O belga Paul Devaux (1897 –
1994) estudou Arte em Bruxelas e também lecionou. Tem um viés surrealista.
Infelizmente, sofreu uma progressiva perda de visão e só pode pintar até o ano
de 1986. Sua obra é rica e vasta. Os textos e análises semióticas a seguir são
inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, As Passantes. 1947.
A Lua aqui simboliza a Feminilidade, com seus ciclos
menstruais de dor e fertilidade, no modo como deve ser difícil ser mulher. É uma
cena banhada sensualmente pelo luar, numa claridade dúbia e misteriosa, e
fascinante, na magia de uma noite amena e enluarada, perfeita para namorar. A
Lua aqui é cheia, abundante, completa, como um ventre fertilizado, trazendo
Vida ao Mundo. É um quadro que simboliza todo um erotismo feminino, uma
identidade feminina, até insinuando homossexualidade, no modo como muitos
homens se sentem extremamente excitados em ver filmes pornôs de duas mulheres
transando. O Céu é limpo, num discreto azul marinho, num mar plácido e doce,
num verdadeiro paraíso, num lugar agradável. Podem ouvir o som de grilinhos,
dando a trilha sonora para esta noite perfeita. A pele das mulheres é alva como
a Lua, formando com esta um continuum de beleza e pureza. A Arquitetura é
clássica, num Devaux com um pé no tradicional e outro pé no pós-moderno. Bem ao
fundo na cena, vemos uma mulher destoante, pois esta está completamente
vestida, recatada, como uma noiva entrando na igreja, na sua pureza virginal,
no modo como a Sociedade simplesmente não permita que a mulher tenha experiência
sexual, nem prazer sexual – a Sexualidade Feminina é tolhida sempre. Neste
quadro de Devaux temos uma libertação, fazendo da Arte uma chave que desbrava
terrenos preconceituosos, fazendo com que a Arte imponha uma saudável
transgressão, empenhando-se em causar evolução cultural nos núcleos sociais.
São mulheres belas e aristocráticas, e temos a impressão de que não poderíamos
estar as vendo, num momento de reserva, com as mulheres confortáveis em sua própria
nudez, jamais imaginando que estão sendo vigiadas por legiões de espectadores.
Suas vulvas são recatadas, nunca descobertas totalmente, como se as mulheres
estivessem relutando em se despir completamente. Seus seios estão lactantes,
cheios de nutrição, amamentando as crianças, no prazer que um adulto (como eu)
tem em chupar um caixinha de leite condensado! O chão aqui é irregular e
pedregoso, difícil, e não é lisinho como a pele das moças retratadas. É o chão
da Vida, desdobrando-se em todas as suas vicissitudes, suas dificuldades, suas
asperezas, no modo taoista de quer que “fácil” e “difícil” são faces do mesmo
trabalho. Desde sempre a Lua encantou o Homem, ao ponto deste querer pisar nela
de fato. É o desbravamento, a descoberta desvirginizante, nas pegadas do
astronauta em solo lunar, deixando uma mácula, no agressivo termo “hit”, que
denota filmes ou canções que se tornaram grandes sucessos de popularidade – o
termo quer dizer “agredir”. Ou seja, é o falo excitado querendo desbravar os
mistérios enluarados da Feminilidade, num jogo de sedução. Vemos na cena
pilares clássicos fortes ao ponto de poder sustentar um templo pagão grego, no
modo como a Arte pode se tornar um forte pilar que alimenta a Sociedade, nas
comoções que certos artistas sabem causar, fazendo da Arte um “terremoto”
implacável. Ao fundo vemos uma mulher deitada num divã, talvez num divã de
consultório psiquiátrico, abrindo sua mente ao terapeuta e deixando este fazer
um diagnóstico preciso, na frieza racional da Medicina, fazendo metáfora com a
construção técnica do espírito. A mulher repousa, banhada pela Lua, como me
lembro certa vez de ter acordado no meio da noite ver a Lua me banhando na
cama. Há postes de luz acesos, mas não são páreo para a luz do satélite, o qual
nada mais é do que um espelho que reflete a luz solar, no modo como o espelho é
símbolo de Feminilidade, de beleza e dos demais atributos femininos. A limpeza
do Céu é a limpeza de Tao, o inventor de tudo. E as mulheres aqui têm semblante
sério e plácido, parecendo conversar calmamente, nos mistérios femininos cobertos
por um misterioso véu opaco, no modo como não se pode prever tudo na Vida.
Acima, Eis o Homem. 1949. Devaux gosta muito de esqueletos. Eles são a
finitude, o fato de que todos temos dentro de nós mesmos uma bomba relógio que,
cedo ou tarde, explodirá. Os esqueletos são a natureza finita de nossa passagem
pela Terra, num Devaux empenhando em fazer valer o tempo que lhe foi dado aqui
no Mundo, no modo como são infelizes aqueles que não colocam sua inteligência a
serviço do Mundo. Temos aqui um Jesus sendo retirado morto da Cruz, e todos os
seres humanos aqui estão igualados, no fato de, como diz exaustivamente o padre
na missa, somos todos irmãos, sangue do mesmo sangue, seres provenientes da
Imaculada Conceição de Tao, ou seja, todos temos sangue nobre, muito nobre,
extremamente nobre, o que há de nobre. Mas infelizmente continuamos a viver num
Mundo muito desigual, no modo como são nobres as primordiais intenções
marxistas – mas nunca ouvimos falar que de boas intenções o Inferno está cheio?
Aqui é uma cena noturna, escura, fazendo contraste com o manto alvo que envolve
Jesus. Aqui não vemos uma gota de sangue, no modo metafísico de rechaçar a
natureza física de tudo em volta. A Cruz
está bem no meio do quadro, no modo como Cristo dividiu em duas a História da
Humanidade, trazendo conceitos inéditos, os quais estão até hoje sendo
assimilados pela Humanidade, num legado que ecoa no decorrer dos milênios, numa
força nunca antes vista no Mundo. Esta cena mostra como o Ser Humano é
patético, e mostra a bobagem que foi condenar e executar Jesus, nosso irmão,
nosso igual, um espírito cheio de Amor, pois, no fim do resumo de tudo, tudo se
resume a Amor, como um profissional, por exemplo, que tem extremo cuidado com o
próprio trabalho, como um Tao atencioso, criando o Ser Humano, pois nada é
desimportante ao ponto de não merecer a atenção total de Tao, no mistério da
Onipresença; no mistério de que Tao existe desde sempre, pois, como diz o
Espiritismo, Deus é o infinito: imagine que você nunca findará. É muito poder,
é muito enigma. A Eternidade é o maior presente que pode existir, e só pode ser
dada por um ser eterno, é claro. A parte superior do quadro tem cor preta, cor
do luto, da tristeza, da Morte, no modo como os católicos e espíritas veem a
Morte de formas diferentes: aqueles veem a Morte de forma trágica e horrorosa;
já, estes, de forma mais natural, crendo que a Mente sobrevive ao óbito. Aqui,
os esqueletinhos são todos irmãos, no modo como anjos, os espíritos de Bem,
unem-se ao redor de um irmão que precisa de auxílio e ajuda, no modo como
absolutamente ninguém fica sem um Anjo da Guarda – é uma lei. O manto branco
faz contraste com uma cena tão escura e fechada, e é a Paz, a limpeza de Tao,
na absoluta limpeza das cidades espirituais, que são modelo para a construção
das cidades da Terra. É como uma planta artificial tentando ser como uma planta
de verdade – é só uma imitação. Os esqueletos tiveram sua carne sendo devorada,
como cristãos perseguidos na Roma Antiga, devorados por famintos leões no
Coliseu, na eterna e cruel insensibilidade do Ser Humano. Outros esqueletos
estão com mantos em tons de azul e roxo, em harmonia com o céu noturno de azul
fechado. É uma noite triste, sem Lua ou estrelas. A cidade ao fundo está vazia
e quieta, e a cena é onírica, como produto de uma mente que está dormente. É um
quadro que clama por Igualdade, nos ideais da Revolução Francesa. Os esqueletos
fazem metáfora com o Desencarne, como se a carne fosse o corpo físico e como se
os ossos fossem o espírito, numa espécie de sobrevivência após uma hecatombe
nuclear, como uma pessoa guerreira, que não para de lutar pela Vida, sempre
abraçando uma nova etapa, sempre lutando para se manter estável, como um
artista que sabe que tem que virar a página e seguir produzindo, num artista
que sabe que, se parar, desaparecerá, no fato de que a gurizada nova vem vindo
por aí, na lição jovial de que não existe, de fato, aposentadoria. Aqui, é uma
cena teatral, e o vento circula livremente pelas brechas dos esqueletos, como
Tao, a brisa renovadora.
Acima, Fases da Lua. 1939.
A mulher nua está embrulhada como presente, num laço
rubro, da cor da menstruação e da Guerra. O laço a oprime, fazendo dela um mero
objeto sexual, no modo como Eva trouxe desestabilização a Adão. Ela está numa
varanda, absolutamente exposta, como se fosse um produto numa vitrine, como uma
moça infeliz que foi obrigada a contrair um casamento arranjado, na dureza das
políticas humanas. À esquerda, dois homens que parecem dois médicos, como se
estivessem avaliando a mulher, na imposição científica aos mistérios da Carne,
na tentativa humana de impor ordem ao caos. Podemos ouvir o cochicho de um
homem falando com o outro, num plano machista excludente, no qual uma mulher
jamais pode ter controle sobre si mesma, passando diretamente das mãos do pai
para as mãos do marido, como na eterna polêmica cercando a questão do Aborto,
numa sociedade em que a mulher não pode ser livre nem para decidir sobre o
próprio corpo. Os senhores estão sérios, discretos, falando sobre algo que não
deve chegar aos ouvidos da mulher regalo, a qual é um puro objeto. Ao lado dos
senhores, uma tosca caixa de madeira que sustenta uma forma misteriosa, talvez
uma rocha, talvez a formação rochosa em Marte, em forma de face humana, que
tanto instigou cientistas por tanto tempo. E o laço da mulher é como um
opressor espartilho, sufocando e castrando a mulher, na típica crueldade do
Patriarcado. No topo da cena, a Lua feminina, redonda como uma barriga de
grávida, pronta para exercer o parto, o qual simboliza todo o poder feminino –
trazer Vida ao Mundo. A Lua dança pelo Céu num ritmo só seu, diferente do
linear Sol, o qual é o mesmo todos os dias. É o ritmo cósmico que rege os
ciclos de Vida, no termo “mulher de fases”, na inconstância feminina, nos
mistérios da Natureza, mistérios eternamente indesvendáveis. Ao fundo na cena,
vemos picos rochosos, como na forma do seio feminino, numa terra virgem, pronta
para ser desvendada pelas luzes racionais da Ciência. A Terra é a carne, com
sua lentíssima dança através das eras geológicas, unindo e separando
continentes que, hoje, parecem ser imóveis, e esta é a ilusão da Natureza –
parecer que nada muda. Mas muda, só que a nível psíquico, como, por exemplo, não
mudam as cidades espirituais, numa imutável referência de acolhimento
incondicional, havendo uma hierarquia interdimensional – Mente acima da Carne.
Este quadro tem uma certa perspectiva, e mais ao fundo vemos um homem guiando
um grupo de mulheres grávidas, como deusas de fertilidade, como uma etérea
Angelina Jolie grávida. Como é linda a mulher! O grupo feminino está sendo
guiado por um homem, um patriarca, e as mulheres se sentem protegidas e
respaldadas, muito bem guiadas, como por um motorista de ônibus. Mais atrás,
uma plantação, a fertilidade da Terra, a fertilidade criativa que nos traz
alimentos, traz-nos Vida, abundância, cornucópia, como numa farta mesa de
banquete de realeza, como numa mesa de galeteria, num imigrante italiano que,
ao recém vir ao Brasil, levou uma vida tão dura que acabou firmando o molde
cultural da mesa farta, a qual era o sonho de um imigrante pobre agricultor.
Esta cena está numa penumbra, e o Sol aqui não reina soberano, mas deixa espaço
para a feminina Lua reinar em sua dança cíclica e rítmica, na magia de um
tambor, uma bateria ou uma percussão, tentativas humanas de compreender a
complexa rede rítmica que une o Cosmos. A mulher embrulhada para presente se
senta em uma majestosa cadeira dourada, como se fosse a Rainha do Mundo, como
no arrebatador carisma de uma Diana, espalhando-se de forma mágica no
imaginário coletivo, numa pessoa autodidata, que soube aprender a brilhar,
ofuscando tanta gente. As mulheres estão nuas, puras, como vieram ao Mundo, no
modo como a Ciência busca despir os mistérios, havendo na nudez a simplicidade,
a beleza das puras ações de Tao, o limpo. Podemos ouvir um grilinho cantando,
dando a melodia misteriosa de um lugar mágico e exótico.
Acima, O Esqueleto tem a Concha. 1944. A concha é o hálito marinho urinário da
Grande Mãe Mar, como no cheiro de Mar que senti na Feira do Peixe Vivo, antes
da Páscoa. O esqueleto está se agachando para catar a pequena relíquia, na
minha memória de infância em Jurerê, SC, quando minha avó me presenteou com uma
concha que ela achara na orla. É o cheio de Iemanjá, embalando o sono liquidiscente
de seus filhos do Mar, no encanto da canção de ninar que nos acalma e faz-nos
relaxar, na sensação deliciosa de libertação orgasmática que é a impecável
limpeza de Tao. A arquitetura aqui é clássica, numa perspectiva renascentista,
numa cena plácida, ensolarada e deliciosa, como numa deliciosa tarde de sesta,
na sedução de Morfeu, os braços em que nos entregamos e desencarnamos,
acordando em uma cama com lençóis suavemente perfumados, preparando-nos para o
alegre reencontro com entes queridos já falecidos, numa verdadeira festa de
recepção. O outro esqueletinho está num majestoso divã, como uma Cleópatra, e
os esqueletos não sabem nos dizer se são macho ou fêmea, na igualdade de
gênero, num eleitor assexuado que vai votar sem precisar ser cromossomo XX ou
XY. É a ausência de sexo dos anjos, seres andróginos, como os belos elfos de
Tolkien, numa raça superior, que gravita acima das picuinhas humanas. No chão
aqui, há um enorme círculo, que representa a centralização, o equilíbrio, numa
vida centrada no trabalho, no modo como é feliz um artista que é reconhecido
ainda em vida, produzindo abundantemente em seu atelier. O chão é a referência,
o Norte, e qualquer pessoa tem que viver com os pés no chão, colocando a cabeça
no lugar e enfrentando a Vida, sem querer fugir desta. O chão aqui está
impecavelmente limpo, como o interior uterino, no útero imaculado, virgem e
intocado, apenas tocado pela Mão Divina, a qual é impecavelmente limpa, no modo
como a Vida em Sociedade ruiria sem o serviço dos garis. A concha parece ser
feita de ossos, como os esqueletinhos, e estes são o lembrete de que a carne
perece cedo ou tarde, só estando o imaterial, o pensamento, a mente, o
espírito. A concha é sedutora como uma sereia, no blockbuster dos anos 80 Splash – Uma Sereia em Minha Vida. É como os antigos navegadores acreditavam que havia
feras horrorosas à espreita nos oceanos, e que, num certo ponto, os oceanos
acabavam e caíam como uma cascata indo para o nada, para um abismo, ceifando as
vidas dos navegadores, no modo como as percepções humanas estão em constante
processo de aprimoramento, fazendo da Ciência algo absolutamente universal,
como a Arte, no fato de que uma paciente com Câncer receberá o mesmo tratamento
em um hospital do Brasil, Israel, Japão ou EUA. A finitude existencial une os
Seres Humanos, o Reino dos Céus também é universal, pois o espírito é espírito
em qualquer lugar, ou seja, a polidez diplomática é o que há de nobre e
essencial, pois o bom diplomata sabe que deve existir Igualdade – como são
toscos os xenófobos! O dia está claro, e podemos ouvir uma brisa muito suave
soprando, num dia de clima ameno e ideal, delicioso. As colunas grecoclássicas
são o suporte, a força de caráter, a solidez de um homem de palavra, que honra
com os compromissos, num homem que sabe se usar o poder para o Mal, perderá tal
poder, no modo como o homem honesto sabe que, se não usar o poder para
bobagens, permanecerá com este mesmo poder. As colunas são as colunas
vertebrais dos esqueletos, e são o cerne, o nervo, o falo de obelisco que eleva
os pensamentos humanos, fazendo com que as pessoas sonhem e produzam
abundantemente, no modo como um líder linkado a Tao é um líder honesto, que
recebe a confiança do Povo, numa relação de confiança, no modo como os líderes que
mentem são rechaçados e desprezados. Mais acima vemos uma parte de uma grande
abóbada, que é a cabeça, a Mente, aquilo que guia um artista a produzir. Esses
esqueletos remetem aos esqueletos de uma cena do filme antigo Fúria de
Titãs, em que os esqueletos saíam de sua covas e lutavam com espadas. É o
vilão Esqueleto de He-Man, num bandido cujo caráter foi corroído, só lhe
restando uma miserável carcaça. É o Umbral.
Acima, Tributo a Julio Verne. 1971. Parece a famosa Rua Coberta, de
Gramado, uma via agregadora, que seduz os turistas num poder gravitacional, poder
este próprio de grandes centros turísticos. Paul Devaux adora perspectivas,
talvez num certo talento para a Arquitetura. Há o nu frontal de uma menina e um
menino, na representação de Yin e Yang, com as forças opostas que regem o
Universo. A menina veste flores rubras na cabeça, simbolizando a Feminilidade,
a exuberância da Natureza, com flores explodindo em cor na Primavera, na força
reprodutiva da Natureza, numa estação em que a reprodução pode e deve acontecer,
pois, do contrário, a Vida na Terra cessaria. Bem ao fundo vemos uma grande
nau, talvez um navegador português ou espanhol, pronto para pisar em devolutas
terras americanas selvagens, num choque que veio a aniquilar as populações
indígenas no continente todo, no poder destrutivo do Ser Humano, um ser
ambicioso que é expert em estupidez, como na Escravatura, por exemplo. A menina
segura um véu, talvez o puro véu de noiva, preparando-se para entrar na Igreja,
revelando-se ao Mundo como uma Vênus de Botticelli, sendo revelada, com seus
mistérios sendo elucidados, na beleza da Terra da Estrela da Manhã, a terra
misteriosa e maravilhosa que nos aguarda... O Mar ao fundo é absolutamente
plácido e estável, inerte, como um espelho, numa água morna e doce, como um chá
delicioso, nos encantos de uma terra na qual cessam as vicissitudes da Matéria.
Vemos outro menino nu, só que de costas para o espectador, e este menino é o
resguardo, a discrição, num artista reservado, querendo ocultar do Mundo grande
parte da própria Vida, na virtude discreta, como se soubesse que há perigo para
os indiscretos, para o showman. O Mar sereno é a Sabedoria, num homem que
envelheceu e aprendeu sobre a Vida. Na extrema direita, vemos um senhor de
óculos, discreto, e representa o olho clínico e racional, num artista olhando
para si mesmo e pintando, em catarse, partes do próprio self, de si mesmo, numa
externalização, uma expressão, visando curar certas feridas internas, olhando
para si mesmo sob a luz do dia, do esclarecimento. Mais à esquerda, duas
senhoras recatadamente vestidas, fazendo contraste com a nudez, talvez numa
sociedade puritana a qual tem dificuldade em lidar com Sexo e Nudez. Essas
damas são o garbo, a elegância, o aprumo, numa pessoa com autoestima, que se
arruma na hora de sair de casa, no exercício do “gostar de si mesmo”, pois não
é feliz aquele que se aceita e se acha legal, sem narcisismos? Aqui vemos uma
cena urbana de uma cidade muito limpa e bonita, elegante. Os prédios são
garbosos e a iluminação artificial funciona perfeitamente. Ao lado das
senhoras, vemos uma palmeira tremulando em meio a tal brisa paradisíaca, na
sedução do gentil farfalhar de folhas numa noite enluarada de Verão. É o enigma
de prazer que envolve o Metafísico, um lugar onde existe o Sensual, mas não o
Sexual. À frente da palmeira, outro senhor de óculos, que parece estar olhando
para as mensagens no celular, numa certa dificuldade em enxergar, no modo como
é difícil prever o Futuro, cabendo ao Homem prever apenas uma fração de tal
Futuro, no divertido mistério da existência. Quase ao centro da cena vemos
outro senhor vestido, olhando maravilhado para a menina nua, e podemos ouvir a
canção Garota de Ipanema, cultuando a
beleza feminina, numa canção que se tornou fenômeno mundial de popularidade. Nesta
cena, não existe exatamente um centro, um nervo, e todos os elementos competem
pela supremacia, num artista querendo encontrar a si mesmo. É o empenho
surrealista em elucidar os mistérios oníricos do Inconsciente, buscando
iluminar, por meio da Arte, frações do Id, a misteriosa instância instintiva,
no modo como não há livro ou faculdade que ensine a pessoa a brilhar. O chão
tem formatos de cataventos, no ar que exala da inspiração, sempre ventilando a
mente do espectador, estando este permanentemente sedento pela produção de um
artista.
Referências bibliográficas:
Paul Devaux. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 24 abr. 2019.
Paul Devaux Obras. Disponível em <www.google.com>.
Acesso 24 abr. 2019.
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