com toda a força, deixando para trás a época em que tudo ia no mesmo saco no caminhão do lixo, no maravilhoso modo como hoje em dia as latinhas de alumínio são praticamente cem por cento recicladas. Aqui é como uma folhagem densa, tropical, luxuriante, num sedutor resort tropical para luas de mel, na magia de noites tropicais enluaradas, a imagem dos enamorados, na canção pop que diz: “A noite pertence aos amantes”. Aqui temos uma fragmentação, uma dissociação, no escopo científico sendo esmiuçado ao máximo, no empenho de um aluno em uma tese de conclusão de curso universitário, com um professor exigente, que quer extrair o melhor que o aluno pode dar. Aqui é a reunião de coisas inúteis, de lixo, na sensação gloriosa de se jogar o lixo fora, no poder purificador de uma catarse no Cinema, fazendo com que saiamos da sala com uma sensação de leveza e prazer, no poder de cura da Arte.

 

Referências bibliográficas:

 

Caetano de Almeida. Disponível em: <www.galerialuisastrina.com.br>. Acesso em: 11 mai. 2022.

Caetano de Almeida. Disponível em: <www.iberecamargo.org.br/artista/caetano-de-almeida/>. Acesso em: 11 mai. 2022.

Nenhum comentário: