quarta-feira, 4 de maio de 2022

Claramente Claes (Parte 3 de 4)

 

 

Falo pela penúltima vez sobre o escultor americano Claes Oldenburg, o qual fixou parceria com a esposa Coosje van Bruggen. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Camundongo Geométrico X. Aqui lembra um antigo cinematógrafo, no modo como as Artes estão umas dentro das outras – o que seria do Cinema sem a Música, sem a Literatura dos roteiros e sem o impacto visual das Artes Plásticas? Aqui é como um animal abatido, num caçador trazendo para casa a comida do fim do dia, numa tarefa tão masculina, tão relegada aos homens, na universalidade do macho alfa. O vermelho é tal tempero, na sedução de uma mulher de vermelho; na sedução das lojas da marca Victoria’s Secret, atiçando e excitando a percepção dos homens sobre o feminino, como me disse um senhor sobre as cores internas de um prostíbulo: “Cheirando a Sexo”. As orelhas aqui são a atenção, a percepção e a sensibilidade, no modo como é importante para um artista estar a par do que outros artistas estão fazendo, num ciclo intermitente de influências, como me disse uma professora artística: “Temos que todos pulsar no mesmo ritmo; nas mesmas ondas de movimento”. Entra então aqui o papel fundamental do transgressor, o qual abre os olhos do Mundo, como foi a formidável transgressão do Movimento Impressionista, libertando a Arte da mera função retratista acadêmica. As correntes são a segurança, a garantia de que resistiremos aos vendavais existenciais, numa pessoa aprendendo a sobreviver em um Mundo tão complicado e exigente, fazendo com que o indivíduo empreenda esforços enormes para se fazer bem compreendido, no modo como há tantos e tantos artistas mal compreendidos, sentindo a dor da indiferença do Mundo, este lugar tão duro que vai fazendo de nós pessoas melhores. Aqui a âncora e os pés no chão são essa garantia de solidez, como um homem fazendo para uma mulher uma proposta de casamento muito sólida, realista e pragmática, como no casamento dos personagens Pierina e Angelo em O Quatrilho, duas pessoas práticas e realistas, sabendo que o casamento é uma conveniência, um trato entre partes, com ela dizendo a ele: “Nós dois juntos vamos longe!”. As correntes são a força do Encarne, na pessoa temporariamente presa ao próprio corpo de carne e osso, decidindo o que fazer com o tempo que lhe é dado na Terra, havendo pessoas que, ao não abraçar nenhum trabalho ou estudo, levam uma vida vazia e sem significado, pois não há esperança longe da produtividade; não existe aposentadoria total. Aqui é um camundongo pós moderno, estilizado, combinando com cidades modernas e vibrantes, como Nova York, com seus museus e teatros, numa cidade tão dura e tão fascinante, parecendo que nos desafia a sermos mais competentes e iluminados, numa pessoa que aprendeu a meritocracia – se sou bom, tenho que provar que sou. O camundongo aqui parece abatido, talvez pego por um gato paciente, que aguardou horas do lado de fora da ratoeira, num trabalho paciente, persistente, sabendo que quem espera sempre alcança, numa pessoa tendo a paciência e a humildade de sempre virar a página e se deparar com uma folha em branco, sabendo que não existe “piloto automático”, ou seja, nunca se atinge a perfeição – tudo é processo. O rato rubro destoa de uma cidade cinzenta e esmaecida, sisuda, como uma pessoa que encontrou um grande amor em um mundo tão cinzento e tristonho, como num oásis num deserto rigoroso. Aqui parece que o artista se esqueceu do rato largado, e parece que qualquer ventinho vai levar a obra embora, tal o efeito de leveza aqui, como numa Coco Chanel, a qual percebeu que o que vale num adereço não é o valor econômico deste, mas o efeito que este exerce, ou seja, a bijuteria, numa mulher tão corajosa e chic, uma feminista libertadora a seu próprio modo. Aqui vemos portinholas, que são o arejamento de percepções, numa pessoa que aprendeu a ter uma visão mais abrangente do Mundo, observado este do modo mais realista e cool possível. Aqui o ar circula saudavelmente, num organismo vivo, no modo como a pessoa, ao desencarnar, segue se sentindo mais viva do que nunca, no milagre da Ressurreição de Cristo.

 


Acima, Navio de Faca. Criatividade e irreverência, numa espécie de equipamento multiuso. Aqui é a soma de forças, como numa cooperativa, num clube, onde cada membro tem seu papel, como numa colmeia, onde cada um tem sua razão e utilidade, na metáfora de Matrix: Os programas têm funções específicas, propósitos, e os inúteis são deletados, no caminho existencial de uma pessoa se sentir pertencente ao Mundo, sabendo qual é o seu próprio lugar em tal esfera, na metáfora em A Época da Inocência, num objeto num museu intitulado “uso desconhecido”, como na personagem Ellen, perdida existencialmente, sem saber qual é o seu lugar no Mundo, num caminho de depressão e melancolia, ao contrário da prima, que era focada com o intuito de casar e constituir família, como uma flecha bem objetivada, clara. É como Cristo na Cruz: Quem sou eu? Aqui é o labor coletivo, no boom inglês industrial, numa cinzenta Londres cheia de poluição e fuligem de trens, as quais, na época, eram tidas como o maravilhoso cheiro de progresso, fazendo da esteira industrial o barateamento de bens manufaturados, na divisão de tarefas dentro da firma, como no boom metalúrgico da empresa caxiense Eberle, enriquecendo com as demandas bélicas na II Grande Guerra, fazendo da empresa uma grande prova do sucesso de reforma agrária que foi a Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, na força do trabalho e da dedicação. Aqui a lâmina intimidante surge e ergue-se, como um obelisco sendo erguido, no falo e no marco do canto do galo ao amanhecer, com os primeiros raios do dia incidindo na ponta afiada do obelisco, num espinho, numa seringa dolorosa, como num Empire State Building em Nova York, desafiando os limites, na ambição humana da Torre de Babel, na ira de Deus, destruindo tais pretensões, no termo chocante de um filme de Allen: “Deus que se foda”, com perdão do termo chulo. É a masculinidade para que a pessoa assuma o controle e o protagonismo de sua própria vida, entendendo que não chegará um príncipe encantado num cavalo branco. O canivete é este aparelho multifuncional, tal qual um celular, cheio de funções, num aparelho tão essencial ao dia a dia da pessoa, começando com o despertador logo de manhã cedo, num dispositivo que está ameaçando o relógio de pulso, nas democratizações das tecnologias, barateando os custos e sendo de livre acesso, num aparelho que pode ser parcelado muitas vezes no cartão – sem querer eu ser burguês esnobe, mas hoje qualquer um tem celular, no caminho de socialização industrial, barateando bens. Aqui é o termo “murro em ponta de faca”, ou seja, a faca está quietinha no canto dela, e tudo o que você tem que fazer é manter distância respeitosa. Do contrário, você vai acabar se ferindo. É a lição da cautela e do zelo. O barco aqui são os barcos dos sonhos, num Ser Humano sempre sedento por mais e mais conhecimento, enviando sondas ao Espaço, sabendo tão pouco sobre algo tão enigmático que nos cerca. O barco é uma metáfora da vida em sociedade – estamos todos no mesmo barco, como em Titanic, mas espiritualmente estamos divididos, categorizados em escala de apuro moral – os mais honestos e verdadeiros estão no topo, ou seja, os dignos de respeito, que odeiam proferir mentiras, ao contrário de pessoas de má fé, que querem enganar e explorar outrem. A espada é esse poder masculino, num mundo de homens, patriarcal, no qual uma mulher não pode estar livre e tem que estar sempre submetida a um homem, na polêmica de Madonna em torno da canção Papa Don’t Preach: não é um apelo pró aborto, bem pelo contrário, pois a menina em questão na letra, que engravida sem querer do namorado, decide ter o bebê, ou seja, o que fedeu na questão foi a liberdade da mulher em escolher em liberdade. Os remos são as competições olímpicas, na universalidade desportiva, no tesão competitivo para ver quem tem mais fome de vitória, num concurso. O vermelho é o termo “sangue, suor e lágrimas”, numa pessoa em gesto de integral dedicação, como uma mãe que faz tudo pelo filho, no caminho do Amor Incondicional, o qual é o que mais elevado Tao tem a oferecer, pois, sem Amor, não há unidade; só caos.

 


Acima, Período de Cupido. Aqui remete ao duplo sentido de uma canção pop brasileira dos anos 1980: “Flecha do cupido, primeira vez não dói”. A flecha é esta direção, este tesão, esta vontade de vencer, num atleta que entra em quadra para vencer, e não apenas para jogar. É uma pessoa que vive ao sabor do vento, sem os pés no chão, deixando-se guiar apenas pelo coração, não ouvindo a cabeça, numa pessoa que não é produtiva e nem constrói algo em vida, pois que esperança há numa vida sem labor, sem direção e sem disciplina? A flecha é esta paixão, este ardor, na fome de um artista com tesão de batalhar pela carreira, na grande carreira espiritual, a qual todos trilhamos no Céu ou na Terra, no modo como o Plano Metafísico é o paraíso para os que gostam de trabalhar e estudar, ou seja, para os que gostam de ter os pés no chão. Aqui a corda está tesa, e a flecha está sob pressão, nos versos de Lulu Santos: “Às vezes me sinto como uma mola encolhida”. São as pressões, num artista que vai sofrendo pressões para se manter eternamente em um momento doce e apolíneo de sucesso, o que não procede, pois os altos e baixos, a liquidiscência da Vida é inevitável, pois não existe um “botão de piloto automático”, no modo como a Vida é luta sempre. Aqui está enterrada a flecha, como na imagem da avestruz enterrando a cabeça, como uma pessoa que quer fugir e se esconder da Vida, chegando à situação ultradegradante de morador de rua, alheio aos fatos existenciais de que a pessoa tem que se reerguer e encarar tais desafios, nos versos de Chorão: “A Vida cobra sério e realmente não dá para fugir”. O preço da fuga é a loucura, e é um preço alto demais. Aqui temos algo agressivo e incisivo, num marco, como fincar o guardassol na beiramar, estabelecendo uma propriedade, um espaço, num herdeiro reivindicando uma herança, como num aristocrata reivindicando o trono de alguma antiga nação absolutista, na dança de ambições mundanas nas quais todos querem o maldito Anel do Poder, este mal que tanto corrompe as almas dos homens, num Putin insano, numa sede napoleônica insaciável por mais e mais poder – simples assim. Aqui é a imagem pop do cupido, no modo como eu já ouvi: “Quando você se apaixona, você está ferrado”. É o estilo musical da “sofrência”, naqueles corações seduzidos e maltratados, numa pessoa que tem que aprender a ouvir também a cabeça, e não só o coração, nas palavras de Aristóteles: “a Lei é razão fria sem sofrimento”, ou seja, tenha cabeça, rapaz! A flecha são os sonhos de carreira, de construção de imagem, numa pessoa batalhadora que aceita os duros desafios do Mundo, num espírito olímpico, cheio de vontade de superar os percalços, na elegância atlética de superação e quebras de recordes. Aqui temos o momento crucial que precede o golpe, numa precisão cirúrgica, na alta concentração de um cirurgião focado e concentrado no momento da intervenção no corpo anestesiado do paciente, numa entrega, pois preciso confiar em meu médico, como uma certa psiquiatra certa vez, a qual olhou nos meus olhos e pediu que eu nela confiasse, nesse fio que tece os relacionamentos, numa aranha tecendo os fios que ligam as pessoas, unindo dois corações, no modo como é bonitinho ver um casal, seja gay o hétero – o Amor é lindo. Aqui é uma imagem de dedicação, numa pessoa calejada por muito tempo de carreira e atuação, no divertido termo “puta velha”, com o perdão do termo chulo, apontando aquelas pessoas que estão há um bom tempo atuando no mercado, sendo conhecida por tudo e todos, e a Vida não exige que sejamos tais “putas”, batalhando pela Vida e “girando a bolsinha”? É no termo dos travestis: “Força na peruca!”. Aqui podemos ouvir o som da corda tesa, tensa, esticada, em disciplina espartana, na disciplina de um fisiculturista na rotina diária de exercícios pesados e alimentação leve, num atleta se esforçando ao máximo, visando a excelência física, como passar bebendo claras cruas de ovo, ricas em proteínas, sacrificando o pecadinho da Gula. Aqui é a força de um deus, como o Thor nórdico, cujo nome é o som inclemente de um raio de tempestade.

 


Acima, Ponte de Colher e Cereja. A sedução de algo tão tentador e irresistível, no termo sisudo: “Não nos deixei cair em tentação!”. São as culpas da religião, num Niemeyer que, ao projetar a catedral brasiliense, fez um templo iluminado e arejado, aberto, sem as escuridões da culpa, no modo como a Psicologia bate de frente com a Igreja, num psicólogo que não vê mal algum em pecadinhos gostosos como o da Preguiça, no irônico modo como as grandes invenções, como a Roda e o Telefone, nasceram da preguiça humana: Por que sair de casa para falar com o fulano se posso fazer isso sem sair de casa? Aqui a colher é como uma catapulta, num impulso, talvez num apadrinhado, como um diretor apostando todas as fichas numa atriz aspirante a estrela, no modo como Hollywood é tão corriqueira em fazer grandes apostas as quais, no fim das contas, acabam não indo muito longe – se existisse bola de cristal... Aqui é uma ponte, uma comunicação, em obras ambiciosas, unificando uma nação rica com linhas férreas modernas, rápidas, fazendo dos trens algo tão sexy como amantes fazendo amor num trem que vai atravessando nações. A colher aqui está flexível, na capacidade de certas pessoas em fazer tal flexibilização, adaptando-se, negociando pacientemente, como água, que vai fluindo e se acomodando da forma mais natural possível, como num rio que vai fluindo até se acumular num buraco, formando um lago, nos vestígios marcianos de como certa vez o planeta teve água fluindo em sua hoje inóspita superfície, fazendo da Vida algo tão raro, sem a certeza que há Vida fora do nosso ínfimo e belíssimo planetinha azul. Aqui é o gesto de dar comida na boca de alguém, como num nenê tão dependente, incapaz de comer sozinho, na dedicação sofrida de uma mãe, desempenhando uma função tão demandante e tão fascinante, no termo popular: “Ser mãe é padecer no paraíso”. O talher é este marco civilizatório, no Ser Humano que passou a se negar a comer com as mãos, como um macaco, lançando mão dos talheres, estes símbolos de polidez civilizatória, no prazer de se observar uma pessoa polida, comendo com elegância, sem a fome ensandecida de um leão faminto, fazendo da polidez tal sinal de elevação espiritual, num espírito tão fino e irresistível em sua perfeição moral, havendo nas leis mundanas a punição para quem se afasta de tal excelência moral. A cereja remete às maravilhosas cerejas chilenas, num país tão diferenciado, com seus vinhos maravilhosos e nozes crocantes, no fruto de um trabalho árduo, como no imigrante italiano agricultor, na vitória do trabalho e da dedicação. A cereja é este objeto de cobiça, num bem de alta valorização no mercado, na alta procura frente a um produto de baixa abundância, nas leis naturais de mercado, no sonho liberal de Smith, o pai do capitalismo autorregulado. Aqui é um exemplo das grandes intervenções urbanas de Claes, mudando o cenário da cidade, trazendo tanto charme e originalidade, como se quisesse competir com os prédios altivos e majestosos de uma urbe pulsante, no sonho de um artista plástico em fazer a diferença e marcar épocas. Aqui é como se fosse uma gangorra, um brinquedo que traz a necessidade do trabalho em conjunto, em dupla, com um ajudando o outro, como num certo amigão meu, o qual faço questão de ajudar da melhor forma possível, no calor que a caridade traz aos nossos corações, no nome de um centro espírita caxiense: “Fora da caridade não há salvação”. Aqui é a ponte entre a cabeça do artista e a cabeça do espectador, nesse diálogo indispensável entre as partes, pois o que é de um artista sem as pessoas para apreciar tal obra? A cereja é como as nuances de sabor de um vinho, com notas de frutas vermelhas e chocolate, no modo como tal bebida não é para ser simplesmente bebida, mas apreciada gole a gole, numa assimilação lenta, calma. Aqui é um trabalho em comum entre dois elementos – um industrial e o outro agrário. A colher é o poder transformador das mãos humanas, num artista plástico que maneja coisas e faz coisas novas, numa espécie de mágico.

 


Acima, sem título. Aqui temos um grande esforço, numa bisnaga de pasta de dente sendo espremida ao máximo, nas palavras de Maria Callas na peçona Master Cass, com a deusa Marília Pêra: Quem quiser obter sucesso terá que se dedicar ao máximo à profissão. Aqui é o namoro da Pop Art com bens de consumo, numa esteira industrial, nesse casamento impossível entre Arte e Consumo, nas palavras de uma inesquecível professora publicitária minha: Propaganda não é arte; é técnica de venda. É a dolorosa verdade: as pessoas assistem a um programa televisivo por causa do programa, e não por causa do intervalo comercial. É o desafio de chamar a atenção do público alvo; do consumidor. O apelo publicitário excita o desejo pré existente no consumidor alvo, ou seja, o desejo está no consumidor, e não no anúncio. Aqui é um esforço, um desempenho, numa pessoa se doando para produzir, num aluno brilhante, digno de respeito do professor, naqueles alunos aplicados, que enchem de orgulho tal professor, no prazer de se ver um aluno aprendendo e crescendo, no slogan da Universidade de Caxias do Sul: “A UCS é para todo mundo que quer crescer”. E por que não dizer também “Para quem quer vencer”? É a gloriosa sensação do dia de formatura, na coroação de todo um esforço, no modo como são tristes as histórias de vidas de pessoas que abandonaram a faculdade, como numa transa sem orgasmo, com o perdão do apelo sexual. Aqui é o esforço industrial para gerar produtos excelentes, dignos da preferência do consumidor, em todo um estudo para planejar um produto que faça sucesso nas gôndolas de supermercado, como meu tio químico industrial, injetando no mercado produtos de limpeza, fazendo altos investimentos mercadológicos, como a qualidade do produto em si e com a qualidade de um bom marketing, como um bom site e bons anúncios, desafiando gigantes como a Unilever. Aqui a bisnaga faz uma revelação, como uma pessoa revelando suas verdadeiras intenções, como um certo sociopata que conheci, uma pessoa que, simplesmente, queria mandar em mim e fazer com que minha vida girasse em torno de tal sociopata malévolo – vá adquirir apuro moral, meu amigo. Aqui é como um fluxo intestinal, na gloriosa sensação de limpeza interna ao fazermos fezes fartas, pois fluxo intestinal não deve ser um assunto proibido, afinal todos somos humanos. Aqui é um momento de concentração, talvez num cirurgião focado integralmente no momento da intervenção cirúrgica, na responsabilidade adulta, como um psiquiatra examinando com cuidado a mente e a vida do paciente, no momento de entrega e confiança por parte do paciente: Quando traio a confiança em mim depositada, perco tal confiança. Aqui é algo sob pressão, num ambiente de trabalho psicologicamente insalubre, num dia a dia tenso, workaholic, sofrido, no modo como a pessoa tem que se dar ao respeito e negar-se a ingressar em tal ambiente nocivo, como uma publicitária certa vez, a qual achava que eu era escravo de tal publicitária – faça-me rir! Não é saudável, certas vezes, mostrar o dedo do meio ao Mundo? Que vida é esta na qual sou um escravo das expectativas de outrem? Pode-se ser gentil, mas não subserviente. Aqui é algo sendo produzido, nos complicados processos de produção de Cinema, na heroica família Barreto, sempre lutando pela identidade e pela glória do Cinema Brasileiro, fazendo Cinema em um país que não chega perto de ter a estrutura industrial hollywoodiana. Aqui é um uso, uma conveniência, como algum dinheiro sendo investido em algo, numa necessidade. Aqui é um investimento, como numa modelo em início de carreira, investido uma boa grana num book, que é um mostruário de fotos do modelo, em tantos e tantos sonhos sendo despedaçados todos os dias, no poder da desilusão, a qual é positiva, pois vem para auxiliar e guiar, e não para destruir. Aqui é uma revelação, num plano sendo deflagrado, como numa operação policial, com meses de preparo confidencial até fazer sua investida contra uma rede de traficantes. Aqui é um uso corriqueiro, nas demandas do cotidiano.

 


Acima, Vassoura Grande. Uma ironia de Metalinguagem, com x falando de x, ou seja, o trabalho do artista plástico falando sobre o trabalho do gari. Aqui é uma redentora sensação de limpeza e catarse, naqueles filmes que fazem com que saiamos da sala de Cinema plainando livres, leves e soltos, tais quais gaivotas à beiramar. É como no filmão O Gângster, com levas de policiais corruptos sendo desmascarados e presos no final da película, na sensação de pegar um pano e fazer uma limpeza no interior de um móvel há muito não limpo. É alguém expulsando algo, algo que não estava lhe fazendo bem, numa rejeição, numa renúncia, como num vômito, expulsando algo nocivo e degradante. Aqui é a vida sofrida de um gari, numa pessoa que leva uma vida tão dura, varrendo para cima e para baixo as ruas de uma cidade, tendo que dar conta dos tocos de cigarro que cidadãos incautos jogam displicentemente mente no chão. Aqui podemos ouvir o som da vassoura varrendo, num trabalho de rotina na limpeza de uma casa, num trabalho tão duro, na tarefa árdua de manter uma casa limpa, organizada e abastecida com supermercado, havendo na dondoca uma pessoa que simplesmente se nega a fazer supermercado. Aqui os fios da vassoura são como cabos eletrônicos, em intrincada tecnologia de microchips, na revolução da Tecnologia Digital, digitalizando esquemas analógicos como a Televisão e o Telefone, fazendo com que minha geração testemunhasse tal momento de reviravolta tecnológica, fazendo com que a meninada que nasceu nos anos 2000 e 2010 seja uma geração integralmente digital, sem ideia do que foi a revolução do controle remoto, na ironia de que, como eu já disse outras vezes, os grandes avanços humanos nasceram da Preguiça – por que me levantar do sofá para mudar de canal se posso fazer isso sentadinho? Aqui é como na rotina de um restaurante, com o chão sendo limpo ao final do expediente, fazendo da faxina um modo humano de se aproximar da limpeza perfeita do Plano Metafísico, uma dimensão onde sequer há uma única bactéria, no casamento entre simplicidade, limpeza, luz e beleza – é a glória! É claro que aqui Claes teve que fazer uma obra gigantesca, pois é claro que passaria despercebida uma vassoura de tamanho normal, nesse esforço de Claes em se destacar a conquistar a atenção do espectador, fazendo de uma obra algo tão inusitado, que causa perplexidade em tal espectador, como na perplexidade de se assistir uma boa peça de Teatro, na magia da cortina se abrindo e revelando o cenário, no momento em que as intenções do diretor se revelam, sem chance para simplórios ou amadores. Aqui é o mito da vassoura e da bruxa, no televisivo americano A Feiticeira, trazendo uma bruxa não horrível como Medusa, mas charmosa e glamorosa. Aqui o lixo é removido para revelar a beleza primordial do puro, do indispensável, fazendo da simplicidade o mais alto grau de sofisticação, como deitar numa cama com os lençóis limpinhos, levemente perfumados, na sensação de lar e de boas vindas, como entrar num quarto de hotel impecavelmente arrumado. Aqui é como uma pessoa limpíssima que conheço, a qual passa diariamente uma vassoura na casa, numa dona de casa tão disciplinada, sabendo que um lar limpo é um lar bom, pois como posso ser feliz em lugares imundos como o Umbral, a dimensão infeliz dos que não querem se despedir do próprio corpo físico? Aqui é a revolução civilizatória, num momento em que o Ser Humano passou a se limpar e a limpar seu lugar, sua casa, ao contrário de um canil imundo, o qual precisa desesperadamente de uma intervenção humana de limpeza. É o ato civilizatório do banho diário e da lavagem de roupas, em invenções tão formidáveis como a máquina de lavar roupas, facilitando a vida e acudindo a preguiça de levar e enxaguar com as sofridas mãos de dona de casa. Aqui há a ironia dialética, na qual tudo traz em si a própria contradição, em algo divertido: Nós nos tornamos no tamanho da vassoura ou a vassoura ficou do nosso tamanho? Aqui é o termo “varrer para baixo do tapete”, como alguém que quer evitar uma verdade, sendo confrontado por um psicoterapeuta.

 

Referências bibliográficas:

 

Claes Oldenburg. Disponível em: <www.gettyimages.pt>. Acesso em: 13 abr. 2022.

Claes Oldenburg. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 13 abr. 2022.

Claes Oldenburg obras. Disponível em: <www.google.com>. Acesso em: 13 abr. 2022.

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