quarta-feira, 7 de junho de 2023

Lúdico Ludwig (Parte 5 de 6)

 

 

Falo pela quinta vez sobre o artista alemão expressionista Ernst Ludwig Kirchner. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Dançarinas czardas. Os cabarés aglutinavam cenas culturais, com muita dança, cantoria e prostituição, como no célebre parisiense Moulin Rouge, como me disse certa vez um senhor, o qual, na juventude, frequentava prostíbulos, falando sobre a decoração do lugar, em tons de vermelho, dizendo sobre o lugar: “Tudo cheirando a sexo!”. Aqui é como um artista “coloca a tapa o próprio rosto”, como num show de Tango que vi em Buenos Aires, com as dançarinas com saias extremamente justas, com fendas ousadas, havendo um momento em que a dançarina, em um passe de dança, mostrava sua própria roupa de baixo, no modo como devemos respeitar os artistas, como atrizes posando nuas na Playboy, num nu que busca ser o sexy sem ser vulgar, numa linha tênue, arriscada. Aqui podemos ouvir o célebre cancã, com as moças revelando as partes íntimas, no termo “showbusiness”, ou seja, o negócio de mostrar, fazendo de tal atividade, a prostituição, a profissão mais antiga do Mundo, no termo espírita “fazer do sexo um leilão”, pois, sinto em dizer, um pornógrafo nada está construindo; um pornógrafo a lugar nenhum está indo, sem eu aqui querer aqueles moralistas que não aceitam o sexo, o qual é natural no Ser Humano. O palco é tal meio de expressão, nas sábias palavras de Fernandona Montenegro: “Eu acho tão simplório aquele ator que só faz TV, não explorando todos os meios de expressão cênica!”, remetendo aqui a uma certa atriz, cujo nome não mencionarei, uma atriz um tanto superestimada, que só faz TV e Cinema, com um certo medo de pisar num palco e fazer Teatro, uma atriz que definitivamente não explora todos os meios de expressão cênica – cada um com seus bloqueios. O palco aqui é tal expressão de feminilidade, junto à coragem do Yang para se pisar num palco, em grandes divas teatrais, fazendo do Teatro algo qualitativo: Estou atuando para algumas milhares de pessoas neste teatro, e não para milhões e milhões de telespectadores do Oiapoque ao Chuí, fazendo da Cultura de Massa algo tão “povão”, sem aqui eu querer ser esnobe, nojentinho ou burguês! Aqui é o modo como a Dança é um excelente exercício físico, com dançarinas de corpos lindos, vibrantes, fazendo da Dança tal arte que exige tanta disciplina, num professor exigente, como uma professora de Filosofia que tive, sendo esta a única cadeira na qual quase rodei em minha faculdade, uma professora que exigiu de mim um trabalho sobre Santo Agostinho, um dos pilares da Doutrina Espírita, no conceito de que o Ser Humano é feito de carne, que é finita, e de mente, que é infinita, no fato de que todos aqui na Terra somos prisioneiros, desde um mendigo na Rua até o rei da Inglaterra, mas a boa notícia é que ninguém é prisioneiro para sempre, na figura de esperança e libertação do Espírito Santo, pois todos temos que encontrar algo de nobre e produtivo para rechear nosso dias aqui na bela prisão que é a Terra. E, nesta cadeira, só me salvei graças ao Taoismo, mostrando à professora que há ramos de filosofia que não são ocidentais, numa professora que acabou valendo cada centavo da mensalidade. Aqui é o modo como as prostitutas podem ser bonitas, pois sabem que têm que sê-lo para fisgar clientes, remetendo a um anúncio que vi cujo público alvo era as prostitutas, alertando estas sobre o risco de se adquirirem doenças veneras, ou, em casos mais graves, a AIDS, remetendo a um amigo que tenho, com HIV, uma pessoa que me disse que, assim que soube que tinha o terrível vírus, começou a apreciar a Vida em seus aspectos mais simples, como caminhar pela cidade num ensolarado sábado de manhã. As moças aqui estão extremamente maquiadas e arrumadas, como no trabalho de uma gueixa, esforçando-se para agradar ao máximo os homens, num jogo de sedução, como no filme O amor custa caro, num jogo de flerte e sedução, num Fábio Jr, dizendo: “Cansei de tentar entender as mulheres, pois estas são loucas!”. Aqui é como no dia a dia de uma diva, uma atriz, uma cantora, aprontando-se para pisar num palco, numa espécie de “concorrência” para ver qual delas é a mais maravilhosa, como na Florença renascentista, numa concorrência atroz entre os artistas, com pessoas querendo desbancar o invejado Leonardo da Vinci.

 


Acima, Duas mulheres nuas no bosque. De mãos dadas, aqui tem um certo homoerostismo, sem querer ser eu aqui malicioso. É como no livrão (e, depois, filmão) As Horas, numa obra que fala sobre lésbicas de uma forma muito sensível, em toda uma identidade feminina, remetendo ao lamentável neonazismo que ainda perdura, com neonazistas insanos que certa vez assassinaram pai e filho na Rua de mãos dadas, julgando serem estes um casal gay, no modo como respeito profundamente casais gays na Rua de mãos dadas, mas infelizmente faz pouco tempo que homossexualidade deixou de ser oficialmente doença, havendo um longo tempo até o Senso Comum, absorver tal noção e tal conceito. Aqui há uma linda naturalidade com a nudez, pois as plantas e os animais também são nus, havendo aqui um continuum entre as moças e a natureza. Aqui remete ao divertido episódio em que Mr. Bean se depara com uma modelo nua numa aula de desenho, na busca por modelos que não tenham vergonha de posar nus, como em aulas em faculdades de Arte, na noção de se conhecer e apreciar o corpo humano, na memória que tenho do primeiro ano do Ensino Fundamental, quando a professora exigiu que folheássemos revistas para que encontrássemos figuras de corpo humano, educando desde cedo a criança com a questão inocente da nudez, remetendo a uma psicóloga que conheci certa vez, a qual, na sessão de terapia, usava uma camiseta que expressava o formato de seios e vulva, numa terapeuta que quer que saibamos que ela é, antes de tudo, mulher, lidando com naturalidade com o Sexo, afastando-se da culpa religiosa em relação a Luxúria, este gostoso pecadinho capital, gostoso como todos os outros pecadinhos capitais, num artista subindo num palco e, em Ira, mandar tudo e todos se foderem, com o perdão do termo chulo, como uma certa artista certa vez num palco: “Foda-se!” e, ainda por cima, “Foda-se de novo!”. As moças são bem coloridas, numa alegria carnavalesca, em mágicos confetes num baile de tambores vibrantes e fantasias coloridas, fazendo da fantasia um meio de expressão, como nas fantasias de Halloween, proporcionando que a pessoa faça uma pequena catarse com a fantasia, no “mico” que é uma festa à fantasia, à qual fui, sentindo-me tão ridículo, assim como o restante dos integrantes da festa – nada como zombar de si mesmo de vez em quando! Aqui é uma cópia fiel do Éden, com um lindo casal de duas Evas, e podemos ouvir o canto dos pássaros, um elixir para os ouvidos, num som de Paz, muita Paz, esta força que faz com que o Mundo Metafísico seja tão agradável, pois, sem Paz, nada se tem, e, sem Paz, a vida é um inferno, como no Umbral, a dimensão onde não temos amigos – é um horror. As moças têm ancas amplas, férteis, como nas ancas volumosas de vestidos de mulheres nobres na França pré Revolução Francesa, numa revolução que expôs o fato de que um líder que se afasta de seu próprio povo deixa de ser líder, no egoísmo humano: Se estou bem, meus súditos que se explodam! As mulheres são curvilíneas, como nas ancas ondulantes de uma Naomi Campbell na passarela, caminhando como uma deusa, no modo como já ouvi dizer: O Mundo da Moda é de um brilho bem superficial, como em rapazes que tudo o que fazem é malhar o dia inteiro, sem fazer algo mais, numa pobreza, numa pessoa que nada tem a mostrar de fato ao Mundo. Os seios são macios e ondulantes, remetendo a uma colega que tive no Ensino Médio, de seios volumosos, excepcionais, lindos, dando inveja a todas as mulheres siliconadas ao redor do Mundo, nesta insana busca por beleza, no Botox, por exemplo, o qual não produz um efeito muito natural, nas palavras de uma personagem de Meryl Streep: “Creio que uma cirurgia plástica deixa a pessoa pior do que esta era antes do procedimento”. Aqui são mulheres confortáveis em suas próprias peles, numa pessoa feliz, que aceita a si mesma, no caminho da autoestima, sem vaidades narcisísticas. Pelo amor de Deus: O que há de errado na nudez?

 


Acima, Menina com gato. O gato é tal ludicidade, diferente do cachorro, o qual é mais autêntico, mostrando claramente quando gosta ou não gosta de algo. O gato é a combinação de liso com cortante, ou seja, macia pelagem com afiadas unhas. A mocinha está arrumada, com laços nos cabelos, preparando-se para uma festinha com os amiguinhos. Por usar modelos tão jovens, Kirchner deve ter sofrido muita perseguição, quiçá rotulado de tarado e pervertido, talvez como pedófilo. O cômodo é todo bem colorido, nesta paixão de Ernest pelas cores, expressando emoções. A menina é bem jovem, e sequer tem seios, remetendo ao crescimento em público de Liz Taylor, a qual passou de atriz infante a sex symbol, neste poder avassalador que uma pessoa pode ter, arrebatando o Mundo, numa pessoa que é como se soubesse conscientemente causar comoções, fazendo de tudo um instinto, como numa pessoa que veio do nada e conquistou o Mundo, num caminho duro, diferente de uma pessoa que tem um padrinho poderoso. O vermelho é picante, como numa boa pizza de calabresa picante ou pepperoni, no fascínio dos temperos, numa Índia exercendo fascínio sobre a Europa renascentista, em especiarias divinas como a canela, fazendo da Gastronomia tal arte universal, no modo como o sushi ganhou o Mundo, tornando-se uma iguaria fina, exclusiva. Os laços da menina são os laços patriarcais, que castram a sexualidade feminina, com as duas faces no mito da Virgem Maria: Por um lado, é uma imagem que busca fazer com que entendamos a Imaculada Conceição que gerou cada um de nós, príncipes filhos do mesmo Rei; por outro lado, é a opressão patriarcal sobre uma mulher à qual foi negado ter sexualidade, ou seja, dois lados para a mesma moeda, como um sábio senhor que conheço, o qual me disse ter dois olhos – um contemporâneo e outro conservador, como no maravilhoso restauro do casarão de pedra dos Veronese – minha família – no município gaúcho de Flores da Cunha, numa obra que traz o tradicional casario de pedra com um domo moderno, contemporâneo, como na famosa pirâmide do Louvre, a qual causa controvérsia até hoje, havendo quem ame e quem odeie a construção moderna. A menina tapa a genitália, com um certo pudor, como numa pessoa discreta, que sai na Rua com roupas discretas, querendo chamar o mínimo de atenção, como se soubesse que um camaleão se protege ao ficar quase invisível, no valor da discrição, como uma médica que conheço, a qual se veste com discrição, sendo uma pessoa que definitivamente não quer atrair atenções desnecessárias. A menina parece estar maquiada, como um pai desconfortável ao ver a filha crescer e começar a se maquiar e usar santo lato, num “desmame”, no modo como a mulher heterossexual vê maquiagem e salto alto como prazeres e diversões, ao contrário da mulher masculina, a qual vê isso tudo como obrigações e imposições sociais, no modo como temos que respeitar a orientação e casa pessoa, pois vivemos num Mundo preconceituoso, patriarcal, cruel, havendo avanços contemporâneos, talvez fazendo com que minha geração, que foi criança nos anos 1980, veja tempos melhores e mais abertos. Podemos ouvir o gato miar, numa imagem divertida que vive esses dias no Facebook, mostrando como o gato pode ser “interesseiro”, cortejando o dono para este servir a comida ao bichano, num bichano que, ao terminar a desejada refeição, passa a ignorar completamente o dono! Os pés descalços são o conforto do lar, da muvuca, na gíria carioca, num lugar simples, ao qual estamos absolutamente habituados, nos versos de Alanis: “Aconselho você a andar nu pela sua sala de estar!”. A menina é o modo como, antigamente, a menina que recém começava a menstruar já era considerada mulher e apta a se casar, vítima de casamentos arranjados, numa menina passiva, a qual não tem controle sobre sua própria vida, o que é ruim, pois todos temos que ser livres, meu amigo. O ambiente é aconchegante, como numa lareira em um dia úmido e frio, num acalento.

 


Acima, Mulher deitada de camisa branca. Um momento do gostoso pecadinho da Preguiça, o pecado que tantas invenções maravilhosas gerou – para que pegar as escadas se posso ir de elevador? Aqui temos uma explosão rubra, picante, como na capa gigantesca rubra em Drácula de Bram Stoker, num filme impecável, que mereceu enormemente o Oscar de Figurinos, com figurinos de fazer cair o queixo do espectador, no modo como uma roupa pode ser um excelente meio de expressão, como em certos artistas cantores, para os quais é importantíssimo escolher o que vestir na hora de pisar no palco, em ícones de estilo e moda, ao contrário de um certo roqueiro, o qual, ao pisar no palco, simplesmente veste-se com algo em que se sente confortável, pisa no palco o faz o show. O sono é o sonho, numa pessoa sonhadora, talvez em pessoas que esperam demais, esperando a vida inteira, escondendo-se do Mundo, no desperdício: Espero que, na próxima encarnação, você não perca tanto tempo, havendo no reencarnar sempre uma nova chance, num caminho de depuração da pessoa, no modo como as vicissitudes da Vida são fazendo de nós pessoas melhores, num caminho evolutivo, numa pessoa que morre sendo muito melhor do que era quando nasceu. As flores são o cortejo dos enamorados, em flores que conquistam o coração, mas não necessariamente a cabeça, a qual não pode ser ignorada, como num homem que conheço, o qual fez à namorada uma sólida proposta de casamento, digna de ganhar respeito do sogros, mas um homem que, infelizmente, passou a esquecer do romantismo da Lua de Mel, permitindo que o casamento caísse numa mesmice monótona e desinteressante, levando um “pé na bunda” da esposa, no modo como devemos entender as mulheres, as quais gostam de duas coisas num homem: Um homem sério e, ao mesmo tempo, romântico, remetendo à obraprima de Jorge Amado, um amado escritor, que é Dona Flor e seus dois maridos, com dois homens – o homem do dinheiro e o homem do cacete, com o perdão do termo chulo. Aqui é o momento sem vigília, num descanso, como no Marte entorpecido de Botticelli, em sono tão profundo, sob uma Vênus vigilante, no clássico filme Lagoa Azul, num homem desesperado para sair da maldita ilha e numa mulher que quer ficar na ilha para sempre, numa mulher louca, incompreensível, no preconceito misógino da mulher diabólica, como na monstruosa Medusa, transformando homens em pedra, num homem que quer ter metas na Vida, num caminho de desafio e luta, nos bons versos de nosso hino nacional: “Verás que filho teu não foge à luta!”. Aqui, a modelo não está acordada em vigília, num Ernst “roubando” tal pose de passividade, como uma pessoa que não tem consciência de si mesma, não percebendo quando magoa alguém, numa mácula a qual não foi empregada premeditadamente, como uma pessoa que, apesar de nos amar, magoa-nos sem querer, ao contrário do sociopata, o qual agride querendo agredir – é um horror, obrigando os próprios filhos a fazer escolhas cruéis. Aqui é como uma pessoa roncando, inconsciente do próprio barulho. Aqui é o necessário momento de pausa, como na pausa do recreio no colégio, com os professores reunidos por vinte minutos na sala dos professores, e no momento em que o sinal toca, assinalando a hora de voltar à sisuda sala de aula, os professores dizem uns aos outros: “Vamos tocar o barco! Vamos trabalhar!”, nas palavras de uma Gisele, a qual, em sua majestade, sabe que não pode faltar trabalho, na metáfora da Gata Borralheira, encarando o batente e vivendo linda com seus sapatinhos de cristal. As flores estão despertas, como se quisessem posar para Ernst, na magia dos girassóis, seguindo a inclinação solar, na magia das flores silvestres primaveris, flores lindas as quais não precisaram ser plantadas pela mão humana, em adornos capilares tão femininos, num efeito glorioso, na pioneira Chanel: O que importa é o efeito e não o preço do adorno. A cama aqui parece ser deliciosa, no sisudo momento em que o despertador toca, acordando-nos para a necessidade de se sacrificar a languidez.

 


Acima, Retrato de Erna Shiling. A mulher já é idosa, mas sabe que idade não é pretexto para parar de se arrumar, pois autoestima não tem idade, remetendo ao mulherão Patrícia Poeta, que foi minha contemporânea na PUCRS, uma mulher a qual, além de arrumada e bonita, é supereducada, cumprimentando as pessoas, sabendo que virtude vem de dentro. As penas no chapéu são algo exótico, ousado, como nos exóticos chapéus das damas inglesas num domingo, só tirando o adorno da cabeça quando o dia escurece, numa “competição” para ver qual é a mais bonita e elegante, no modo como as mulheres, no fundo, arrumam-se para as outras mulheres. Erna olha para o lado, desinteressada, alheia, um tanto entediada, como nas entediantes alas vips de boates, numa coisa tão óbvia, quando que, no frigir dos ovos, a festa acontece no coração da pista de dança, no momento redentor de suar e curtir o som, no modo como fui “sócio” da casa noturna portoalegrense Ocidente, uma instituição tradicional da noite da capital gaúcha, ao ponto de eu ter absolutamente perdido a conta de quanta vezes fui à casa, na minha pós adolescência boêmia, só chegando a maturidade em cerca dos anos 30 de idade, como um rapaz que conheço, de 20 anos de idade, com toda uma pós adolescência à frente. Podemos sentir aqui o perfume de mulher, inebriante, como a personagem sexy Penny exerce fascínio sobre os nerds do superseriado The Big Bang Theory, no divertido personagem Raj, o qual, nos primórdios do seriado, simplesmente não conseguia conversar com mulheres – cada um com suas vicissitudes. O pescoço, apesar de idoso, é firme, numa mulher que aprendeu muito, adquirindo sabedoria e siso, sabendo que a Vida é algo muito sério, apesar de ser uma virtude ter senso de humor. No peito da mulher vemos um adorno, um emblema, na magia que as bijuterias exercem, derrubando a noção de que um adorno belo tem que ser caro e mercadologicamente valorizado, como na idosa Rose em Titanic ao fim do megablockbuster, atirando ao mar a joia inestimável, numa libertação, num descarrego, no termo popular “Vão-se os anéis; ficam os dedos”, no modo como não é possível adentrar joias no Plano Metafísico, este, sim, a plenitude mais longeva do que qualquer joia, no redentor final do filme, com os espíritos bons ressuscitando, reencontrando-se no lobby majestoso do navio, com um relógio ao fundo, que é a passagem do tempo, num plano atemporal, sem tempo, na juventude eterna e na racionalidade eterna, com irmãos que se amam, num plano de paz, sem qualquer guerra, nos versos do respeitado músico e cantor gaúcho Duca Leindecker: “Sonhei que as pessoas eram boas em um mundo de amor; acordei neste mundo marginal!”, como na ong Brasil sem Grades, pois o Plano Superior é um Brasil, só que sem grades – não é maravilhoso? Não são as cidades terrenas cópias das cidades perfeitas metafísicas? Existe nas praças metafísicas cocôs de pombos no chão? Erna aqui aglutina sabedoria, no modo como a juventude é repleta de vicissitudes, numa fase da Vida em que a pessoa pensa em muita merda e faz muita merda, com o perdão do termo chulo. Erna está arrumada para um momento de interação social, remetendo à personagem de Maggie Smith em O Clube das Desquitadas, interpretando a elegante Gunilla, no modo como dá gosto de ver na Rua uma mulher arrumada, perfumada, com autoestima, no prazer de se tomar um bom banho, fazendo-nos próximos à glória metafísica, na qual estamos sempre limpos e perfumados, com vigor, sempre com a sensação de barriga cheia, remetendo a um pobre coitado reciclador que me abordou hoje na Rua, pedindo dinheiro, o qual neguei por estar com pouco troco, pois não vou dar cinquenta reais de esmola, num Brasil paupérrimo, com milhões de cidadãos passando fome diariamente – é um horror. As penas são a delicadeza feminina, na beleza de borboletas em flores, na lascividade primaveril, o momento em que a Vida renasce, no majestoso quadro da Primavera de Botticelli, num frescor de beleza e renovação, nas temperaturas amenas de meia estação, dando uma ideia do clima delicioso metafísico.

 


Acima, Revolução de maio. Uma reivindicação, um protesto, numa convulsão social, como nos protestos violentos brasileiros do ano de 2013, numa espécie de desfile alegórico do mal. Podemos ouvir aqui os gritos dos manifestantes, na turba raivosa que invadiu Versalhes, num rei que era insensível em relação ao sofrimento de seu próprio povo, como no último czar da Rússia, fuzilado com sua família, como no filme O Último Imperador, no imperador humilhado pelos comunistas, reduzido a um mero cidadão com um número de identificação, na intenção comunista de se aproximar do espiritual, como cada um de nós tem um “código”, uma identificação, na igualdade da urna eletrônica democrática, ignorando sexo, raça, cor, classe social, ideologia etc., na nobre intenção de igualar, pois somos todos príncipes, filhos do mesmo Rei, que é Tao, aquele que sempre esteve aqui e sempre estará, pois discordo amplamente de um certo pseudointelectual, o qual dizia que, no início, era a Natureza – não: no início, era Tao, no modo como inteligência de nada serve sem ter por trás um bom coração. Os rapazes são jovens aqui, numa nova consciência e juventude, no modo como a geração de meus pais, que foi jovem na Ditadura Militar Brasileira, saiu “sequelada”, traumatizada, na humilhação a um artista censurado, no insano sistema controlador de Matrix, buscando manter o cidadão sob controle, ou seja, sem liberdade – é um horror. Será que aqui o vermelho alude ao Comunismo? É como no Brasil ditatorial, no qual, se eu estivesse na Rua portando um livro de capa vermelha, o policial examinaria meu livro e, em se tratando de um livro comunista, levar-me-ia à força a uma delegacia para eu me explicar para o delegado e torcer para que eu não inaugurasse minha própria ficha criminal. Aqui é este racha ideológico no Brasil, com Lula e Bolsonaro concorrendo palmo a palmo, numa diferença pequena, na insana invasão vândala em Brasília, mostrando que a Paz é maior do que a Raiva, na ironia de algo similar ter acontecido em Washington tempos antes, num senhor irresponsável, quiçá infantil, meio burro e, ainda assim, bem sucedido, nas palavras de uma pessoa que conheço: “Como eu gostaria de ser mais burro porém mais bem sucedido!”. Aqui é um organismo que foge do controle, num certo governador debochando da classe dos professores, os quase reivindicavam o piso salarial, com este senhor aconselhando os professores as comprar piso numa loja de materiais de construção – Jesus, que deselegância! Aqui é no famoso massacre chinês da Praça da Paz Celestial, com paz nenhuma, com seres humanos sendo eliminados como baratas numa cozinha, na contradição chinesa: comunista na teoria e capitalista na prática, com uma ideologia caindo de podre. O vermelho é o sangue derramado em protestos, num Ser Humano que diz agir em nome de Jesus, mas fazendo algo que Jesus jamais faria, como queimar uma pessoa viva numa fogueira, nesta simpatia humana pela crueldade. Aqui são sistemas arcaicos como o Catar, numa jornalista corajosa, a qual questionou a questão dos direitos femininos no país ditatorial, em insanidades como tolher uma inocente bandeira do estado brasileiro do Espírito Santo somente por esta conter um inocente arcoíris, o qual, nos conceitos ditatoriais, remete à homossexualidade, fazendo desta um crime em muito países – é um horror. Aqui é uma queda de braço, com cidadãos desafiando a ordem vigente, na capacidade de uma feminista em pensar contra tal vento, desafiando ranços e teias de aranha, no poder de nossas elites, as quais pensam acima de mediocridades, sendo insuportável ser um intelectual reprimido, como me disse uma professora, dizendo que os militares eram tão burros que não percebiam a sutileza do manifesto político por trás do ícone Águas de Março, nas palavras de Elis Regina, a qual teve a coragem de chamar os militares de “gorilas”, os quais censuraram primeira versão da telenovela ícone Roque Santeiro, numa Betty Faria altiva e imponente, o que assustou os gorilas.

 

Referências bibliográficas:

 

Ernst Ludwig Kirchner. Disponível em: <www.meisterdrucke.pt>. Acesso em: 3 mai. 2023.

Ernst Ludwig Kirchner. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 3 mai. 2023.

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