quarta-feira, 14 de junho de 2023

Lúdico Ludwig (Parte 6 de 6)

 

 

Falo pela sexta e última vez sobre o artista alemão expressionista Ernst Ludwig Kirchner. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Autorretrato com gato. O gato é este enigmático, ao contrário do cão, o qual é mais autêntico, deixando claro quando gosta ou não de algo. O rubor do quadro é tal aconchego do lar, ou como uma boa comida apimentada, como na culinária baiana, na magia dos temperos, no modo como me sinto tão entretido ao assistir programas televisivos de Culinária. Os autorretratos de Ernst são assim, sérios, sóbrios, como se o modelo estivesse encarando a dureza do Mundo, numa pessoa encarando tal lida, ao contrário do morador de Rua, o qual quer, com todas as suas forças, fugir da Vida, não se importando em dormir numa calçada fria, suja, dura e úmida, pois, na situação de Rua, o morador não é confrontado com a realidade, confrontamento que ocorre nos abrigos de assistência social, nos quais há comida, cama e banho quente, mas nos quais o assistente social cobra coisas da pessoa: “Tu não podes ficar o dia inteiro aqui assistindo TV, pois tens que fazer tua carteira de identidade, tua carteira de trabalho, tens que ir para a Rua procurar emprego e tens que te reerguer. Força!”, quando que, na Rua, não há cobrança, no modo da assistência social orientar a não darmos esmola, pois esta só incentiva a pessoa a permanecer em situação de Rua. A planta é a Vida, brotando em sua força implacável, no milagre da Vida na Terra, esta ínfima esferazinha tão rica em Vida, de dar “inveja” a qualquer esfera do Cosmos que possa conter Vida, nesta incessante busca humana por Vida fora da Terra, na crença de certas pessoas de que estamos, no Universo, cercados de vida alienígena, uma prova da grandiosidade de Tao, inventor do Céu e da Terra, até chegarmos ao ponto de termos que admitir: Existe uma Inteligência Suprema Eterna, no presente da Vida Eterna, a prova de tal poder imensurável, no conceito espírita: Deus é o infinito, e o infinito sobre o qual podemos falar não é o verdadeiro infinito. Ernst aqui parece usar um robe, do termo inglês hobby, no aconchego do lar, da casa, ou da muvuca, como dizem os cariocas, no modo como um hobby pode se tornar algo sério, como Tolkien, o qual começou a escrever como hobby e se tornou um gigantesco escritor, ou como no escritor gaúcho Moacyr Scliar, um médico que acabou se tornando escritor, no modo como cada pessoa é livre para decidir seus próprios rumos, como um senhor que conheci, o qual se desiludiu na carreira de ator e virou advogado, abraçando um sopro de renovação em sua encarnação, pois todos temos o direito de ter uma vida melhor. Atrás de Ernst podemos ver um quadro, uma tela, numa ironia aqui de metalinguagem: Pintura falando de pintura, como em filmes em que atriz interpreta atriz, fazendo com que a deusa Goldie Hawn se sentisse tão à vontade em seu papel no filmão O Clube das Desquitadas, interpretando a atriz semi alcoólatra Elise Elliot, na capacidade estelar da pessoa ser mais do que só um digno trabalhador, tornando-se estrela e, num nível ainda acima, um monstro, como Barbra Streisand, a qual começou como lanterninha nos teatros da Broadway e se tornou todo o ícone sagrado que se tornou, impondo um talento realmente descomunal, num senhor comentando certa vez: “Se você tiver a chance de ver um show de Barbra, vá, pois ela vale cada centavo do ingresso!”, como aqueles professores marcantes, excepcionais, os quais valem cada centavo da mensalidade da faculdade, quando que outros professores não chegam a tanto – é assim mesmo. O gato preto é tal agouro de azar, como no gato negro em Matrix, selando uma situação de grande perigo, em pequenas e inofensivas superstições, em caprichos, como não passar por baixo de uma escada de armar. O gato é este animal de elegância e beleza, no modo como os gatos eram tidos como divindades no Antigo Egito, sendo mumificados como se fossem gente, na tradição do antigo egípcio de ver divindades em elementos da natureza, como um gato, um chacal, um crocodilo etc., no passo decisivo da Revolução Científica, a qual “castrou” tais divindades, no forte conceito monoteísta: Existe um Pai responsável por tudo, e somos filhos de tal Pai; do mesmo modo, não há deuses, mas nossos irmãos altamente depurados, num caminho de depuração espiritual e moral.

 


Acima, Boemia moderna. Aqui é o frequente casamento entre arte e boemia, como no divertido filme Moulin Rouge, com o célebre pintor Toulouse Lautrec fazendo parte da cena boêmia parisiense, no perigo do Alcoolismo, o qual, no passado, era visto como desvio de conduta: “O fulano? O fulano é um baita dum safado; fica bebendo por aí!”, quando que, hoje, Alcoolismo é visto como doença que tem que ser tratada. A mulher é a beleza da nudez, do corpo humano, pois como Tao pode ter vergonha de algo que Ele mesmo inventou? Não foi assim que viemos ao Mundo? Aqui são os interiores de Ernst, coloridos, ricos, cheios de percepções, fruto da mente sensível do artista, no modo como certas pessoas são altamente sensíveis, como numa planta sensitiva, reagindo ao mais leve toque, no dom que é a sensibilidade, numa abertura de percepções. A mulher nua está completamente à vontade, como a Rose de Titanic posando nua para Jack, numa socialite querendo se libertar de tal vida materialista, querendo ser artista, atriz, numa Dercy Gonçalves fugindo de casa para se juntar à trupe do circo que passava pela cidade de Dercy, num ato de coragem e rompimento, numa época em que, como a própria Dercy disse em entrevista, ser atriz era a mesma coisa do que ser puta, com o perdão do termo chulo, no modo como a então atriz argentina Eva Duarte era mal vista pela sociedade, no modo social de castrar a sexualidade feminina, numa Evita por vezes perniciosa, levando “a ponta de faca” sua relação com a classe média e com a aristocracia da Argentina, numa mulher belicosa, que não conseguia imaginar a Vida sem inimigos, colecionando desafetos, ao ponto de, ao vir a público com Câncer, aparecer pintada nos muros de Buenos Aires da frase: “Viva o Câncer!”, só para termos uma ideia da cartela de inimigos da primeira dama a qual, no frigir dos ovos, cogovernou a Argentina ao lado do marido presidente, nesses casos raros de uma mulher obter tanto poder, como na faraó feminista Hatshepsut, impondo-se governante num Egito que só podia ser governado por homens. Aqui, o ambiente é luxuoso, acarpetado, com desenhos geométricos de tapetes, no aconchego de uma sala confortável, no prazer de se receber amigos para uma conversa e um café, no modo como não me canso de dizer: Os amigos são o ouro da Vida, como no espírito que desencarna, vai à colônia espiritual e se vê cercado de amigos, pois no ódio só há fragmentação, visto que, no Umbral, não temos amigos... À esquerda no quadro vemos um senhor sentado talvez tomando notas, como num psiquiatra no meio de uma sessão de terapia, no ato do paciente em confiar no terapeuta e jogar-se nos braços deste, pois, sem confiança, a psicoterapia não surte efeitos, remetendo-me a um certo sociopata aspirante a psiquiatra, num caminho perigosíssimo, nas palavras de advertência em relação ao sociopata Hannibal Lecter em O Silêncio dos Inocentes: O que quer que você faça, nunca dê a Lecter informações pessoais de si mesmo, pois acredite em mim – você não quer Lecter dentro de sua mente. Quase no centro do quadro vemos um senhor de robe branco, parecendo um médico, remetendo a uma divertida pessoa que conheci, a qual, ao ver alguém vestido de branco da cabeça aos pés, perguntava em ironia: “Onde é a sessão espírita?”, remetendo ao infame médium falso, sociopata, que abusou de mulheres – é um horror. Na extrema direita vemos um homem cabisbaixo, preocupado com algo, com um peso e uma angústia, como num pai preocupado se vai poder prover o lar e alimentar suas crianças, num peso de responsabilidade, pois, ao termos filhos, nossas vidas jamais serão as mesmas, como numa pessoa que conheço, a qual amadureceu à força, tendo que prover duas filhas com comida, lar, vestuário, educação etc. Na porção superior vemos um vaso de flores, na beleza do renascimento da Vida, no milagre da Vida sobre a Terra, no hábito de dar vistosas flores a divas de teatro, música etc., num Faustão exaltando Fernanda Montenegro, dizendo esta ser “A grande dama do teatro brasileiro”, na magia de um belo buquê.

 


Acima, Davos com igreja. É claro que aqui remete ao tradicional parque temático gramadense Mini Mundo, com suas miniaturas encantando crianças e adultos, no dedicado trabalho de um arquiteto concebendo tais miniaturas, numa espécie de “cidade de bonecas”, nesta cidade tão acolhedora como Gramado, numa cidade cheia de Vida, num incessante vaivém de visitantes querendo desfrutar da beleza e das delícias da cidade, num roteiro turístico popular, encantando principalmente cariocas, os quais vão em peso para Gramado. A igrejinha é a fé, na necessidade de igrejas nos primórdios da Imigração Italiana na Serra Gaúcha, fazendo da religião um necessário acompanhamento psíquico, espiritual, para, assim, manter sã a mente do colono em um lugar tão remoto, tão longe dos grandes centros urbanos. A igreja é pontiaguda, fálica, num espeto, numa afirmação de autoridade, no modo como foi erguida sobre uma rocha a catedral de Caxias do Sul, sendo o maior ponto da cidade na época, para deixar bem clara a autoridade do Vaticano, o qual, em tempos posteriores, foi perdendo fiéis para igrejas como a Universal do Reino de Deus, na universalidade da espiritualidade humana. Esta “agulha” remete ao mastro pontiagudo do monumento, em Caxias do Sul, aos Irmãos Bertussi, ícones da música tradicionalista gaúcha, um gênero musical “primo” da cultura do “gaucho” na Argentina e no Uruguai, na relação de continuidade nas terras dos Pampas, em cidades como Riveira, na qual a pessoa precisa dar um único passinho para entrar em território uruguaio, nas populações indígenas comuns pelos Pampas, em traços culturais como o uso do couro na História do RS, inspirando gênios como Erico Verissimo, misturando sangue branco com sangue de índio, nas raízes de formação das terras gaúchas. O chafariz é a fonte da vida, numa água viva da fonte, no modo de um bom líder em ser tal fonte inspiradora, em esmagadores talentos estadistas como Elizabeth I, inspirando o seu próprio povo a ter orgulho da Inglaterra, transformando uma nação pobre e exaurida em uma nação poderosíssima e rica, no modo como a história da Inglaterra se divide entre antes e depois de Elizabeth Regina, a feminista que se negava a perder poder para um homem. Aqui temos uma sensação de ordem apolínea, numa graça, numa beleza, na brincadeira infantil do Lego, construindo coisas narradas pela imaginação da criança, formando talentos de arquitetos, no modo como a Dimensão Metafísica tem prédios de um apuro arquitetônico deslumbrante e incrível, na necessidade da pessoa em colocar sua própria cabeça para funcionar, pois, na sabedoria popular, cabeça vazia é oficina do Diabo. Esta fonte remete a uma expressão que eu mesmo inventei, que é “Mais sem graça do que chafariz na chuva”, referindo-me a coisas ou situações desinteressantes e monótonas. Aqui é um sonho de um mundo melhor, numa vizinhança harmônica, na canção icônica do U2, que é “Onde as ruas não têm nome”, remetendo à glória da paz metafísica, num mundo em que não são necessárias grades ou cercas elétricas; num mundo que é a verdadeira vida, na glória que nos espera após o Desencarne assim que cumprimos nossa missão na Terra, num glorioso reencontro com entes queridos, num plano em que observamos a necessidade de continuarmos trabalhando, visto que Tao é assim, sempre criando – se até Ele trabalha, por que você não deve trabalhar? Aqui temos um grande vale, cercado de montanhas majestosas, como na Cordilheira dos Andes, produzindo estações de Esqui, na magia da neve, numa beleza onírica, como nas raras nevadas nos invernos gaúchos, um evento tão raro que, quando ocorre, vira notícia nacional, encantando os turistas que desfrutam de tal fenômeno. Aqui é um incrível retrato de paz, com cada pessoa cuidando de sua vida, numa relação de respeito para com o cocidadão, nosso irmão que é tão cidadão quanto nós. Aqui é um cenário de zelo, numa cidade tão acolhedora, limpa e bem administrada, cidades metafísicas que não têm problemas como coleta de lixo ou cocos de pombos numa praça.

 


Acima, Mesa de café. Podemos ouvir o tilintar das xícaras e dos pires, e o burburinho da conversa, neste hábito tão cosmopolita que é sentar e tomar um café, na segunda bebida mais consumida no Mundo, perdendo só para a água. A toalha de vibrante amarelo é forte, impactante, rica como uma mina de ouro, nas multidões de brasileiros em amarelo numa torcida de uma partida de vôlei. Aqui é como uma foto sendo feita, nas contemporâneas selfies, na absoluta democratização das tecnologias, pois, sem eu aqui querer ser esnobe, hoje em dia qualquer pobre coitado fodido tem um celular, com o perdão do termo chulo. Aqui é como uma mulher se desdobrando em três, em alteregos, como em Sex and the City, com a galinha, a profissional e a coxinha, havendo na protagonista Carrie a junção das três. A toalha é o garbo, a arrumação, num ambiente agradável, acolhedor, numa pessoa agradável, que faz com que nos sintamos à vontade, num anfitrião fino, numa sala com um lindo lustre de cristal. As mulheres aqui parecem ser de mais idade, na delícia de se encontrar com amigos para conversar, pois os amigos são o ouro da Vida, no prazer de se receber as pessoas, nas divertidas palavras da sabedoria popular: Visita dá duas alegrias – quando chega e quando vai embora, na superstição de se colocar uma vassoura atrás da porta para ver se a visita se dá conta de que está na hora de ir embora. Aqui é a magia de um café da manhã de hotel, quando entramos no restaurante e sentimos o sutil olor de café no ar, num buffet farto, que faz com que nos sintamos reis, como em café da manhã de rico em novela da Globo, na refeição mais importante do dia. A toalha é um sol, uma estrela, nutrindo todo um sistema solar com luz, na capacidade de um artista em distribuir, estando no centro de algo, de alguma comoção, como no escândalo das fotos eróticas de Madonna no ano de 1992, lançando um livro o qual, convenhamos, é de um nu artístico de extremo bom gosto, só havendo insinuações, e nunca sexo pornô de fato, na capacidade de discernimento de uma pessoa, nunca entregando o jogo por completo, numa mulher corajosa; numa mulher baixinha a qual é um colosso de “quilômetros” de altura. O café é quente, acolhedor, aprazível, no prazer de se esquentar a garganta num dia frio e úmido, como numa pálida Londres, no costume do chá, este hábito tão civilizatório, inglês, no modo inglês de colonização, conquistando colônias ao redor do Mundo, num rei (ou rainha) que reina sobre um terço da Humanidade, num trono poderoso, no divertido modo como Charles III carece muito de carisma, pobre coitado, pois na Vida não se pode ter tudo, certo? Podemos sentir aqui o perfume das senhoras, com mulheres que se arrumam para ir a um evento chique, no ato de autoestima que é usar perfume, na concepção de Chanel: Estar perfumado é um luxo, pois ninguém vai sofrer por não estar perfumado. Aqui é o charme parisiense de se sentar e olhar movimento, no modo como, hoje em dia, com a desvalorização da moeda brasileira, custa caro sentar em Paris para se tomar um café. As xícaras são belas, formosas, assim como as senhoras, numa identidade feminina, no “ritual” de aprumação de uma mulher, com tudo começando pelo banho, passando pela maquiagem, pelo cabelo, pelas unhas, pela roupa, pelo sapato e pelo perfume, no termo “metrossexual”, o homem que se arruma exageradamente, depilando as sobrancelhas, por exemplo, num homem condicionado a um mundo de metrópole, sofisticado, muito longe de um homem simples e tosco. Aqui são essas pinceladas incertas de Ernst, com um pé no Impressionismo, com pinceladas sugestivas, na revolução que foi a caducação da Arte Tradicional Acadêmica, em advento de tecnologias como a Fotografia, libertando a Arte da função retratista, em avanços que deixam o Mundo perplexo, como na revolução do Pendrive, um aparelhinho pequenino que abriga montes de informação, remetendo ao início dos anos 1990, quando não se imaginava uma mídia superior ao CD, deixando minha geração perplexa com a aposentadoria do telefone de disco e do televisor de tubo, sem controle remoto.

 


Acima, Mulher ruiva nua. Os seios apontam para direções diferentes, numa dúvida, num embate, como um bipolar, tendo que resolver suas dúvidas existenciais, como uma pessoa que não sabe se quer esta ou aquela profissão; esta ou aquela carreira. Os pés descalços são a simplicidade, como andar descalço dentro de casa, num ambiente onde tudo é de nosso jeitinho, sem exigências garbosas no momento de interação social. O cabelo da mulher é como um cérebro, numa máquina funcionando, numa pessoa pensando, ocupando-se com algo nobre, no modo como temos que escolher algo de nobre para fazermos de nossos dias na Terra, no “dia de soltura” que invariavelmente chegará, no modo como, na Terra, somos todos prisioneiros. A luminária atrás é o esclarecimento, como disse a grande jornalista Gloria Maria: Não importa para qual lugar do Mundo você vai, pois se para onde fores, entrares em contato com a Inteligência local, você se dá conta da universalidade do Ser Humano, pois o pensamento é universal; a espiritualidade é universal. Aqui são esses interiores aconchegantes de Ernst, estampados, acarpetados, num insight dentro da pessoa, do espectador. O corpo da mulher é multicromático, com várias cores e pinceladas, e a genitália não está pornograficamente exposta, como na sofisticada revista Playboy brasileira, num nu que não agride a dignidade da modelo, nessa explosão, nessa bombshell que foi a primeira Playboy de Adriane Galisteu, revelando ao Brasil uma estrela, no modo como o sucesso é um amante infiel, pois a segunda Playboy de Galisteu não fez tanto alarde, forçando Adriane a aposentar seus dias de posar nua, e sabem qual seria uma Playboy hecatômbica, de causar comoção do Oiapoque ao Chuí, de causar filas de gente para ver, filas intermináveis de ricos, pobres, negros, brancos, homens, mulheres, gays e héteros? Uma Playboy de Maysa, mas como esta é coxinha, é difícil imaginá-la vindo nua a público. O perfil aqui é um tanto egípcio, na milenar tradição egípcia dos rostos de perfil, numa tradição que foi seriamente transgredida pelo faraó herege Aquenáton, o qual trouxe uma arte diferente, realista, longe das formas de perfeição apolínea da tradição dos faraós, no poder da transgressão, pois só podemos observar um paradigma a partir do momento em que o paradigma é transgredido, como num prédio em estilo Neoclássico em Capão da Canoa, expondo o paradigma arquitetônico dos prédios do balneário gaúcho. A mesa atrás é o descanso e a modelo parece se encostar, no divertido termo “criadomudo”, o qual, de modo literal, é um criado ao seu lado, o qual não enche o saco, pois é mudo. O nariz aqui tem personalidade, e é longo, no modo como certas pessoas podem ter um distúrbio de imagem, no infame exemplo de Michael Jackson, um homem que se desfigurou pelas várias cirurgias plásticas que fez, o que é uma grande bobagem, pois Jackson, antes das plásticas, era um negro bonito, no modo como pode ser tão perigosa uma cirurgia plástica, pois esta pode tirar a naturalidade do rosto do paciente. O cabelo aqui é curto e moderno, no modo como há tantas mulheres de cabelo curtinho, como meninos de oito anos de idade, no maravilhoso modo como o Brasil é um país livre, com o cidadão podendo fazer o que quiser fazer com seu próprio cabelo, ao contrário de sistemas opressores, como na Inglaterra Vitoriana, na qual o cidadão não era dono do próprio fiofó, com o perdão do termo chulo, ou como nos EUA, nos quais o cidadão não pode se prostituir, ou seja, um cidadão cujo corpo pertence a um estado, numa grande contradição, num país que se diz o paladino baluarte democrático da liberdade. As pernas cruzadas são a elegância, na famosa cruzada de pernas de Sharon Stone, numa atriz corajosa, no modo como a vida pode ser “cruel”, numa Sharon que envelheceu, remetendo à eterna Mulher Maravilha, a atriz Lynda Carter, a qual envelheceu com uma dignidade impressionante, pois quando a beleza vem de dentro, não há passagem do tempo que possa interferir drasticamente. Aqui é uma neo Vênus de Botticelli, um tanto pudica.

 


Acima, O bebedor (autorretrato). O cálice é o Santo Graal, no filme de Indiana Jones, com uma variedade de cálices sendo exposta, mas apenas um é o Graal de verdade, e, dentre cálices majestosos, ricos, dignos de rei, o Graal é o cálice mais simples e humilde, digno de um filho de carpinteiro, no caminho da simplicidade, a qual é o mais elevado grau de sofisticação, como nas linhas simples de Niemeyer, numa Brasília de aspecto tal que parece que as estruturas são feitas de papel leve. O cálice é o momento glorioso da happy hour, no momento em que finda a sisudez do dia e das responsabilidades, num drinque para relaxar, como na gloriosa sensação de se estar numa banheira cheia de água quentinha, no conforto uterino, a sala mais confortável de todas. Ernst aqui está relaxado, tranquilo. Seus dedos são finos e aristocráticos, sutis, num tato, numa delicadeza, pois, no discernimento taoista, forte é fraco; fraco é forte, num livro que só pode ser compreendido em meio à inteligência emocional, ou seja, é bloqueado para sociopatas frios, cuja inteligência e puramente esquemática, sem instinto. Ernst veste um robe, a roupa mais confortável que existe, longe de um evento de gala, ou longe de um sapato de salto alto, como nas mulheres em Gramado, batendo perna usando salto alto, dando-me o desejo de lhes dizer: Salto alto não foi feito para se bater perna, ou seja, coloque um tênis, um mocassim ou um salto baixinho, minha cara cocidadã. O cálice é o receptáculo feminino, como na jarra prateada de Galadriel, em contraste com os pés rudes e masculinos de Frodo, num diretor Peter Jackman cheio de inspiração. É a garrafa de Jeannie é um gênio, com a personagem se refugiando na garrafa, introspectiva, talvez pintando as unhas ou assando um bolo, num momento de retiro, ou no salão de beleza, fazendo algum tratamento capilar, conversando com as comadres, numa pessoa que sai de casa de robe para ir à padaria da esquina e comprar pão e leite no fim de tarde, parando para conversar com as comadres da vizinhança, no modo como tudo acaba se reduzindo ao termo em Inglês “livelyhood”, ou seja, uma vizinhança bela e plácida, com uns visitando os outros, na recomendação taoista a um líder: “Nunca interfira da pacata ‘livelyhood’ do cidadão comum”. O cálice tem um teor de cor de mel, na magia de favos de mel, neste fascinante adoçante natural, com um urso corajoso, comendo uma colmeia, pouco se importando com o assédio dos ferrões das abelhas enfurecidas, no modo como já levei uma ferroada de abelha, e dói pra cacete, com o perdão do termo chulo, na dignidade da abelhinha, a qual morre ao dar a ferroada, dando sua vida para proteger a colmeia e a rainha desta. Este cômodo de Ernst é um tanto bagunçado, como na bagunça de um atelier na qual somente o artista consegue se encontrar, como no Pequeno Príncipe em seu pequeno planetinha, nas delícias de se morar sozinho, fazendo com que tudo dentro de minha casa seja do meu jeito, sem pessoa alguma para me criticar ou alertar. O cálice é o momento da transubstanciação na missa, no momento em que o vinho é o sangue de Jesus e a hóstia é a carne, no sagrado cálice da Última Ceia, no terrível desencarne de Cristo, nessa imutável inclinação humana para com a crueldade – quanto mais barbárie, melhor, diz infelizmente o Ser Humano. A mesa é a base, a estabilidade, numa tábua firme no chão, na garantia do Yang, como um homem construindo um chão firme, seguro, sustentando fortemente a mulher, a qual quer um homem o qual seja uma rocha firme na qual a mulher pode se segurar, num homem honesto, como um homem que constrói prédios, certificando-se de que o trabalho está bem feito, bem acabado – entenda a garantia do Yang, mas seja mais Yin, mais “feminino” dentro de si mesmo. Aqui é como um alcoólatra afogando-se num cálice de álcool, no modo como foi alcoólatra uma pessoa de minha família, numa época em que Alcoolismo não era visto como doença, mas como desvio pervertido de conduta – a Vida não tem sentido sem vicissitudes.

 

Referências bibliográficas:

 

Ernst Ludwig Kirchner. Disponível em: <www.meisterdrucke.pt>. Acesso em: 3 mai. 2023.

Ernst Ludwig Kirchner. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 3 mai. 2023.

Nenhum comentário: