quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A Arte Canta



O inglês Jim Bird (1937 – 2010) vê, ainda criancinha, a II Guerra Mundial. Em 1956 passa a estudar Arte e em 1960 abre uma firma de Design Gráfico. De 1980 a 1997, reside em Nova York. Bird é um grande artista da Op Art, um estilo que desperta as ilusões de ótica no olho humano. O grande guru de Bird é Victor Vasarely, o pai da Op Art. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, sem título (1). Uma reação em cadeia, com todos os integrantes do organismo sofrendo um estímulo, uma influência. São olhinhos ávidos, excitados, estimulados talvez por uma forte catarse, um escândalo, pois dizia Dalí que é feliz aquele que provoca o escândalo. É muito engraçada a Op Art, pois nossos olhos ficam submetidos a esses estímulos visuais, abrindo um link com o Cinema, a arte que fez “pinturas e esculturas” se mover. Parece que esses olhos estão em busca de algo, de alguma referência, de alguma liderança. O sisudo fundo preto traz a profundidade do luto, num momento em que a pessoa precisa de um momento para se reerguer. São como ovos numa embalagem no supermercado, como grandes caixas que abrigam dezenas deles, como acontece com um fornecedor de ovos a uma certa confeitaria da cidade onde moro, numa enorme demanda, com centenas de ovos sendo utilizados todos os dias pela confeitaria. Aqui, a ordem impera, pois os olhos estão ordenadinhos, uns ao lado dos outros, comportados e, ao mesmo tempo, rebeldes, pois parecem querer se libertar, mexer-se, e estão numa grande inquietude, num desconforto. É um alvoroço, uma perturbação em um organismo antes harmônico e quieto. Parecem as inúmeras ovas de um peixe fêmea, só que aqui essas ovas estão ordenadas, em contraste com a forças caóticas da Natureza. Quem sabe aqui as ovas estão gerando vida dentro de si, e os pequeninos organismos debutantes estão cada um dentro de sua própria “caixinha”, desenvolvendo-se para, um dia, quebrar a casca de tal ovo, no ato de agressão, de transgressão que é nascer abrindo mão do confortável zelo materno, no ato de impacto que é um bebê nascer, chorando em razão do contraste entre o interior quentinho uterino e a frieza do mundo lá fora, e há o tradicional tapinha da bundinha do recém nascido, num choque, no momento em que o indivíduo passa a perceber toda a dureza de tal mundo extrauterino. Cada um desses círculos de Bird tem vida própria, e livre arbítrio, lutando para crescer e ter a força necessária para quebrar tal casca, no modo como um artista busca quebrar essa casca e “nascer” perante a percepção do espectador. Cada ovinho tem seus sonhos e quer se tornar relevante e independente. Cada um desses ovinhos parece se mexer de forma rotacional, como nos quadris de um Elvis Presley, na forma como o Rock and Roll teve, de início, tal força escandalosa e transgressora, até no modo como, no início, as câmeras de televisão censuravam o requebrar sensual da cintura do célebre sex symbol. A Arte tem esse poder de rompimento, de jovialidade, de renovação, e é dever do artista nunca ficar rançoso ou ultrapassado. Aqui, parece um mecanismo de massagem, com cada bolinha se movendo e promovendo o relaxamento. São como as várias de luas de algum planeta, só que aqui categorizadas e ordenadas, no modo como é impossível ao Ser Humano batizar todas as estrelas visíveis do Cosmos, no modo como Tao nos desafia, em puro espírito olímpico, exigindo que contornemos, de forma elegante e majestosa, os inevitáveis percalços no caminho – Tao quer nos ver crescer, como um pai orgulhoso que vê o filho tirando boas notas no colégio. Tao não quer que sintamos pena de nós mesmos, pois sabe como é ridícula a pessoa que “se atira nas cordas” e deixa de lutar pela Vida. Aqui, é como uma embalagem saída da fábrica, contendo várias bolas de algum esporte, como Tênis ou Vôlei. Esses ovos estão ansiosos para nascer, e estão cada vez mais desconfortáveis, numa pessoa “louca” para evoluir e libertar-se de limitações, pois é insuportável ao artista ser tolhido – se você quer tolher algum artista, vá à puta que pariu, com o perdão do termo.


Acima, sem título (2). O jogo com degradês dá um tom acetinado ao quadro. Temos aqui quatro pontos negros, como os quatro elementos primordiais, ou os quatro pontos cardeais, ou as quatro estações do ano. Triângulos se unem e trazem quadrados e losangos, numa brincadeira geométrica de Bird. O amarelo, jogado com verde, traz tons de dourado ao quadro, como na fortuna da caixaforte de Tio Patinhas, e podemos ouvir o som das moedinhas tilintando, como no descomunal tesouro do dragão em O Hobbit. Os quatro pontos negros nos dão referências, como estrelas no Céu guiando os navegadores descobridores. São quatro janelas negras que dão para o nada, para um céu opaco, sem estrelas. Esses losangos são como balões de festas juninas, subindo iluminados aos céus, como um espírito desencarnando, voltando aos domínios celestiais prometidos por Jesus. Bird faz aqui uso do contraste para tal efeito cinético, e o verde escuro faz contraste com o amarelo dourado. Temos aqui quatro túneis de um fundo negro, túneis para os quais não sabemos onde dão, na imprevisível vida que levamos, vida da qual tão pouco podemos prever, e é exatamente neste mistério que está a diversão, pois que vida seria essa se pudéssemos prever tudo? Neste quadro, temos que tomar uma decisão e decidir para qual dos quatro túneis iremos, num ponderado trabalho de escolha, como escolher qual curso universitário queremos cursar. Este efeito lustroso nos remete a um chão impecavelmente encerado, no prazer de se entrar numa sala recém limpa, com perfume de cera de lavanda, nas impecáveis salas da Dimensão Metafísica, a dimensão onde qualquer canto ou lugar é limpo, num lugar onde há beleza limpa em tudo, em cidades limpas, como se tivessem recém sido limpas por um gari. O quadro tem um efeito cíclico, pois parece que as coisas aqui estão girando. Parece uma majestosa estrela brilhando, encantando quem a observa da Terra. Parece um jogo de origami, com uma folha de papel sendo dobrada com inteligência, no talento das mãos humanas em transformar, em combinar elementos e produzir algo novo, no talento do artista plástico em produzir coisas novas. Aqui, é como uma pedra preciosa talentosamente lapidada, encantando com sua perfeição, com sua limpa beleza, sendo uma embaixatriz da Dimensão Metafísica, o plano onde reinam as ideias; o plano onde a Matéria é desprezada e esquecida. É como uma mandala, expandindo-se igualmente por todas as direções, como num relógio marcando as horas, no modo humano em assinalar a passagem do tempo, nas forças que fazem com que o tempo passe e com que envelheçamos. Aqui, temos quatro buracos negros, sugando tudo em força igual, nas imensidões cósmicas que nos perguntam: Depois do fim do Cosmos, o que há além? Esses quatro pontos negros são pontos de referência, e formam o princípio quadricular do quadro, para depois se desdobrar em tal sofisticação de Op Art, como num competente designer de logomarcas, bolando coisas que brincam com a percepção do espectador. Temos aqui um jogo de listras, sofisticando-se em contrastes, como superfícies metálicas, produzindo um aspecto de fonte, uma fonte que jamais se esgota, como Tao, o inesgotável, o sempre produtor. Temos aqui quatro túneis, como num labirinto, um lugar no qual temos que fazer escolhas de caminho, tendo que abraçar tais escolhas e as consequências destas, no modo como a Vida exige que façamos escolhas, na pergunta de Tao: O que importa mais: tua imagem ou tua alma? Escolha. É como em Matrix, no indivíduo como o protagonista Neo, que tem que fazer uma escolha, e tem que se sentir livre para fazer tal escolha. Numa sociedade patriarcal, uma mulher não pode ser livre, e não pode se dar ao luxo de fazer uma escolha. E, sem Liberdade, não há bem estar, e tudo que é incômodo é mau. Bird quer que façamos aqui uma escolha, e quer que nos sintamos livres, pois, sem Liberdade, a Arte não tem como ter poder de expressão, pois os estados totalitários castram o cidadão e fazem da Arte um mero instrumento de propaganda ideológica.


Acima, sem título (3). Temos aqui uma figura alada, na liberdade que permeia o puro pensamento racional, o pensamento que nos desliga dos sofreres e das mágoas, ou seja, o perdão é lógico, pois este supera e faz crescer. Este pássaro está quase fugindo do quadro, como se estivesse ansioso para se libertar, como numa pausa no expediente, ou no recreio escolar, no momento em que mostra que a Vida não é só trabalho e sisudez, na necessidade da pessoa em desenvolver senso de humor. Um discreto círculo pontua este quadro, um grande círculo, mas mal podemos ver tal figura, pois é como se fosse um discreto e translúcido cristal, algo muito fino e sofisticado, na virtude que existe por trás da Discrição. Este “cristal” pode ser percebido a partir das distorções que faz, como na atual direção de arte do canal Globonews, com esse material invisível se fazer visível a partir de tais distorções, no modo como age Tao, o discreto, o invisível, sempre subestimado, sempre agindo nos bastidores e, assim, torna-se tudo, pois quem não ambiciona ter tudo, tudo tem... É a negação, o desinteresse de um espírito que está se mortificando e está se desprendendo das ilusões e das riquezas mundanas, num ato de repúdio, de virtude e de crescimento, num espírito que entende que as pedras preciosas são só pedras, ou seja, não entram na Dimensão Metafísica. É uma espécie de filtro, e quanto mais apegado ao mundano sou, mais dificuldade terei em aceitar o Desencarne, ou seja, irei a um lugar, o lugar onde as pessoas sentem pena de si mesmas. Este quadro tem tons muito suaves, e não vemos aqui elementos que se impõem contundentemente, marcantemente. Este pássaro é como a águia americana na armadura da Mulher Maravilha, e a águia significa a liberdade do pensamento racional, o pensamento no qual qualquer malícia é detectada e eliminada, como se estivéssemos passando um paninho na bancada da cozinha, no perfume versus sujeira – e como é sujo e desnecessário o Umbral! A dureza da armadura é a capacidade da pessoa em dizer NÃO, nunca, assim, colocando-se nas mãos de outrem, ou seja, Liberdade e Livre Arbítrio, e como são infelizes os povos que são tolhidos pelo próprio governo. A armadura bélica protege dos tiros maus, preservando a pureza e a leveza da alma. É uma pessoa adquirindo o controle sobre sua própria vida, tornando-se adulta e resolvendo dentro de si suas tristezas e decepções, pois a Vida exige força da pessoa que se frustra, sendo duro virar uma página amarga, mas a frustração é desmotivadora e desnorteante, fazendo com que a pessoa se sinta num traiçoeiro labirinto, cheio de ilusórios sinais auspiciosos. Este pássaro tem lá duas quinas, suas arestas, impondo a condição de que mantenhamos distância, numa defesa que acolhe amigos e rechaça inimigos, como uma pessoa que sabe detectar ardilosos psicopatas quando estes começam a se insinuar. A armadura é a faca que corta tais ardilosas teias, como um antivírus, detectando o menor sinal de malícia no computador. É a imagem majestosa de Nossa Senhora esmagando com os pés a serpente da Malícia, a vilã do Éden. Este quadro parece que foi tirada uma foto do pássaro enquanto este passava, num momento raro, em que um fotógrafo flagra uma cena inusitada. São as asas dos anjos, os espíritos amorosos que se tornam nossos anjos da guarda, sempre buscando nos colocar no bom caminho, no caminho feliz, no caminho fresquinho e desapegado, com na agradável temperatura, diurna ou noturna, das colônias espirituais, o plano metafísico no qual não mais estamos expostos às intempéries da Matéria. É a Vida Eterna se desdobrando ante nossos olhos, no maior presente que pode ser dado, pois carros luxuosos são bons, mas nunca duram. Este pássaro tem tons de azul bebê, numa candura, num perfume de lavanda, no fascínio das finas fragrâncias, fazendo metáfora com o perfume metafísico eterno, o perfume que nuca se esgota no vidrinho, pois de que adianta um psicopata perfumado que só faz o Mal?


Acima, sem título (4). Aqui, temos um jogo entre retilíneo e curvilíneo, e é como um tabuleiro de Xadrez ou Damas. É como uma embalagem com vários ovos de Páscoa, nas doces lembranças de Infância daquele cesto cheio de delícias multicoloridas. Aqui, é como uma povoada avenida, numa grande e pujante cidade, como no sonho de vida da humilde camponesa Teresa, de José Clemente Pozenato, numa personagem que sonhava com uma vida sofisticada e urbana, com amplas ruas movimentadas, com cafés, teatros, cinemas etc. Essas bolas de Jim parecem girar, na capciosidade de um bom artista de Op Art, pregando peças no espectador, fazendo este “viajar” nas ilusões de ótica. Temos aqui uma cor discreta, de argila, nas milagrosas mãos de um artesão, pegando argila e produzindo coisas novas, como na idosa Rose de Titanic, num estilo de vida sossegado, sábio, estável, longe das tempestades de ambições que assolam a maioria dos seres humanos, pois se não estou o tempo todo querendo coisas, posso ter Paz. Este quadro parece um painel em algum hall luxuoso, com elegantes lugares, projetados por felizes conceptores, espíritos imbuídos da mais alta classe comportamental, espíritos que já estão fartos dos sinais auspiciosos do Mundo Físico. Aqui, são como vários relógios, marcando a hora em diversos lugares do Mundo, no modo humano em fatiar e categorizar, tentando impor alguma ordem a uma Natureza tão caótica e espinhosa, como espinhos numa doce roseira, ou seja, não vou dizer que foram só flores; não vou dizer que foram só espinhos. É o modo como o Ser Humano é constantemente palco dessa luta entre Bem e Mal. Aqui é como uma cancha de tênis, feita com pó de tijolo, nas inevitáveis marcas, nos vestígios no chão narrando uma partida, uma etapa, um acontecimento, num chão que, após o jogo, é restaurado, e tudo volta à etapa inicial, para um novo desafio, no eterno recomeço que pontua qualquer tipo de trabalho, na nova página em branco, no novo aprendizado, num caminho infinito de depuração, cujo objetivo é a Suprema Felicidade, a felicidade que há nos Espírito Superiores, as almas que passaram por muita, muita depuração, aperfeiçoamento, ou seja, o sentido da Vida é Crescimento, tornando-nos pessoas melhores, mais pés no chão. Os degradês de Jim Bird trazem esse aspecto acetinado, suave, no discreto e delicioso som de lençóis de cetim, numa cama convidativa e deliciosa, num merecido descanso depois de uma encarnação cheia de desafios e arestas aparadas. Cada um desses círculos é como se fosse um barril de vinho, com seus preciosos conteúdos etílicos, como na respeitável pujança do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalo, digo, Gonçalves. São barris na horizontal, empilhados em escuros porões, preservados da nociva luz solar que pode danificar o produto. É um trabalho de paciência, com tempo sendo esperado, como nos vários anos de maturação de um uísque. Esses barris parecem se mexer, e o líquido parece seguir tal cinética, como nos movimentos circulares feitos na taça, libertando aromas, no prazer enófilo. Aqui, são como vários olhos de uma aranha, num ser tão estranho, que mostra a inventividade de Tao, produzindo seres tão diferentes, tão exóticos. A junção dos círculos com os quadrados produz losangos, os quais parecem ser cataventos girando ao vento, nas doces lembranças de brincadeiras infantis, numa brincadeira simples, como moinhos girando e gerando a energia, como na campanha publicitária da inauguração do Shopping Moinhos de Porto Alegre, com pessoas e seus cataventos girando ao vento, fazendo alusão ao grande Moinho que é um ícone da Arquitetura Portoalegrense. A Op Art é lúdica, numa emocionante interação que convida o espectador. Aqui, os contrastes têm papel chave, com sem estes, a cinética não funcionaria. Os círculos são a facilidade, no termo “desce redondo”, para que seja expressado o prazer de se beber algo gostoso. O círculo é como comida sendo engolida, no ato de prazer que é comer. Pode-se aqui ouvir o som de musiquinha de videogame, no poder dos momentos de doce infância.


Acima, sem título (5). Temos aqui um jogo de vaivém, com pistas cujos sentidos contradizem umas aos outros. É como uma declaração polêmica, que suscita amor por uns e ódio por outros, como um artista controverso, que transita por uma perigosa e deliciosa linha tênue, mostrando que a Arte não é puro passatempo, mas um instrumento de produção de pensamento, de opinião, de inteligência e de posicionamentos, sendo imprescindível a Liberdade para que a Arte não tenha suas asas castradas. O verde é da cor das majestosas vestes florestais, no modo como o Mundo faz protestos contundentes em relação à Floresta Amazônica, num ponto em que se discute a soberania brasileira sobre tais terras. Como diz Tao, os campos e florestas vestem roupas majestosas e maravilhosas, mas infelizmente o Ser Humano só dá bola para os palácios, sendo estes meras cópias do incrível trabalho de Tao, dotando nosso planeta de tanta diversidade e riqueza biológica, geológica, florestal etc. Aqui, é como os astrônomos puderam observar os movimentos na superfície de Júpiter, com gases formando uma espécie de mármore líquido, fluidio, tendo uns gases girando para um lado e outros gases girando para o sentido oposto, numa diversidade de opiniões, no modo como é dever da Democracia criar os meios para que não se perca a Liberdade e a Diversidade Intelectual. Este quadro, numa ditadura, faria com que os elementos migrassem todos para a mesma direção, transformando este quadro em algo monótono e óbvio, sem graça, sem sentido, porque a Arte precisa, também, ser divertida e interessante, divertindo e tocando o espectador. Aqui são como bolinhas de tênis sendo jogadas de um lado para o outro na cancha, e podemos ouvir o som de uma partida, talvez numa grande final, no modo humano de confrontar os melhores para ver que é o suprassumo, na diversão que pode surgir na competitividade, desde que o cavalheirismo e a civilidade não sejam perdidos, num elegante acordo entre cavalheiros, num contrato cordato, impedindo que a ambição e a ganância ganhem traços sociopáticos de crueldade e trapaça. E quando o cavalheirismo é perdido, acontecem as guerras, a falta de diálogo, de concórdia, pois já ouvi dizer que, quando há diálogo, tudo se resolve. Este quadro traz a ironia de Tao, que diz que, se você quer reinar, tem que ser humilde; se quiser cair, tem que ser arrogante. São as divertidas contradições, lições impossíveis de ser aprendidas pela microscópica mente de um psicopata, pois Tao é à prova de tolos, numa doutrina que só pode ser compreendida por quem tem caráter e coração. Aqui são como várias fases da Lua, o corpo celeste que sempre tanto encantou o Ser Humano, com sua luz suave, sem a força da luz solar que pode cegar. O calendário chinês, por exemplo, guia-se pela Lua, não pelo Sol, o que me remete aos arranjos florais no bairro novaiorquino de Chinatown, o qual visitei em 1998, na festividade de renovação do ano, com arranjos que me remeteram muito a coroas funerárias, na eterna tentativa humana em compreender a Morte e a Ressurreição. A Lua dança pelos céus, completamente alheia ao Sol, ao compartimento comum de dias durante 365 dias. A Lua é identificada com o feminino, nos ciclos das marés, na Iemanjá emergindo das águas e encantando com sua beleza e sensualidade liquidiscente. Esses degradês são como colunas gregas clássicas, ou cortinas persianas, num efeito de brisa que balança suavemente as cortinas em uma amena noite de verão, noite digna de um desfile da Festa da Uva, na sensual magia das vindimas, anunciando a renovação da Vida, no perfume doce de uvas no ar, nos atrativos de uma fruta doce e deliciosa. Aqui é como uma chapa perfurada por círculos, como numa fabricação de moedas, no modo humano em simplificar o sistema de troca, fazendo do dinheiro um atalho e, também, infelizmente, uma obsessão, pois o que não faltam são pessoas gananciosas, obcecadas com riqueza... E como diz Tao, se você não adquirir tesouros, ninguém vai querer roubá-los.


Acima, sem título (6). Esse X me remete aos anúncios do show que Xuxa fará em breve em Porto Alegre, com muitas cores alegres, numa pessoa que sabe entreter a gurizadinha. Este X é como um marco de um tesouro enterrado, na ganância de um pirata, roubando ouro e escondendo o mesmo, com medo de que outros possam se apoderar de tais preciosidades, no modo como a riqueza mundana pode significar um problema, um peso, uma carga, algo que tira da pessoa rica o privilégio dos pequenos prazeres, como caminhar e olhar para um majestoso Céu de Brigadeiro. Numa amarga ironia, a pessoa rica é uma prisioneira tal qual uma joia trancada num cofre. E o Ser Humano, infelizmente quanto mais tem, menos satisfeito está, perdendo a Simplicidade, que é gêmea siamesa da Elegância, no trabalho transgressor de uma Chanel, libertando a mulher da obrigação de usar joias caras – é o poder renovador das mentes brilhantes. Este quadro é como um majestoso diamante, profissionalmente lapidado, feito para brilhar, para emocionar e para seduzir. É a magia de um objeto brilhante, dando uma modesta amostra da elegância das salas da Dimensão Metafísica, lugares onde só há espaço para a Elegância e para coisas boas. A ganância faz com que as joias se tornem grosserias, pois o ávido não entende que os diamantes são meras cópias do que realmente importa, que é a pureza do pensamento racional e do pensamento amoroso. Sem amor a si mesmo e ao próximo, a civilidade e a irmandade se perdem, e o diamante entra como um estopim para guerras, grosserias, confusões e desentendimentos. Não existe mal em usar joias; existe mal em menosprezar bijuterias. Aqui, é como uma grande Rosa dos Ventos, nas noções civilizatórias das Navegações, na explosão das tecnologias da época, tecnologias que mostraram ao Ser Humano algo além de misticismo obscuro. Aqui, é como uma grande e majestosa roseta, numa grande mandala explodindo em todas as direções, como uma supernova, como um artista estelar sendo revelado ao Mundo, ou um artista, antes esquecido, voltando à ativa de forma surpreendente a contundente. Temos aqui um efeito de cristal, com a luz branca sendo desdobrada em outras cores, no fascínio que o arcoíris exerceu, por exemplo, nos povos indígenas. Este quadro nos traz um perfume muito fino, como num elegante anfitrião recebendo os convidados com honras de rei, fazendo o convidado se sentir muito confortável e à vontade, pois se não tenho liberdade, como posso me sentir confortável e à vontade? A Liberdade é o Bem, e o Bem gera boa Arte. Aqui é como um disco de vinil girando, no boom que a Indústria Fonográfica teve a partir do surgimento de tal tecnologia, uma indústria que hoje se depara com a facilidade do Download. Aqui, temos tons bebês, pastéis. O azul é um perfume cítrico e refrescante, na magia de fragrâncias em frascos azuis e praianos. O rosa, já, traz um perfume mais doce e feminino, no encanto de uma mulher perfumada entrando em algum lugar e trazendo consigo tal elegante fragrância. O perfume está no comportamental, no psicológico: se sou do Bem, meu perfume será realçado por tal hálito comportamental; se sou do Mal, não há fragrância que me torne uma pessoa elegante de fato. Ou seja, na base de tudo, há o espiritual. Aqui, é como um belíssimo planeta girando, composto por todo o complexo de cidades espirituais da Dimensão Metafísica, o prometido Reino dos Céus que nos revela a misteriosa e maravilhosa intenção de Tao para conosco, num Tao nos proporcionando uma vida plena, produtiva, maravilhosa e divertida, num Pai que quer tudo de bom e de melhor aos filhos, tratando-nos como o sangue azul metafísico, sangue que corre nas veias de absolutamente todos nós. Este quadro nos traz uma certa magia, como se fosse o lugar de uma maravilhosa feiticeira do Bem, como na enigmática Galadriel de Tolkien, a feiticeira que é como uma água gelada, a qual, apesar de fria, é limpa, cura e beneficia.

Referências bibliográficas:

Biografia. Disponível em <www.jimbird.org>. Acesso 2 out. 2019.
Jim Bird. Disponível em <www.catalogodasartes.com.br >. Acesso 2 out. 2019.

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