quarta-feira, 18 de maio de 2022

Alma de Almeida (Parte 1 de 2)

 

 

Campinense de 1964, Caetano de Almeida mora em São Paulo, SP. Já fez trinta mostras individuais, fez noventa coletivas, faz parte de quinze coleções públicas, tem três livros lançados e expôs por doze vezes na Galeria Luisa Strina. Caetano estudou Comunicação e Artes na USP e é bacharel em Artes Visuais pela Fundação Álvares Penteado, de São Paulo. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Arhuaco. 2019. Uma grande paciência de tecelão, no momento em que o Homem parou de usar peles de animais e passou a tecer tecidos, no fascínio da seda sobre o Mundo, nos tecidos finos de suave toque, fazendo metáfora com o carinho entre irmãos, numa pessoa que se mostra agradável e de fino trato, na vitória da polidez sobre a grosseria, no caminho da disciplina e da paciência. Aqui as cores se mesclam, formando nuances de transparências. Aqui temos um pouco de Mondrian, na assimetria de linhas retas, namorando com a Arquitetura Japonesa, com uma bandeja de compartimentos assimétricos, no modo humano de compartimentar os dias, organizando a Vida, numa pessoa organizando uma casa, colocando cada coisa em seu lugar, numa sensação deliciosa de ordem e limpeza, no prazer de se entrar numa sala recém limpa, cheirando a fragrância de produto de limpeza. Aqui é a revolução da produção industrial de tecidos, nas máquinas que fazem bordados, na pujança de automação do parque industrial de Caxias do Sul, rivalizando com o poderoso parque industrial paulista, num Brasil pobre que tenta, por meio do trabalho, enriquecer o país, num país com tanto potencial de mercado, como um anão desafiando um gigante, num ato de valentia. Aqui há a predominância de rosa, numa cor feminina, na cor do útero, do sangue que une uma família, no universo glamoroso da boneca Barbie, a boneca cuja idealização de magreza atinge, desde cedo, a autoestima da menina, a qual é confrontada a ser semianoréxica de magra, num padrão de beleza tão cruel, no ponto de certas meninas, de tão esquálidas, pararem de menstruar, tal o dano da extrema magreza à saúde, numa menina que vê a comida como uma inimiga, como uma menina que conheci, a qual simplesmente parou de comer e beber água, tendo que ser internada urgentemente numa clínica de reabilitação. Aqui as linhas em ziguezague lembram o artesanato indígena, nas populações neolíticas, longe do ponto de civilização, na revolução da Escrita, o poder da pena que segue soberano no Mundo, na sabedoria popular: A caneta é mais forte do que a espada. É a questão da classe, do estilo e da distinção, na vitória do fino sobre o grosso, como na invasão de hooligans desvairados trumpistas ao Congresso Americano, achando que a grosseria é a mais elevada dimensão de poder, num Trump irresponsável, num ataque condenado pelo Mundo todo, no conservadorismo republicano, na ironia do democrata Woody Allen, num filme em que um garoto, que começara a simpatizar com as ideias republicanas, estava, na verdade, disse um médico, com falta de oxigênio do cérebro, nessa bipolarização da América entre conservador e moderno, como na Inglaterra moderna frente à Tradição Monárquica, no momento em que a morte de Diana expôs a distância da Rainha de seus próprios súditos, no desafio de reconquistar popularidade, num fenômeno de longevidade e lucidez – setenta anos reinando, sem qualquer sinal de demência. Aqui vemos uma dança de barras randômicas, num baile, numa situação de interação e relacionamento, como numa rotina de convívio dentro de uma empresa, onde todos acabam influenciando todos, como no seriado Chaves, falando sobre o convívio dentro da vila pobre mexicana, com um vizinho aturando o outro, com os barulhos inevitáveis, ou como numa família, na qual temos que aceitar o jeito de cada um, visto que as pessoas evoluem, mas não mudam, na eternidade do espírito, pois Tao nos fez com perfeição, nas palavras da megadiva Lady Gaga: “Você nasceu assim, meu bem”. Aqui é uma tapeçaria, um artesanato, um registro de labor, na universalidade das mãos humanas, fazendo Arte, esta força de expressão que tão humanos nos faz. Aqui é uma tentativa de harmonização, sem choques de contrastes, num estilista fazendo uma combinação cromática harmoniosa.

 


Acima, Caverna. 2019. Aqui é como uma interferência de satélite, no chamado “scrambled channel”, ou seja, canal misturado, abilolado. Aqui é um momento de choque, de mudança, no termo “colocar os dedos na tomada”, no dever de um psicoterapeuta em acordar o paciente para a fria realidade, no modo como o olho clínico tem que ser o mais frio possível, na razão livre de sofrimento. Aqui é um jogo complexo de interferências e influências, como nas chamadas “brainstorms” em agências de Propaganda, ou seja, tempestades cerebrais que consistem em pessoas ao redor de uma mesa falando tudo o que lhes vem à mente para que, assim, boas ideias e conceitos sejam pensados para um produto ou serviço, algo, que, já ouvi dizer, são “surubas mentais”. Aqui é um canal confuso, e não sabemos ao certo o que há por trás, num televisor cheio de interferência, como numa guerra, os insanos momentos em que um rei quer anexar o reino vizinho, no mandamento “Não cobiçarás a mulher do próximo”, ou seja, fique quietinho no seu reino e tudo dará certo em termos diplomáticos, pois como posso ter Paz se cobiço o gramado do vizinho? Aqui é uma colagem complexa, como confetes num baile de Carnaval, no momento de alegria em que a sisudez cinzenta é deixada momentaneamente de lado, numa festa que tem prazo de validade – é só uma festa. Aqui temos uma alegria cromática, na questão do respeito à diversidade, como na questão da Homossexualidade: a denotação está mudando, do tipo “não é doença – é só uma orientação da pessoa”; a conotação, infelizmente, continua péssima. Aqui temos uma orientação em entremeios, no modo de Caetano de Almeida em nos trazer tais fibras de tecidos, como na perfeição das teias tecidas pela Divina Providência, num kilt, fazendo com que passemos uns pelas vidas dos outros, com amizades sendo feitas e lições sendo aprendidas, naqueles amigões que sempre carregaremos em nossos corações, naquele amigo íntimo o qual não vamos há décadas, mas que parece que a última vez em que o vimos foi ontem – a amizade verdadeira não perece; é eterna. Aqui é um desafio, e Caetano nos desafia para que entendamos o que há aqui. Aqui é como uma visão de cima de algo que tem várias camadas, várias sutilezas, com as camadas se entremeando, formando um tecido forte e resistente, na revolução do Jeans, esta calça prática, jovial e resistente, nas modas jovens de jeans rasgados e desbotados, fazendo disso estilo, numa peça de roupa que tem décadas de uso, e ainda assim sigo a usando, no modo como quem tem estilo não precisa ser um escravo de grifes caras, pois estilo vem de dentro, da classe da pessoa. É como o boom da moda jovem dos anos 1980, rompendo de vez com a década anterior, no modo como já ouvi na televisão: “Precisamos ver mais jovialidade no tapete vermelho”, na irreverência da cantora americana Macy Gray, que apareceu no tapete vermelho com uma roupa anunciando a data do lançamento de seu novo álbum, e, ainda por cima, escrito no bumbum dela: “Compre!”. É como na bomba de transgressão que é Lady Gaga, um talento que não fez feio no álbum que gravou com a lenda Tony Bennett. Aqui temos um estímulo e uma provocação, num vômito de catarse, no modo como já ouvi que Gloria Pires teve uma catarse no set de O Quatrilho, no momento mágico em que o ator se deixa vestir integralmente pelo personagem, numa entrega, numa declaração de amor ao personagem. Aqui é um jogo de xadrez complexo, no irônico modo da concepção da Inteligência Artificial, que faz com que um robô vença o campeão mundial de Xadrez, na ficção de Matrix, com tal inteligência robótica subjugando a Humanidade. Aqui, uns deixam os outros respirar, numa troca, numa sociedade, num trato interessante, onde todas as partes ganham, como num casamento sisudo: Nós nos casamos e cada um faz sua parte. Aqui é como um vidro distorcendo o que há atrás, no modo como o espírito encarnado só possa ver uma parcela do Plano Divino para conosco. Aqui é como uma reciclagem de papéis diferentes, na policromia de diversidade, nas cores estimulantes de uma boate.

 


Acima, Cristal Rosa. 2019. A identificação do rosa com a feminilidade, nas ritualizações sociais, no modo como a azul é da masculinidade, uma bobagem, com uma certa senhora que veio a público com declarações conservadoras, provocando o movimento “Rainhas vestem azul”, para mostrar que se tratam apenas de cores, nada mais. Caetano de Almeida gosta dessas texturas têxteis, no trabalho de uma malharia, no modo como as malhas são tão usadas no clima gaúcho, em eventos como a Tricofest, no talento empreendedor de uma unidade federativa laboriosa e esforçada, talvez herdado os genes de imigrantes europeus. Aqui há um respiro, e a parte branca é como se fosse o vazio, como num código binário, como conversar com um espírito de moralidade superior, o qual só nos responde “sim” ou “não”, como numa pessoa mais velha a qual, apesar de ter mais juízo e sabedoria, não deixa de ter amor por seu irmãozinho menor, fazendo do Amor algo tão subestimado, algo que é a cola que une a Grande Família Metafísica, a qual todos pertencem sem exceção, havendo no sociopata uma pessoa que definitivamente não se sente tão pertencente, num espírito tosco que sofre com sua própria amoralidade, na dimensão infernal do Umbral, o Inferno de Dante. Aqui é uma estampa, como num papel de parede, no modo como há certas pessoas de bom gosto e estilo, pessoas que não precisam dos serviços de um decorador profissional, em casas dignas de capa de revista de Decoração, na paixão por lares acolhedores, maravilhosos, dentro dos quais nos sentimos tão confortáveis, tão em casa, na beleza de regiões serranas, fazendo metáfora com a elevação metafísica, o Reino dos Céus tão prometido por Jesus, o Rei dos reis, forte ao ponto de bipartir a História da Humanidade. Aqui são como as vias de uma cidade, com ruas paralelas e perpendiculares, numa hierarquia, com vias de maior demanda de tráfego do que outras, com vias que precisam de mais tempo para escoar os veículos, no dia a dia frenético de grandes cidades, no modo como o Ser Humano mostra, dirigindo no Trânsito, sua face mais patética, estressada e desnecessária – a tranquilidade é uma dádiva. Aqui é como um altivo prédio, ereto, imponente, no desenvolvimento de uma cidade, como na urbe futurista de Os Jetsons, com prédios elevados, limpos, abertos, como num apartamento bem ensolarado, vivo, respirante, deixando o ar circular, como no vaivém de pessoas numa cidade, com tantas coisas acontecendo, em urbes vibrantes como Nova York, um lugar que, apesar de tão belo e pujante, pode ser uma cidade bem dura e cruel para quem não tem muito dinheiro, na crueldade capitalista – sou o que tenho em minha conta bancária. Aqui temos um convívio pacífico entre branco e rosa, num trato de paz, de diplomacia, num acordo que delimita fronteiras, como nos acordos europeus para definir de qual nação europeia cabia um pedaço das Américas, no extermínio das populações indígenas, como ouvi certo dia na Rua um senhor falando com uma indígena semimendiga, jogada numa calçada suja: “Teus antepassados já foram donos e senhores destas terras, e foram todos cruelmente despojados pelo homem branco”. É um choque de civilizações, tudo em nome da ambição por mais e mais terras, numa sede napoleônica insana, num ditador que, apesar de governar o país de maior extensão territorial do planeta, ainda assim quer anexar mais e mais territórios, querendo ser o cruel Sauron de Tolkien, o terrível Senhor da Terra. Aqui temos uma espécie de “bissexualidade”, por assim dizer, num quadro que, se fosse uma peça de roupa, combinaria muito bem com uma peça branca ou com uma peça rosa, na capacidade diplomaticamente neutra de um país em ser verde um aguerrido mundo no qual amarelos e azuis estão sempre em pé de guerra um contra o outro, num Jesus que, sem conseguir resolver os problemas do Mundo, segue como a promessa de um amanhã melhor.

 


Acima, Distúrbio. 2019. Aqui temos uma tensão de discordâncias, como num debate político, no qual o nível pode baixar a qualquer momento, com Trump chamando Hillary de “nasty”, ou seja, nojenta, na misoginia de um mundo de homens. Aqui não temos uma organização quadricular, mas linhas tensas diagonais, numa mistura, num embaralhamento, como num jogo de cartas com a sorte sendo lançada, numa pessoa que perde dinheiro em apostas, numa conduta incauta, longe da sabedoria adulta ou idosa. Aqui é como um prédio sendo demolido, com tudo indo abaixo em questão de segundos, como numa destruição do Onze de Setembro, no Mundo perplexo perante tanto desejo de destruição, como sem sonhos sendo frustrados e despedaçados, como numa pessoa indicada a um Oscar, sentido-se um lixo ao seu nome não ser identificado dentro do envelope com o nome do vencedor, pois imaginemos a dor de uma Fernanda Montenegro, a qual, mesmo em sua dignidade e majestade, não soube prosperar em Hollywood, pois FM disse que só recebeu proposta de papéis de empregadas dominicanas, como um certo ator que abandonou a carreira cênica, um ator que nunca soube se desvencilhar do estigma de ator exótico, que não pode fazer papel de americano – são as frustrações da Vida, com nossos dedos sendo “colocados na tomada”, em choques de realidade. Aqui é como um momento de obra, de reforma de um cômodo, com uma casa sendo “virada de cabeça para baixo” em meio às demandas do serviço, como uma pessoa que resolveu dar uma guinada e fazer uma “reforma” em sua vida, adquirindo novas metas, como numa Paris Hilton, frustrando-se como atriz e cantora, no modo como o Mundo não respeita o “robert”, aquela pessoa que simplesmente só quer aparecer midiaticamente. Aqui é um jogo de transparências sobrepostas, como em feitos especiais de Cinema, com imagens sobrepostas, na fascinante ilusão cinematográfica, com efeitos visuais dignos de prêmio, na busca por excelência, no slogan de um certo estúdio hollywoodiano: “Um legado de excelência”. Aqui são como placas tectônicas em processo de acomodação, de adequação, nas terríveis forças da Natureza com as quais o Ser Humano se vê obrigado a conviver, com terremotos que em segundos podem destruir lares e lugares públicos, remetendo à minha querida avó Nelly, a qual se negou a assistir a um programam do Globo Repórter sobre um grande terremoto do México, dizendo: “Não quero ver desgraça dos outros”. Aqui é como uma estrela querendo causar um abalo, uma comoção, numa monstruosa Gisele abalando as estruturas do planeta, ditando moda capilar de cabelos longos ondulados, numa trajetória impressionante, partindo de uma anônima cidadezinha de interior brasileiro – quando é para ir, vai até debaixo da água, nos mistério do estrelato: O que é necessário para que se brilhe? Aqui é um acordo truncado, difícil, numa negociação intrincada, como na longa e sofrida negociação para Marília Gabriela entrevistar Madonna, numa entrevista a qual, apesar de ter sido tão odiada pela própria Marília, foi, na verdade, ótima, muito única na carreira de Madonna – não seja muito duro consigo mesmo. Aqui é como uma papelada sendo organizada e catalogada, como num professor corrigindo provas, no modo como a Vida em Sociedade vai cobrando, desde cedo, disciplina por parte da criança, na questão do bom comportamento, com mães dizendo aos filhos: “Se você não se comportar, a cigana vai levar você embora!”, na grande responsabilidade e paciência de se criar um filho, no desafio de incutir valores na cabeça da criança. Aqui é uma malha viária complexa, com trilhos de trem se entrecruzando, num sistema complexo de leis de fluxo, exigindo que respeitemos as cores dos semáforos, no modo humano de trazer um pouco de ordem e paz a um mundo tão caótico e estressante. Aqui é como uma estrada cortada por vários veículos, num passaporte “calejado”, numa pessoa experiente, que passou por muitas encarnações até alcançar a perfeição moral, o dom que faz com que o Plano Metafísico seja um lugar onde estamos cercados inteiramente de amigos.

 


Acima, Lenticular 1. 2019. Uma perfeita elegância aristocrática, no termo “sangue azul”, numa pessoa a qual temos a certeza de que foi muito bem criada, com valores nobres embutidos na mente da criança desde cedo. Aqui é como uma disciplinada plantação, lavrada por tratores, em modernas colheitas automatizadas, como na soja, barateando o preço final do produto, ao contrário do vinho, o qual é caro porque a colheita é artesanal, feita a mão. Aqui são como fileiras de vinhedos, vastos, enchendo os olhos de um turista, na universalidade enológica, com vinhos sendo produzidos nos quatro cantos do Mundo, em programas televisivos de tanto entretenimento, com vinhedos sendo visitados, no poder da interferência da mão humana, na dura vida inicial de colono italiano no Sul do Brasil, deparando-se com um lote virgem, numa jornada tão árdua até ter campos que gerassem alimentos como milho, no modo como, já ouvi dizer, a revolução agrícola nada mais fez do que redobrar o trabalho humano, num agricultor que tanto tem que se dedicar a seus campos e plantações, apesar de tal revolução trazer o controle sobre a produção de alimentos, deixando par atrás a era de humanos caçadores coletores, como nas tribos indígenas brasileiras, fósseis vivos no Neolítico. Aqui é como um pente sendo passado e disciplinando cabelos caóticos, no casamento de beleza com disciplina e fria racionalidade, como na gélida Galadriel de Tolkien, estranha, intimidante, bela, misteriosa, gélida e bela como um floco de neve. Aqui é o termo “pente fino”, ou seja, as pessoas que são monitoradas de perto pela Receita Federal, como um senhor que conheço, o qual foi certa vez preso por sonegação, um senhor que, por tal deslize de sonegação, tinha um belo e invejável patrimônio, acreditando que jamais cairia nas mãos do impiedoso leão, o faraó rei da selva que impõe seus cruéis impostos ao súdito já tão pobre: O povo não aguenta mais, senhor leão. Aqui é uma busca por uma perfeição e uma limpeza que não existe integralmente no Plano Material, pois em tal plano, por mais que limpemos uma casa ou banhemos um corpo, sempre haverá resquícios mínimos de sujeira e bactérias, numa faxina que é eficiente na medida do possível, numa ordem relativa, no modo como não há perfeição material, nunca, no termo da canção regravada por Alanis: “Há uma manchinha negra sobre o Sol hoje”, e encarnação é isso: Sempre haverá uma manchinha sobre o Sol, mas não se preocupe muito, pois e só uma manchinha. Aqui é como uma disciplinada fileira de militares numa parada de ostentação militar, como numa Coreia do Norte, um país miserável cujo líder investe tudo em armistício, num país sem escolas, hospitais ou estradas decentes – é um horror, nessa eterna vocação humana em provocar e ofender o próprio irmão, na “beleza” das guerras, eventos que causam sequelas psíquicas aos combatentes. Aqui é como um filtro solar, permitindo que só alguma radiação passe pela tela, numa moderação, numa preservação, no cuidado de se usarem óculos escuros para evitar lesões como a Catarata. É a sensualidade de uma janela veneziana, nua luz que refresca o ambiente e deixa o sedutor Sol de Verão do lado de fora, enquanto os enamorados curtem um ao outro. Aqui é num salão de beleza, com o pente impondo ordem ao caos capilar, diferenciando-nos das épocas em que o Homo sapiens mal se importava com o garbo civilizatório, no ritual diário de aprumação antes da pessoa sair de casa, estando digna de um momento de polida interação social, no caminho da autoestima, numa pessoa que se nega a sair de casa portando uma aparência desleixada. Aqui é como uma embalagem de espaguete, os quase saem de tal ordem industrial para bailar numa água de cozimento, nesta comida de origem oriental que tanto conquistou a Itália, no corpo dinâmico da Gastronomia, sempre em processo de transformação, num corpo vivo e pulsante, como Tao, a fonte da Vida que não seca. Aqui temos uma estabilidade, num voo tranquilo, sem trepidações, num comandante sisudo, que sente o peso da responsabilidade adulta.

 


Acima, Telex. 2019. Aqui temos um corpo no qual muitas coisas acontecem ao mesmo tempo, como numa cidade vibrante como Nova York, com seus museus e teatros, seduzindo o visitante com suas ruas que muitas e muitas vezes apareceram no Cinema, no modo como quando vamos a tal cidade não nos sentimos num lugar totalmente estranho, tal o modo de quantas e quantas vezes vimos NY nas telas cinematográficas. Aqui é como um equipamento eletrônico em funcionamento, com seus circuitos, nos sonhos de um arquiteto a projetar uma cidade, na identidade brasileira de Niemeyer, numa arquitetura tão única, tão original, tão brazuca, ao som de Bossa Nova, no enorme desafio do Cinema Brasileiro em estabelecer uma identidade própria, no esforço heroico que é fazer Cinema num país tão pobre. Aqui é como um labirinto traiçoeiro, em constante mutação, numa pessoa existencialmente desnorteada, que não sabe para onde ir ou o que fazer, num processo de autoencontro que leva um tempo para se desenrolar, até a charada ser morta e a pessoa conseguir ver a si mesma com clareza, numa pessoa que resolveu adquirir o controle sobre sua própria vida, pois que vida é esta na qual não tenho controle? Devo ser escravo do Mundo? Aqui é como no game clássico Atari do Pac Man, num labirinto com inimigos no qual o jogador tem que comer o máximo de guloseimas no labirinto, no modo como há tantos amantes dos games, em um galgar de tecnologia que não conhece limites, podendo até ser um ato viciador, numa pessoa que prefere estar num quarto jogando a ir para a Rua e interagir com as pesas de carne e osso. Aqui é uma estampa colorida, como num arcoíris despedaçado, estilhaçado, como num paradigma sendo destruído por alguém que tem a força e a coragem para fazer tal transgressão, acordando o Mundo para um novo ponto de vista, como na praia de Capão da Canoa, cujo paradigma arquitetônico de prédios de veranistas foi quebrado por um elegante e imponente prédio em estilo neoclássico, algo inusitado para uma residência de Verão – o paradigma só pode ser detectado depois de ser transgredido, na responsabilidade do transgressor em causar a evolução de uma sociedade, ou seja, os transgressores “loucos”. Aqui são como confeitos que enchem os olhos de uma criança num ninho de Páscoa ou numa mesa de aniversário, cheia de doces e delícias, no casamento de percepções entre ver e degustar, num confeiteiro habilidoso, competente, calejado por décadas de carreira fazendo doces, no gostoso pecadinho da Gula – eta pecadinho bom! Aqui temos dois trânsitos: de leste a oeste e de sul a norte, sem algo na diagonal, como na Cultura de Massa, que vai na horizontal, e a Cultura Erudita, que vai na vertical. Aqui até temos uma certa profundidade, com várias camadas sobrepostas, com várias camadas de um doce mil folhas, numa riqueza, como um sanduíche farto, cheio de camadas de sabores, numa comida feita por quem entende de sedutores condimentos. Aqui é como um baile de Carnaval retilíneo, numa alegria a qual, apesar de tão vibrante, faz com que eu não perca minha consciência ou identidade, numa espécie de diversão adulta. É como uma televisão com uma interferência, com canais competindo pela preciosa e imprescindível audiência, como certa vez no embate entre Globo e SBT, num momento em que ambos exibiram filmes de Rambo, mas numa guerra: Silvio Santos não exibia o filme enquanto a Globo não findasse a novela que estava sendo transmitida, dando um show para o telespectador perplexo com tal guerra. Aqui é como um tela perfurada, numa esteira de produção, numa máquina de tear, moderna, aposentando os dedos das costureiras, em invenções que tanto nos dão comodidade e praticidade, na revolução, por exemplo, da máquina de lavar roupa, com gerações que não sabem o que é torcer roupas a mão. Aqui é uma ventania colorida, numa neve divertida, nos apelos de Gramado, a cidade na qual tantos sonhos empresariais perecem todos os anos – é uma dureza.

 

Referências bibliográficas:

 

Caetano de Almeida. Disponível em: <www.galerialuisastrina.com.br>. Acesso em: 11 maio. 2022.

Caetano de Almeida. Disponível em: <www.iberecamargo.org.br/artista/caetano-de-almeida/>. Acesso em: 11 maio. 2022.

Nenhum comentário: