quarta-feira, 29 de maio de 2019

Presidindo a Arte



Clinton Adams (1918 – 2002) foi um americano natural da Califórnia que atuou no Departamento de Arte da Universidade da Califórnia, a UCLA. Prestou serviço militar. Também trabalhou na Universidade do Novo México. Em 1985, o governador do Novo México deu a Clinton Adams a distinção de Contribuição Excepcional à Arte do NM. Em 1993, CA se tornou membro da Academia Nacional de Design dos EUA. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Forma Arquitetônica. 1947. Vemos algo como “serpentes eretas”, como varetas, entrelaçando-se, como numa orgia, numa festa, num momento de interação, no modo como o artista interage com o público na noite de vernissage. É como uma serpente hipnotizada pela obra de algum artista fascinante, num bombardeamento de percepções. A ereção é a vontade, a verdade, os valores de força, numa pessoa que deixa a depressão para trás a abraça novas etapas desafiantes de Vida. É como o fálico Código de Hamurabi, impondo limites comportamentais, buscando assustar o cidadão com punições severas, como nos Dez Mandamentos, impondo parâmetros morais, visando o progresso moral da Humanidade. Este quadro traz formas nítidas, delineadas por traços negros, e as formas são bem coloridas, remetendo a Romero Britto, com linhas negras definindo limites, junto a muitas e muitas cores e estampas. Estas varetas estão sustentadas por suportes, que são a base existencial, a base de comparação, no termo “fio terra”, ou seja, aquilo que faz com que a pessoa se sinta linkada ao Mundo, sabendo seu espaço, seu papel na Vida em Sociedade, numa sociedade pragmática e, às vezes, dura e cruel, fazendo com que muitos artistas tenham dificuldade em vislumbrar um espaço, uma posição em um Mundo tão difícil, tão soda, como todas as inúmeras pessoas que já se candidataram a cargos eletivos, e foram derrotadas no frio olho das urnas eleitorais. Esta mesa, neste quadro, tem um azul bebê suave, num dia recém amanhecendo, num dia abençoado, que convida à produtividade. É o Céu dos sonhos, num contexto metafísico de acolhimento, de pertencimento, numa dimensão onde a pessoa se sente muito segura e bem disposta, pertencendo a uma grande família, à Grande Família Estelar, unida e consolidada por Tao, o invisível Pai Eterno. Sobre a mesa vemos um grande adorno decorativo, lembrando a forma de um sapato de salto alto, muito alto, nas loucuras dolorosas de que uma mulher é capaz de fazer para se sentir mais sexy e bonita, como dolorosas cirurgias plásticas, ou senhoras batendo perna de salto alto. É o gosto humano pela decoração, pelo embelezamento, tentando imitar a beleza de esferas que estão a salvo das intempéries da Vida Material. É a universal busca humana por beleza, por pertinência visual, na perseguição de coisas belas e aristocráticas, classudas, no modo como o Reino dos Céus é repleto de Vida, Limpeza e Beleza. Mais ao lado do “sapato” aqui, outra forma indefinida e enigmática. Parecem-se com duas faces de perfil, conversando uma com a outra, no modo como o artista faz diálogos dentro de si mesmo, conversando consigo mesmo, aplacando o sentimento de solidão e de perdição existencial, no modo como não há problema algum em conversar sozinho de vez em quando. Neste quadro, há uma considerável luminosidade, pois um brando e delicioso Sol penetra na sala, trazendo arejamento e renovação, nos desafios de um novo dia e de uma nova jornada, como num curso universitário, cheio de percalços a serem contornados – a Vida não seria um tédio sem provações? Esta sala tem um chão lilás, cor de lavanda, no modo humano de se apaixonar por fragrâncias deliciosas, havendo no perfume a metáfora para limpeza, propósito e pureza de intenções, ou seja, o Bem é perfumado; o Mal, fedido. É simples, mas as pessoas estão sempre sendo seduzidas pelo Mal. Mais ao fundo na cena, uma parede predominantemente dourada, na glória do pódio, e é claro que há uma pontinha de ambição em cada artista, fazendo do Mundo uma verdadeira fábrica de ilusões e desilusões. Apesar de parecerem más, as desilusões são positivas, pois nos colocam com os pés de volta ao chão, ao Senso Comum, uma importante forma de Conhecimento, a qual acaba sempre se impondo.


Acima, Tríade III. 1980. A tarefa de um artista plástico é combinar elementos e produzir coisas novas. É como brincar de Lego ou daquele joguinho com pecinhas de madeira, produzindo prédios e palácios. Aqui, temos um jogo truncado, com linhas predominantemente retas. Ao centro, uma forma que lembra um obelisco, num símbolo de poder, como os descomunais túmulos que são as grandes pirâmides do Egito. As pirâmides são um joguinho de Lego, reunindo pixels, pedra a pedra, constituindo um trabalho de geometria invejável, numa perfeição técnica que é, até hoje, um enigma. É como a construção de uma casa, com a colocação de piso, paredes e teto, como no incansável trabalho de formigas fazendo um formigueiro, no modo como uma vida sem trabalho é uma vida vazia, em vão. Estas formas alaranjadas trazem um certo calor ao quadro, num cheiro irresistível de algum suco de fruta, como bergamota, na sedução das frutas, as quais são fruto da mente de Tao, o grande arquiteto, o grande artista plástico. Aqui, este obelisco parece querer ultrapassar tudo e todos, furando, desbravando paladinamente um caminho original, um caminho nunca antes trilhado, nas grandes obras que são os trabalhos originais, criativos, como um Freud, desbravando os primórdios da Psicanálise. Este obelisco busca furar este teto, como um foguete alçando voo, rejeitando a gravidade terrestre e desafiando limites, querendo desbravar o Sistema Solar, na insaciável sede humana por poder e conhecimento. Então, o foguete levanta voo e desafia limites, como grandes falos desafiadores, num filho rebelde, querendo se igualar ao pai; quiçá superar este. É impressionante a inclinação humana pelo formato fálico, símbolo de verdade e coragem, impondo respeito – se você não quer se machucar, mantenha distância, numa nação que, apesar de pacífica, irá à Guerra se provocada por outra nação. Este quadro passa por um processo de mutação, de mudança, e o falo quer descobrir seu papel no Mundo, num cenário tão duro e competitivo, em que todo mundo quer virar astro, como nos cabelos dourados de Gisele, um verdadeiro monstro de brilho. O único elemento ligeiramente curvilíneo neste quadro é um traço branco quase ao centro da cena. É como uma serpente, de uma sensualidade discreta e classuda, como se soubesse que, se rebolar demais, poderá ser repreendida pelo machismo do patriarcado, numa sociedade que sempre tolheu a sexualidade feminina, fazendo com que a virgindade e a ausência de agressividade sejam regra para uma mulher respeitável, o que é uma grande injustiça, pois os sexos são ilusões e, no fundo, somos todos iguais – os sexos são uma ilusão da Dimensão Material, e, ao Desencarne, perdemos o próprio sexo, tornando-nos anjos assexuados. Este quadro parece ser um capcioso trabalho de arquiteto, engenhoso, sofisticado, como vários níveis, mezaninos, espaços como num museu de arquitetura moderna e invejável, ambiciosa, nos sonhos de Arquitetura que habitam a Dimensão Metafísica, num mundo imaterial onde os pensamentos arquitetônicos não se deparam com as vicissitudes materiais, no modo como a Dimensão Material tolhe boa parte dos sonhos humanos, como uma cena sendo observada através de um vidro opaco, impedindo haver extrema clareza – a Encarnação é assim mesmo, num desafio enigmático, desafio que acaba por fazer com que a pessoa evolua como filho de Tao, na clara necessidade de aprimoramento psíquico. Estas formas laranjadas de Adams parecem querer sair do quadro e libertar-se, desafiando, com suas quinas agressivas, os limites de imposição social, como num artista rebelde, focado em chocar a Sociedade, colocando os dedos das pessoas na tomada elétrica, havendo no choque catártico um momento de comunhão, em que todos se reúnem em torno do artista “vomitador”. O foguete levanta voo, alçando os sonhos artísticos. É um momento de desestruturação, de recomeço, de abalo sísmico, em que o artista decide desafiar paradigmas até então indetectados. É o poder renovador da Arte.


Acima, Tríade IV. 1980. O fundo é o de uma sensual noite enluarada, num espaço dúbio entre luz e sombra. Vemos ao centro uma linha rubra ligeiramente tortuosa, como um rio que, no quadro geral, é estável, com pequenas oscilações, como no princípio da vida de uma pessoa, numa vida geralmente estável até certo ponto, até o ponto de crise, no qual a pessoa, ao beijar o fundo do poço, tem que fazer um descomunal esforço para devolver a estabilidade à vida, num grande desafio existencial. Aqui, continuamos a ter um Adams construtor, arquiteto, combinando elementos, e podemos ouvir um “malandro” jazz, na incrível integração e intercomunicação entre as Artes, havendo, na Música, muito de plástico. Abaixo no quadro, vemos outra serpente, ainda mais estável, pouquíssimo tortuosa, mais disciplinada, talvez a mesma serpente, após o momento de reconstrução, na saudável imperfeição da Vida, uma Vida que não foi desenhada para carecer de desafios, pois a Vida é uma verdadeira prova olímpica, e, se não o fosse, qual propósito teria? Vemos elementos negros, fechados, imprevisíveis, como uma noite encoberta de Lua Nova, sem qualquer estrela no Céu. Essas formas formam um triângulo, e as partes superiores são como um telhado de uma simples mas acolhedora casa, no modo como o aconchegante supera o luxuoso, pois de que vale o Luxo se não há empatia ou relaxamento? Ao centro do quadro, uma grande pedra marrom, na pedra fundamental de alguma obra importante, no modo como a catedral de Caxias do Sul foi erguida sobre uma pedra, pois, como Tao diz, em metáfora, aquilo que é construído sobre a rocha não pode ser destruído; não pode perecer nem desmoronar. A pedra é a âncora, a base de comparação, o centro de uma Vida, no poder que o labor tem em fazer que os dias tenham um propósito produtivo, num Norte, uma Meca, uma referência centrada. A base disso tudo é outra forma marrom, só que retangular, e é uma base forte, como os fundamentos da Terra, nas forças gravitacionais que regem o Cosmos e impõem uma hierarquia entre as esferas, no modo como a Vida Espiritual, assim como no Exército, está repleta de Hierarquia, só que a Hierarquia Metafísica não é imposta, pois é irresistível, baseando-se em bondade, e não em dureza arrogante, ou seja, o Bem rege o Mal; o Bem é melhor do que o Mal, no modo como é simples de se observar a inclinação de um sociopata em relação ao Mal, pois o sociopata acha o Mal muito mais interessante, num espírito tosco, identificado com a Matéria, e não identificado com o Pensamento, com a Virtude – o sociopata zomba da nobreza psíquica, ou seja, o sociopata é um andarilho do Umbral. As formas aqui, nesta obra de Adams, buscam dialogar, num cenário difícil, no qual as diferenças são tão claras, no desafio diplomático que é a preservação da Paz. Aqui, as formas marrons são da cor dos troncos de árvore, havendo no tronco o sustentáculo de uma sociedade, e este tronco é o apuro mental, moral, e a pureza metafísica é o que há de interessante ao Mundo, pois é fenomenal a pessoa que age com desapego, a pessoa que rejeita as glórias mundanas e abraça o imaterial, desinteressando-se pelo Anel de Tolkien, o símbolo da perdição humana, numa alma corrompida pelo Poder, num Getúlio Vargas suicida, incapaz de imaginar uma vida sem poder, no modo como o Espiritismo diz: “Você não imagina a que ponto ficam reduzidas as pessoas consideradas felizes na Terra”, ou seja, um ganhador da loto. Não sei quem é mais triste – se é quem acha que pode vender Amor ou se é quem acha que pode comprar Amor, no modo como o Gênio da Lâmpada pode prover tudo, menos Amor. E, no fim das contas, sem sentimentalismo, tudo se resume a Amor, como uma pessoa esmerada, que cuida muito do próprio trabalho, no semblante atencioso e esmerado de Deus, pintado por Aldo Locatelli, criando Adão, na revolução conceitual de Jesus: Deus é Amor. Temos aqui um trato entre pessoas diferentes, como irmãos que sabem que é a Diversidade o que constrói.


Acima, Um Lugar para Fazer o Mundo Acabar. 1948. Este quadro foi pintado logo após o término da II Guerra Mundial, num Mundo que, de certo modo, sobreviveu ao conflito, renascendo como a Fênix. O fio é a mediação, a negociação, o contato polido diplomático entre as nações, num Mundo desejoso por harmonia e concórdia, deixando para trás todos os horrores nazistas. O fio é a manutenção da Paz, do contato amigável entre nações. O fio é a ligação, como num vínculo de sangue, unindo irmãos. O fio é a garantia de que somos todos filhos de Tao, e de que não devemos brigar. À esquerda, vemos uma espécie de torre, como numa transmissão de Rádio, numa época em que o Rádio era todo poderoso, antes do boom da Televisão e muito antes do boom da Internet. A torre é o desenvolvimento tecnológico, com dois lados opostos, dispostos a fazer de tudo para a obtenção da Vitória, numa ideia fixa – vencer, vencer e vencer, não importando como. A torre é a ereção dos EUA, emergindo como suprema potência mundial após o conflito. A torre é como um paladino obelisco, no modo como as comunicações sociais revolucionaram, com sinais de rádio que estão, hoje, viajando pelo espaço, no modo como os ufólogos creem que outras civilizações estão nos observando fervorosamente, observando nosso modo de vida, nossas tecnologias, nossa Arte, a Internet. Então, esta torre emite seu sinal retilíneo, cruzando o quadro, cruzando os quatro cantos do Mundo, chegando à extrema direita, num Mundo então entrando na Guerra Fria, com relações diplomáticas interrompidas entre dois grandes blocos globais. O fiozinho magro é um contato minúsculo, microscópico, com dois lados paranóicos, sempre achando que o lado oposto trama algo engenhoso para a obtenção da Vitória, e o Brasil entra em uma ditadura de direita, numa época em que o Bloco Capitalista temia que o Brasil pudesse se tornar uma URSS ensolarada. É como numa gincana de colégio, em que equipes se organizam para cumprir as tarefas, reunindo em seus quartéis generais, sempre buscando fazer algo que os oponentes não tenham pensando em fazer. Este quadro ansia por integração e consenso, Paz. E a Arte pode ser tal agente. Quase ao centro do quadro, vemos duas espécies de torres, trocando um sinal, que é uma linha vermelha pontilhada. É como a torre de suas indústrias, numa escalada de desenvolvimento, no modo como o Japão, humilhado ao término da II GM, emergiu como a Fênix, estabelecendo-se, décadas depois, como um gigante tecnológico e econômico, rico. A linha é o diálogo, um trato entre cavalheiros, como dois vizinhos conversando e se entendendo, estabelecendo a harmonia na vizinhança, no esforço que o Ser Humano tem que fazer para se assemelhar, ao máximo possível, com a Paz Divina da Dimensão Metafísica, pois, como Tao diz, a Paz é melhor do que a Raiva, numa lição que, apesar de aparentemente básica e quase óbvia, é constantemente subestimada por um Ser Humano raivoso. Mais abaixo no quadro, uma casinha branca, que é a sala diplomática da Paz, numa Suíça neutra e empenhada em conciliar vizinhos aguerridos, nas nobres intenções das Nações Unidas, fazendo de Nova York o epicentro do Mundo Civilizado, no cenário do 11 de Setembro, o dia em que a Terra parou, pois parece que o Ser Humano sempre tem algo de raivoso para fazer, numa sede insaciável por Guerra e por sangue derramado. A casinha branca é simples, e a mensagem é simples – temos que construir respeito mútuo. Mas a maioria das pessoas é reprovada nesta simples prova. O fundo do quadro é de um tom pastel, brando, na cor da Paz, do carinho, do Amor e da União. É a inocência de um bebê, vindo ao Mundo da forma mais inocente possível, num Ser Humano que, à medida que vai crescendo, vai se deparando com as provações existenciais, construindo um processo de identidade: Quem sou e para onde vou? Este quadro todo parece ser uma indústria, com vários prédios e setores, com cada órgão do aparelho digestivo, com funções diferentes, delegadas por um sistema hierárquico, como um cérebro regendo o resto do corpo. É o aparelho psíquico da pessoa, numa sinergia entre os elementos da psique. Então, o artista dialoga consigo mesmo, num ato essencial de autoconhecimento.


Acima, Vênus IV. 1973. Temos aqui duas formas dialogando, como duas pessoas numa sala de espera, batendo um papo para amenizar a passagem do tempo. Estas formas têm uma grande semelhança, mas têm também suas diferenças. Há aqui uma afinidade. São dois pedaços de esparadrapo, numa ferida que sarou e que não mais precisa de curativo, numa pessoa desencarnando e deixando para trás tudo relativo à carne, inclusive a carne em si. É como o sinal matemático de igual, só que não escrito por uma máquina, mas por uma mão humana, num pulso fadado a sofrer as tremulações da pulsação sanguínea, nas charmosas imperfeições de algo feito por um ser humano. Estas formas brancas obtêm expressão porque estão dispostas em um fundo bem escuro, quase negro, como no antigo tradicional quadro negro, um instrumento de trabalho feito para chamar a atenção do aluno, na importância da produção de Cultura Erudita para a construção intelectual de uma nação. Ao redor de tudo aqui, vemos uma grande base em azul, que é a cor dos sonhos, dos projetos, daquilo que um artista almeja, que é ser reconhecido e valorizado. Aqui, são como duas nuvens, num lento processo de passagem e mudança, no modo como tudo é processo, e a depuração espiritual não tem conclusão próxima, como o Espiritismo crê na existência dos espíritos supremos, perfeitos, que gozam da felicidade absoluta, num caminho de depuração à frente de todos nós, que vivemos num mundo em que o pernicioso Anel de Tolkien seduz almas e mais almas, corrompendo a fraca fé do Ser Humano. Aqui, são duas pessoas de perfil, e são semelhantes como dois irmãos, gozando de uma mesma base, de um mesmo teto, uma mesma casa, no fato de que somos todos filhotes da mesma ninhada de Tao, o grande cesto em comum. É como uma bandeira tremulante, no inofensivo desenvolvimento de patriotismo, no ensaio para que, mais tarde, a pessoa desencarnada erga a bandeira da Cidade Metafísica, fazendo com que vastas florestas sejam luxuosas salas de estar, perfumadas, limpas, aconchegantes, elegantes – é o bom gosto de Tao, o grande artista. Aqui, são como barras de uma prisão, mas uma prisão positiva, que acaba causando muito bem ao seu prisioneiro, fazendo dos anos de cárcere uma oportunidade de crescimento, havendo na libertação uma espécie de cerimônia de formatura, como o canudo sendo o falo paladino que liberta mentes, na saudável agressividade pragmática do pensamento racional, o pensamento que nos liberta. Aqui, são dois grandes olhos de lince nos olhando no escuro, numa fera faminta, agrilhoada às demandas orgânicas, louca por um suculento pedaço de carne, no modo irônico como as coisas funcionam na Natureza, no senso de humor de Tao, fazendo com que tudo em si carregue sua própria contradição, ou seja, claro e escuro coexistindo. Aqui, são como dois cometas brilhantes cruzando céus, como duas galáxias em rota de colisão, fundindo-se, nos intermináveis processos cósmicos, nos mistérios da Matéria, distribuindo pelo Cosmos inúmeras galáxias, como conchinhas à beiramar, nas regras da Matéria, desafiando o Ser Humano na fraca ciência deste – os mistérios movem o Conhecimento. Entre essas duas faixas, o intervalo negro parece a silhueta de uma mulher nua, com um seio delineado, na beleza do nu humano, uma nudez que remete à simplicidade de Tao, à limpeza de Tao, à pureza, pois o nu celebra a intenção estética de Tao. Esta Vênus recém saiu de um perfumado banho, enxugando-se em uma toalha e iniciando o dia com perfume, limpeza e graciosidade, como uma flor que desperta cheia de orvalho delicado. Os quadris são como os fartos quadris do faraó herege Aquenáton, um indivíduo transgressor que desafiou todo um paradigma religioso. E a Arte é também transgressão, com suas catarses lavando a percepção de um espectador, tocando este, num papo de pessoa para pessoa, de espírito para espírito. Aqui, são duas fortes pernas tendo que sustentar um corpo, numa pessoa que decidiu se reerguer e aceitar o desafio da Vida, nesta pessoa tornando-se adulta.

Referências bibliográficas:

Clinton Adams. Disponível em <www.addisonrowe.com/gallery-artists/adams-clinton>. Acesso 22 mai. 2019.
Clinton Adams. Disponível em <www.en.wikipedia.org>. Acesso 22 mai. 2019.

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