quarta-feira, 21 de junho de 2023

Pellizza na película

 

 

Falo pela primeira vez sobre o artista italiano Giuseppe Pellizza da Volpedo (1868 – 1907). Giuseppe tinha um certo engajamento social, fazendo sucesso em revistas socialistas. Sua obraprima é O quarto estado ou A quarta propriedade, a qual é mostrada no filme 1900 de Bernardo Bertolucci, sobre as tensões políticas na época do roteiro da película. Giuseppe só foi reconhecido postumamente, o que deve explicar o seu trágico fim de vida – suicidou-se. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, A criança morta. Aqui é a tentativa humana em lidar com a morte, no modo “arejado” espírita de lidar com naturalidade com o óbito, ao contrário de uma certa religião, na qual a morte é uma coisa escura e horrorosa, dando-nos a impressão de que nada nos espera após o desencarne, o que é uma bobagem, pois uma vida maravilhosa nos espera, uma vida cheia de significado e trabalho, na eternidade da produtividade; na construção da grande carreira espiritual; no objetivo de uma “formatura”, na qual o espírito, de tão depurado, atinge o ponto de felicidade suprema, tornando-se arcanjo e recebendo as ordens diretamente de Deus, de Tao, o terno e eterno. As mãos dadas são tal demonstração de solidariedade, dando condolências, num consolo, num abraço reconfortante, naqueles que aqui permanecem, no maravilhoso fato de que ninguém está no Mundo o tempo todo, na promessa de esperança do Espírito Santo, nas asas de libertação, na gloriosa vida metafísica que nos espera, num mundo em que estamos livres das vicissitudes terrenas, como doenças e demais condições de saúde. O velório é tal homenagem, como no funeral de minha avó paterna Nelly, no qual se respirava o ar de missão cumprida, num espírito altamente consciente de sua própria morte, nas palavras de Tao: Se o seu corpo físico morrer, não tem problema, havendo uma relação de continuidade entre Terra e Céu. As moças com véus são tal pesar, procurando dar palavras de consolo, no enigma ao redor da cor branca, como num casamento, na cor da pureza, da limpeza, como num certo casal em seu casório, no qual ambos trajavam roupas totalmente brancas, no poder da tradição, em choque com a tradição cigana, na qual a noiva nunca usa branco, num povo tão sofrido como o povo cigano, sofrendo preconceito, com as pessoas tendo quase medo dos ciganos, nas nossas mães nos alertando quando éramos crianças: “Se você não se comportar, a cigana vai levar você embora!”, na ENORME paciência necessária para lidar com as intempéries infantis e adolescentes, havendo toda uma pós adolescência para então, só depois, vir a tão esperada maturidade, nos caminhos naturais da Vida, num encadeamento dialético de processos: 1) A criança se tornando adulta; 2) O aluno aprendendo numa faculdade; 3) O espírito crescendo moralmente. Aqui é o necessário momento sóbrio de homenagem, no profundo respeito que deve haver num funeral, havendo a profunda discrição da cor preta, a cor que tanto na Moda entrou nos anos 1990, no termo “pretinho básico”. Neste quadro não podemos ver o morto, mas apenas as homenagens ao redor do morto, fazendo do funeral um dos muitos rituais sociais, como um batizado, um casamento, uma formatura etc., no modo como o Ser Humano é um ser tão ritualístico, com rituais mesmo em tribos amazônicas, na universalidade da divisão de tarefas entre homem e mulher, havendo a ela a eterna obrigação de criar os filhos e a ele a de sair de casa para trabalhar e voltar para casa com a caça, a comida do dia, num enorme peso de responsabilidade adulta, num superpai que nunca deixou algo faltar dentro de casa, nesta incumbência de macho alfa provedor, na figura do patriarca, num homem que tem o dom de manter a família unida numa noite de Natal, pois quando os patriarcas se vão, as famílias, de um certo modo, desintegram-se, não mais passando juntas uma noite de Natal. Aqui é uma cena campestre, e podemos ouvir o canto dos pássaros e sentir a brisa campestre, em grandes rituais fúnebres como no enterro de algum membro de uma família de realeza, em comoções como o funeral de Diana, com o cidadão comum fazendo questão de prestar alguma homenagem, como jogar flores sobre o caixão no momento de cortejo pelas ruas londrinas.

 


Acima, A quarta propriedade ou O quarto estado. Certamente, a obraprima de Giuseppe. Tenho uma lembrança desta obra, lembrança de infância, quando havia uma reprodução deste quadro na chácara da tradicional família caxiense Triches, com a qual tenho uma linhagem em comum. Confesso que, de início, eu acreditava que se tratava de uma representação de imigrantes italianos chegando às colônias na Serra Gaúcha. É claro que aqui temos a figura patriarcal do macho alfa, liderando o grupo, com a mulher eternamente num papelzinho coadjuvante, como na representação do MST, com o homem, acima da mulher, empunhando a figura fálica do facão, ou como no Monumento Nacional ao Imigrante em Caxias do Sul, com o homem forte acima da mulher, à qual só cabe o ínfimo papel de ficar dentro de casa criando os filhos, na misoginia de ver com maus olhos a mulher que constrói carreira, em figuras libertárias como Kamala Harris, ocupando uma das mais elevadas cadeiras hierárquicas dos EUA, numa mulher a qual não devemos subestimar; numa mulher que tem o potencial para ser a primeira mulher presidente da terra do Tio Sam. Aqui é toda uma caminhada na conquista de direitos básicos, numa figura de paizão de Getúlio Vargas, trazendo benefícios como o Décimo Terceiro, ao contrário dos EUA, nos quais o chamado “Bônus de Natal” é totalmente opcional da parte do empregador. Aqui são espíritos irmãos numa caminhada de depuração e crescimento, havendo no sociopata o desejo de enganar e prejudicar os companheiros de caminhada, num sociopata que ainda está muito aquém de compreender tal irmandade que nos une. A mulher carrega o nenê, no papel de mulher de cuidar de uma casa, nas palavras de brigas de casal, com a mulher dando uma “sova” no marido, gritando para este: “Eu me matando para manter esta casa limpa e organizada! Eu não aguento mais!”, num marido sentado e ouvindo tudo, aguentando a “sova”, num momento em que a mulher mostra que o coadjuvante pode ser, de certo modo, protagonista, pois quando digo que algo é pequeno, é porque há o comparativo, no que há de grande, ou seja, um ator que faz um mínimo e pequenino papel coadjuvante é essencial para fazer se sobressair o ator protagonista, no momento divertido de inversão taoista: Fraco é forte; forte é fraco. A mulher aqui parece questionar, opinar, sabendo da bobagem ao redor do lema machista: “Bela, recatada e do lar”. É no mito de Virgem Maria, a mulher sem máculas e sem história, ao contrário da diva, da mulher de Arte, construindo uma carreira, “desesperada” para se manter bela e jovem para sempre, no modo como uma Evita Perón era malvista em sua própria época, malvista pelas elegantes e recatadas mulheres aristocráticas argentinas, com as quais Evita tinha uma relação de amor e ódio: por um lado, Evita odiava a classe alta que explorava o labor do proletário; por outro, Evita imitava o estilo de tais damas finas. É na relação de amor e ódio de Diana com a Imprensa, numa mulher que gostava da exposição midiática mas não gostava do assédio dos paparazzi. Aqui é um movimento social, como numa genial professora antropóloga que tive, a qual me incentivou a fazer um trabalho sobre as Ligas Camponesas no Brasil, o movimento de reivindicação de terra, gerando, mais tarde, o tradicional MST. Neste quadro temos tal reivindicação de direitos básicos, numa classe social que não mais suporta tal exploração, no boom marxista pregando a “vampirização” entre classes, num pensamento que gerou o Socialismo/Comunismo, o qual, tempos depois, pereceu, na contradição chinesa: Comunismo de jure e Capitalismo de facto, na diferença básica entre teoria e prática, como numa Gisele: de jure uma mulher comum e de facto uma princesa. Aqui é numa mobilização social da Revolução Francesa, ou na deposição do czar russo, num povo que notou que seu próprio governante se afastou de seu próprio povo, pois se me afasto do povo, deixo de ser líder. Aqui é uma tensão social, como no embate entre católicos e protestantes, neste dom eterno humano para com a desavença e a desarmonia.

 


Acima, Idílio primaveril. É claro que aqui temos uma celebração da Vida, como nas festas comunitárias, momentos de engajamento social em torno da Vida, como nas numerosas e tradicionais vindimas italianas, no produto doce de um labor amargo, como num remédio amargo que surte doces efeitos. Esta roda é o engajamento social em torno de algo, nesta capacidade de certas pessoas em unir o corpo social, como neste grande homem que foi o diretor Fabio Barreto, o qual foi, por um certo tempo, um príncipe de Caxias do Sul e região, pois por um momento as pessoas se esqueceram de suas diferenças e uniram-se em torno do sonho do Fabio, que era transformar o livro de O Quatrilho em filme, num gênio cinematográfico que imaginou uma matiz linda para o romance. Aqui as árvores rompem em cor, na beleza da Vida, como nas ruas arborizadas de Porto Alegre, com seus jacarandás frondosos que produzem flores roxas na Primavera, cobrindo as calçadas com as flores, pois nada mais chic do que flores na calçada, na explosão de beleza da Primavera de Botticelli, no sopro renascentista de renovação europeia, num momento em que a Itália foi berço de tal explosão de novidade e frescor, numa Florença tão florescente, gerando os gênios que hoje reverenciamos, numa Florença competitiva, com um artista querendo “devorar as tripas” do outro, como em herdeiros na hora da partilha de uma herança. As árvores aqui se ramificam como veias e artérias, ou como curso de rios, ou como raios de tempestade, nas universais forças da Natureza, na ironia de que não importa para qual lugar do Mundo nós vamos, pois a Lua no céu sempre será a mesma, um lembrete de que somos todos crias da mesma ninhada, no constante esforço do padre no púlpito, sempre nos chamando de irmãos, num excepcional Chico Xavier, sempre chamando os outros de irmão, tendo havido no Brasil o maior médium de todos os tempos, no modo como Tao abençoa tanto o Brasil, com gênios como Niemeyer, Chico Anysio, Elis Regina etc., em exemplos vastos, como Tom Jobim. Podemos ouvir aqui os sons da diversão da criançada, num caos lúdico, no mágico momento do recreio no colégio, o momento de interação social, como no flerte de enamorados no Ensino Médio, na lembrança que tenho de adolescente, quando, no momento do recreio, a coordenadora impedia que os namorados ficassem muito perto um do outro, num pudor, numa disciplina, mas não sisuda demais ao ponto de proibir namoros no colégio. Um menininho coroa uma menina com uma coroa de flores, na magia das flores, na beleza de flores silvestres, as quais não precisaram ser plantadas pela mão humana, as quais adornam lindamente uma cabeça de menina, provocando os mesmo efeitos de uma cara joia de pedras preciosas, na revolução chanelista – o que importa é o efeito, no advento libertário das bijuterias. Aqui são como as tradicionais sakuras japonesas na Primavera, na libido sexual em cio, em flertes entre enamorados, no modo como a vida não é só siso, como em pessoas excessivamente disciplinadas, os workaholics, pessoas que simplesmente não vivem; só trabalham – é um horror. A coroação é tal júbilo, como numa formatura, remetendo-me a um fim de vida trágico que conheci, num rapaz de bem que foi covardemente assassinado em latrocínio na semana de formatura deste mesmo rapaz, nesta capacidade humana em subestimar o valor da Vida, num assassino que é, definitivamente, infeliz, vagando pelas terras inóspitas e desoladas do Umbral, a dimensão dos que não amam a Vida. Aqui é o momento de reprodução da Natureza, com salmões subindo rio correnteza acima e copulando, como num pinheiro macho fertilizando o fêmea, gerando a semente do pinhão, este produto tão característico do Sul do Brasil, o país feito de muitos pequenos Brasis, como, por exemplo, no “abismo” que existe entre Bahia e Rio Grande do Sul. Aqui é a força da Vida, em tempestades explodindo em forças de relâmpagos, no modo humano antigo em ver divindades em aspectos da Natureza.

 


Acima, O espelho da vida - Aquilo que o primeiro faz e os outros seguem. Aqui temos uma ordem e uma harmonia, no termo religioso “cordeiro de Deus”, para designar o cidadão de bem, comportado, que respeita o corpo social, havendo no sociopata uma pessoa que leva vida dupla, pois é um lobo em pele de cordeiro. Aqui são como as migrações de animais, como aves de Inverno que vi em Orlando no inverno americano de 1993, em aves fugindo do inclemente inverno do Norte. Aqui é como o Senso Comum, nas pessoas seguindo uma às outras, no modo como tal pensamento popular acaba se impondo a tudo, como por exemplo na linguagem, e darei um exemplo: Originalmente, falava-se “tão pouco”, só que o tempo passou e o Senso Comum se impôs, trazendo então o termo “tampouco”, considerado tranquilamente correto pelas normas da Língua Portuguesa, no ditado popular: “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura!”. Aqui é o trabalho rural com plantações e animais, cuidando dos animais, remetendo à produção de lã, como no município gaúcho de Uruguaiana, fronteira com a Argentina, um município que celebra a Festa da Lã, celebrando a força econômica de tal parte do Brasil, no fenômeno de disseminação das festas comunitárias gaúchas, cuja grande mãe é, sem dúvida, a tradicional e quase secular Festa Nacional da Uva de Caxias do Sul, cuja semente inicial, tenho orgulho de dizer, foi “plantada” por meu bisavô Lisboa em 1931, numa Caxias do Sul ainda agrária, sem ruas pavimentadas, muito diferente da Caxias de hoje, urbanizadíssima, com um parque industrial metalmecânico pujante, vibrante. Podemos ouvir aqui o som dos animais em fila, numa ordem, como desde cedo no colégio, quando a professora forma uma fila com os alunos da turma, numa ordem de estatura – o mais baixinho vem primeiro, fazendo uma metáfora com o conceito cristão de “Os últimos serão os primeiros”, remetendo a um certo templo católico brasileiro antigo, secular, no qual havia dois espaços: o decorado com excessos para os ricos e o simples, nu, para os escravos, e é claro que o espaço dos escravos era o mais interessante, simples, limpo, impecável, no conceito inoxidável de da Vinci: “A simplicidade é o mais elevado grau de sofisticação”, como na Arte Moderna Brasileira, limpa, simples, de uma candura quase infantil. Aqui remete às palavras do buenacho LC Barreto, o famoso Barretão, produtor de Cinema, dizendo, numa locação rural: “Coisa boa este cheiro de bosta ao ar livre!”, na liberdade da cena rural, encantando as pessoas da cidade, da selva de pedra, remetendo aos passeios rurais que eu fazia, quando criança, com minha família pela zona rural de Caxias do Sul, com o girinos nadando no rio e com quedas d’água selvagens, fortes, cruas, por assim dizer, na maravilha que é o contato com a Natureza, com o selvagem, havendo a contramão de como as pessoas da zona rurais são fascinadas pelo modo urbano sofisticado de vida, no termo “gente da cidade”. Aqui não há sinais de caos natural, como no recente ciclone extratropical que tantos danos causou a famílias gaúchas, despertando o sentimento de solidariedade, como hoje dei um pedaço de pão a um paupérrimo reciclador na Rua, na advertência taoista: Não seja ganancioso por comida; seja generoso, sem fazer da comida algo preciosista. A água aqui é pura, selvagem, em charcos e pântanos, remetendo ao pavoroso pântano morto de Tolkien, com cadáveres repousando, num lugar tão lúgubre, nesta dificuldade humana em lidar com naturalidade com a Morte, pois esta é tão inevitável, havendo no Plano Superior a necessidade da pessoa arrumar um trabalho e permanecer produtiva, na construção da grande carreira espiritual. Aqui a água é como um espelho, como nos espelhos d’água de Niemeyer em Brasília, a cidade do poder, para onde vão os nossos impostos, neste ímpeto de construção da capital, desenvolvimentista, pujante, viril, num homem ativo, que toca obras e mostra serviço, no caminho da construção do caráter de um homem, numa realização, como um certo senhor de minha idade, trabalhando no ramo de construção civil.

 


Acima, Prado florido. Aqui temos o flerte entre masculino e feminino, no advento da adolescência, na fase em que os sexos, que na infância se “odiavam”, começam a se interessar um pelo outro, a salvo, é claro, em caso de homossexualidade, como no livro Sexo para adolescentes, de Marta Suplicy, um livro que, definitivamente, não foi escrito para os gays, apesar destes “idolatrarem” a sexóloga política. A flor é a delicadeza, no presente de um apaixonado, num vistoso buquê de rosas, no eterno flerte entre Dona Florinda e Professor Girafalez no seriado Chaves, ao som da música tema de ...E o vento levou, na advertência sábia: Lindas flores são o caminho para o coração, mas o enamorado tem que começar pela cabeça, ou seja, pés sempre no chão, no conselho do agressivo e talentoso rapper Eminem: Keep it real, ou seja, Mantenha a coisa real. O Rap é um gênero musical agressivo, claro, mas poético, sendo difícil existirem rappers mulheres. Aqui é um campo de Primavera, como na floração nos vinhedos, gerando, no Verão, o cacho doce e delicioso da uva, na hora da árdua colheita, nas vinícolas tendo que contratar muita mão de obra temporária para dar conta da demanda dos vinhedos, na hora de colher os frutos, fazendo metáfora com as consequências das ações de uma pessoas, colhendo o resultado de suas atitudes. Aqui é como o Yin e o Yang se abraçando e entrelaçando, no fascínio de sedução entre AM e FM, como na embalagem de um produto, com duas faces: uma face é o rótulo exposto na gôndola, com um bom design, fazendo uma embalagem bonita e atraente; já, a outra face é utilitária, com o código de barras, os ingredientes do produto e as calorias no alimento, no termo “Unir o útil ao agradável”, no modo como liso e áspero são faces do mesmo trabalho, pois não existe trabalho cem por cento liso; cem por cento fácil; cem por cento doce. Aqui é como a delicada flor de cerejeira, linda, como num frágil tule de bailarina, esvoaçante, na imposição do delicado sobre o bruto, no mais fino cristal, frágil, exigindo um brinde suave, cuidadoso, delicado, sutil, como numa família de realeza, algo tão belo, onírico, atemporal, e algo, ao mesmo tempo, tão obtuso, pois numa família de realeza homem é varão e mulher é fêmea, e tudo que se desviar disso é heresia, na sabedoria popular: Na vida não se pode ter tudo, como num Charles III, reinando sobre um terço da Humanidade, mas um homem sem muito carisma, absolutamente aquém do carisma esmagador e atemporal de Diana, a mulher a qual, no momento do divórcio, tinha tudo para cair no esquecimento, assim como sua concunhada Sarah Ferguson, a qual se divorciou de um príncipe e simplesmente sumiu dos olhos do Mundo. A flor é este modo de começar a explicar a criança sobre sexo, nas forças naturais de polinização e reprodução, nas forças da Natureza brotando e ressuscitando depois de um longo Inverno, como num urso acordando faminto depois de uma hibernação, devorando salmões em rios caudalosos. A flor é tal beleza, no modo como a Flor de Lis foi símbolo da Monarquia Francesa e a Flor de Lótus símbolo dos faraós egípcios, fazendo da flor algo tão frágil e, em seu poder representativo, algo tão forte, na imposição do frágil, do sutil, como mãos suaves, gentis, no termo em inglês “gentleman”, ou seja, homem gentil, fazendo da grosseria a maior fraqueza possível, como me disse uma grande amiga, que foi minha professora de Redação no Ensino Médio: Fora da gentileza, não há alternativa. Aqui é o fascínio de Giuseppe pela Natureza e pela Primavera, com borboletas ensandecidas, beijando as flores, involuntariamente ocasionando tal fertilização, fazendo das flores as genitálias das plantas, algo muito natural, pois como Tao pode ter vergonha de algo que Ele mesmo inventou? Não é necessária a Educação Sexual para neutralizar a malícia no jovem? Estas flores remetem à recepção do hotel paulistano Matsubara, com flores pintadas de sakura brotando impiedosamente, nesta grande presença nipônica no SP, fazendo do Brasil tal nação de miscigenação, na terra dos pardos e mulatos. A flor é um presente da Natureza.

 


Acima, Procissão. Aqui remete às palavras de uma professora antropóloga que tive: “O Carnaval do Rio tem três matizes: A matiz portuguesa, que é o formato de procissão; a matiz veneziana, que são as fantasias; e a matiz africana, que são os tambores”. Temos aqui então tal matiz portuguesa, europeia, ocidental, nas procissões que Maria I, a louca, promovia, numa época em que não havia diagnóstico nem medicação para tal transtorno psíquico, nas maravilhas da Ciência que são tais medicações, fazendo-nos imaginar como era a dura a Vida em épocas em que não havia nem analgésicos e nem antitérmicos. Os véus são a pureza, a virgindade, numa mulher que casou virgem, casta, passiva, submissa, com o próprio pai dizendo para si mesmo no dia de nascimento de tal menina: “Esta eu vou guardar debaixo de sete chaves e entregar pura e casta para o marido na Igreja!”, ao contrário do menino, o qual, quando nasce, é soterrado de expectativas de ser o maior garanhão namorador de mulheres do Mundo, nos preconceitos de expectativas entre masculino e feminino, havendo em certas mulheres corajosas os ícones feministas, libertando a mulher do eterno papelzinho coadjuvante patriarcal, num Mundo tão obtuso, dizendo: Como uma mulher ousa ser o mesmo do que um homem? A cruz é tal força cristã, no duro início do Cristianismo em Roma, com cristãos sendo oficialmente executados pelo césar romano, até chegar ao ponto de, séculos depois, o imperador se converter ao Cristianismo, sepultando todo o paganismo antigo romano, grego, egípcio, sumério etc., em atos corajosos como o do faraó herege Aquenáton, desafiando a fortíssima religião politeísta do Egito, no modo como é a partir da transgressão de alguns de seus membros que uma sociedade evolui, numa pessoa com a capacidade de tal pioneirismo, de tal coragem, tornando-se um indivíduo pensante, e não um macaco mudo sem opinião nem discernimentos, na formação de nossas elites intelectuais, pessoas que pensam acima da média, formando a Inteligência, a qual mostra de forma clara como o Ser Humano é universal, pois Pensamento não tem cor, raça ou nacionalidade. Este dia é de uma ocasião especial, extraordinária, como nas tradicionais procissões de Corpus Christi, com os tradicionais tapetes de serragem, uma arte que, infelizmente, foi feita para ser destruída, como um certo designer cujo trabalho conheci, um designer de claro e extraordinário talento, mas perdendo tempo com bobagens pornôs, no modo como o pornógrafo nada constrói, apesar de eu não querer aqui soar moralista – Pornografia não é Arte, sinto em dizer. Aqui podemos ouvir o som do sino, chamando a comunidade para tal momento de comunhão e união, no momento de manifestação de cultura popular, a qual vem do povo e a este pertence, como no fascínio de Ariano Suassuna pela cultura popular brasileira, algo tão rico e único, no momento em que a comunidade gira em torno do belo e do festivo, uma tentativa de nos aproximarmos da beleza plácida metafísica, no lugar onde a Paz é inabalável. Aqui é um caminho a ser galgado, numa estrada, numa trajetória, como na construção de uma carreira, sabendo que nenhum trabalhinho é em vão, como na árdua vida de gari, passando a vida varrendo calçadas numa cidade, por vezes limpando a sujeira promovida por cidadãos pouco limpos, os quais não parecem saber o que é uma lixeira, como numa indignada Patricia Pillar na beira da praia no Rio de Janeiro, juntando da areia o lixo que o povo porco jogou, com o perdão do termo forte e contundente. A mulher com a cruz é tal responsabilidade, no modo como até hoje o Mundo absorve o pensamento de Cristo, o espírito mais depurado que já encarnou na Terra, no conceito do perdão, o qual é muito mais simples e fácil do que guardar ressentimento, no modo como resolvi perdoar uma pessoa que foi desagradável comigo. A cruz é a passagem, no caminho, na verdade e na vida, pois Tao é um caminho só.

 

Referências bibliográficas:

 

Giuseppe Pellizza da Volpedo. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 14 jun. 2023.

Giuseppe Pellizza da Volpedo. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 14 jun. 2023.

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