quarta-feira, 17 de maio de 2023

Lúdico Ludwig (Parte 2 de 6)

 

 

Falo pela segunda vez sobre o artista alemão expressionista Ernst Ludwig Kirchner. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, A ponte em prados. A ponte é a ligação entre duas pessoas, num relacionamento, numa conexão, num grau de intimidade em que duas pessoas podem conversar por telepatia, sem proferir uma só palavra. A ponte é esta conexão entre artista e espectador, fazendo da Arte tal elemento de ligação entre seres humanos, pois a Arte é a prova da inteligência e da criatividade humanas, no fato de que os macacos não pintam nem esculpem. Aqui é uma paisagem alpina, com seus pinheiros altivos, abrasivos, apontando para o céu, como nas altivas araucárias, erguendo-se ao alto, na magia e na beleza de paisagens serranas, no modo como a Serra Gaúcha encanta tantos turistas todos os anos, num lugar tão adaptado a encantar as pessoas, num dos principais destinos turísticos brasileiros. A ponte é este orgulho de obra humana, como no trem no Canal da Mancha, nesses talentos humanos de Engenharia, em obras grandiosas como canais artificiais que ligam oceanos antes desconectados. A ponte é como na obra grandiosa da Rota do Sol, que liga a Serra Gaúcha ao Litoral Norte Gaúcho, em provas de desenvolvimento de construção. A ponte é o entendimento e a concórdia entre duas pessoas, ou entre dois países, em pontes que se tornam símbolos de tal amizade entre países, como o rio Uruguai separa a Brasil de outras terras. A ponte é tal amizade e relacionamento, numa construção de relacionamento, no modo como, na idade adulta, tornam-se relacionamentos os moldes infantis e adolescentes de amizade, na questão da Eternidade, a qual gera relacionamentos leves, sutis, delicados e, assim, fortíssimos, pois teremos toda a Eternidade para nos relacionar com tais pessoas, em amizades leves, finas como o mais fino cristal, pois na Eternidade há tempo para absolutamente tudo, e não há razão ou espaço para relacionamentos obcecados e apegados, como no filme espírita E a Vida continua, com um espírito obcecado e fixado em outro espírito, num amor doente, pois o sentimento de possessão não é saudável, pois somos todos irmãos, príncipes filhos do mesmo Rei, havendo nas realezas mundanas cópias do sangue divino estelar que corre nas veias de todos nós, filhos de Tao, a Inteligência Suprema, pois existe alguém que nos ama profundamente, alguém que nos fez com perfeição e exclusividade, pois as pessoas são únicas, inconfundíveis, apolíneas, na beleza eterna da Vida incessante, num Cosmos vasto, que é a prova do poder imenso de Tao, o grande, dando inveja a qualquer rei ambicioso na Terra, como num insano Vladimir Putin, promovendo uma guerra absolutamente desnecessária, falhando com qualquer tentativa nobre de diplomacia, invadindo um inocente e inofensivo país, num rei que nunca está feliz dentro de seu próprio território, sempre querendo anexar os lotes vizinhos, nos egos humanos que ascendem e descendem, com tantos impérios que nascem e perecem todos os dias, pois se deixo meu vizinho em paz, estou em paz, na grande vizinhança metafísica, na qual não há espaço para ambições mundanas, numa música de paz que impera indestrutível, num mundo de Amor em que as pessoas se respeitam e vivem suas vidas de forma produtiva e inofensiva. Aqui é uma paisagem bela, digna de cartão postal. A ponte é a diplomacia nobre, sempre primando pela civilidade, em nações neutras como a nobre Suíça, em países tão desenvolvidos, no modo como eu próprio não me envolvo em discussões políticas, pois sou neutro, não sendo de esquerda ou de direita, pois Jesus não resolveu os problemas do Mundo, mas segue como a promessa de um amanhã melhor, pacífico, numa irmandade eterna e inabalável, numa metáfora cromática: Azul e amarelos estarão sempre em estado de guerra, mas se sou verde, ou seja, se tenho um pouco dos dois, torno-me a promessa de um Mundo bem melhor, na figura de esperança do Espírito Santo. A ponte é a frase: “O Deus em mim reconhece o Deus em você!”. É o fato de que o Ser Humano é universal, e as diferenças culturais são superficiais e ilusórias, pois a questão humana é sempre a busca por Tao, por bondade, por nobreza, e o melhor que posso fazer é ser uma pessoa nobre e fina, acima de mediocridades grosseiras.

 


Acima, Amantes. Aqui é um gostoso grau de intimidade, no fazer amor ao invés de só fazer sexo, pois entre uma coisa e outra há um “abismo”. Como disse um certo travesti prostituto holandês: “Sempre uso preservativo, pois não ofereço intimidade; ofereço sexo somente”. O quadro aqui é alegre, na sensação de se estar apaixonado, levando flores para sua amada, no modo como a adúltera Anna Karenina foi execrada pelo corpo social, considerada uma mundana vulgar, sem virtude ou moralidade, muito longe de ser considerada uma dama nobre e digna de respeito. Aqui é a questão de se colocar a cabeça acima de tudo: Lençóis de cetim são muito românticos, mas o que acontece quando você não está na cama? Um vistoso buquê de flores é o caminho para o coração, mas as coisas precisam iniciar pela cabeça, como na adorável personagem Bridget Jones, a qual, apesar de apaixonada, exigiu tal seriedade de seu amado Mark Darcy, nessa capacidade do povo inglês em relação a discrição, na sisudez tradicional que tanto tolhe as marés do coração, do sentimento, como na Rose de Titanic, a qual deu adeus à própria mãe e foi abraçar o destino com Jack, numa película que tanta comoção causou no Mundo inteiro, num manifesto antiinsensibilidade, no poder da Arte em tocar as pessoas e causar comoções. Aqui, o colo é um acolhimento, como numa criança que quer colo e conforto, num consolo, no modo como a pessoa tem que encontrar consolo em aspectos simples da Vida, como olhar para um Céu de Brigadeiro, encher os pulmões de ar a agradecer a Deus por ter saúde, pois tudo na Terra gira em torno de saúde, havendo tal salubridade perfeita no Plano Metafísico, o lugar onde todos são jovens, saudáveis e produtivos, num lugar em que não há um só fiapo de poeira. Aqui é o termo “baby”, ou seja, “bebê”, em Inglês, um termo tão usado em letras de canções pop, num grau de carinho em que um cuida do outro como se o outro fosse um bebê, pois o melhor da Vida é de graça; pois o dinheiro compra tudo, mas não compra o que é o mais importante, que é Amor e carinho. Aqui é como no colo do bebê com a Madona, nessa figura poderosa de crença religiosa, na mulher à qual foi negado ter sexualidade, no modo como o Patriarcado castra a sexualidade feminina, como nas brutais mutilações genitais femininas em certas culturas, havendo a melhor das intenções na construção da imagem da Virgem Maria, uma imagem que busca nos remeter ao plano superior, à Divina Mãe que a todos nós gerou, no Útero Imaculado em um mágico domingo de Páscoa, com ovos coloridos numa cesta, num símbolo de Vida, pois não canso de dizer: A Vida é o nervo da Arte. Aqui é como Yin e Yang fazendo amor, gerando o Cosmos, a infindável sopa de galáxias que nos cerca, fazendo de nossa própria galáxia uma anônima galáxia; fazendo da Terra um pontinho azul pastel visto do espaço – afinal, o que há além da Terra? Aqui é no jogo de sedução entre masculino e feminino, no homem experiente com a mulher inexperiente; no homem com carreira e vida e na mulher virginal, sem história, num claro machismo, como sempre colocar a mulher num nível abaixo do homem, como na diferença salarial entre os sexos, no modo humano de buscar arquétipos cósmicos, como no rei Charles e na rainha Camila, nos versos de uma canção de Cher: “O que é esta mágica a qual buscamos? O poderoso forte e a poderosa fraca”. É no casal que gera o Mundo, perpetuando a Vida na Terra, como num certo consultório psiquiátrico o qual conheci, com o terapeuta sentado e, atrás dele, dois quadros, um remetendo ao masculino e o outro remetendo ao feminino, no modo taoista de que tudo tem Yin e Yang, ou seja, tudo traz em si sua própria contradição, na razão masculina e na loucura feminina, na eterna ironia de Tao, o grande piadista, o qual fez do Sexo tal comédia, nesses dois amantes se curtindo, colocando na porta do quarto de hotel a plaquinha de “Não perturbe”, nos amantes se curtindo do lado de dentro, deixando o Mundo lá fora, remoto, na recomendação de Tao: Entenda o poder do Yang, mas seja mais Yin dentro de você mesmo.

 


Acima, Amazona. A amazona é tal símbolo feminista de liberdade, na mulher que monta no cavalo como homem, e não como uma donzela desprovida de agressividade, numa transgressão, na coragem de uma mulher em ir “contra o vento” patriarcal, na líder de torcida que não está contentada em girar em torno do que importa, que é o jogo dos homens, no modo como o Futebol Masculino é mais prestigiado do que o Futebol Feminino, num Brasil que definitivamente não para em dias de jogo da Seleção Feminina de Futebol. O cavalo é tal fidelidade, tal domesticação, tal disciplina, num bicho tão altivo e majestoso, na prova do bom gosto de Tao, o grande criador, na majestade de um cavalo cavalgando impetuosamente, com suas crinas ao sabor do vento, num artista corajoso, ou numa artista mulher corajosa, fazendo da agressividade um instrumento feminista de libertação, numa mulher que não se contenta em ser uma anônima dona de casa, abraçando uma carreira e batalhando no ringue da Vida, no modo como pode ser malvista a mulher ambiciosa, com planos de carreira. Aqui é como na super-heroína She-Ra, com seu colorido cavalo alado Ventania, numa mulher com superforça, no manifesto feminista da Mulher Maravilha, a mulher que pode entortar canhões de tanques de guerra e dar uma surra em qualquer marmanjo fortão, numa personagem criada por um psicólogo, o qual, como tal, sabia da necessidade da pessoa desenvolver tanto Yin, que é a sensibilidade, quanto Yang, que é a agressividade, pois a pessoa não pode ter somente um destes, no modo de um consultório de Psicologia em nos dizer que temos que desenvolver aquilo que nos falta, na metáfora do desenho animando das Meninas Superpoderosas, as quais têm tanto Yin, que é beleza e graça, quanto Yang, que é agressividade. Aqui é a excitação de se cavalgar por campos de liberdade e ar puro, no discernimento: Cavalgar é delicioso, mas vai enlouquecer você de cansaço se você cavalgar demais! Ao fundo no quadro vemos um majestoso Sol, na transgressão do faraó herege Aquenáton em banir o tradicional politeísmo e trazer o culto a uma só divindade, Áton, o disco solar, num dos momentos mais peculiares da História do Antigo Egito, pois é a partir da transgressão que uma sociedade evolui, como nas deliciosas transgressões de Diana, a mulher que se tornou um must em um país no qual ninguém pode ser maior do que o monarca em exercício. Este quadro remete a um rapaz que conheci certa vez, o qual mentia e dizia que tinha um cavalo, um rapaz um tanto pernóstico, o qual dizia que cavalgar é um prazer quase sexual – vá inventar histórias para a senhora sua avó! A mentira tem pernas curtas, pois só a verdade é eterna. Aqui são essas paisagens nórdicas alemãs de Ernst, na liberdade ao ar livre, longe do cheiro de monóxido de carbono de urbes como Nova York, no aspecto curioso dos equilinhos do Central Park, os quais convivem tranquilamente com a cidade movimentada de carros e pessoas, no modo como a força da Vida sempre encontra um caminho para se desenvolver; no modo como o Amor sempre encontra um caminho, como rios desembocando em mares. A mulher nua cavalgando é a liberdade, numa pessoa que quer trilhar seus próprios caminhos, não deixando que o Mundo diga a Fulano como Fulano deve viver, pois que vida é esta na qual sou prisioneiro das expectativas de outrem? O cavalo é tal pet, tal bicho de estimação, na ancestral convívio do Homem com animais, domesticando e condicionando felinos, resultando no gato doméstico, nas palavras iniciais do filmão X-Men: “A mutação é a chave para a evolução”. A mulher aqui tem uma responsabilidade, que é cuidar do equino, alimentando e banhando o bicho, nas responsabilidades de se ter um cachorro, levando estes, todos os dias, para passear, defecar e urinar, levando o obrigatório saco plástico para catar as fezes do bicho, como uma pessoa solteirona que conheço, a qual busca consolo com seus próprios bichos. No entanto, mesmo sendo eu um solteirão, não tenho bicho, pois é uma escolha pessoal.

 


Acima, Autorretrato com modelo. Um momento de privacidade dentro do atelier, quando o modelo se coloca nos braços do artista, num ambiente silencioso, com o caos do Mundo longe, lá fora, no fascínio da paz em lugares reservados. O artista fuma um cachimbo, remetendo a Aldo Locatelli, o qual, reza a lenda, fumava um cigarro atrás do outro, falecendo de câncer de pulmão. O artista está bem à vontade, num roupão, confortável, como se estivesse em casa, nos gloriosos momentos de privacidade, sem as formalidades de se aprumar para ir à Rua. O roupão é listrado, com listras azuis e amarelas. As listras são a passagem do tempo entre dia e noite, como nas listras da máscara mortuária de Tutancâmon, na capacidade de uma pessoa em ver o Mundo assim, com as estações climáticas indo e vindo como ondas no mar, respirando sensualmente, como tudo na Natureza respira, no milagre da Vida, esta força enigmática que, de alguma forma, conseguiu prosperar na Terra, num mistério simples: qual é o combustível que faz um coração bater? A modelo aqui está de roupas íntimas, como num ator corajoso, que topa posar nu, como Madonna em início de carreira, posando nua, para depois, já estelar, posar nua novamente, causando um escândalo mundial, o que é uma bobagem, pois qual é o mal em uma mulher nua? Não é o corpo humano uma obra de Deus? Como o corpo humano pode ser feio ou vergonhoso? As cores são importantes para Kirchner, pois elas expressam emoções, como ocorre no paciente bipolar, o qual fica muito sensível a cores, reclamando de que as cores são muito fortes e chamativas, num distúrbio psíquico que pode ser tranquilamente controlado por meio de medicações, essas maravilhas da Ciência que encurtam enormemente o tempo de internação psiquiátrica – o que seria do Mundo sem a Ciência, em invenções simples como o analgésico e a anestesia? O amarelo aqui é o ouro, este metal que tanto fascina, com as reservas minerais brasileiras exauridas pela exploração portuguesa, ou como as riquezas minerais africanas confiscadas pela Inglaterra, nessa capacidade do Homem em explorar Homem, tudo em nome do maldito Anel do Poder, essa força que corrompe o mais nobre dos corações, na metáfora de Matrix: “O que um homem poderoso quer? Mais poder!”. O pincel é o falo, a força da expressão, numa verdade fálica sendo manifestada, no falo explorador, desbravador, desbravando terras virgens e encarando exóticos povos indígenas canibais, no longo caminho de depuração espiritual de um Ser Humano, numa série de encarnações, como cadeiras em uma faculdade, até o glorioso momento de formatura, com lições sendo aprendidas, na hora de se voltar para casa, para o Lar Primordial Celestial, o paraíso para os que gostam de estudar e trabalhar, ou seja, o paraíso para os que gostam de ter um norte nobre na Vida, ao contrário de miseráveis moradores de rua, os quais querem se esconder da Vida, vivendo de forma absolutamente degradante, tal o desejo de não querer encarar a Vida, nas palavras de uma certa médium espírita: “Deus não quer que nos atiremos nas cordas”, ou seja, Tao quer nos ver lutando sempre, ao contrário da pessoa depressiva, desanimada, prostrada dias em cima de uma cama, sem vontade de fazer coisas básicas, como tomar banho, numa depressão horrível, na qual a pessoa não vê sentido algum na Vida, como um surfista que não quer pegar ondas – é triste e doloroso. As cores aqui vibram como um buquê de flores para a amada, num homem apaixonado, talvez numa paixão não correspondida, pois, infelizmente, quem se apaixona, ferra-se, na necessidade da pessoa em ouvir a cabeça e não ouvir só o coração, pois Deus nos deu uma cabeça para esta ser usada, meu amigo, visto que o coração é traiçoeiro, sempre nos enganado em labirintos. O artista, de pés descalços, é a simplicidade, como andar de humildes chinelos na praia, na sensação de libertação que a orla nos traz, no vazio da beiramar sendo preenchido pelos passantes, pois a sensualidade reside exatamente nos espaços vazios, úteis ao serem ocupados.

 


Acima, Autorretrato com pessoa doente. A doença é um momento de vulnerabilidade, exigindo cuidados, como num casal, no termo “na saúde e na doença”, como a esposa acompanhando o marido num momento difícil de radioquimioterapia, num momento em que temos que ter a humildade para admitir que precisamos de ajuda, pois ninguém faz tudo sozinho. A cama é tal repouso, só que vai nos enlouquecer se ficarmos tempo demais na cama, no sentido da moderação. Aqui são os zelos de um hospital, como uma amiga minha, a qual, neste momento, está internada por causa de um AVC, e é claro que ela quer voltar para casa o quanto antes, pois como é dito em O Mágico de Oz: “Não existe lugar como nossa casa!”. O vermelho é o sangue de nobres doadores, como uma pessoa que conheço, a qual doa sangue periodicamente, numa intenção nobre, num ato de amor fraternal, como na dedicação de uma Madre Tereza, dedicando-se aos necessitados, numa vida tão sisuda e séria, talvez vindo de uma encarnação anterior na qual viveu de forma egoísta, sem se compadecer com os problemas do Mundo, como o personagem Oscar Shindler, um playboy que, no início, só pensava em roupas e, depois, acabou se compadecendo com o povo judeu, escrevendo a famosa lista que salvou vidas. A doença nos pede aqui um momento de pausa, na sabedoria de que na Vida as pausas são importantes, como fazer um intervalo entre as aulas de um turno, num espaçamento sábio, pois, sabemos, a Vida não é só labor, ao contrário de uma pessoa workaholic que conheci, a qual não tinha dignidade nem se dava ao respeito, fazendo absurdos como ficar quarenta e oito horas sem dormir, trabalhando obsessivamente – o Mundo não abona o workaholic, numa pessoa que, por um lado, tinha a virtude de ser guerreira mas, por outro lado, era guerreira demais, atirando-se nas tarefas como uma pessoa que mergulha numa piscina sem saber se esta estava cheia de água e se tinha profundidade suficiente, quebrando a cara e frustrando-se, no sabor amargo de tal decepção, resultando em grandes canções como A Boulevard dos Sonhos Despedaçados: “Hoje você ri; amanhã, chora”. O artista aqui em autorretrato está incerto, não sabendo se a doença vai matar, na malévola onda da Covid, atingindo em cheio todos no planeta Terra, em momentos difíceis como não sair de casa, num cenário parecido com o de guerra, como numa Paris erma, tomada pelos nazistas, com um cortejo do filho da puta Hitler, com o perdão do termo chulo, remetendo a um professor louco que conheci, o qual manifestava simpatia pelo Nazismo – Deus Jesus do Céu, que horror! Aqui é como a morte está tão presente nos ambientes hospitalares, com um paciente morrendo de AIDS ou Câncer, num ponto em que os tratamentos não mais surtem efeitos, pois a Maternidade é o único setor hospitalar onde há somente Vida, num médico que aprendeu a conviver com a Morte. A janela ao fundo é a esperança de uma saída para tal doença, em orações sendo feitas para o enfermo sarar, na crença espírita de que uma oração feita com sinceridade chega à pessoa pela qual se reza, como na reza em torno do féretro no velório, num momento em que a pessoa tem que entender que seus dias na Terra acabaram, e que a pessoa tem que abraçar uma nova vida, que é a Vida Metafísica, no lugar maravilhoso onde há saúde inabalável e paz infindável, ao contrário do lugar duro e difícil que é a Terra, esta faculdade que tanto nos faz evoluir como pessoa. A vela acesa é a esperança, num pontinho de luz em meio à escuridão da doença; a vela é a vida lutando para sobreviver, como em baratas sobrevivendo a hecatombes nucleares, como artistas guerreiros como Cher, sobrevivendo por décadas nesse ambiente difícil que é o Showbusiness Internacional, o mundo da celebrização que tanto pode me adotar quanto me descartar. Aqui remete a épocas duras, quando não havia medicamentos simples para dor e febre, ou como um câncer ceifou a vida de Evita numa época sem os recursos de controle de um câncer, numa mulher tão amada e odiada, aparecendo pintada em muros de Buenos Aires a frase: “Viva o câncer!”.

 


Acima, Autorretrato com um soldado. Ao fundo temos uma figura um tanto andrógina, pois não vemos claros seios, mas não vemos pênis também, na questão da assexualidade dos anjos, pois sexo e sexualidade tangem ao corpo físico, e quando este é deixado para trás, sexo e sexualidade também o são, nas divertidas palavras de Elke Maravilha, sobre ser idosa e não mais sentir libido: “Você não sente mais tesão na perereca! É uma libertação!”. Um dos braços da figura principal parece estar mutilado, excluído, como num processo de limpeza e exclusão, num caminho clean, minimalista, fazendo metáfora com a mortificação espiritual, na qual a pessoa para de pensar em bobagens e foca-se somente no necessário, numa vida dura que vai fazendo de nós pessoas menos frívolas e mais conscientes, com os pés no chão. O cigarro é a dependência e o vício, como numa cadeira de rodas ou uma prisão, na paciência que um não fumante tem que ter para aturar, por mais de meio século, um marido fumante, pois com o fumante é assim: Sempre tem que acender um novo cigarro, pois nunca é o suficiente, no modo como a classe dos atores americanos fuma tanto, numa brincadeira que faço aqui: Se você é um ator americano que não fuma, você não é aceito no sindicato! A barba feita é o garbo e a disciplina militar, numa experiência brutalizante, como operar uma arma que fará Caim matar Abel, nesse malévolo dom humano em irmão derramar sangue de irmão, como na sequela de quem detonou a infame bomba de Hiroshima: Deus do Céu, o que fiz?! O uniforme é tal disciplina, impecavelmente limpo e engomado, na rígida disciplina militar, punindo severamente o militar que faltar com o respeito ao seu superior, ao contrário da disciplina espiritual metafísica, a qual é imposta de forma suave, irresistível, até chegar a um ponto em que faço máxima questão de obedecer às ordens de meu irmão superior, numa hierarquia que gira em torno de apuro moral – os mais finos regem os menos. O quepe é a proteção, como num dia de chuva, numa pessoa que aprendeu a se proteger na Vida, poupando-se de riscos, como dirigir alcoolizado, no divisor de águas que é a chegada da maturidade na vida de uma pessoa, com tudo se dividindo entre antes e depois de tal maturidade, como um rapaz que conheço, o qual, aos vinte anos de idade, tem pela frente todo um período de pós adolescência, até chegar à idade de Cristo quando morreu, entrando assim para o clube dos sábios, pois quando se é jovem demais se fazem muitas, muitas bobagens, numa época em que a pessoa não brios ou juízo. O punho decepado é um tolhimento, numa pessoa que desde cedo na Vida se sente tolhida pelo corpo social, como uma senhora que conheci, a qual era energicamente tolhida na infância ao querer brincar de carrinhos, tendo tudo isso estourando mais tarde, quando esta pessoa era perfeitamente adulta brincando com carrinho de controle remoto – de nada adianta tolher as pessoas, como eu já disse em uma entrevista dada a um colunista social: Respeite o jeito de cada um. O braço tolhido é uma poda, num trabalho sazonal, como nas trabalhosas podas outonais de vinhedos, num trabalho que tanto deixa calejada a mão do podador, num investimento pesado em mão de obra, fazendo difícil com que não seja caro o preço final de uma garrafa de vinho, num Brasil pobre, o qual opta por cerveja e cachaça por estas serem muito mais baratas do que vinho. Um autorretrato é um momento de reflexão, num artista que quer saber qual é seu lugar no Mundo, como num rapaz que se torna padre, num processo de identidade, no rapaz que quer saber qual é o seu próprio lugar no Mundo, como numa ex-professora minha, a qual infelizmente abandonou a carreira para se tornar mãe e dona de casa, vivendo, assim, na sombra do marido, o que causa pavor nas feministas, as quais repudiam o termo: “Bela, recatada e do lar”, pois ser apenas dona de casa não vai dizer a esta mulher quem ela é. O cigarro é uma dependência psíquica, talvez numa carência. O pulso cortado é um sonho despedaçado e frustrado em meios às durezas da Vida.

 

Referências bibliográficas:

 

Ernst Ludwig Kirchner. Disponível em: <www.meisterdrucke.pt>. Acesso em: 3 mai. 2023.

Ernst Ludwig Kirchner. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 3 mai. 2023.

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