quarta-feira, 15 de maio de 2019

Marcante Chagall



O judeu russofrancês Marc Chagall (1887 – 1985) é um surrealista que estudou na Academia de Arte de São Petesburgo. Após isso, muda-se para Paris e entra em contato com a Vanguarda Francesa. Sofre perseguição nazista durante a II Guerra Mundial. Dá nome, em 1973, ao Museu da Mensagem Bíblica de Marc Chagall, em Nice, sendo um artista muito religioso. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Bella com Colar Branco. A modelo foi esposa do artista. A mulher aqui está gigantesca, um verdadeiro titã, e a floresta abaixo é como se fosse sua horta, à qual a modelo dedica total zelo, cuidado e atenção. É como se fosse a personificação da Natureza, regendo o crescimento das plantinhas e da Vida em geral. Ela está com o semblante sério, um pouco triste, como se observasse a Vida sem expectativas, no caminho da necessária mortificação espiritual. Bella mostra ter capital importância na vida de Marc Chagall, numa personificação da poderosa figura materna, na grande barriga que traz Vida ao Mundo. Sua roupa é sóbria, em preto e branco, e os babados fazem continuidade com a Flora no quadro, numa densa Floresta Amazônica, cheia de mistérios, de terras virgens, de populações indígenas, numa complexidade biológica que é uma verdadeira cornucópia científica, com os rios sinuosos cortando a terra, na sua dança de sedução inebriante. Bella tem a face entediada de uma Madona renascentista, talvez entediada com o tempo em que passou posando para o artista no estúdio deste. Aqui, Chagall nos mostra que ela é a mulher de sua vida, no modo como é necessário que um cônjuge tenha muito orgulho de estar com o outro cônjuge, fazendo com que Marc queira mostrar a tudo e todos que é com Bella que ele está, ao contrário do casamento de um amigo meu, pois este amigo demonstrou ter pouco orgulho de estar casado com a respectiva mulher, pois a esposa dele estava sentada a uns dez metros de distância, e ele só apontou para ela e disse: “Aquela é a minha esposa”, sem fazer questão de apresentá-la para mim. Na mesma ocasião, um outro amigo me apresentou decentemente à esposa, dizendo a mim: “Gonçalo, esta é minha ama e senhora”, ou seja, com muito orgulho. Que casamento é este, no qual não tenho orgulho de estar com tal pessoa? Esta folhagem é como uma horta sendo zelada e cuidada, e podemos sentir um bom gostinho de rúcula, talvez em uma pizza de tomates secos! O grande artista é assim, delicioso, rendendo muitas e muitas interpretações, numa cornucópia psíquica, na riqueza de uma obra invejável. Os babados de Bella são como folhas de alface na horta, no modo como tenho primos veganos, que não suportariam comer um só punhado de carne. O cabelo de Bella combina com a roupa, e é a cor do luto e da discrição, e talvez Bella fosse uma pessoa muito discreta, a qual relutou muito em posar para o marido, e temos aqui, de fato, uma Bella retirada, discreta, nunca muito chamativa, nunca querendo ser, por exemplo, uma Vênus de Botticelli. Ao pé do quadro, vemos um homem com uma criança, talvez Chagall e um filho, e este homem é muito, muito menor do que Bella, sendo um ator coadjuvante em um papel bem pequenino. Ele brinca com a criança, no modo como todo grande artista “brinca” no atelier. Ao lado, uma mesa e outros elementos que parecem compor um parque infantil de diversões, numa hora de lazer, no modo como a pessoa viciada em trabalho nunca respeita a si mesma, levando uma vida miserável em que só há trabalho, e nunca Vida – eu já fui workaholic e sobrevivi para dizer que não vale a pena só trabalhar. Conheci uma pessoa altamente workaholic, a qual acabou fracassando na Vida; por outro lado, conheci uma pessoa trabalhadora, mas uma pessoa que respeitava a si mesma, e esta pessoa acabou deslanchando e obtendo sucesso. No fim das contas, tudo se resume a Amor, e isso inclui o amor próprio. Podemos ouvir o farfalhar das folhas verdes aqui. O dia está belo e estável, numa pessoa que encontrou estabilidade ao centrar a Vida no trabalho mas, ao mesmo tempo, sem ser workaholic. Bella aponta para baixo, como se quisesse mostrar como ama a própria família.


Acima, Crucificação Branca. O Salvador está no meio do quadro, e é uma das provas de que Arte e Religião andam juntas, pois são ambas obras da mesma Humanidade. Jesus, aqui, não parece estar sofrendo, mas dormindo profundamente, quiçá já morto. Parece que há um raio de luz caindo do Céu, do Reino dos Céus, como se Tao estivesse iluminando o momento do Desencarne de seu Filho, fazendo metáfora com a Ressurreição, num momento de passagem, de transição, como uma pessoa mudando de endereço. Em sincretismo, abaixo no quadro, um objeto religioso judaico, e o Sincretismo é possível porque as várias religiões são obra do mesmo Ser Humano, havendo um verniz superficial nas diferenças entre as religiões, e, se rasparmos tal verniz, veremos que somos todos iguais. No quadro reina um tom de cinza, no Céu fechado, que se fechou em torno do momento da Crucificação, com Jesus absolutamente desiludido, perguntando ao Pai o porquê de tal abandono. O cinza é a cor discreta de indefinição, num tom dúbio, trazendo impasses e dúvidas, e é também a cor da Morte, das cinzas vestigiais em uma lareira que não mais arde. É a cor da Finitude. Vemos uma senhora com um bebezinho, talvez a Virgem Maria se recordando do filho criança, numa espécie de Pietà, no momento em que a carne perece e a dúvida existencial surge nas sombras da Morte – temos uma Vida após esta? Então, a Fé se torna o maior desafio do Ser Humano, pois a humilde Ciência dos humanos nada pode provar, ou seja, a Fé resta após o corpo físico morrer, e é como diz Tao: “Se seu corpo morrer, não se preocupe”, na universalidade que rege todas as fés religiosas. Este é um quadro complexo, com vários elementos, lembrando-me daqueles livros de Onde Está Wally?. Vemos um homem levando um saco nas costas, talvez um ladrão, como os ladrões que ladearam Jesus na execução na Cruz, um ladrão que acha que Tao não o observa, mas observa sim, no infalível Olho Onisciente, levando o não-arrependido aos vales horríveis do Umbral, a dimensão daqueles que acham que Deus é uma piada. Ao lado de Jesus vemos uma escada de armar, talvez na remoção do corpo morto na Cruz. A escada é o acesso, o trajeto de Jesus no Mundo dos Mortos, renascendo e sequer se lembrando de seu próprio flagelo na Cruz. A escada é a mobilidade psíquica, permitindo que um andarilho do Umbral se arrependa e vá para onde devemos ir, que é o Reino dos Céus, no grande plano divino para conosco. Vemos algumas casas em chamas, nas destruições horríveis que a Guerra proporciona. É o Caos, a Destruição, com vidas ceifadas e famílias destruídas, todo o Mal do Mundo que Jesus tanto combateu, numa mensagem tão perfeita que perdurará para sempre. Vemos pessoas num barco, talvez um barco de refugiados, tentando fugir da Guerra e da Fome, querendo uma vida melhor, sem tanto amargor. É a tendência que o bom homem tem em querer Paz e Tranquilidade, pois estas são melhores do que a Raiva, do que a Guerra. Na extrema esquerda, vemos um batalhão entrando em campo de combate, empunhando suas espadas e tratando de derramar sangue de irmãos, na insensatez bélica. Eles trazem bandeiras vermelhas, manchadas pelo sangue de pessoas, de seres humanos. Vemos vilas sendo destroçadas, e na extrema direita vemos um brasão ladeado por dois leões agressivos e aristocráticos, com a Estrela de Davi acima, e, mais acima, a Tábua dos Dez Mandamentos, noções norteadoras patriarcais de moralidade, querendo que a Humanidade rume para o que, definitivamente, tem que rumar, que é o Apuro Moral – aos que não têm apuro, Umbral. Parece ser um templo em chamas, num Chagall que sentiu na pele a perseguição nazista, num processo de bullying absolutamente cruel, como Escravatura, Tortura e Execução em Massa. É a crueldade que seduz tantas almas. Acima de Jesus, vemos quatro espíritos pairando, pessoas que entenderam as noções civilizatórias de Moralidade, evoluindo como espíritos e subindo na irresistível hierarquia espiritual – o Bem rege tudo.


Acima, O Aniversário. Vemos uma cena de romance, e os amantes pairam no ar com extrema leveza, num beijo apaixonado, cheio de calor e carinho. É o termo “sentir-se nas nuvens”, quando abraçamos e beijamos uma pessoa que nos “doma” por completo, no termo “your heart shooting stars”, ou seja, quando seu coração explode em estrelas. Enquanto os namorados se amam, deixam o Mundo lá fora, tendo, ali dentro, um momento de romance só deles e de mais ninguém. Ela ganhou um buquê de flores, na cor do frescor da Primavera, a estação do acasalamento, da ressurreição da Vida, como borboletas namorando com flores. O homem está de olhos fechados, como num sonho em uma confortável cama; já, a mulher está desperta, consciente de que está encarando um grande amor, sem saber o quanto tal chama durará, no modo como é importante não a quantidade, mas a qualidade de tempo que duas pessoas passam juntas, num coração que, uma vez tocado, canta para sempre, num coração que deixa para trás as amarguras empedernidas e abraça um estilo de Vida com o coração mais mole. O chão é vermelho, da cor do amor e do glamour, como no tapete vermelho que mostra as celebridades, na ilusão de que apenas sucesso mundano é o que há de necessário na vida de uma pessoa. As flores são a fertilidade, talvez a fertilidade criativa de Chagall, na obrigação que um artista tem em nome da Originalidade, prestando a atenção para não trilhar caminhos que já foram trilhados. Os amantes estão vestidos em cores sóbrias, num caso de amor discreto, talvez num caso extraconjugal, tendo que se esconder do Mundo, na infelicidade que um amante tem em não ter orgulho do respectivo amante, pois amar é ter orgulho. Vemos um banquinho de assento negro, que é o imprevisível, e não sabemos qual será o desfecho desse namoro, se um vai chutar o outro, se haverá ressentimento, no frágil terreno dos sentimentos. Aqui, o homem é quem seduz, e ele quer trazer a mulher para esse estado de levitação, de relaxamento. A mulher está um tanto relutante, e não sabe se deve ou não ceder aos encantos sedutores, como se temesse que o jogo possa machucar, macular um coração, um sentimento. Ela está a um passo de se apaixonar, e parece que vai ceder, talvez, na primeira vez na vida, abrindo o coração e convidando alguém para entrar, num estado de rendição, no “assalto” que é um grande amor. Pelas janelas desse apartamento, vemos um Mundo lá fora, o qual funciona absolutamente alheio aos namorados a portas fechadas. É um momento de intimidade, na delícia que é se jogar nos braços de alguém e, pela primeira vez, não fazer Sexo, mas fazer Amor. O momento é um ato de Amor em meio a um Mundo aguerrido, num Chagall que testemunhou a duas Grandes Guerras, fazendo da Arte uma bandeira da Paz; fazendo da Arte uma guerra benéfica e pacífica, trilhada entre a mente do artista e a dos espectadores. A camisa verde do namorado sedutor é a fertilidade de um verde gramado, num jardim onde reina Beleza e Paz, numa espécie de Jardim de Infância, um lugar onde somos todos irmãos, num lugar puro e inocente no qual não é mais necessário compor casais, sendo tudo resumido a amizade, muita amizade. Esses amantes passam um pela vida do outro marcando-se em reciprocidade, no fundo sabendo que o Desencarne chegará, e que na Vida precisamos colecionar experiências felizes, de entrega. Na esquerda, vemos uma mesa. Em cima, uma faca, que é a Agressividade, mas uma faca que, ali dentro, em um momento tão bonito de entrega, é uma faca sem fio, como se estivesse dormente, deixando lá fora a necessidade de Agressividade, havendo, ali dentro, um momento de apara de arestas, de rendição, num momento em que as guerras mundanas nada significam. É como Yin e Yang se abraçando, formando um só ser. Este apartamento parece ser em Paris, a cidade dos amantes, como na ponte parisiense que acumulou os famosos cadeados dos enamorados, como uma Gramado, um lugar romântico, muito bom para luas de mel. Um beijo!


Acima, O Passeio. A cena remete aos velhos e bons musicais de Hollywood, nos quais maravilhosos dançarinos pairavam no ar, fazendo-nos sonhar com um mundo maravilhoso, um mundo bem diferente da Dimensão Material. O homem e a mulher sorriem felizes, talvez num cálido momento de orgasmo, num casal feliz, num amor desapegado e não obsessivo, pois, apesar de estarem de mãos dadas, não estão necessariamente grudados um no outro, no modo como, em qualquer casamento, o relacionamento precisa ser desapegado. Do contrário, torna-se um relacionamento pesado, fadado à ruína. Podemos ouvir uma doce melodia, talvez o barulho de sapateado, no modo como Hollywood, em plena II Guerra Mundial, fazia musicais para que as pessoas, mesmo que por poucas horas, pudessem se desligar do Mundo lá fora e pudessem ter um pouco de alegria e prazer, num conflito que afetou o globo inteiro, inclusive atingindo a Festa da Uva de Caxias. A mulher é leve como uma pluma, e o homem é uma âncora, uma pedra forte, uma referência, estando com os pés no chão, na realidade, como se soubesse que, na Vida, é preciso que, além de senso de humor e riso, tenha-se siso. Este passeio é um piquenique, e vemos a toalha vermelha no inferior do quadro, com uma garrafa e um cálice de vinho, no prazer de curtir a Vida em seus aspectos mais simples e descomplicados, como namorar, no fato de que, quando a pessoa está “in love”, esta mesma pessoa não liga para talheres de ouro maciço. A toalha do piquenique é rubra e floral, como flores presenteando amantes, e o vermelho é o calor da relação, numa doce lua de mel. Talvez aqui os personagens da cena estejam ligeiramente embriagados, alegres, tomando o sangue dos vinhedos, o sangue do Salvador, na alegria de Baco, o senhor do riso e da festa. O gramado deste parque é verdejante e exuberante, perfeito para um passeio em um domingo de Sol. O Céu não está azul anil, não está um Céu de Brigadeiro, mas também não está chuvoso. À esquerda vemos ramos de uma árvore, e ao pé dela a refeição toma corpo, na força avassaladora da Natureza, força que o artista tenta reproduzir por meio da Arte, fazendo desta uma potencial bomba atômica de comoção, num artista que quer “fazer o chão tremer”, como em choques catárticos. Em uma das mãos, o homem segura um pássaro, aprisionando este. Será que a mulher está aprisionada? Talvez não. O pássaro contido é o impulso sendo controlado, no modo como meras asas ao vento não trazem um propósito sólido existencial. Podemos ouvir o pássaro piando, num barulho relaxante, e pouco perturbador, como no filme Nosso Lar, em que, na colônia espiritual, podemos ouvir o canto de pássaros, na orquestra natural, havendo, lá em cima, tudo o que é considerado agradável na Terra. Nesta cena, vemos um pacato vilarejo com casinhas, todas em verde, formando continuidade com a Natureza. Neste povoado mora a Paz, no sonho de uma pessoa da cidade grande, que quer ter quietude mudando-se para uma cidade pequenina, na deliciosa sensação de Paz nas Experiências Extracorporais. Mais ao fundo do vilarejo, uma igreja, só que em tom de rosa, formando harmonia cromática com o vestido da mulher, na cor das coisas agradáveis e femininas, como beleza e perfume, no modo como o incenso da Índia seduziu a Europa. A igrejinha é o culto à Nossa Senhora, nas maneiras que as religiões buscam em metaforizar a Dimensão Metafísica, usando, aqui na Terra, representações, buscando que o Ser Humano entenda que o Pensamento é melhor do que a Matéria. Nesta cena, há um frescor, e podemos sentir a agradável temperatura, numa brisa doce, e podemos sentir tal brisa acariciando nossas faces, como uma mãe cordial e carinhosa, uma mãe que quer o melhor para os filhos. O pássaro contido é o ganho do dia, preparando-se para virar almoço, como nos documentários sobre vida selvagem, com a cadeia alimentar fazendo de insetos almoço a muitos animais. As mãos dadas dos enamorados são link, a ligação entre duas mentes, num momento de concórdia e harmonia, com duas pessoas muito sortudas de terem encontrado uma à outra. Love is beautyfull.


Acima, Um Trigal em uma Tarde de Verão. Vemos aqui uma dualidade, com dois sóis, cada um irradiando à sua própria maneira. É como se fossem duas pessoas precisando conviver, talvez dois companheiros de cela num presídio. Talvez é como num casamento, em que um tem que aguentar os defeitos do outro, num permanente exercício de paciência, o segredo para o casamentos longevos. O sol da esquerda é mais agressivo, com raios pontudos que apontam em todas as dimensões, como o rapper Eminem mostrando o dedo médio para os fotógrafos. É como um polvo pai, estendendo seus braços a todos os filhos, nunca se esquecendo de algum de seus filhos. É como uma explosão de supernova, expandindo-se em todas as direções, como um artista caindo nas graças do público, num fãclube enorme, esmagador. É como um macrófago, a célula branca sanguínea que, com seus braços, come as bactérias, explodindo de tanto comer e virando pus. Esses raios solares são como espetos em uma cerca, alertando-nos para que mantenhamos respeitosa distância, no modo como respeito os vendedores ambulantes, pois não piso na mercadoria deles. Já, o sol da direita é mais brando, feminino, e tem o formato de um seio. É o princípio de nutrição, de manter uma ninhada, num superpai que nunca deixou algo faltar em casa, sempre batalhando para dar o melhor aos filhos. O sol da direita é mais brando, sem arestas perfuradoras, e tem um brilho mais cortês, convidando-nos a observá-lo de perto. Já, o outro sol não nos convida a isso, e só podemos olhar para ela com óculos escuros. São as duas faces de um trabalho – a lisa e a áspera, ou seja, a fácil e a difícil. Esses círculos concêntricos são como bonecas russas, havendo uma hierarquia, como numa família, na qual os filhos mais velhos ajudam a criar os mais jovens. O pequeno círculo ao centro é um subconjunto, um submundo, numa pessoa que, nessa sub-realidade começa a se contentar com migalhas, como uma pessoa que, ao observar a Monalisa, só pode ver as mãos desta, e nunca ver o restante do quadro. É como as camadas geológicas de um planeta, com um centro quente, de densidade alta, como a lava que é expelida pelos vulcões, na fúria da Natureza, causando grandes desastres, os quais são uma oportunidade para o Ser Humano praticar o altruísmo, combatendo a natural tendência humana ao egoísmo – “Se eu estou bem, o resto que se ferre”, dizem as pessoas. Como é feio o egoísmo! Neste quadro de Chagall, temos uma tarde quente e dourada, de cores ricas e sedutoras. O trigal é a mente criadora, fértil, criativa, fornecendo o pão que é a Arte, trazendo honra a uma sociedade que encoraja a Arte em quaisquer aspectos – Cinema, Literatura etc. No meio do trigal, a foice, que é a Morte, esta senhora que, cedo ou tarde, baterá em nossa porta, perguntando-nos o que fizemos da Vida. É o inevitável fim, num artista empenhado em produzir antes que o inevitável aconteça. Na Vida, nada mais certo do que a Morte. Aos de apuro moral, uma libertação; aos de pouco apuro moral, uma prisão. Então o ser desesperado, no Umbral, começa ver que só lhe resta rezar, e nisso discordo de Marx – as religiões não são bobagens! Vemos na cena aqui um humilde barquinho, num senhor pacato, pescando seu peixe, não querendo voltar para casa de mãos vazias, talvez com várias bocas para alimentar em casa, no pesado encargo de um pai de família, na responsabilidade de sustentar vidas. Vemos caindo neste lago dourado um ramo de planta, talvez ceifado pela foice na plantação. É uma vida que chega ao fim, afundando na água, apodrecendo e se juntando aos ciclos do meio ambiente. O lago e o Céu fazem um continuum, e são da mesma cor, num momento em que tudo parece ser feito de ouro. O fundo do lago é bem profundo, e nos convida a uma serena meditação, num solitário momento de Paz, talvez numa pessoa passando sozinha uma virada de ano, sem tristeza, mas com serenidade. Podemos ouvir o barulho da foice ceifando a Vida, nas demandas de um trabalho, no modo como, mesmo depois do Desencarne, a pessoa sente a necessidade de continuar produzindo. A Vida não cessa.

Referências bibliográficas:

Marc Chagall. Disponível em <www.moma.org/artists>. Acesso 8 mai. 2019.
Marc Chagall. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 8 mai. 2019.
Marc Chagall Obras. Disponível em <www.google.com>. Acesso 8 mai. 2019.

Nenhum comentário: