quarta-feira, 19 de abril de 2023

Um Homem chamado Homer (Parte 6 de 8)

 

 

Falo pela sexta vez sobre o artista americano Winslow Homer. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Cabeça de águia. Aqui remete ao clipe Cherish, de Madonna, com brincadeiras à beiramar e homens sereias, em doces memórias de diversão no Verão. O cachorrinho é a lealdade, como vi hoje na rua um morador de rua dormindo numa calçada fria e suja, com o mendigo acompanhado por seu cachorro, num amigo incondicional, que nos segue por todos os cantos, num animal que não tem a mínima noção da situação degradante de morador de rua. A moça está encoberta por seus próprios cabelos, como numa certa notória sociopata, escondendo-se dos flashes dos jornalistas, numa vergonha, como nos militares julgando uma então jovem e altiva Dilma Rousseff, com os militares escondendo os próprios rostos das fotografias tiradas no cruel tribunal militar, ou como no teto da igreja caxiense de São Pelegrino, com as almas indo ao inferno, escondendo-se com vergonha de suas próprias faltas de apuro moral, no modo como desperdiça uma encarnação a pessoa que passa a vida querendo enganar os outros e mentir, no modo como o sociopata tem uma compulsão incontrolável por mentir, na máxima taoista: Aqueles que mentem acabam desprezados e rejeitados. Os quadros praianos de Homer nos transmitem tal liberdade praiana, num lugar simples e acolhedor, com as pessoas de pés descalços, na delícia que é a simplicidade, como no estilo rústico, acolhedor e sem pretensões, como num CTG de tosca construção, chamando a atenção para o que importa, que são as terras belas do Rio Grande do Sul, em pinos altivos como a araucária, erguendo-se aos céus e trazendo, no outono, o delicioso pinhão – como é bom ser gaúcho! A moça torce o vestido, num ato de cuidado, como me disse um certo professor universitário: As gerações mais jovens não sabem o que é torcer roupa, como duas pessoas torcendo um lençol encharcado, com cada pessoa de um lado torcendo, no irônico modo como foi do pecado capital da Preguiça que surgiram as grandes invenções da Humanidade: Por que sair de casa para falar com o fulano se posso fazer isso por telefone, no conforto de minha casa? É como na crítica de Oscar Niemeyer na concepção da Catedral de Brasília, num templo iluminado, ensolarado, longe das cores negras do pecado e da culpa, no absurdo modo como o fiel tem que ir a um confessionário por ter se masturbado, quando que a sexualidade é natural no Ser Humano, remetendo a uma professora freira que tive no Ensino Fundamental, dando aulas de Educação Sexual para combater a malícia em relação a Sexo, pois como Tao pode ter vergonha de algo que Ele mesmo inventou? As duas outras mulheres estão de touca de banho, que são o resguardo, as regras de higiene, num nadador que só pode entrar na piscina se estiver com touca, no modo como a sociedade é feita de regras, como tomar banho e vestir roupas limpas, havendo no miserável morador de Rua uma pessoa que não quer saber de viver em sociedade, numa atitude refratária, pagando um preço alto por tal desinteresse pelo convívio social. As roupas das senhoras aqui são recatadas, antigas, no impacto que uma Carlota Joaquina em tomar banho de Mar no Rio de Janeiro, em uma época em que não se tomava banho de Mar, em saudáveis atitudes transgressoras, causando a evolução de uma sociedade, nos versos de uma canção famosa de Carly Simon: “Deixe que os sonhadores acordem a nação!”, como no sonho de uma menininha em ser rainha da Festa da Uva, no arquétipo universal ao redor da Suprema Dama, nas inevitáveis ritualizações na Vida em Sociedade, em rituais como num batismo. A praia aqui é calma e plácida, longe de um mar revolto que excita um surfista. Podemos ouvir o requebrar suave das marolinhas, num lugar doce, como no fim do filme Contato, numa experiência espiritual na qual o espírito não sonha, mas vai de fato a algum nível espiritual elevado, numa “amostra grátis” da glória que envolve os desencarnados, como numa certa rainha da Festa da Uva recém falecida, rejuvenescendo e vivendo linda para sempre como no dia de sua coroação – o Desencarne é a glória! As discretas gaivotas ao fundo são tal liberdade, na imagem do Espírito Santo, trazendo esperança.

 


Acima, Fim de dia em Leeps. Aqui é aquela melancolia de fim de domingo, no momento em que a sisudez da segunda-feira vai se mostrando, nos versos de uma certa canção pop: “Dias chuvosos e segundas-feiras sempre me deixam para baixo”. A vaquinha aqui é o sustento, gerando leite, carne e peles que podem servir de tapetes, numa memória minha de infância no sítio de amigos meus, quando bebemos o leite quentinho, recém saído da teta da vaca, no prazer de se mamar numa caixinha de leite condensado, num chef Jamie Oliver um pouco blasé, dizendo que não gostou do brigadeiro brasileiro por ser muito doce, como ouvi uma senhora dizer certa vez: “Sabes como é gosto – não se discute; só se lamenta”. Aqui as sombras avançam, e acaba mais uma jornada de trabalho e dedicação na roça, no termo “trabalhar de Sol a Sol”, num colono italiano workaholic que só não trabalhava no Domingo porque a religião não permitia. A vaca é tal paisagem bucólica, encantando quem é da cidade, da selva de pedra, do asfalto e do concreto. O pasto é tal alimento abundante, num Tao generoso, o qual nos diz para que não sejamos sovinas em relação a comida, nas palavras de uma sábia Dercy Gonçalves: “Você não vai morrer de fome de você for ator. Se algum dia você não tiver dinheiro para comprar comida, ninguém vai negar para você um prato de comida”, como vejo certos homens na Rua, dependendo de cordialidade e comiseração para ganhar um prato de comida grátis, numa das necessidades mais básicas de um ser vivo, que é a alimentação. A vaca é o elemento provedor, no modo mamífero de amamentação, na mãe provedora, amamentando, como numa cadelinha que tive, a qual, ao ter uma ninhada e dar de mamar, começou a ficar desnutrida por causa de tais filhotes mamando, fazendo-me dar suplemento alimentar a ela, no modo como uma mãe é capaz de tudo pelo filho, nas palavras de uma certa matriarca: “Eu não sei do que sou capaz de fazer para proteger um filho meu!”, num certo instinto materno de proteção, conhecendo a fundo o próprio filho. Aqui é o momento do dia em que nossas forças estão exauridas, com crianças voltando famintas do colégio, hipoglicêmicas, na cozinheira estelar inglesa Nigella, dando a receita de jantar para uma mãe exausta depois de um dia inteiro de labor. As árvores negras são tal dúvida, numa pessoa em processo evolutivo, não sabendo o que a Vida nos reserva, nas palavras de uma certa senhora que passou por um grande momento de sofrimento na Vida: “A Vida nos prepara cada uma...”. Aqui o Sol se despede, e logo a Estrela d’Alva aparecerá majestosa, desaparecendo no horizonte e ressuscitando na manhã seguinte, trazendo a esperança da beleza de Eos, a deusa grega da aurora, num verso de uma das árias mais famosas de todos os tempos: “Tu pura, ó princesa. A aurora venceu!”, no modo como a sociedade tanto tolhe a sexualidade feminina, enfurecendo as feministas, as quais são nossas elites, que pensam acima de ignorâncias e preconceitos. Aqui é o momento do happy hour, depois de um sisudo dia de labor, com gravatas sendo afrouxadas e drinques sendo tomados, no merecido descanso depois de um dia de dedicação ao labor e à firma. Podemos ouvir aqui as vacas mugindo, num boi castrado, como um transexual quer extirpar seus próprios testículos e ter uma neovagina, num intenso desejo de ser mulher, numa Sociedade tão dura e inflexível, como ouvi certa vez um homem dizer a um homem que virou mulher: “Não é mulher de verdade!”, no modo como respeito incondicionalmente casais gays na Rua, caminhando de mãos dadas – LOVE IS BEAUTYFULL. Aqui os pássaros melancólicos piam para anunciar o fim de mais uma jornada, numa hora de recolhimento, numa mãe tendo que botar ordem numa casa, mandando os filhos tomar banho, numa mãe já agilizando o que vai se comer de jantar. As árvores negras são tal dúvida, na noite que os notívagos querem, na boemia, no ditado “A noite é uma criança”, na noite que se esvai e dá lugar a um novo dia, numa criança que, em fim de domingo, tem que arrumar o material para ir à escola no dia seguinte – a Vida tem uma face séria.

 


Acima, Na praia. Num momento de identidade feminina, num grupo de mulheres reunidas na diversão à beiramar, como num chá de fraldas só de mulheres, numa gritaria incessante, como quando minha mãe e minhas tias se reúnem, até parecendo que estão brigando tal o volume da conversação. É claro que podemos ouvir aqui as ondas quebrando, num sono embalado pelas ondas da Mãe Iemanjá, trazendo os peixes às redes dos pescadores, no milagre cristão da multiplicação dos peixes, num Cristianismo primordial que acabou se derivando em muitas ramificações, na universalidade humana em acreditar numa Inteligência Suprema, como no filme Contato, no qual os seres humanos temem que as raças alienígenas não acreditem em Deus, pois quem criou a infinidade de galáxias espalhadas pelo Universo? É na máxima: “Alá é grande”, e como o Cosmos é grande, num Ser Humano tão aquém de desvendar tais segredos, fazendo de nossa galáxia uma anônima galáxia numa sopa infinita de galáxias, numa vastidão tal que é inútil querer catalogar cada estrela que existe no Universo. Nesta orla, é como conchinhas à beiramar, jogadas como galáxias, no libertador olor de mar, na sensação de liberdade e de simplicidade que a orla nos traz, em pessoas que decidem se mudar para cidades litorâneas, como alguém que conheço, uma pessoa que decidiu se mudar para Florianópolis para se tornar ratão de praia, esquecendo-se do fato de que a Vida é dura e difícil em qualquer lugar, como uma pessoa fujona, que vai de cidade em cidade para querer fugir da seriedade da Vida – se sou solitário aqui, serei solitário acolá. Aqui temos as majestosas pinceladas de Winslow Homer, com o reflexo das ondas na areia molhada, num efeito de movimento e ação, nas ondas respirando num vaivém de coito, no mito da sereia, o princípio feminino de cheiro de Mar, de peixe, como na franquia Piratas do Caribe, com sereias traiçoeiras, trazendo ruína aos homens seduzidos pelas belas sereias, num mito até um tanto misógino, como na menina em Lagoa Azul, não desejando sair da ilha deserta, rindo das tentativas do rapaz em construir veículos para fugir da paradisíaca e maldita ilha, no misógino mito de Eva, a qual trouxe ruína para o perfeito Adão, o qual é a obraprima de Deus, fazendo da mulher um arremedo em nome da necessidade de reprodução, no machismo de reduzir as mulheres a um mero útero reprodutor, como confessou Diana, a qual se sentiu um útero reprodutor à serviço de uma coroa, como numa rainha Vitória, dando à luz tantas vezes. Este quadro é tão excelente que parece que estamos à frente de uma televisão. Aqui, o frescor banha os pés das damas, num ritual de purificação, como num batismo, inocentando-nos do fato de termos nascido por meio do coito entre um homem e uma mulher, num traço cultural do baiano, para o qual é perfeitamente normal tomar dois banhos diários, quiçá três! As moças parecem aqui catar conchinhas, no trabalho feminino indígena de coleta da mata, trabalho análogo ao trabalho de compras de uma dona de casa, na missão de manter uma casa abastecida, como num zeloso mordomo, trabalhando de Sol a Sol para manter uma casa limpa, organizada e abastecida. Aqui é o fascínio que a orla exerce sobre as pessoas da cidade, como na sedução dos campos, das pastagens, como na região dos Campos de Cima da Serra Gaúcha, com vastos tapetes de pasto, na noção taoista de que os campos e florestas vestem roupas majestosas, num Ser Humano que ignora tal beleza natural, fixando-se em palácios mundanos, os quais são meras cópias da majestade arquitetônica do Plano Metafísico, em talentos como um Niemeyer, num Ser Humano que não entende que tudo na Terra gira em torno do Superior, do reino feito de pensamento, e não de matérias como pedras preciosas, no polêmico presente saudita ao então presidente Bolsonaro, como no redentor fim de Titanic, com a idosa Rose descartando uma joia cara, numa libertação.

 


Acima, O rapaz de azul. Aqui temos o vislumbre de um horizonte, numa pessoa avaliando as perspectivas, como num amigo inteligentíssimo meu, o qual sempre se sentiu forçado a cursar Medicina, numa pessoa que viu que não estava feliz em tal curso, mandando o Mundo se foder, com o perdão do termo chulo, ingressando no curso de Jornalismo – que vida é esta na qual sou prisioneiro das expectativas de outrem? O rapaz é atento, como uma sentinela, como um farol costeiro sinalizando aos marinheiros. Aqui temos o limiar entre menino e homem, numa pessoa passando por experiências as quais acabam por nos tornar pessoas melhores e mais depuradas, fazendo das vicissitudes um remédio amargo que surte doces efeitos, pois isso é indiscutível – as vicissitudes são amargas, como numa experiência de vida que tive, experiência que me mantém, até hoje, humilde e com os pés no chão, em acontecimentos que vão dissolvendo e eliminando toda nossa arrogância e presunção, pois o Mundo pertence aos que têm os pés no chão, ao contrário de uma pessoa rica e improdutiva, a qual vive num mundinho alienado e vazio, na miséria espiritual de um ganhador da loteria, na ilusão de que a Matéria é superior ao Pensamento, sendo cada um é prisioneiro de suas próprias convicções. Bem ao fundo vemos elementos constantes de Homer, que são as gaivotas. As gaivotas são a liberdade do pensamento racional, no símbolo de esperança do Espírito Santo, na promessa de libertação após a jaula encarnatória, fazendo do Desencarne o momento mais importante de nossas vidas, numa sensação de missão cumprida – desencarne e volte para casa, meu irmão! As flores silvestres aqui são delicadas, femininas, como no anúncio recente de um show da cantora Adriana Calcagnoto, com a cantora acariciada por uma flor, como na decoração de motivos florais do acústico de Cássia Eller, contrastando com a atitude masculina da cantora, numa cantora tão cheia de personalidade e atitude – se o Mundo não me curte como sou, o Mundo se fôda, com o perdão do termo chulo. Um menino aqui está tenso e atento; o outro, sentado e disperso, numa diferenciação, pois liso e áspero, fácil e difícil, são faces do mesmo trabalho, no discernimento taoista – se digo que algo é feminino, é porque sei qual é o oposto, que é masculino. Os chapéus são a proteção, como numa mãe zelosa passando protetor solar no filho, numa grande responsabilidade de zelo e proteção, como numa pessoa de minha família, uma pessoa que teve que amadurecer “na marra” ao colocar no Mundo duas filhas, tendo que criar estas moral e financeiramente, na sisudez das responsabilidades. Aqui são as doces cenas de Verão de Homer, na época das férias escolares, na libertação depois de um ano inteiro de obrigações e deveres, num ano inteiro frequentando a escola, na suprema coroação que é a formatura no Ensino Superior, fechando o ciclo de tantas e tantas manhãs geladas de Inverno, acordando para ir à aula nos ensinos fundamental e médio, no momento de sacrifício que é sair da cama e encarar a Vida, no início dos trabalhos diários de uma dona de casa laboriosa. Aqui é como no quadro Vênus e Marte de Botticelli, com a deusa atenta e desperta e o deus em profundo sono, numa fisionomia quase cadavérica – entenda a credibilidade do Yang, mas seja mais Yin dentro de você mesmo e dentro de casa, como na metáfora do astronauta indo à Lua, com sua esposa tranquilamente em casa, tirando uma caneca da armário da cozinha para fazer um café, no prazer do aconchego, no termo carioca “muvuca”, que quer dizer “conforto do lar”. A pastagem aqui farfalha calmamente como veludo, como no discreto farfalhar de veludo na cena inicial de L. A. Confidential, com a deusa Kim Basinger num momento de carreira digno de Oscar, numa Hollywood que tantos sucessos e tantos fracassos produz – hoje posso ganhar um Oscar; amanhã, uma Framboesa de Ouro. Os pés descalços do menino são tal simplicidade, como na Galadriel de Tolkien, na sofisticação da conversa por telepatia, numa personagem estranha, como se fosse uma aranha de cristal.

 


Acima, Pastora tratando as ovelhas. A moça é a responsabilidade, como uma prima minha, a qual tem toda uma responsabilidade de gerenciar uma marca de produtos de limpeza, uma prima que, ainda por cima, tem também a responsabilidade de criar e prover uma filha, no modo como um irmão mais velho tem as responsabilidades de ajudar a criar os irmãos mais jovens, numa pessoa que cresce cedo na vida. Podemos ouvir o bééé das ovelhas, numa cena tão campestre, num Homer que não se deixa seduzir muito por paisagens urbanas, rejeitando a “selva de pedra”, havendo no campo um cenário de libertação, com cheiro de bosta ao ar livre. Aqui é a metáfora do pastor guiando as pessoas, os fiéis de alguma religião, na frase: “Envio-te como ovelha no meio de lobos!”. As ovelhas são a disciplina, numa sala de aula silenciosa, remetendo ao brutal caso do assassinato de uma professora, morta a facadas pelo próprio aluno, no desafio de se impor uma autoridade, remetendo a uma enérgica freira, diretora de um colégio no qual estudei, uma pessoa terrível de tão dura, com o cargo de manter crianças e adolescentes na linha, uma diretora que eu tanto odiava ao ponto de eu fazer um boneco de vodu para espetá-la, numa descarga de consciência, como se fazer um despacho de Umbanda, remetendo a uma amigona minha a qual se converteu para tal religião, no ritmo contagiante de tambores, na riqueza da herança cultural africana no Brasil, em patrimônios inestimáveis como o Samba e o Pagode, remetendo a um certo país racista, com os escravos negros sendo colocados em barcos e enviados à África após a abolição da escravatura em tal país, num ato de claro racismo e limpeza étnica, num Hitler se recusando a aplaudir atletas negros, no mesmo absurdo de se dizer que chow chow não é cachorro. O dia aqui não é lá muito alegre ou ensolarado, na cor cinzenta do siso e da responsabilidade. O cajado aqui é o falo patriarcal, no formato intimidador do Código de Hamurabi, impondo leis ao cidadão, num exemplo claro: Se você não quiser entrar em desgraça, obedeça a lei! É como na execução pública de protestantes sendo queimados vivos sob a chancela da sanguinária Maria Tudor, sendo duríssimo imaginar uma forma de execução mais cruel, num monarca que diz agir em nome de Jesus, mas num monarca que definitivamente não ama seus irmãos, em Caim eternamente matando Abel. Aqui é um quadro de labor, pois a pastora não está necessariamente se divertindo, numa ironia de metalinguagem – ao WH trabalhar para pintar tal quadro, é labor falando de labor. Aqui é um certo quadro de solidão, como nos  deprimentes invernos escandinavos, com seis meses de neve ao ano, num povo com altas taxas de depressão, sonhando com terras quentes e exuberantes como o Brasil. Aqui é um momento de rotina, na faxineira chegando numa casa e começando a rotina de limpeza, como na rotina de se chegar em casa no fim do dia e tomar um banho, num homem laborioso que deixou murchar o romantismo num casamento, como num homem que conheço, o qual foi rechaçado pela própria esposa por frustrar esta ao faltar com o romantismo da Lua de Mel – mulheres gostam de homens centrados e, ao mesmo tempo, românticos. O pasto aqui é a necessidade primordial de alimentação, nas vergonhosas taxas de fome no Brasil, com cidadãos que mal têm um punhado de arroz para cozinhar, em contextos tão pobres, num espírito que topou reencarnar em tal contexto sofrido para, assim, crescer como espírito, no caminho da mortificação espiritual, até o ponto da pessoa desprezar bobagens e sinais auspiciosos, como tolas alas vips de boates, no modo como o Mundo pertence às pessoas dignas de respeito. Esta pastagem remete à belíssima estrada da Rota do Sol, que liga a Serra Gaúcha ao Litoral Norte do RS, com campos vastos cheios de gado pastando, com matas virgens de araucárias, no recorte geológico serrano ao se descer a Serra para o Litoral, no modo como Tao veste os campos com roupas majestosas.

 


Acima, Tarde quente. Claro que temos aqui um delicioso momento de languidez, na canção Lazy Afternoon, de Barbra, ou seja, Tarde Preguiçosa, na diva dizendo que, na maior parte do tempo, quer deitar sob uma árvore e nada mais fazer, no modo como, não canso de dizer, foi da Preguiça que nasceram as grandes invenções da Humanidade, como a Roda – para que me matar carregando coisas se posso colocá-las numa carroça? Aqui é um momento de ouro, num merecido descanso, como abandonar temporariamente o labor, num delicioso dolce far niente, num nada fazer, como deitar numa banheira morna, no acalentador útero materno, quentinho, agradável, no trauma que é vir ao frio e duro Mundo, no nenê chorando enquanto os outros riem em seu nascimento, no “choque térmico” que é voltar do submundo, encarando a Mundo, o velho e bom Senso Comum, no fato de que nossos pais não nos colocaram no Mundo para um submundo, mas para o Mundo, havendo no submundo tal ilusão, tal mentira, tal escuridão, num submundo preto, escuro, pestilento, com seus próprios subvalores que destoam do Senso Comum, pois o submundo, acredite em mim, é uma prisão para a mente, sendo raras as pessoas que conseguem se libertar de tal Alcatraz, o presídio de fuga impossível, como baratas sobrevivendo a hecatombes nucleares, como um artista sobrevivendo a décadas de carreira, na necessidade de reinvenção, tendo a força para virar as páginas e encarar novos desafios. A vida aqui descansa, e até as ovelhas descansam, como professores na sala dos professores, durante o intervalo no meio da manhã, fumando, tomando um café e conversando para que, vinte minutos depois, toque a sineta, assinalando o momento de se voltar para o sério labor, no termo “Vamos tocar o barco”, num intervalo necessário, como no descanso entre encarnações, na ironia de que o Céu, a Paraíso Celeste, é feito de tanto labor quanto na Terra, e ninguém pode ficar permanentemente inativo, no poder terapêutico do trabalho, a única coisa que pode manter sãs nossas mentes, na sábias palavras de DiCaprio: “Não pode faltar trabalho”. Aqui tudo transcorre com tranquilidade, no modo como a Preguiça nos remete ao comportamento limpo e minimalista, só sendo necessário que tomemos ação quando esta é imprescindível: Quando você precisa agir, só faça o que é necessário, pois as desnecessidades, as frescuras, por assim dizer, não como sujeira, como num bom publicitário concebendo um anúncio limpo, clean, leve, iluminado, perfumado, puro. O pasto aqui é um tapete, um carpete de sala de estar, com um anfitrião fino, que nos deixa à vontade, no modo como ouvi dizer de um certo psicoterapeuta na TV: “A Bem é sempre agradável; o Mal, desagradável”. Simples, não? E não é o Umbral a dimensão da grosseira e da infelicidade? Não pertence ao Umbral a pessoa que falta com o apuro moral? As ovelhinhas sentadas ao lado são a fidelidade e o companheirismo, num fiel cachorro que sempre segue o dono, nos golpes evolutivos que transformaram lobos em cachorros, nos mistérios evolutivos que desafiam a criação bíblica do Mundo, mas como no título de uma Campanha da Fraternidade Católica: “Preservar a criação”, ou seja, no ponto de concórdia entre ecologistas e padres, havendo na Concórdia a única força que pode reunir irmãos em torno do que importa, que é Tao, o presente da Vida Eterna – não é poder demais ver que jamais findaremos? É tanto poder que nos dá quase uma vertigem! Tudo aqui parece estar em ordem, e o pastor sabe disso, descansando ao ver que as coisas vão se ajeitando, como pedras se sedimentando no caminhar de um caminhão de carga, no modo como Tao é aquilo que acontece naturalmente, como no crescimento evolutivo moral de um espírito, pois a evolução moral é o sentido da vida, até chegar ao ponto dos arcanjos de perfeição e de autenticidade, num espírito que não quer enganar seus próprios irmãos, sendo um inferno astral a vida de uma pessoa que só quer enganar os outros, pois a felicidade só é de quem é digno desta. Aqui o pasto vai ondulando em morros vales, numa sensualidade curvilínea, feminina, como Monroe.

 

Referências bibliográficas:

 

Winslow Homer. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 30 nov. 2022.

Winslow Homer. Disponível em: <www.mutualart.com>. Acesso em: 30 nov. 2022.

Winslow Homer. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 30 nov. 2022.

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