quarta-feira, 5 de abril de 2023

Um Homem chamado Homer (Parte 4 de 8)

 

 

Falo pela quarta vez sobre o artista americano Winslow Homer. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, A rede do arenque. Como Winslow adora cenas de pesca! Aqui é a batalha para o pão de cada dia, nas palavras de um homem sábio que conheci: “A Vida é difícil em qualquer lugar!”. Os remos aqui formam uma cruz, num ato (in)consciente de Homer, no modo como temos que “passar” por Jesus, o espírito mais depurado e nobre que já encarnou na Terra, gerando todos os ramos de Cristianismo que temos hoje, abrangendo o Espiritismo, doutrina respeitada pelos católicos, ao contrário de uma pessoa católica já falecida de minha família, a qual não aceitava o conceito de reencarnação, uma pessoa que, já desencarnada, deparou-se, lá em cima, com o fato de que a Vida continua e que, se você quiser, você pode abraçar uma nova encarnação na Terra em uma nova missão – os espíritas não estão errados, pois a generosidade eterna de Tao sempre nos dá uma nova chance e uma nova página em branco, na paciência eterna de Tao, o Pai que vê um futuro glorioso para cada um de nós, sem exceção, pois não canso de dizer que somos todos príncipes, filhos do mesmo Rei, tendo este o poder incompreensível da Eternidade, este presente supremo – jamais findaremos, e não é isso poder demais? O cenário aqui é de vicissitude, de dificuldade, nas responsabilidades de um homem em prover um lar, num pai zeloso, esforçado, que sente nas costas tal peso de responsabilidade, dividindo as tarefas com a esposa, que cuida da casa e dos filhos, fazendo do casamento uma conveniência e não exatamente um ato de pura paixão pela esposa. Aqui é uma vida dura, como numa senhora pobre que conheço, a qual vende flores nas esquinas de minha cidade, uma pessoa que, provavelmente, encara dias em que não vende um só buquê de flores, num espírito que topou reencarnar num contexto duro, para, assim, crescer moralmente como espírito – qualquer vida tem sentido e propósito, e ninguém está na Terra “a passeio” puramente. Aqui vemos uma parceria e um trabalho em equipe, como nos departamentos de uma empresa ou sociedade, como numa banda de música, ou seja, um casamento sem sexo, em bandas longevas como U2 e Rolling Stones, tendo que haver paciência para que um ature os defeitos do outro, no desfalque gigantesco que foi a saída do lendário guitarrista Slash dos Guns n’ Roses, ou como a saída dos atores Carlos Villagrán e Ramon Valdez dos seriados de Chaves e Chapolin, na frequência de desentendimentos inevitáveis, como vai pela TV uma reunião de pauta entre os integrantes da boyband Backstreet Boys, com integrantes gritando uns com os outros, calejados por décadas de convívio dentro e fora dos palcos. O cenário é cinzento e sério, nos homens absolutamente focados e objetivados, como num psiquiatra seríssimo que conheço, um homem com uma aura intimidadora, uma pessoa que, apesar de tão dura, tem lá seu lado lúdico, sendo um profissional impecável e competente. Aqui são homens entalhados na dureza da Vida, e graças aos céus os peixes caíram na rede. Aqui é na metáfora de um sociopata, o qual, em sua diabólica inteligência, quer nos envolver em tais teias ardilosas, como na aranha que, ao tecer a teia, tem uma posição passiva, esperando aprisionar uma mosquinha distraída, como no filme pesado, porém excelente, que é O Silêncio dos Inocentes, como uma moça a qual, com nobres e gentis intenções, acaba capturada por um homem de ABSOLUTA miséria moral, um espírito que tem pela frente um looongo caminho de evolução, pois ninguém é sociopata para sempre, como uma sociopata que conheci, uma pessoa que, num dia, formar-se-á na “faculdade”, tornando-se um espírito de luz, um arcanjo de perfeição moral, numa pessoa que odeia mentir, mas este galgar exige muitas encarnações, e uma só encarnação não é o suficiente. Ao fundo, de forma bem apagada, vemos navios muitos maiores do que este humilde barquinho pesqueiro, numa concorrência, numa certa indústria química da Serra Gaúcha, fabricando produtos que buscam concorrer com gigantes como a Unilever, ma metáfora do pequenino que derrota o gigante, num ato de muita coragem. Estes homens aqui vão chegar em casa famintos e exaustos, depois de um longo dia “ralando o coco”, na pessoa encarando tal lida.

 


Acima, Luar. O fascínio que a Lua sempre exerceu sobre o Homo sapiens, no costume de se ver divindade em cada elemento da Natureza, no modo do egípcio antigo de fazer deuses com a cabeça de animais, como o gato, o crocodilo, o chacal etc., no politeísmo pagão mais tarde derrubado pelo monoteísmo cristão, até o ponto em que o imperador romano se converteu ao Cristianismo, numa Roma a qual, anteriormente, queimava cristãos vivos em fogueiras, algo feito posteriormente pelos cristãos da Santa Inquisição, como na sanguinária Maria Tudor, fazendo coisas que Jesus jamais faria, como queimar uma pessoa viva – é muita crueldade, meu irmão! O mar aqui é paradisíaco, longe do mar revolto escolhido pelo desafiador surfista, ao contrário de uma pessoa em degradante situação de Rua, uma pessoa que quer fugir da Vida e do labor, pois o Mundo pertence aos dignos merecedores de respeito – como posso ser respeitado se nada faço para exigir tal respeito? Aqui vemos duas pessoas, numa sedutora noite tropical, nos versos de uma canção: “À noite vai ter Lua cheia – tudo pode acontecer!”. É no calor de uma Lua de Mel, calor que pode esfriar perante o dia a dia antirromântico de um casamento, como um homem pragmático que conheço, o qual já levou chutes de mulheres, tendo estas tidos expectativas românticas, remetendo ao anti herói Radicci, do talentoso cartunista gaúcho Carlos Iotti, um personagem que definitivamente não entende o que é romantismo, como uma esposa que tem a sensação de que não casou muito bem... Aqui é como um prato de prata, de metal, de aço inox, refletindo a luz solar, no modo como o homem antigo acreditava que a Lua tinha luz própria, como o Sol. A Lua é a magia da feminilidade, nos seus ciclos loucos, ignorando o modo racional de contagem de tempo, nas dores uterinas da menstruação, na memória que tenho de uma colega no Ensino Médio, uma menina em um ápice de cólica, tendo que tomar remédios para abrandar tal dor – como é duro ser mulher! Aqui temos uma majestosa noite, e a água do mar reflete a Lua, na erótica luz lunar, pois é uma luz que tanto exibe quanto esconde, em noites claras de luar como na canção Aquarela do Brasil, no fascínio que tal país exerce sobre nações não tropicais, como em terras paradisíacas como o estado da Bahia, no ano inteiro com praticamente a mesma amplitude térmica, numa terra que jamais atinge os picos de calor do Verão portoalegrense, por exemplo. Aqui é no clipe Frozen, do monstro pop Madonna, numa sacerdotisa mística que hipnotiza o cão nos véus de luar, havendo no cão o princípio masculino, que contempla incrédulo o místico Yin da mulher, num momento de renascimento na carreira da cantora, a qual, apesar de não ter a excelência vocal de Lady Gaga ou Cristina Aguilera, brilha muito com seus álbuns e canções, havendo uma compensação em Madonna, que é um instinto estilístico monstruoso, numa das mulheres mais notáveis da História da Humanidade, desafiando a misoginia patriarcal, na qual a mulher tem que sempre estar num nível abaixo do homem – é muito preconceito! Podemos ouvir aqui o requebrar gentil das ondinhas, num mar doce, delicioso, na delícia do interior uterino, o lugar em que estamos tão à vontade, no trauma que é sair dali e vir ao frio Mundo: quando eu nasci, todos riram e eu chorei; quando morri, eu ri e todos choraram! Aqui é o poder gravitacional da Lua, regendo as marés, opondo-se ao siso solar, o Pai que nos provê em dias úteis, sábados, domingos e feriados, em oposição à loucura lunar, com suas próprias regras e parâmetros, nas palavras de Fábio Jr.: “Cansei de tentar entender as mulheres – as mulheres são loucas!”. É a busca de um homem por metas e ambições, num homem que passa o dia envolto com o labor, voltando “à estaca zero” ao voltar para casa, numa esposa que exige, inflexivelmente, que tal homem tome um bom banho, na patroa colocando a casa em ordem e nos eixos, no termo machista “Rainha do Lar”, no preconceito de que uma mulher não pode ter metas ou ambições.

 


Acima, Luar, luz da ilha de Madeira. Aqui é um quadro ermo, talvez num artista fazendo a catarse de um sentimento de solidão, carência e abandono, como uma pessoa que conheço, a qual saiu da casa dos próprios pais para estudar em outra cidade, tendo esta pessoa enfrentado todo um sentimento de abandono, aparecendo de surpresa na casa dos pais numa manhã de domingo, chorando, no modo como não é fácil o “desmame”, ou seja, sair debaixo da asa dos zelos maternos. Aqui é um espetáculo natural com ou sem plateia, em ondas indiferentes, que quebram incessantemente o ano todo, indiferentes às levas de turistas que vêm e vão em cada veraneio. Aqui é a necessidade de uma pitada de solidão, pois todos precisam de momentos a sós, como no divertido filme Dogma, que acaba reverenciando a fé cristã, havendo no filme um anjo contando que há momentos em que Deus desaparece, e ninguém sabe onde Ele está, no Senhor Supremo em seu reservado momento de retiro e solidão, remetendo a um certo casamento que não deu certo, no qual a esposa foi trabalhar no escritório do próprio marido, ao contrário de outro casal que conheço, os quais, já aposentados, ficam alguns dias da semana sem ver um ao outro, e isso é muito saudável. Aqui temos tais traços impressionistas, num estilo que tanto furor e escândalo causou, tornando-se, depois, clássico, um must, com o Met novaiorquino orgulhosamente exibindo obras primas de Monet, no modo como as transgressões são necessárias para o desenvolvimento de uma sociedade, em sopros de renovação como na Renascença, quebrando os moldes góticos e trazendo algo tão inédito, como no início pop estilístico dos anos 1990, trazendo uma certa nostalgia dos anos 1960, em bandas como o Deee-Lite, já extinta, infelizmente, uma banda que deu toda uma matiz a tal momento da Humanidade, no modo como o sucesso é um amante infiel – estará ele amanhã comigo? Aqui não vemos a Lua mas vemos o luar, nas ágeis pinceladas que dão ao efeito de movimento, trazendo ícones como Cézanne, o pai dos impressionistas, nas icônicas gêmeas de Renoir no MASP, no modo como o advento de novos movimentos traz tal transgressão, como na moda dos anos 1980, com cabelos arrepiados e gírias como “chocante”, numa época de tamanha sinergia entre estilo, moda, cinema e música, no nascimento dos shopping centers e da jovial MTV, só chegando ao Brasil anos depois. No quadro vemos sutis pinceladas azuis, discretas, no modo como dá gosto de se ver uma mulher estilosa, com peças de roupa e acessórios que conversam em harmonia, com cada peça puxando para um tom diferente de azul, no modo como estilo vem de dentro, e, se tenho estilo e critérios dentro de minha cabeça, posso me vestir em lojas comuns e baratas e, mesmo assim, estar extremamente bem, parecendo que me vesti com roupas caras, pois quando não tenho estilo, tenho que ser um “escravo” de grifes caras e pretensiosas – talento vem de dentro. Aqui temos corajosas pinceladas alvas, que refletem o luar na água espumosa, no fascínio que a beiramar exerce sobre um veranista, acessível até para quem não tem como comprar ou alugar um imóvel num balneário, com ônibus de turistas que passam o dia na praia e, depois, retornam de ônibus para casa, no modo como a beiramar é um lugar tão democrático, que abrange todas as classes, no Útero Supremo que tem a todos como filhos extremamente especiais, num Pai que nunca faz diferenças, crente de que cada filho é único. De forma extremamente sutil, quase apagada, vemos luzes ao fundo, talvez num paladino farol guiando marinheiros, em luzes distantes da cidade, como na claustrofobia do romance policial O Caso dos Dez Negrinhos, da mestra Agatha Christie, com pessoas aprisionadas numa ilha cruel, como um personagem sendo assassinado depois do outro, sendo uma mulher um dos maiores gênios literários da História, na vitória do talento sobre o preconceito. Céu e mar aqui formam um continuum, quase iguais, no modo como os notívagos amam a noite, como em boêmios em bares, na máxima popular “A noite é uma criança!”, ou seja, a boemia se estende, como na cena da Audrey Hepburn comendo croissant de manhã, vendo joias em vitrines.

 


Acima, Luz do Sol na costa. Aqui a luz traz uma esperança, talvez para uma pessoa num fundo de poço existencial, tendo que empreender um esforço ENORME para se reerguer, numa demanda de Vida, demanda que pode durar por muitos anos, como uma pessoa que se envolveu com drogas, numa vida tão devastada, na história de vida de um senhor que conheço, o qual está condenado a “prisão perpétua”, um senhor que se envolveu com drogas e que, simplesmente, jamais sairá da clínica psiquiátrica onde está, impedido de viver, trabalhar, realizar-se, namorar, viajar, constituir patrimônio, constituir família e ganhar netos – é muito deprimente, neste poder devastador que a droga tem, num sofrimento imensurável, num senhor que, no fundo, é uma pessoa boa e inofensiva, apresentando claras sequelas por causa das drogas que tanto consumiu, um senhor que, em tamanha sequela, acha que um dia receberá alta para poder ir cheirar cocaína novamente. As rochas aqui são firmes, no modo como as mulheres gostam de homens firmes, pragmáticos, centrados e pés no chão, uma rocha firme à qual a mulher pode se agarrar, um homem que dê a sensação de segurança e estabilidade, na credibilidade do Yang, na certeza de luz que elimina a noite; por outro lado, as mulheres gostam também de homens românticos e cavalheiros, num casamento no qual pode esfriar o calor da Lua de Mel. As rochas aqui são firmes e impávidas, firmes em certeza, com garantia, num homem que se garante perante as donzelas delicadas, num homem que entregou aos próprios sogros uma proposta de casamento altamente digna de respeito, ganhando o respeito e o aval destes. A espuma aqui é reconfortante, num bom banho glamoroso de banheira, com dois enamorados tomando banho juntos, em pitadas de romantismo, como a mulher, ao tomar o café da manhã com o marido, o faz sentada no colo dele – o melhor da vida é grátis. Aqui é a espuma do vinho espumante, dando na boca uma sensação maravilhosa de cremosidade, em clássicos como a champanha Veuve Clicquot, bebida de rei, custando 500 reais a garrafa, tradicional ao ponto de ter sido servida por Dom Pedro I na festa de Independência do Brasil, remetendo ao suntuoso complexo do Ipiranga na cidade de São Paulo, pois os brasileiros não foram encontrados numa “lata de lixo”; os brasileiros têm uma história e uma proveniência, e o próprio brasileiro tem que cultuar isso. Aqui é um vaivém de coito interminável, com céu e terra fazendo amor e trazendo a chuva. Aqui é a melancólica história original de A Pequena Sereia, de Disney, na qual a sereia não casa e torna-se triste espuma dos mares, num Disney fazendo a catarse de toda uma melancolia, banhada a muita sensibilidade, num Disney tão pioneiro e empreendedor, inaugurando o onírico parque da Disneylândia na Califórnia, um lugar em que todos viramos crianças novamente, como em Gramado, na loja que faz bichinhos de pelúcia personalizados, numa cidade que tanto se enfeita para agradar o turista, com seus doces chocolates, no gostoso pecadinho capital da Gula, remetendo à embalagem do chocolate em pó da Nestlé, com dois frades preparando um belo doce de chocolate – não tenha tanta culpa em relação ao prazer! O mar respira no vaivém, em toda a Vida respirando, nas cheias sazonais do Nilo, essenciais ao Egito, o qual já foi uma superpotência militarmente temida – impérios ascendem e descendem, na sabedoria da figura folclórica do Preto Velho, quietinho no seu canto, observando tais reis indo e vindo em suas vaidades mundanas, pois a arrogância precede a queda, como uma pessoa que, em soberba, encarou uma internação psiquiátrica, levando um “banho de água fria”, observando que ninguém é o centro do Universo, e Tao é isto, este vazio eterno, o nada, num vão em que caminhamos e vivemos, num Tao poderosíssimo, que nos deu o presente da Vida Eterna, sobre a qual não é possível de se falar, pois o Tao sobre o qual podemos falar não é o verdadeiro Deus, fazendo da verdade uma mentira!

 


Acima, Pesca do caranguejo. Um trabalho em família, remetendo-me a uma família de chineses que tinha um restaurante na praça de alimentação de um shopping em Porto Alegre – a mãe operava o caixa, a filha dava amostras aos clientes no corredor e o restante da família cozinhava no lado de trás, como em famílias de colonos italianos, com cada um fazendo sua parte no labor, como nas exaustivas colheitas de uva, remetendo-me a uma empregada doméstica que minha família e eu tivemos, uma empregada que definitivamente não queria tirar férias em tempos de vindima, pois sabia que encararia tal árduo trabalho junto à sua família. Aqui temos uma prova das majestosas pinceladas de Winslow Homer, com o barco refletindo na água, num efeito maravilhoso de reflexão, no espelho de Narciso, afogando-se em seu próprio amor fixado e obsessivo, no modo como o Ser Humano tem tal ego, tal vaidade, num artista que pisa deliberadamente atrasado num palco: “Eu não nasci para esperar; eu nasci para ser esperado!”, e isso se transforma numa arrogância e numa deselegância, desrespeitando o espectador que chegou pontualmente ao local do show, ou como num médico que nos deixa muito tempo esperando numa sala de espera, faltando com a palavra; atendendo-nos muito tempo depois do prometido. Homer ama essas cenas de mar, barco e pesca, num homem hipnotizado pela orla, este lugar delicioso que nos dá uma enorme sensação de liberdade e comodidade, ao contrário de orlas sujas, cheias de tocos de cigarro, garrafas, latinhas e canudos, nessa capacidade do Ser Humano em emporcalhar a Natureza, no eterno problema do descarte do lixo plástico, remetendo a uma certa atriz, a qual foi clicada recolhendo, possessa, o lixo que as pessoas jogavam na areia das praias do Rio de Janeiro. O barco aqui oscila e balança, na sensação do líquido amniótico delicioso, no bebê tão à vontade na barriga da mãe, na deliciosa sensação de liberdade das Experiências Extracorporais, as EECs espíritas, nas quais a pessoa sai momentaneamente do corpo físico e tem uma amostrinha da plenitude metafísica, na graça e na bênção de sermos emoldurados por uma radiante aura luminosa, na glória da plenitude metafísica, na pessoa que morreu, rejuvenesceu e ficará jovem para sempre, na metáfora do filme Vanilla Sky, com Tom Cruise, este homem que, apesar de ser tal medalhão de Hollywood, teve lá seus deslizes na carreira – ninguém está por cima o tempo todo, no prêmio deboche que é a Framboesa de Ouro, premiando os piores, numa corajosa Hale Berry a qual, anos antes tendo recebido um Oscar, foi receber sua Framboesa pela bomba Mulhergato. Que coragem, Hale! Céu e mar aqui são cinzentos, incertos, numa tarde de Inverno, em férias de julho, no prazer gaúcho de se comer um pinhão quentinho, debaixo de uma coberta, nos encantos que cada estação climática tem a nos oferecer, na frase da qual não me esqueço: “Desfrute do momento!”. Aqui temos algo incauto, pois no bote não há equipamentos salvavidas, num risco que se corre, remetendo às épocas em que os carros não tinham cintos de segurança, remetendo-me a um grave acidente de carro que tive com minha família anos atrás, pois, se não fosse pelos cintos de segurança, certamente estaríamos todos mortos, nesses eventos duros e traumáticos que fazem com que “nasçamos de novo”. Apenas o homem aqui parece trabalhar de fato, pois as três meninas parecem estar a passeio, como uma pessoa que fica anos e anos na faculdade, cursando poucas cadeiras por semestre – forme-se de uma vez, rapaz! O homem é o siso e a seriedade; as meninas, a descontração, sustentadas pelo pai, num quadro em que há muito coração e pouca cabeça, como hoje vi na Rua uma indígena paupérrima com três crianças pequenas – nunca ouça só o coração! A gaiola de pesca aqui parece estar cheia, e o pão do dia está ganho, como levar um bom pão para casa e comer com vinho, um jantar tão simples e maravilhoso, no charme parisiense de uma cidade que tanta Arte pulsa, em lugares tão incríveis como o Louvre, num charme que tanto seduz a cidade de Nova York, numa espécie de eurocentrismo, na ocidentalização do Mundo.

 


Acima, Pesca do tubarão. Aqui é a virilidade do pescador, com a força para encarar as forças da Natureza. O temível tubarão aqui foi vencido e morto, com agressividade derrubando agressividade, como num belo jogo entre dois times, para vermos qual dos dois é o melhor. O corpo do homem aqui é entalhado pela dureza do dia a dia, num homem que sequer precisa entrar numa academia de musculação para ter tal corpo, ao contrário de uma pessoa rica, a qual só pode ter corpo se “puxar fero” – cada um com sua cruz! O homenzarrão aqui é tal protagonista, numa saga de algum herói, como o personagem Conan, o homem extremamente viril que jamais deixará que seja ferida tal masculinidade. O homem aqui é negro, na força de trabalho escravo que tantas sequelas causou ao continente africano, nas pedras preciosas africanas que enfeitam adornos de monarcas ingleses: Como são ricos! E roubaram tudo dos pobres! É o modo como as riquezas minerais brasileiras foram sugadas ao máximo pelas vaidades das cortes europeias, na capacidade de irmão explorar irmão, tudo em nome da vaidade humana, a qual é escrava do Anel de Tolkien, o anel capaz de corromper o mais nobre homem, na avidez de assaltantes assaltando carros forte – acima de tudo, o Ser Humano quer poder, como em certas instituições, as quais se aproveitam da ignorância das pessoas, num pleno e absoluto vampirismo. Aqui é uma cena de êxito e vitória, numa recompensa depois de um duro trabalho, como um tenista suado recebendo sua taça, na máxima “Não há vitória sem luta”, remetendo a uma pessoa que conheço, a qual está absolutamente prostrada perante a Vida, na frase de uma certa médium espírita: “Deus não quer nos atiremos nas cordas!”. O homem e o tubarão são corpulentos, fortes, musculosos, e houve aqui um embate e um enfrentamento, para ver se quem vence é homem ou animal, na liberação total da caça de javalis, os quais têm a capacidade de dizimar milharais inteiros. O bicho abatido renderá muitas refeições, talvez indo parar em mesas de restaurantes chiques, num produto obtido de uma forma tão intensa e laboriosa, contrastando com os finos cristais de tais restaurantes sofisticados. Aqui é um paciente trabalho de persistência, numa pessoa que, tendo potencial, tem que persistir, não tendo medo das vicissitudes, mas, quando não há potencial, a persistência se transforma em teimosia e obstinação tola, como numa certa moça, a qual se inscreveu duas vezes no concurso para Rainha da Festa da Uva. Neste barco, temos um ator coadjuvante, discreto, mínimo, como no papel de uma mulher perante seu homem, como no Antigo Egito, um país em que o máximo que uma mulher poderia chegar era ser a esposa preferencial no numeroso harém do faraó, abrindo exceções como Hatshepsut, a mulher que se impôs como faraó na corte após a morte de seu marido faraó, tornando-se a primeira feminista da História. O peixe aqui tem aspecto cadavérico, morto, absolutamente abatido, como no sono profundo do Marte de Botticelli, perante uma desperta Vênus, remetendo-me quando hoje vi, num café, um computador de um cliente cujo fundo de tela era o rosto da Vênus na concha de Botticelli, na atemporalidade de tais gênios da Arte – trabalho bom não tem prazo de validade, como um bom hit musical que marcou época, na invencibilidade de um Michael Jackson, o homem que passou sua própria vida tentando superar o esmagador sucesso da canção Thriller, transformando-se em um lobisomem diante do Mundo, abrindo mão da vaidade, no modo como a Academia de Hollywood adora atores que se desfiguram para um papel. O homem aqui é a força do Yang, nos homens corpulentos de Aldo Locatelli, musculosos, fortes, entalhados pelo árduo labor de agricultor, explorando terras virgens e selvagens, talvez enfrentando indígenas. Aqui, não há um menino, mas um homem, um homem que assim se fez na Vida, na capacidade de prover um lar, numa enorme responsabilidade de provedor. O tubarão aqui está domesticado, domado, vencido, no Homo sapiens se afirmando como a espécie dominante no planeta.

 

Referências bibliográficas:

 

Winslow Homer. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 30 nov. 2022.

Winslow Homer. Disponível em: <www.mutualart.com>. Acesso em: 30 nov. 2022.

Winslow Homer. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 30 nov. 2022.

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