O judeu russofrancês Marc
Chagall (1887 – 1985) é um surrealista que estudou na Academia de Arte de São
Petesburgo. Após isso, muda-se para Paris e entra em contato com a Vanguarda Francesa.
Sofre perseguição nazista durante a II Guerra Mundial. Dá nome, em 1973, ao
Museu da Mensagem Bíblica de Marc Chagall, em Nice, sendo um artista muito
religioso. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa
leitura!
Acima, Bella com Colar Branco. A modelo foi esposa do artista. A mulher
aqui está gigantesca, um verdadeiro titã, e a floresta abaixo é como se fosse
sua horta, à qual a modelo dedica total zelo, cuidado e atenção. É como se
fosse a personificação da Natureza, regendo o crescimento das plantinhas e da
Vida em geral. Ela
está com o semblante sério, um pouco triste, como se observasse a Vida sem
expectativas, no caminho da necessária mortificação espiritual. Bella mostra
ter capital importância na vida de Marc Chagall, numa personificação da
poderosa figura materna, na grande barriga que traz Vida ao Mundo. Sua roupa é
sóbria, em preto e branco, e os babados fazem continuidade com a Flora no
quadro, numa densa Floresta Amazônica, cheia de mistérios, de terras virgens,
de populações indígenas, numa complexidade biológica que é uma verdadeira
cornucópia científica, com os rios sinuosos cortando a terra, na sua dança de
sedução inebriante. Bella tem a face entediada de uma Madona renascentista,
talvez entediada com o tempo em que passou posando para o artista no estúdio
deste. Aqui, Chagall nos mostra que ela é a mulher de sua vida, no modo como é
necessário que um cônjuge tenha muito orgulho de estar com o outro cônjuge,
fazendo com que Marc queira mostrar a tudo e todos que é com Bella que ele
está, ao contrário do casamento de um amigo meu, pois este amigo demonstrou ter
pouco orgulho de estar casado com a respectiva mulher, pois a esposa dele
estava sentada a uns dez metros de distância, e ele só apontou para ela e
disse: “Aquela é a minha esposa”, sem fazer questão de apresentá-la para mim.
Na mesma ocasião, um outro amigo me apresentou decentemente à esposa, dizendo a
mim: “Gonçalo, esta é minha ama e senhora”, ou seja, com muito orgulho. Que
casamento é este, no qual não tenho orgulho de estar com tal pessoa? Esta
folhagem é como uma horta sendo zelada e cuidada, e podemos sentir um bom
gostinho de rúcula, talvez em uma pizza de tomates secos! O grande artista é
assim, delicioso, rendendo muitas e muitas interpretações, numa cornucópia
psíquica, na riqueza de uma obra invejável. Os babados de Bella são como folhas
de alface na horta, no modo como tenho primos veganos, que não suportariam
comer um só punhado de carne. O cabelo de Bella combina com a roupa, e é a cor
do luto e da discrição, e talvez Bella fosse uma pessoa muito discreta, a qual
relutou muito em posar para o marido, e temos aqui, de fato, uma Bella
retirada, discreta, nunca muito chamativa, nunca querendo ser, por exemplo, uma
Vênus de Botticelli. Ao pé do quadro, vemos um homem com uma criança, talvez
Chagall e um filho, e este homem é muito, muito menor do que Bella, sendo um
ator coadjuvante em um papel bem pequenino. Ele brinca com a criança, no modo
como todo grande artista “brinca” no atelier. Ao lado, uma mesa e outros
elementos que parecem compor um parque infantil de diversões, numa hora de
lazer, no modo como a pessoa viciada em trabalho nunca respeita a si mesma,
levando uma vida miserável em que só há trabalho, e nunca Vida – eu já fui
workaholic e sobrevivi para dizer que não vale a pena só trabalhar. Conheci uma
pessoa altamente workaholic, a qual acabou fracassando na Vida; por outro lado,
conheci uma pessoa trabalhadora, mas uma pessoa que respeitava a si mesma, e
esta pessoa acabou deslanchando e obtendo sucesso. No fim das contas, tudo se
resume a Amor, e isso inclui o amor próprio. Podemos ouvir o farfalhar das
folhas verdes aqui. O dia está belo e estável, numa pessoa que encontrou
estabilidade ao centrar a Vida no trabalho mas, ao mesmo tempo, sem ser
workaholic. Bella aponta para baixo, como se quisesse mostrar como ama a própria
família.
Acima, Crucificação Branca. O Salvador está no meio do quadro, e é uma das
provas de que Arte e Religião andam juntas, pois são ambas obras da mesma
Humanidade. Jesus, aqui, não parece estar sofrendo, mas dormindo profundamente,
quiçá já morto. Parece que há um raio de luz caindo do Céu, do Reino dos Céus,
como se Tao estivesse iluminando o momento do Desencarne de seu Filho, fazendo
metáfora com a Ressurreição, num momento de passagem, de transição, como uma pessoa
mudando de endereço. Em sincretismo, abaixo no quadro, um objeto religioso
judaico, e o Sincretismo é possível porque as várias religiões são obra do
mesmo Ser Humano, havendo um verniz superficial nas diferenças entre as
religiões, e, se rasparmos tal verniz, veremos que somos todos iguais. No
quadro reina um tom de cinza, no Céu fechado, que se fechou em torno do momento
da Crucificação, com Jesus absolutamente desiludido, perguntando ao Pai o
porquê de tal abandono. O cinza é a cor discreta de indefinição, num tom dúbio,
trazendo impasses e dúvidas, e é também a cor da Morte, das cinzas vestigiais
em uma lareira que não mais arde. É a cor da Finitude. Vemos uma senhora com um
bebezinho, talvez a Virgem Maria se recordando do filho criança, numa espécie
de Pietà, no momento em que a carne perece e a dúvida existencial surge nas
sombras da Morte – temos uma Vida após esta? Então, a Fé se torna o maior
desafio do Ser Humano, pois a humilde Ciência dos humanos nada pode provar, ou
seja, a Fé resta após o corpo físico morrer, e é como diz Tao: “Se seu corpo
morrer, não se preocupe”, na universalidade que rege todas as fés religiosas.
Este é um quadro complexo, com vários elementos, lembrando-me daqueles livros
de Onde Está Wally?. Vemos um homem
levando um saco nas costas, talvez um ladrão, como os ladrões que ladearam
Jesus na execução na Cruz, um ladrão que acha que Tao não o observa, mas
observa sim, no infalível Olho Onisciente, levando o não-arrependido aos vales
horríveis do Umbral, a dimensão daqueles que acham que Deus é uma piada. Ao
lado de Jesus vemos uma escada de armar, talvez na remoção do corpo morto na
Cruz. A escada é o acesso, o trajeto de Jesus no Mundo dos Mortos, renascendo e
sequer se lembrando de seu próprio flagelo na Cruz. A escada é a mobilidade
psíquica, permitindo que um andarilho do Umbral se arrependa e vá para onde
devemos ir, que é o Reino dos Céus, no grande plano divino para conosco. Vemos
algumas casas em chamas, nas destruições horríveis que a Guerra proporciona. É
o Caos, a Destruição, com vidas ceifadas e famílias destruídas, todo o Mal do
Mundo que Jesus tanto combateu, numa mensagem tão perfeita que perdurará para
sempre. Vemos pessoas num barco, talvez um barco de refugiados, tentando fugir
da Guerra e da Fome, querendo uma vida melhor, sem tanto amargor. É a tendência
que o bom homem tem em
querer Paz e Tranquilidade, pois estas são melhores do que a
Raiva, do que a Guerra. Na extrema esquerda, vemos um batalhão entrando em
campo de combate, empunhando suas espadas e tratando de derramar sangue de
irmãos, na insensatez bélica. Eles trazem bandeiras vermelhas, manchadas pelo
sangue de pessoas, de seres humanos. Vemos vilas sendo destroçadas, e na
extrema direita vemos um brasão ladeado por dois leões agressivos e aristocráticos,
com a Estrela de Davi acima, e, mais acima, a Tábua dos Dez Mandamentos, noções
norteadoras patriarcais de moralidade, querendo que a Humanidade rume para o
que, definitivamente, tem que rumar, que é o Apuro Moral – aos que não têm
apuro, Umbral. Parece ser um templo em chamas, num Chagall que sentiu na pele a
perseguição nazista, num processo de bullying absolutamente cruel, como
Escravatura, Tortura e Execução em Massa. É a crueldade que seduz tantas almas.
Acima de Jesus, vemos quatro espíritos pairando, pessoas que entenderam as
noções civilizatórias de Moralidade, evoluindo como espíritos e subindo na
irresistível hierarquia espiritual – o Bem rege tudo.
Acima, O Aniversário. Vemos uma cena de romance, e os amantes pairam no ar
com extrema leveza, num beijo apaixonado, cheio de calor e carinho. É o termo
“sentir-se nas nuvens”, quando abraçamos e beijamos uma pessoa que nos “doma”
por completo, no termo “your heart shooting stars”, ou seja, quando seu coração
explode em
estrelas. Enquanto os namorados se amam, deixam o Mundo lá
fora, tendo, ali dentro, um momento de romance só deles e de mais ninguém. Ela
ganhou um buquê de flores, na cor do frescor da Primavera, a estação do
acasalamento, da ressurreição da Vida, como borboletas namorando com flores. O
homem está de olhos fechados, como num sonho em uma confortável cama; já, a
mulher está desperta, consciente de que está encarando um grande amor, sem
saber o quanto tal chama durará, no modo como é importante não a quantidade,
mas a qualidade de tempo que duas pessoas passam juntas, num coração que, uma
vez tocado, canta para sempre, num coração que deixa para trás as amarguras
empedernidas e abraça um estilo de Vida com o coração mais mole. O chão é
vermelho, da cor do amor e do glamour, como no tapete vermelho que mostra as
celebridades, na ilusão de que apenas sucesso mundano é o que há de necessário
na vida de uma pessoa. As flores são a fertilidade, talvez a fertilidade
criativa de Chagall, na obrigação que um artista tem em nome da Originalidade,
prestando a atenção para não trilhar caminhos que já foram trilhados. Os
amantes estão vestidos em cores sóbrias, num caso de amor discreto, talvez num
caso extraconjugal, tendo que se esconder do Mundo, na infelicidade que um
amante tem em não ter orgulho do respectivo amante, pois amar é ter orgulho.
Vemos um banquinho de assento negro, que é o imprevisível, e não sabemos qual
será o desfecho desse namoro, se um vai chutar o outro, se haverá
ressentimento, no frágil terreno dos sentimentos. Aqui, o homem é quem seduz, e
ele quer trazer a mulher para esse estado de levitação, de relaxamento. A
mulher está um tanto relutante, e não sabe se deve ou não ceder aos encantos
sedutores, como se temesse que o jogo possa machucar, macular um coração, um
sentimento. Ela está a um passo de se apaixonar, e parece que vai ceder,
talvez, na primeira vez na vida, abrindo o coração e convidando alguém para
entrar, num estado de rendição, no “assalto” que é um grande amor. Pelas
janelas desse apartamento, vemos um Mundo lá fora, o qual funciona
absolutamente alheio aos namorados a portas fechadas. É um momento de
intimidade, na delícia que é se jogar nos braços de alguém e, pela primeira
vez, não fazer Sexo, mas fazer Amor. O momento é um ato de Amor em meio a um
Mundo aguerrido, num Chagall que testemunhou a duas Grandes Guerras, fazendo da
Arte uma bandeira da Paz; fazendo da Arte uma guerra benéfica e pacífica,
trilhada entre a mente do artista e a dos espectadores. A camisa verde do
namorado sedutor é a fertilidade de um verde gramado, num jardim onde reina
Beleza e Paz, numa espécie de Jardim de Infância, um lugar onde somos todos
irmãos, num lugar puro e inocente no qual não é mais necessário compor casais,
sendo tudo resumido a amizade, muita amizade. Esses amantes passam um pela vida
do outro marcando-se em reciprocidade, no fundo sabendo que o Desencarne
chegará, e que na Vida precisamos colecionar experiências felizes, de entrega.
Na esquerda, vemos uma mesa. Em cima, uma faca, que é a Agressividade, mas uma
faca que, ali dentro, em um momento tão bonito de entrega, é uma faca sem fio,
como se estivesse dormente, deixando lá fora a necessidade de Agressividade,
havendo, ali dentro, um momento de apara de arestas, de rendição, num momento
em que as guerras mundanas nada significam. É como Yin e Yang se abraçando,
formando um só ser. Este apartamento parece ser em Paris, a cidade dos amantes,
como na ponte parisiense que acumulou os famosos cadeados dos enamorados, como
uma Gramado, um lugar romântico, muito bom para luas de mel. Um beijo!
Acima, O Passeio. A cena remete aos velhos e bons musicais de Hollywood,
nos quais maravilhosos dançarinos pairavam no ar, fazendo-nos sonhar com um
mundo maravilhoso, um mundo bem diferente da Dimensão Material. O homem e a
mulher sorriem felizes, talvez num cálido momento de orgasmo, num casal feliz,
num amor desapegado e não obsessivo, pois, apesar de estarem de mãos dadas, não
estão necessariamente grudados um no outro, no modo como, em qualquer
casamento, o relacionamento precisa ser desapegado. Do contrário, torna-se um
relacionamento pesado, fadado à ruína. Podemos ouvir uma doce melodia, talvez o
barulho de sapateado, no modo como Hollywood, em plena II Guerra Mundial, fazia
musicais para que as pessoas, mesmo que por poucas horas, pudessem se desligar
do Mundo lá fora e pudessem ter um pouco de alegria e prazer, num conflito que
afetou o globo inteiro, inclusive atingindo a Festa da Uva de Caxias. A mulher
é leve como uma pluma, e o homem é uma âncora, uma pedra forte, uma referência,
estando com os pés no chão, na realidade, como se soubesse que, na Vida, é preciso
que, além de senso de humor e riso, tenha-se siso. Este passeio é um
piquenique, e vemos a toalha vermelha no inferior do quadro, com uma garrafa e
um cálice de vinho, no prazer de curtir a Vida em seus aspectos mais simples e
descomplicados, como namorar, no fato de que, quando a pessoa está “in love”,
esta mesma pessoa não liga para talheres de ouro maciço. A toalha do piquenique
é rubra e floral, como flores presenteando amantes, e o vermelho é o calor da
relação, numa doce lua de mel. Talvez aqui os personagens da cena estejam
ligeiramente embriagados, alegres, tomando o sangue dos vinhedos, o sangue do
Salvador, na alegria de Baco, o senhor do riso e da festa. O gramado deste
parque é verdejante e exuberante, perfeito para um passeio em um domingo de
Sol. O Céu não está azul anil, não está um Céu de Brigadeiro, mas também não
está chuvoso. À esquerda vemos ramos de uma árvore, e ao pé dela a refeição
toma corpo, na força avassaladora da Natureza, força que o artista tenta
reproduzir por meio da Arte, fazendo desta uma potencial bomba atômica de
comoção, num artista que quer “fazer o chão tremer”, como em choques
catárticos. Em uma das mãos, o homem segura um pássaro, aprisionando este. Será
que a mulher está aprisionada? Talvez não. O pássaro contido é o impulso sendo
controlado, no modo como meras asas ao vento não trazem um propósito sólido
existencial. Podemos ouvir o pássaro piando, num barulho relaxante, e pouco
perturbador, como no filme Nosso Lar,
em que, na colônia espiritual, podemos ouvir o canto de pássaros, na orquestra
natural, havendo, lá em cima, tudo o que é considerado agradável na Terra.
Nesta cena, vemos um pacato vilarejo com casinhas, todas em verde, formando
continuidade com a Natureza. Neste povoado mora a Paz, no sonho de uma pessoa
da cidade grande, que quer ter quietude mudando-se para uma cidade pequenina,
na deliciosa sensação de Paz nas Experiências Extracorporais. Mais ao fundo do
vilarejo, uma igreja, só que em tom de rosa, formando harmonia cromática com o
vestido da mulher, na cor das coisas agradáveis e femininas, como beleza e
perfume, no modo como o incenso da Índia seduziu a Europa. A igrejinha é o
culto à Nossa Senhora, nas maneiras que as religiões buscam em metaforizar a
Dimensão Metafísica, usando, aqui na Terra, representações, buscando que o Ser
Humano entenda que o Pensamento é melhor do que a Matéria. Nesta cena, há um
frescor, e podemos sentir a agradável temperatura, numa brisa doce, e podemos
sentir tal brisa acariciando nossas faces, como uma mãe cordial e carinhosa,
uma mãe que quer o melhor para os filhos. O pássaro contido é o ganho do dia,
preparando-se para virar almoço, como nos documentários sobre vida selvagem,
com a cadeia alimentar fazendo de insetos almoço a muitos animais. As mãos
dadas dos enamorados são link, a ligação entre duas mentes, num momento de
concórdia e harmonia, com duas pessoas muito sortudas de terem encontrado uma à
outra. Love is beautyfull.
Acima, Um Trigal em uma
Tarde de Verão. Vemos aqui uma dualidade, com dois sóis,
cada um irradiando à sua própria maneira. É como se fossem duas pessoas
precisando conviver, talvez dois companheiros de cela num presídio. Talvez é
como num casamento, em que um tem que aguentar os defeitos do outro, num
permanente exercício de paciência, o segredo para o casamentos longevos. O sol
da esquerda é mais agressivo, com raios pontudos que apontam em todas as
dimensões, como o rapper Eminem mostrando o dedo médio para os fotógrafos. É
como um polvo pai, estendendo seus braços a todos os filhos, nunca se
esquecendo de algum de seus filhos. É como uma explosão de supernova,
expandindo-se em todas as direções, como um artista caindo nas graças do
público, num fãclube enorme, esmagador. É como um macrófago, a célula branca
sanguínea que, com seus braços, come as bactérias, explodindo de tanto comer e
virando pus. Esses raios solares são como espetos em uma cerca, alertando-nos
para que mantenhamos respeitosa distância, no modo como respeito os vendedores
ambulantes, pois não piso na mercadoria deles. Já, o sol da direita é mais
brando, feminino, e tem o formato de um seio. É o princípio de nutrição, de
manter uma ninhada, num superpai que nunca deixou algo faltar em casa, sempre
batalhando para dar o melhor aos filhos. O sol da direita é mais brando, sem
arestas perfuradoras, e tem um brilho mais cortês, convidando-nos a observá-lo
de perto. Já, o outro sol não nos convida a isso, e só podemos olhar para ela
com óculos escuros. São as duas faces de um trabalho – a lisa e a áspera, ou
seja, a fácil e a difícil. Esses círculos concêntricos são como bonecas russas,
havendo uma hierarquia, como numa família, na qual os filhos mais velhos ajudam
a criar os mais jovens. O pequeno círculo ao centro é um subconjunto, um
submundo, numa pessoa que, nessa sub-realidade começa a se contentar com
migalhas, como uma pessoa que, ao observar a Monalisa, só pode ver as mãos
desta, e nunca ver o restante do quadro. É como as camadas geológicas de um
planeta, com um centro quente, de densidade alta, como a lava que é expelida
pelos vulcões, na fúria da Natureza, causando grandes desastres, os quais são
uma oportunidade para o Ser Humano praticar o altruísmo, combatendo a natural
tendência humana ao egoísmo – “Se eu estou bem, o resto que se ferre”, dizem as
pessoas. Como é feio o egoísmo! Neste quadro de Chagall, temos uma tarde quente
e dourada, de cores ricas e sedutoras. O trigal é a mente criadora, fértil,
criativa, fornecendo o pão que é a Arte, trazendo honra a uma sociedade que
encoraja a Arte em quaisquer aspectos – Cinema, Literatura etc. No meio do
trigal, a foice, que é a Morte, esta senhora que, cedo ou tarde, baterá em
nossa porta, perguntando-nos o que fizemos da Vida. É o inevitável fim, num
artista empenhado em produzir antes que o inevitável aconteça. Na Vida, nada
mais certo do que a Morte. Aos de apuro moral, uma libertação; aos de pouco
apuro moral, uma prisão. Então o ser desesperado, no Umbral, começa ver que só
lhe resta rezar, e nisso discordo de Marx – as religiões não são bobagens!
Vemos na cena aqui um humilde barquinho, num senhor pacato, pescando seu peixe,
não querendo voltar para casa de mãos vazias, talvez com várias bocas para
alimentar em casa, no pesado encargo de um pai de família, na responsabilidade
de sustentar vidas. Vemos caindo neste lago dourado um ramo de planta, talvez
ceifado pela foice na plantação. É uma vida que chega ao fim, afundando na
água, apodrecendo e se juntando aos ciclos do meio ambiente. O lago e o Céu
fazem um continuum, e são da mesma cor, num momento em que tudo parece ser
feito de ouro. O fundo do lago é bem profundo, e nos convida a uma serena
meditação, num solitário momento de Paz, talvez numa pessoa passando sozinha
uma virada de ano, sem tristeza, mas com serenidade. Podemos ouvir o barulho da
foice ceifando a Vida, nas demandas de um trabalho, no modo como, mesmo depois
do Desencarne, a pessoa sente a necessidade de continuar produzindo. A Vida não
cessa.
Referências bibliográficas:
Marc Chagall. Disponível em <www.moma.org/artists>.
Acesso 8 mai. 2019.
Marc Chagall. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>.
Acesso 8 mai. 2019.
Marc Chagall Obras. Disponível em <www.google.com>.
Acesso 8 mai. 2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário