quarta-feira, 16 de outubro de 2019

A Vitória do Talento



Monstro sagrado das Artes Plásticas, o húngaro de nascença Victor Vasarely (1906 – 1997) é Pai da Op Art, o estilo que brinca com as ilusões de ótica do olho humano, um estilo que revolucionou a relação artista/espectador. VV estudou Arte e foi designer gráfico numa agência de Publicidade. Começou fazendo quadros em preto e branco e, mais tarde, coloridos. Artista multipremiado, radicou-se na França. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Haaz. É impossível não encontrar um link entre Victor Vasarely e MC Escher, ambos mestres que abusam da ilusão de ótica, brincando com o espectador. Aqui, temos um engenhoso jogo de cubos, como no tradicional brinquedo do Cubo Mágico, exigindo o máximo da inteligência do jogador, num grande desafio, como uma página de Palavras Cruzadas, no modo como, se não houver desafio, perde a graça, assim como a Vida, a qual seria enfadonha e insuportável se não desafiasse o vivente, ou seja, verás que filho teu não foge à luta. Aqui é como um limpo ambiente de banheiro, com reverberação, e podemos ouvir o barulho de chuveiro aberto, ou de alguém cantando durante o banho, no ato de ritualística renovação que é um banho, no modo como, na Dimensão Metafísica, estamos sempre limpos e perfumados, como se estivéssemos recém saído de uma revigorante ducha. No apelo da Op Art, não podemos saber o que é definitivo, num jogo que nos mostra que tudo traz em si sua própria contradição. O azul é a cor do pensamento, do sonho, da abstração, no modo como Tao nos brinda com tal céu azul anil, o mesmo céu em duas dimensões diferentes, no modo como há uma relação de continuidade entre tais dimensões, e no fato de que não cessa a luta pela Vida, ou seja, no dito Reino dos Céus, ainda assim, sentimos a necessidade de trabalho e depuração, crescimento, havendo uma tediosa estagnação em uma pessoa que não quer progredir, como uma pessoa que sente pena de si mesma, e acha que é uma vítima da Vida, sentindo-se injustamente maltratado por esta, como me disse certa vez uma sábia espírita: Deus não quer que nos atiremos nas cordas, quando o próprio Tao é um guerreiro, sempre produzindo. Neste “banheiro” de VV, há diferenças, e os azulejos não são todos da mesma cor, talvez numa tentativa de estabelecimento de respeito à diversidade, às diferenças. Há azulejos mais clarinhos, azulejos mais negros e azulejos mais vibrantes. A porção inferior do quadro, mais clarinha, dá um efeito de estar preenchida de água, como numa caixa de água, enchendo devagarzinho, num trabalho manso e persistente, com gota a gota sendo somada à parede, num trabalho de acumulação, de carreira, na força que a pessoa tem que ter para persistir, até que os dourados frutos apareçam, com a ressalva de que, sem talento nem potencial, a persistência é infrutífera, como numa pessoa que conheci, uma pessoa que não se dava ao respeito, fracassando na profissão e trocando de carreira. É o direito de cada um em observar a própria vida e chegar à conclusão de que não está saindo do lugar, frustrando-se, nos inúmeros sonhos que perecem todos os dias no Mundo. Aqui, temos o paciente trabalho de um arquiteto, com sua régua, seu pensamento matemático e racional, na beleza do pensamento lógico, na fria beleza de uma água gelada que cura. Temos aqui quinas, arestas, como esquinas numa cidade planejada, como uma Brasília, na revelação do sonho de um arquiteto. Alguns desses azulejos estão com um aspecto sujo e mofado, talvez precisando de um trabalho de limpeza, na sensação revigorante que é cortar o cabelo e sair de alma leve no cabeleireiro, no caminho da autoestima, no fato de que a primeira que tenho que amar sou eu mesmo. Este quadro traz um bom gosto de combinação cromática, com tons que têm um pouco de azul em comum, trazendo-nos azul bebê, azul turquesa, verde pastel e um verde musgo, todas cores que trazem um pouco de azul em sua constituição. É o estabelecimento da Paz entre nações, sonhando com um Mundo onde a Santa Paz Divina reina inabalável.


Acima, Quasar-Paal. Temos aqui um inevitável formato de cruz, no símbolo cristão, num poderoso ramo religioso, dono de muitas e muitas igrejas, havendo no Vaticano tal raiz, tal ponto de partida. Aqui, temos um aspecto metálico, como uma chapa de aço fabricada em algum estabelecimento, e podemos ouvir o som do maquinário industrial, no esforço do expediente, no momento de disciplina e dedicação que permeia o labor, como numa Caxias do Sul, lugar que revelou e revela muitos talentos industriais. É um entrecruzamento, como duas pessoas que se conhecem, passando uma pela vida da outra, e despedem-se, no inevitável “adeus”, havendo nos vínculos de família uma exceção, sem “adeus” e, ainda por cima, o fato de que os laços de família sobrevivem ao Desencarne. Aqui é como um espelho em um belo banheiro, com a beleza de sons reverberados e perfume espalhado. É como o X da bandeira suíça, na nobreza da neutralidade diplomática, numa polida nação que se revela na crença do diálogo e da cordata negociação, no modo como, quando se perde o diálogo, perde-se tudo, e o sangrento conflito toma corpo, na infeliz tendência humana à violência. Quando a diplomacia se perde, tudo se perde junto, e os xiitas são tão radicais que requer respeitam a casa neutra, no pensamento de que, se não é idêntico a mim, não presta. É uma infantilidade, como dois senhores que, apesar de ter cada um uma boa experiência de vida, ainda assim estão em atrito, agindo como uma criancinha: “Eu gosto de batata frita, mas ele não gosta”. Nesses poros, nessas perfurações de VV, temos formas ovais e formas retangulares, só que sempre na diagonal. É como se o centro fosse um grande altar, um lugar que pode ser igualmente acessado pelos quatro lados, lados que têm um efeito de escadaria, como se tivéssemos uma vista aérea de tal altar. É como no poderoso paradigma arquitetônico piramidal, uma estrutura universal que nos convida à elevação e ao crescimento. Aqui, é como um vitral de igreja jorrando uma mágica luz colorida para dentro do templo, num extremo bom gosto de harmonia cromática. Esses ovos de VV são a fertilidade, o pensamento que brota de alguma elaboração, de um conceito, de alguma pista lógica. Os retângulos são cartas de correio, na importância da comunicação para a manutenção da Vida em Sociedade, pois quando perdemos os vínculos, tal Vida perece. De forma geométrica, temos aqui muita simetria, numa tentativa de equilíbrio, no modo como uma pessoa pode se desequilibrar e cair, visto que a arrogância precede a queda, no modo como, se quero ser reduzido ao mínimo, tenho que me achar o máximo... É a divertida contradição de Tao, uma diversão que a Op Art tenta perpetuar e compreender. Do ponto de vista das cores, temos aqui uma simetria diagonal, como num estacionamento oblíquo, nas inúmeras regras de convívio social, regras que devem ser respeitadas, pois de nada serve um rei que não é respeitado, ou seja, dignidade é tudo, pois se não mereço obter algo, não há Cristo que me faça merecer. VV nos traz um efeito degradê que, hoje, é facilmente obtido com o programa Corel Draw e afins. Aqui, é uma cruz mística, brilhando e encantando com suas cores finas e perfumadas. É uma fonte que jamais seca, sempre nos dando Vida, sempre nos dando uma nova oportunidade, pois se não perdoo os erros, como pode haver Vida Eterna? Então, Jesus traz o conceito inédito de Amor e Perdão, numa sofisticação psíquica que, até hoje, segue maravilhosa e enigmática, num espírito que encarnou em um mundo tão aquém, num mundo tão obcecado pela Matéria. O fundo deste quadro é negro e imprevisível, e as formas geométricas deixam que passe um respiro por tais buracos, pois Tao está sempre respirando, sempre provendo, na imortalidade bela do pensamento matemático. É um ambiente técnico, frio, que traz vida e crescimento mental ao encarnado, com lições importantes que só podem ser aprendidas por meio encarnatório.


Acima, Soleil K5. Um acalentador Sol nos convida a uma tarde de sesta e preguiça. O Sol explode em todo seu esplendor, em toda sua majestade, o Rei do Sistema Solar, a fonte de luz que faz com que a Vida seja possível. É uma linda joia dourada, numa vitrine de joalheria que nos encanta e nos emociona, nos apelos da Sociedade em Consumo, pois quanto mais tesouros temos, menos seguros estamos, numa grande ironia – ao comprarmos algo por lasciva ambição, sentimo-nos vazios; quando nos desapegamos, sentimo-nos ricos! Este Sol é feito de vários círculos concêntricos, numa dança de linhas orbitais gravitacionais, numa comoção em cadeia sendo feita, como num divertido jogo de bambolê, na diversão de crianças na Rua. Aqui, os anéis estão organizados em hierarquia, pois os menores estão mais perto do centro. Aqui, a força gravitacional realiza uma organização, no modo como um sistema solar é organizado, com uma estrela ao centro. O centro é o vazio, o poderoso centro gravitacional que guia seus filhos. O centro é Tao, o senhor que nos guia. Aqui temos algo centrado, equilibrado e estruturado, como numa feliz pessoa que encontrou um Norte para a própria vida, centrando-se em algo positivo e produtivo, pois uma vida que não é centrada é uma vida cheia de amarras, como numa prisão, só que sem barras, invisível. Este Sol é de um formato de túnel, no termo “uma luz no fim do túnel”. É a esperança de um dia melhor, na crença de que a Vida na Terra é um passageiro aprendizado, como numa faculdade, a qual inicia, desenrola-se e acaba, chamando seus filhos para férias, para um doce descanso de Verão neste Sol tão radiante. Neste Sol, podemos ouvir o som de pássaros alegres em uma plácida rua. Este Sol é como o termo “olho do furacão”, no modo como uma pessoa pode causar comoções, verdadeiros abalos sísmicos de Arte, mexendo com todo o corpo social, na capacidade do grande artista em unir as pessoas em torno de algo, chamando aqui, novamente, a metáfora do sistema solar com seus planetas. O Sol é a mente radiante que produz, que inventa, que gera, que labora. O Sol é esta pérola dourada, mais valiosa do que qualquer pedra preciosa. É a força de um buraco negro, sugando tudo para si. É o maligno olho fascista do vilão Sauron, de Tolkien, nas ambições humanas em controlar a Vida, controlar o cidadão, num estado opressor, que faz que um cidadão, antes livre e produtivo, torne-se um escravo, uma mera bateria alcalina que serve para alimentar um sistema perverso e sem sentido. É a metáfora do vampiro. Ao redor de tal Sol de Verão, um brando fundo cinza, ao invés de um azul Céu de Brigadeiro. O cinza é o vestígio de algo que antes foi uma vibrante lareira, um fogo que ardeu dourado, trazendo calor e desumidificação a um ambiente desconfortável e odioso. O cinza é a discrição, numa cor que não visa chamar muita atenção sobre si. É a metáfora da Quarta-Feira de Cinzas, quando a alegria do Carnaval é sepultada e o cidadão volta à velha, árdua e séria rotina de trabalho, na metáfora do circo levantando a lona e indo embora. O cinza aqui tenta cercar e aplacar o Sol radioso, mas é um esforço infrutífero, e o Sol, ou seja, a Fé, permanece soberana, mesmo em meio a uma vida tão amarga, feia e sisuda – é a Esperança, um sentimento que não pode ser cientificamente detectado ou controlado, no desafio de crer sem provas científicas. Este quadro é separado em duas partes. A parte inferior é totalmente branca, pura e casta, como numa imaculada areia de uma praia branca, num chão nunca antes pisado por alguém, como no prazer desbravador do europeu descobrindo a América. O branco é doce como açúcar. E por que tal divisão? Talvez seja porque o branco, que é a Paz entre vizinhos, sustenta-se por si só, não mais precisando da mensagem de esperança do Sol-Rei. A esperança é para quem está encarnado, como na esperança trazida pelo Espírito Santo, numa promessa de Liberdade e Plenitude.


Acima, Song. A destreza de VV faz com que as formas geométricas pareçam dançar, trocando de lugar umas com as outras. Aqui, temos um jogo de extremidades de pilhas de bateria, pois há objetos “furados” e há objetos maciços, numa dança entre opostos, ou seja, Yin e Yang. Os retângulos aqui estão alguns deitados, alguns em pé, na necessidade o descanso, de férias. É como nas danças lunares, com a Lua por vezes em pé, por vezes deitada. Aqui, é como um tabuleiro de Xadrez, no jogo barroco entre claro e escuro, no poder visual dos contrastes, na magia de imagens em preto e branco, na simplicidade dos códigos binários entre um e zero, entre vazio e preenchido, no charme em preto e branco de estrelas e astros do Cinema, encantando o Mundo com glamour, na beleza, na sedução e no poder do grande astro em encantar pessoas e conquistar numerosos fãclubes. Aqui, é como uma panela cheia de pipocas estourando, e podemos o ouvir o barulho dos estouros. É como um suntuoso vestido de paetês ou pedras bordadas, na magia de uma mulher arrumada em um baile de gala, numa ocasião social que visa reproduzir o indescritível glamour dos bailes da Dimensão Metafísica, o plano em que somos todos jovens e eternos – a Vida na Terra é um mero arremedo. Esses retângulos de VV são como monitores de TV, celular ou computador, na “magia” das tecnologias, varrendo o Mundo com o frescor de novidades, num Ser Humano impetuoso, que está em constante processo de crescimento e aprimoramento, encantando o Mundo com os mais recentes gritos de novidade, tentando imitar o frescor metafísico, onde cada momento é novo. Aqui, é como um labirinto, numa pessoa que está perdida e solitária na Vida, enganando-se várias vezes, com muita dificuldade para encontrar um ponto central, uma referência, um Norte. Então, esta pessoa se sente num submundo, uma situação existencial a qual trará uma surpresa agradável, o Amor, tocando corações e descongelando amarguras. É o desafio de não nos tornarmos empedernidos, como um certo amigo que conheço, uma pessoa que está se tornando amarga... Aqui, é como um carimbo, como um carimbo de xilogravura, na ironia que exige concentração da parte do artista na hora da confecção do carimbo, num jogo traiçoeiro e confuso entre côncavo e convexo; entre positivo e negativo. Aqui, são como poros respirando, num tecido de roupa, deixando a transpiração passar, sem sufocar a pessoa, na metáfora do sociopata, o qual quer sufocar e escravizar as próprias vítimas. Aqui, são como nuvens retilíneas, no simples e fácil ato de prazer em olhar para o Céu e encontrar beleza e majestade nas obras de Tao, o grande trabalhador que está sempre produzindo, inspirando-nos a fazer o mesmo, numa Vida voltada à produtividade proveitosa, pois não é insuportável uma vida ociosa, numa pessoa que não se coloca para o Mundo? Aqui, são como confetes, só que não redondos, numa espécie de “carnaval sério”, juntando a responsabilidade com a candura, numa pessoa que jamais poderá perder o senso de humor, visto que a obra de Tao está repleta de Ironia, de jogo de humor. Aqui, é como uma malha têxtil, com fios se entrecruzando, interagindo, produzindo algo novo, na beleza de uma bela malha produzida por quem entende do riscado. Aqui, é o vaivém das ondas do Mar, como no célebre calçadão de Ipanema, uma obra que busca imitar e compreender a dança das ondas respirando, evocando aqui, novamente, o jogo entre vazio e preenchido. Aqui, é como uma vitrine de loja de eletrônicos, com os televisores querendo chamar a atenção, na sedução de renovação que as novas tecnologias trazem. É como no fundo de um programa de telejornalismo, com monitores exibindo canais do Mundo inteiro, como na respeitada CNN, na ânsia humana em acompanhar o que está acontecendo no Mundo agora, na sede jornalística pelo frescor de notícias, de boletins de atualização, como numa Marília Gabriela, a qual se diz intermitentemente sedenta por notícias. Aqui, são como escamas de um camaleão, fazendo da Discrição uma arma de sobrevivência e autopreservação.


Acima, Totem. Aqui, temos uma joia complexa, um objeto dinâmico que vai se desdobrando ante nossos olhos. É algo com vida própria, com uma estampa ao estilo Oriente Médio. VV usa e abusa das cores, trazendo-nos um verdadeiro prisma, na magia das cores decompostas por cristais. É como se fosse uma flor exótica, realmente fora do comum, no encanto que as florestas tropicais provocam ao redor do Mundo. O colorido é a diversidade, no modo como é imprescindível o respeito ante tais diferenças, como num país feliz, livre e democrático, ao contrário dos estados que têm medo de dar liberdade ao cidadão, resultando em refugiados, pessoas que estão fugindo de degradantes situações de miséria e opressão, buscando refúgio em países mais livres, como o Brasil, como na letra de uma canção em Inglês: “Não há Amor sem Liberdade; não há Liberdade sem Amor”. Ou seja, a situação de bem estar do cidadão depende de como este se sente confortável e à vontade para viver, trabalhar e entreter-se. Aqui, temos uma vibração carnavalesca, num contagiante ritmo que toma conta de um salão de baile. São coloridos confetes que caem como uma neve festiva, no momento em que os sofrimentos são esquecidos e a festividade trata de unir os cidadãos em meio ao mesmo ritmo, como no Brasil em época de Copa do Mundo, num momento de união que deveria existir sempre no Brasil, e não só em tempos de Copa. Aqui, temos um brilhante impecavelmente lapidado, com suas quinas e arestas geométricas. É um objeto truncado, com linhas tensas, e não vemos liquidiscência aqui. Podemos ouvir um divertido som de trilha sonora de videogame, numa espécie de “emoção racionalizada”, ou seja, o fato de que a direção a ser tomada é a mortificação, o desapego a ilusões, mas, ao mesmo tempo, deve permanecer a candura infantil e a irreverência. É uma divertida contradição, pois ao mesmo passo em que há fria racionalidade, há amor fraternal. O fundo do quadro tinha mesmo que ser branco, pois é uma base poderosa e contrastante, visto que não há partes brancas neste joia de VV. O branco é o infinito, num universo infinitamente vasto, com as luz de todas as galáxias chegando a nós, numa comunidade cósmica, ao mesmo som carnavalesco. Esta obra vibrante do artista é como o sistema de luzes de uma frenética boate, num espaço mágico, em que a dança liberta, no valor em ficar molhado de suor de tanto se mexer numa pista de dança, num momento de (necessária) diversão. Aqui temos um pouco de Cubismo, pois é como se fosse uma joia desdobrada, oferecendo ao espectador todas as suas faces coloridas, como um origami desdobrado, mostrando-nos todas as suas faces. É como se fosse uma borboleta alçando voo, no processo de transformação, de uma feia lagarta em um belo ser alado. É a libertação do Desencarne, e o casulo, o corpo físico, é deixado par atrás, com esta “borboleta” abraçando uma nova vida, uma vida melhor e menos dolorida. É a sobrevivência da Consciência, na vida eterna, pois qual seria o sentido da Vida sem a Eternidade? Faça um exercício – tente imaginar o Infinito. Poderoso, não? Dá até um frio na barriga. Aqui, o verde é a Mãe Terra, com suas majestosas florestas. Podemos sentir o cheiro de mato, de Flora. Parece que esta joia de VV está em constante processo de transformação e aprimoramento, num processo infindável, como numa faculdade que jamais cessa. Aqui, essas linhas retas fazem um fascinante baile, e linhas retas e diagonais se entrelaçam, na vocação da Op Art de pregar peças em nossos olhos, num jogo divertido. São as irônicas e inevitáveis contradições da existência, na lei de que tudo traz em si o próprio oposto, na dança de sedução entre Razão e Loucura. Aqui, é como um objeto científico sendo estudado, desconstruído e decomposto, a fim de ser analisado, como numa pessoa analisando uma obra de Arte, encontrando sentido na mente do artista, reconhecendo este. Aqui é como uma explosão de beleza, nas mágicas cores de um caleidoscópio, no enigma de beleza e placidez do plano onde Matéria é nada e Pensamento é tudo.


Acima, Zaphir Positif. O quadro remete ao tradicional Jogo da Velha, numa competição de raciocínio lógico. Isto remete a uma brincadeira infantil de encaixar peças, ajudando no crescimento da criança. Aqui, há um jogo dinâmico, pois as peças parecem estar fazendo uma dança e trocando de lugares, num infindável processo de evolução. Vemos quadrados, círculos e triângulos, nas formas geométricas mais básicas, visto que Simplicidade e Elegância andam juntas. Vemos um círculo negro, como num olho mágico que leva ao nada. É um túnel escuro, e não podemos ver, ao menos agora, aonde o buraco leva. É como mergulhar num escuro submundo, numa sub-realidade, com valores que destoam do Senso Comum, numa escuridão que acaba se apoderando da mente da pessoa, sendo necessário um processo de desintoxicação que pode levar anos. É um ponto final, assinalando uma nova época, num submundo que se esgotou. Aqui, é como um jogo de diagramação de espaços, no trabalho de um arquiteto, e, qual for a diagramação, sempre haverá um ponto negativo, negro, em algo que ouvi de uma amiga psicóloga: “Sempre haverá algo de que não gostarás”. É a inevitável imperfeição do Plano Material, imperfeições que acabam proporcionando crescimento, numa mortificação que acaba varrendo tolas ilusões. É o caminho do realismo, da consciência. As cores azuis remetem a uma deliciosa piscina, nas doces lembranças infantis e adolescentes de férias de Verão. Podemos ouvir o som de crianças pulando na água, numa época da Vida em que tudo é mais simples e autêntico. Estes triângulos são como painéis de chamar o elevador, sinalizando a direção a ser tomada, no modo como cada um de nós tem que tomar esse elevador, optando por caminhos, como numa faculdade. São as escolhas, e a Vida não é feita de escolhas? Podemos ouvir o som do “plim” quando o elevador chega no andar, com a porta se abrindo e fazendo com que saiamos, terminando um processo e abraçando a próxima etapa, numa Vida que não cessa. Os quadrados são a sisudez, o compartimento, a organização entre gavetas, como em pastas de conteúdo em computadores, fazendo metáfora com a nossa organização mental, colocando tudo em seu devido lugar, numa pessoa que busca se centrar no trabalho, adquirindo um Norte positivo e nobre em meio a um Mundo tão caótico e confuso – é o “conhecer a si mesmo” de Matrix, pois se minha vida está carecendo de Norte, como posso viver em Paz? No centro do quadro temos um grande círculo verde, dando-nos uma noção norteadora, talvez numa sala em que tudo gira em torno de algo imprescindível e capital, como numa casa em que tudo gira em torno da televisão. Este código geométrico de VV é como um hieróglifo, num Ser Humano que, evoluindo, passou a representar os sons por meio de figuras. Aqui, é como uma avenida de mão dupla, como veículos indo e vindo, talvez com uma ciclovia ao centro. São os encontros e desencontros, talvez com amigos passando uns pelos outros, estabelecendo relacionamentos, deixando par atrás os moldes imaturos de amizade. Aqui, são como várias janelas, como no prazer voyeur de espiar nas janelas dos outros, no prazer sensual de observar sem tomar parte. Aqui, é um tabuleiro de um jogo complexo, um jogo cujas regras só a Maturidade pode desvendar, talvez numa pessoa que tenha crescido o suficiente para ver o que é positivo e o que é inválido, no resultado de décadas de processo e de maturação, como um uísque que envelheceu por anos. É como na vista aérea de uma cidade, ou em chips dentro de um produto eletrônico, numa arquitetura diversificada, com vários prédios sendo feitos por arquitetos diferentes, resultando na carnavalesca diversidade. É um jogo de encaixe e organização, onde cada coisa tem seu lugar apropriado, no modo como, desde cedo, a Sociedade trata de causar o crescimento infantil, pois não são os pequenos o nosso futuro? Este quadro traz a ironia do incessante processo, como me disse certa professora – assim que saímos de algo, entramos em outro algo.

Referências bibliográficas:

Victor Vasarely. Disponível em <www.bolsadearte.com>. Acesso 9 out. 2019.
Victor Vasarely. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 9 out. 2019.

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