quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Um Dürer que perdura (Parte 1 de 3)

 

 

O alemão Albrecht Dürer (1471 – 1528) é o mais famoso renascentista nórdico, apesar de suas xilogravuras carregarem algo de estilo gótico. Foi protegido do imperador Maximiliano I. Alcançou fama ainda jovem. Está em quinze museus do Mundo, incluindo o supremo francês Louvre. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Madona com o menino. A Madona é o zelo, numa mãe atenciosa, como Tao, pois nada nem ninguém é pequeno demais para desmerecer Sua total atenção. O menino é saudável e gorduchinho, no costume brasileiro de elogiar uma criancinha dizendo que esta é gordinha. Aqui é como no fascínio do leite condensado, na delícia de se mamar numa caixinha de Leite Moça, na universalidade dos mamíferos, no instinto materno de cuidar muito bem das crias, com a diferença de que, no Ser Humano, o vínculo de família não se dissolve com o Desencarne, nas famílias indestrutíveis, na eternidade dos laços de amor, em irmãos que nunca se esquecerão de seus entes queridos, num amigo o qual, na Terra, nos fez um gesto de amor e amizade, no modo como o amor é eterno e indestrutível, no presente especial que é a Vida Eterna, no mistério insondável de Tao, o Eterno, num poder grande demais para caber na cabeça do Ser Humano. Aqui é a universalidade da divindade feminina, numa Maria que tranquilamente ocupou o espaço de deusas pagãs, como Ísis, como minha avó no leito de morte, dizendo poder ver Nossa Senhora, o mito que serve para nos fazer entender a Imaculada Conceição que a todos nós criou, fazendo das realezas mundanas cópias do Metafísico, tal qual uma flor de plástico imita uma flor de verdade, como nas paisagens de Gramado – apesar de eu saber que se trata de uma cópia, mesmo assim me agrada profundamente, num destino turístico tão pujante, em levas intermináveis de turistas, numa cidade cheia de vida, de movimento, de doces, de coisas belas para serem apreciadas. Maria é o pomo de discórdia entre católicos e protestantes, pois estes não reconhecem a divindade da Virgem Santíssima, havendo o sábio meio termo anglicano, sendo esta uma religião que, apesar de não se submeter ao Vaticano, conserva o mito de Maria, na figura conciliatória estadista de Elizabeth I, encerrando a crueldade de sua irmã Mary Tudor, a qual queimava pessoas vivas em fogueiras, nesta capacidade humana em ser o mais cruel possível, com líderes párias mundiais se reunindo, como nos horríveis déspotas Putin e o infeliz líder da Coreia do Norte, fazendo deste um país pobre e complicado, num líder coreano que, ao investir tudo em obsessivo armistício, nega à população coisas básicas como escolas, hospitais e estradas – é um horror. A nudez do menininho é absolutamente inocente, como numa inocente nudez numa praia de nudismo, rechaçando a malícia da serpente, a qual trouxe vergonha ao sexo, o qual é natural no Ser Humano e na Natureza, como as flores são, na prática, órgãos genitais, na libido primaveril de explosão de vida em cio, em borboletas ensandecidas polinizando, no inocente exemplo que visa explicar à criança a naturalidade do sexo, como uma professora freira que tive, a qual, ao ver que as crianças estavam maliciosas em relação a sexo, resolveu ministrar aulas de Sexologia para os alunos, pois como Deus pode ter vergonha de algo que Ele mesmo criou? O tecido sobre a cabeça da Virgem é fino, aristocrático, digno de rainha, algo longe da simples esposa de carpinteiro que Maria foi, na divertida declaração de uma certa senhora, a qual estava farta, num dado momento, de cozinhar, dizendo: “Não aguento esta vida de Maria!”, no machismo de fazer da mulher algo gira em torno do que é mais importante, que é o homem, como uma mulher que abandona a carreira profissional para se tornar uma anônima e desinteressante dona de casa, nas palavras de uma amiga minha psicóloga: “É tão desinteressante uma pessoa que é só dona de casa!”, fazendo da mulher um ser sem história, algo que enfurece qualquer feminista, numa luta de emancipação, numa mulher que pode ser tão boa quanto qualquer homem, na luta pela igualdade de gênero, o qual é uma ilusão, pois o espírito não tem sexo, nem sexualidade, fazendo do sexual algo relativo ao período encarnatório.

 


Acima, Quatro apóstolos. Os pilares do Cristianismo, homens sem os quais o legado de Jesus teria se perdido para sempre. Aqui é uma reunião, nos apóstolos discutindo entre si, numa reunião de adultos responsáveis, como nos super-heróis da Liga da Justiça, na idade de Cristo quando morreu – jovem, porém maduro, no mito da mulher balzaquiana, ou seja, nem muito menininha, nem muito velha, como na Mulhergato de Pfeiffer, a única coisa de realmente boa no fracassado Batman Returns, um filme esquecível, numa decepção se comparado ao tomo anterior, no Batman de 1989, de Tim Burton. Os pés aqui, quase descalços, são a simplicidade, nas sábias palavras de da Vinci, o qual dizia que a simplicidade é o mais elevado grau de sofisticação, numa simplicidade distributiva, numa comunhão, em planetas alimentados pelo mesmo sol, como numa majestosa travessa ao centro de uma mesa, num momento em que somos todos iguais, como no paradigma democrático, na sensibilidade de se colocar no sapato do outro e entender como o outro se sente, num ato de amor fraternal, na revelação solar de Tao – somos todos irmãos, no caminho de igualdade em que o presidente é um de nós, e não um ser apolíneo e divino pairando sobre nós reles mortais, como no Antigo Egito, no qual o faraó era considerado um deus encarnado, em revelações como na Revolução Científica, no caminho positivista de esclarecimento, no esforço espírita para provar as coisas do modo mais frio e racional possível, explicando que a Eternidade é o caminho lógico e natural, pois nada haveria sentido em a pessoa se dissipar totalmente ao morrer. Os pés aqui são o termo “pés no chão”, classificando pessoas realistas, pragmáticas, pois o Mundo só pertence aos que têm tais pés no chão, no modo como uma pessoa rica improdutiva não é mentalmente sã, no poder saudável do trabalho, a dignidade de um ser humano em um determinado corpo social, no modo como, ao desencarnar, o indivíduo se depara com a imortalidade da necessidade do trabalho, sendo o Plano Metafísico um plano maravilhoso, no qual não há desemprego e no qual os empregos são estimulantes, exigindo da mente da pessoa desencarnada, como uma certa agência findada de Propaganda em Porto Alegre, na qual todos os publicitários portoalegrenses queriam trabalhar, numa agência poderosa que acabou ruindo num escândalo financeiro, nos impérios que ascendem e descendem, como no mercado gramadense, num incessante abre & fecha durante o ano, como na dourada Hollywood, que é a terra do sucesso e a terra do fracasso, com tantos sonhos duramente despedaçados todos os dias, nesta obsessão humana por sucesso mundano, no modo patriarcal como, do homem, é cobrado o sucesso e o êxito, quando, da mulher, não – é muito machismo, num homem que simplesmente não pode ser sustentado por uma mulher. Os livros aqui são a acumulação de conhecimento, fazendo de Jesus tal mente brilhante, mesmo não tendo frequentado um sofisticado e tradicional college inglês, num homem “cru”, por assim dizer, com todo o respeito, como no estilo “cru” de uma Frida Kahlo, a qual, apesar de não ter tido o pincel sofisticado de um renascentista célebre, soube se expressar muito bem, sendo valorizada ainda em vida, em tristes casos como o Oscar póstumo de Heath Ledger, um homem que tantas décadas de vida tinha pela frente. Aqui parece ser um segredo entre os homens, como no segredo da obraprima O Código da Vinci, da linhagem de uma família secreta, descendente direta de Jesus, num fino caminho de discrição, na sabedoria de uma pessoa discreta, a qual vive seus dias com simplicidade, como num esperto camaleão, invisível a presas e predadores, na infalível seleção natural, com os genes de esperteza sendo passados para os descendentes, numa pessoa com a força para sobreviver a décadas de carreira, num caminho de reinvenção e renovação, num artista que tem a força para tocar a carreira para frente, ao contrário de uma certa estrela dos anos 1980, a qual não sobreviveu a tal década – é uma pena.

 


Acima, Retrato de Oswolt Krel. Aqui temos tal pincel de talento, num Dürer com a paciência para retratar cada fio de cabelo e cada pelo de animal na vestimenta do modelo, nesses grandes mestres renascentistas em abrir janelas em nossas mentes, na percepção de tal áureo momento artístico, numa janela para um plano superior, mais belo, mais fino, na vitória do fino sobre o grosso, num plano em que somos todos amigos, sem as vicissitudes do Plano Material, tão repleto de ladrões e de pessoas que querem enganar os outros, numa falta de apuro moral, o qual é o que mais importa numa vida, havendo no sociopata imoral um longo caminho de depuração pela frente, num espírito malévolo que tornar-se-á um grande espírito de luz, no natural caminho de crescimento e depuração, como um rio toma seu rumo ao mar; como um filhote cresce e sai do ninho. O homem aqui é sério e cheio de dignidade, austeridade, como num altivo busto comemorativo, como no busto de meu bisavô Lisboa no parque da Festa da Uva, um homem respeitado, que tudo fez pela comunidade, um homem levado a sério pelo corpo social, dando amplo orgulho aos seus descendentes, no caminho da plena austeridade, como num altivo monarca numa cédula de dinheiro; como na personagem Pierina, de Pozenato, uma mulher cheia de apuro moral, austera, vivendo seus dias em verdade e realismo, esfregando o chão muito bem esfregado, num trabalho árduo de sol a sol, encarando os deveres do dia, em tarefas árduas como criar filhos, em enormes responsabilidades de matriarca, mantendo unida uma família numa noite de Natal, no modo como não são todas as pessoas com este talento de unir as pessoas, num talento instintivo, numa pessoa que simplesmente nasceu com tal capacidade, num avô amoroso, que acolhe a todos os netos, no modo como o filho de meu sobrinho será como um neto para mim. A paisagem ao fundo é fina, num lugar aristocrático, belo, chic, como nos campos ingleses abençoados por uma fina Elizabeth I, excitando os cavaleiros a cavalgar por tais campos sacros, numa líder que tudo fez pela Inglaterra, fundando os tradicionais colleges, apesar de ser uma época em que tais instituições eram proibidas para mulheres, na contradição de Elizabeth Regina ter sido tal ícone feminista, recusando-se a casar, sabendo que, se casasse-se, faria da Inglaterra um mero quintal de outra nação. O homem aqui está aprumado para posar, e sua barba está impecavelmente feita, no modo como dá gosto de ver um homem barbeado, de cabelo aparado e de banho tomado, no ritual diário de um homem que se apruma para ir trabalhar, na minha memória de infância, ouvindo, de manhã bem cedo, os barulhos de meu pai no banheiro, compreendendo eu que a hora do sacrifício estava chegando, numa cama tão sedutora, nos sedutores braços de Morfeu, acordando cedo em dias gélidos de inverno, na austera luta diária que nos espera, nesta luta contra os impulsos de prazer do Id, numa pessoa que sabe que tem que ter disciplina para sair da cama e encarar uma nova jornada de labor, como num laborioso colono camponês italiano na Serra Gaúcha, um homem que só não trabalhava no domingo porque a religião não permitia. O homem altivo aqui usa anéis, símbolos de poder e riqueza, na metáfora do Anel de Tolkien, o poder mundano que corrompe nobres homens, num homem que imagina o que faria se tivesse o maldito Anel, nas ambições humanas de insanidade, num ditador que pouco se importa com o cidadão, oprimindo e aterrorizando este, no modo como não interessa se é comunismo ou fascismo – é tudo ditadura, meu irmão. O homem aristocrático aqui tinha dinheiro para bancar a produção de tal quadro, numa época em que tal serviço era caro, muito caro, havendo no advento da Fotografia tal revolução, chegando ao século XXI, no qual a foto é totalmente digital, em tecnologias democratizadas e difundidas, num insano galgar de progresso tecnológico, causando perplexidade à minha geração, que foi criança nos anos 1980, com o velho televisor de tubo e o telefone de gancho e disco.

 


Acima, São Jerônimo. A caveira é a finitude, no fim derradeiro que nos espera, no modo como o Espiritismo encara o óbito de forma normal e saudável, sempre na fé do Mundo Metafísico, o qual nos espera, sempre, ao contrário do Catolicismo, o qual vê a morte como algo escuro, horroroso e tenebroso, na impressão de que nunca mais veremos nosso ente querido falecido. A caveira é a estrutura nua, como numa estrutura de prédio. A caveira é o caráter corrompido do sociopata, uma pessoa que perde tempo querendo sempre mentir e enganar os outros, o que é grave, pois os que mentem acabam desprezados e rejeitados. As longas barbas brancas são a sabedoria dos anos, na sabedoria de cabelos brancos, numa época que, apesar de ser o inverno da vida, traz juízo e discernimento, pois não é bom ser jovem demais, visto que a pessoa jovem demais não tem senso de responsabilidade, pois a juventude feliz é uma invenção de velhos; a juventude plena e feliz não existe sobre a face da Terra, como me disse uma amiga: “Estamos na fase do ‘foda-se’ – se algo der errado, foda-se”, com o perdão do termo chulo aqui. O Jesus ao fundo é tal fim trágico, na maravilha do Desencarne, como uma grande amiga minha, já falecida, uma pessoa que, encarnada, testemunhou a trágica e horrível morte de sua netinha, amiga esta a qual desencarnou, reencontrou-se com a neta, vendo que esta está viva, bela, lépida e faceira – acabou o pesadelo, minha amiga querida! A tragédia da morte de Jesus é como na tragédia que foi a Revolução Farroupilha, nos rebeldes sendo esmagados pelo poder imperial da época, num episódio que virou símbolo da altivez do gaúcho, um estado o qual, apesar de fazer parte de uma federação indissolúvel, é um país à parte, como no estado da Bahia, um estado que também é um país à parte, algo inevitável num Brasil de medidas tão gigantescas, continentais. A boina é o resguardo e a proteção, num pai ou mãe visando proteger o filho, até tolhendo energicamente este, visando o bem deste, no enorme desafio que é criar um filho e incutir valores nobres na cabeça da criança, como um amigo meu de infância, com a enorme responsabilidade de criar duas meninas, um homem que vai se tornar pai de adolescentes, no termo cômico “aborrecente”, num jovem que tanta “dor de cabeça” pode trazer a um pai. Os livros são a sabedoria e a acumulação de conhecimento, num galgar incessante de avanços tecnológicos, como no auge da era CD, uma época em que não se pensava em mídia mais avançada, vindo posteriormente a era Download, revolucionando a venda de Música, em carros que, hoje em dia, sequer com entrada para CD têm, causando perplexidade a quem viveu o auge ou o final da Era Analógica. A caneta ao lado é o estilo, a classe e a sofisticação, no divisor de águas que foi o surgimento da Escrita, trazendo a civilização, no modo como tribos indígenas americanas neolíticas têm uma tradição que é transmitida oralmente aos jovens. A caneta é o falo retilíneo, abreviando etapas, na praticidade e na liberdade do pensamento racional, desmitificando a Natureza e trazendo o Monoteísmo, num Deus eterno, indecifrável, no mistério insolúvel de Tao, o infinito, a vida eterna, a vida sem final, num presente tão incrível. O santo aqui encara o espectador, num senhor sério, muito sério, entendendo a seriedade e a gravidade das coisas, ao contrário do jovem, o qual tem uma certa arrogância, achando que jamais vai se deparar com obstáculos e vicissitudes, num jovem que ainda não sofreu muitos golpes da vida, fazendo da crise um momento de crescimento e depuração, renovação, numa pessoa que foi ficando forte e sobrevivendo a tais dificuldades. O livro aberto é a vida de um homem honesto, que sempre viveu a vida de forma idônea e honesta, ao contrário do homem ganancioso, o qual não vê que a pessoa mais pobre é nossa irmã, na ilusão das classes sociais, as quais se dissolvem no Desencarne, pois no Plano Superior a hierarquia funciona à base do apuro moral – os mais nobres regem os menos nobres. O idoso aponta para a caveira para nos lembrar de que ninguém está no Mundo para sempre, havendo a necessidade de fazermos algo de nobre com nossos dias aqui na Terra.

 


Acima, São Jorge – Natividade – Eustáquio. A cena está guardada por duas sentinelas paladinas, com altivos mastros de bandeiras, como no ato de autoridade de se finar na Lua uma bandeira dos EUA, fazendo da Lua tal “terra de ninguém”, como na corrida para colonizar as Américas, numa disputa entre potências. As armaduras dos cavalheiros são a capacidade da pessoa saber dizer “não”, não deixando que o Mundo me diga como devo viver minha vida, pois que vida é esta na qual sou um refém das expectativas de outrem? É como um certo senhor, cujo nome não mencionarei, um senhor que é afortunado e, ao mesmo tempo, desafortunado, no fato de que, na vida, não se pode ter tudo. Aqui é um retrato de fertilidade, pois a Virgem está cercada de pessoinhas e criancinhas, fazendo de Jesus apenas um de seus filhos, no milagre da multiplicação dos pães, na fartura do Plano Metafísico, onde não há fome nem privações, na dimensão em que tudo é pensamento, num lugar onde tudo é belo e limpo, bem administrado, fazendo das cidades terrenas tais cópias das cidades espirituais, em problemas mundanos como a coleta do lixo, num problema atual em Porto Alegre, com vários bairros acumulando lixo, num sistema débil de coleta, nas enormes responsabilidades de um prefeito, em coisas desagradáveis como vi hoje na Rua – um rato morto na calçada, como no rato servido de comida no clássico O que terá acontecido a Baby Jane?, com deusas como Bette Davis, atrizes que transcendem e não são simples artistas, mas deusas que reinam na indústria, nas obsessões hollywoodianas por sucesso, em estatuetas cobiçadas, numa obsessão por sucesso mundano, na massagem de ego que pode ser receber um Oscar, fazendo do sucesso algo tão complicado – quando o sucesso vem, temos que saber sobreviver a este. No alto da cena o Sol impera soberano, no disco solar de Áton, no momento de transgressão herege tecido pelo maldito faraó Aquenáton, nos primórdios que gerariam mais tarde o cristianismo, o islamismo e o judaísmo, na questão de que não há deuses, mas nossos irmãos depurados, havendo em Tao o Pai Supremo, o eterno enigma, estranho, maravilhoso, no modo como um homem de Tao pode estranho e diferente. No centro da cena vemos majestosos arcos grecorromanos, renascentistas, num Vaticano inundado por tal vogue, tal onda, nas modas que marcam época. Nesta cena vemos uma perspectiva renascentista, transgredindo o gótico, deixando para trás tal fase da Arte, como na transgressão modernista, rechaçando “ranços” acadêmicos tradicionais, trazendo arquiteturas simples e minimalistas, elegantes, maravilhosas, como nas linhas simples de Brasília, num Brasil tão pujante, em busca de uma identidade nacional de design, no desafio do Cinema Brasileiro em encontrar tal identidade, “lutando” contra a fortíssima identidade hollywoodiana, em diretores estrangeiros sonhando com uma indicação ao Oscar de Filme Estrangeiro. O dia aqui é límpido e ensolarado, num Céu de Brigadeiro, em dias raros de Sol em Londres, a cidade dos cidadãos pálidos, na contramão de brasileiros em zonas tropicais, querendo pegar um frio em Gramado, no modo como o Ser Humano nunca está satisfeito – se está no campo, que ir para a cidade; se está na cidade, quer ir para o campo. A Virgem é a paciência eterna, nunca se aborrecendo com os anjinhos competindo por Sua atenção, no modo como civilizações antigas tinham a serpente como um símbolo de fluidez e fertilidade, ao contrário do Catolicismo, colocando a serpente como símbolo de malícia e ruína, corrompendo o Homem e trazendo as vicissitudes terrenas, tudo por culpa de uma mulher – é muito machismo. Um senhor se ajoelha perante a Virgem, no modo como o indígena, catequizado pelo homem europeu, não entendia a imagem de Maria esmagando a serpente, no modo indígena de lidar com naturalidade com o sexo, como casais copulando na frente de todos os outros membros da tribo. Aqui, a Virgem é gigantesca, esmagadora, conquistando a fé do fiel católico.

 


Acima, Suicídio de Lucrécia. Aqui é um fim trágico, como um colega meu de colégio, o qual se matou, pois o suicídio nada mais é do que um assassinato, num ato de se jogar na cara de Tao o que Ele nos deu, que é a vida, remetendo a uma grande professora de Filosofia que tive, a qual sempre questionava os alunos: “Por que não fazemos suicídio coletivo?”, no modo como a vida sempre nos traz algo de novo para aprender, pois as dificuldades terrenas vão fazendo de nós pessoas melhores e mais depuradas, na questão da pessoa crescer e morrer melhor do que quando nasceu, no crescimento do espírito protagonista do romance espírita Nosso Lar, num médico o qual, desencarnado, observou a frivolidade com a qual conduziu sua encarnação na Terra. Aqui é como a pessoa traz para si mesma tal desgraça, numa pessoa que se coloca em uma determinada situação. Aqui a jovem é bela, no culto renascentista ao corpo, como no corpulento Davi de Michelangelo ou nos homens corpulentos de Aldo Locatelli, num rapaz que se fez homem, abraçando as demandas da vida, nos versos de uma certa canção: “Você pode estar farto de tudo isso, mas você será um homem, meu filho”, como na situação de um certo ator, o qual está recluso, deprimido e improdutivo, no modo como o sucesso pode ser tão complicado de se superar, na metáfora de As Horas: doce ou amarga, esta página terá que ser virada! Aqui é como uma pessoa se martirizando, como pessoas insanas que se crucificam de verdade para reverenciar Jesus, algo condenado pelo Espiritismo, o qual diz: “Mortifique o espírito; não o corpo”. É na mortificação da beleza racional e fria dos números, na beleza da lógica matemática, na infinidade de números – o tamanho de um número nunca será supremo. Ao fundo vemos uma cama, que é o descanso, como no sétimo dia da Criação, no qual até Ele descansou, no colono italiano no RS, um colono que laborava intensamente, de Sol a Sol, só não trabalhando no domingo porque a religião não permitia. Os seios cheios de leite são a fartura, num reino próspero, rico, farto, como em nações como o Canadá, numa incrível qualidade de vida, num país o qual, de tão desenvolvido, faz com a cidade de Nova York, já ouvi dizer, pareça-se com um país de terceiro mundo! A nudez é a entrega, a confiança, num ator que, ao posar nu, confia no diretor, numa relação de confiança, como uma certa atriz brasileira, a qual jamais pisou num palco de teatro, o que é uma pena, pois o ator tem que explorar todos os meios de expressão cênica, sendo tão simplório um ator que só faz televisão. A roupa aqui é mínima, como Jesus na cruz, numa incrível crueldade, num homem que, ao ter sido oficialmente executado pelo código penal romano, tinha tudo para cair no mais completo esquecimento, ressuscitando depois na fé das pessoas, ao ponto do césar romano se converter ao Cristianismo, num Jesus que é a prova de que as pessoas não morrem no momento da morte física. Antes de se matar, a mulher olha para cima, talvez num último ato de reflexão, numa pessoa que duvida da fé e do fato de que um mundo melhor nos aguarda, numa falta completa de fé, como numa pessoa que entra num centro espírita: Se é para ali entrar sem fé, então é melhor ficar sem entrar, no modo como a fé não dá garantias, mas esperança, no final de Matrix Revolutions, no Oráculo dizendo: “Eu acreditei!”. Aqui é um presente divino sendo jogado fora, como você chegar numa festa, dar um presente ao anfitrião e ver este jogando este presente de volta para você, numa ingratidão deselegante. A faca aqui é a lança de São Jorge derrotando o dragão e libertando a donzela virginal, no modo como a Sociedade tolhe tanto a sexualidade feminina, privando a mulher de ter prazer sexual – é um horror. Os pés descalços são a vulnerabilidade, numa pessoa que acaba ficando gripada, no modo como tem que haver a autoestima, como uma amiga que tenho, a qual está sem autoestima, não se arrumando e não se gostando, pois a primeira pessoa que deve me amar sou eu mesmo. Aqui é um grande desperdício, numa jovem com tanto pela frente.

 

Referências bibliográficas:

 

Albrecht Dürer. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 13 set. 2023.

Albrecht Dürer. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 13 set. 2023.

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