O inglês Jim Bird (1937 –
2010) vê, ainda criancinha, a II Guerra Mundial. Em 1956 passa a estudar Arte e
em 1960 abre uma firma de Design Gráfico. De 1980 a 1997, reside em Nova York. Bird é
um grande artista da Op Art, um estilo que desperta as ilusões de ótica no olho
humano. O grande guru de Bird é Victor Vasarely, o pai da Op Art. Os textos e
análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!
Acima, sem título (1). Uma
reação em cadeia, com todos os integrantes do organismo sofrendo um estímulo,
uma influência. São olhinhos ávidos, excitados, estimulados talvez por uma
forte catarse, um escândalo, pois dizia Dalí que é feliz aquele que provoca o
escândalo. É muito engraçada a Op Art, pois nossos olhos ficam submetidos a
esses estímulos visuais, abrindo um link com o Cinema, a arte que fez “pinturas
e esculturas” se mover. Parece que esses olhos estão em busca de algo, de
alguma referência, de alguma liderança. O sisudo fundo preto traz a
profundidade do luto, num momento em que a pessoa precisa de um momento para se
reerguer. São como ovos numa embalagem no supermercado, como grandes caixas que
abrigam dezenas deles, como acontece com um fornecedor de ovos a uma certa
confeitaria da cidade onde moro, numa enorme demanda, com centenas de ovos
sendo utilizados todos os dias pela confeitaria. Aqui, a ordem impera, pois os
olhos estão ordenadinhos, uns ao lado dos outros, comportados e, ao mesmo
tempo, rebeldes, pois parecem querer se libertar, mexer-se, e estão numa grande
inquietude, num desconforto. É um alvoroço, uma perturbação em um organismo
antes harmônico e quieto. Parecem as inúmeras ovas de um peixe fêmea, só que
aqui essas ovas estão ordenadas, em contraste com a forças caóticas da
Natureza. Quem sabe aqui as ovas estão gerando vida dentro de si, e os
pequeninos organismos debutantes estão cada um dentro de sua própria “caixinha”,
desenvolvendo-se para, um dia, quebrar a casca de tal ovo, no ato de agressão,
de transgressão que é nascer abrindo mão do confortável zelo materno, no ato de
impacto que é um bebê nascer, chorando em razão do contraste entre o interior
quentinho uterino e a frieza do mundo lá fora, e há o tradicional tapinha da
bundinha do recém nascido, num choque, no momento em que o indivíduo passa a
perceber toda a dureza de tal mundo extrauterino. Cada um desses círculos de
Bird tem vida própria, e livre arbítrio, lutando para crescer e ter a força
necessária para quebrar tal casca, no modo como um artista busca quebrar essa
casca e “nascer” perante a percepção do espectador. Cada ovinho tem seus sonhos
e quer se tornar relevante e independente. Cada um desses ovinhos parece se
mexer de forma rotacional, como nos quadris de um Elvis Presley, na forma como
o Rock and Roll teve, de início, tal força escandalosa e transgressora, até no
modo como, no início, as câmeras de televisão censuravam o requebrar sensual da
cintura do célebre sex symbol. A Arte tem esse poder de rompimento, de
jovialidade, de renovação, e é dever do artista nunca ficar rançoso ou
ultrapassado. Aqui, parece um mecanismo de massagem, com cada bolinha se
movendo e promovendo o relaxamento. São como as várias de luas de algum
planeta, só que aqui categorizadas e ordenadas, no modo como é impossível ao
Ser Humano batizar todas as estrelas visíveis do Cosmos, no modo como Tao nos
desafia, em puro espírito olímpico, exigindo que contornemos, de forma elegante
e majestosa, os inevitáveis percalços no caminho – Tao quer nos ver crescer,
como um pai orgulhoso que vê o filho tirando boas notas no colégio. Tao não
quer que sintamos pena de nós mesmos, pois sabe como é ridícula a pessoa que
“se atira nas cordas” e deixa de lutar pela Vida. Aqui, é como uma embalagem
saída da fábrica, contendo várias bolas de algum esporte, como Tênis ou Vôlei.
Esses ovos estão ansiosos para nascer, e estão cada vez mais desconfortáveis,
numa pessoa “louca” para evoluir e libertar-se de limitações, pois é
insuportável ao artista ser tolhido – se você quer tolher algum artista, vá à
puta que pariu, com o perdão do termo.
Acima, sem título (2). O
jogo com degradês dá um tom acetinado ao quadro. Temos aqui quatro pontos
negros, como os quatro elementos primordiais, ou os quatro pontos cardeais, ou
as quatro estações do ano. Triângulos se unem e trazem quadrados e losangos,
numa brincadeira geométrica de Bird. O amarelo, jogado com verde, traz tons de
dourado ao quadro, como na fortuna da caixaforte de Tio Patinhas, e podemos
ouvir o som das moedinhas tilintando, como no descomunal tesouro do dragão em O Hobbit.
Os quatro pontos negros nos dão referências, como estrelas no
Céu guiando os navegadores descobridores. São quatro janelas negras que dão
para o nada, para um céu opaco, sem estrelas. Esses losangos são como balões de
festas juninas, subindo iluminados aos céus, como um espírito desencarnando,
voltando aos domínios celestiais prometidos por Jesus. Bird faz aqui uso do
contraste para tal efeito cinético, e o verde escuro faz contraste com o
amarelo dourado. Temos aqui quatro túneis de um fundo negro, túneis para os
quais não sabemos onde dão, na imprevisível vida que levamos, vida da qual tão
pouco podemos prever, e é exatamente neste mistério que está a diversão, pois
que vida seria essa se pudéssemos prever tudo? Neste quadro, temos que tomar
uma decisão e decidir para qual dos quatro túneis iremos, num ponderado
trabalho de escolha, como escolher qual curso universitário queremos cursar.
Este efeito lustroso nos remete a um chão impecavelmente encerado, no prazer de
se entrar numa sala recém limpa, com perfume de cera de lavanda, nas impecáveis
salas da Dimensão Metafísica, a dimensão onde qualquer canto ou lugar é limpo,
num lugar onde há beleza limpa em tudo, em cidades limpas, como se tivessem
recém sido limpas por um gari. O quadro tem um efeito cíclico, pois parece que
as coisas aqui estão girando. Parece uma majestosa estrela brilhando,
encantando quem a observa da Terra. Parece um jogo de origami, com uma folha de
papel sendo dobrada com inteligência, no talento das mãos humanas em
transformar, em combinar elementos e produzir algo novo, no talento do artista
plástico em produzir coisas novas. Aqui, é como uma pedra preciosa
talentosamente lapidada, encantando com sua perfeição, com sua limpa beleza,
sendo uma embaixatriz da Dimensão Metafísica, o plano onde reinam as ideias; o
plano onde a Matéria é desprezada e esquecida. É como uma mandala,
expandindo-se igualmente por todas as direções, como num relógio marcando as
horas, no modo humano em assinalar a passagem do tempo, nas forças que fazem
com que o tempo passe e com que envelheçamos. Aqui, temos quatro buracos
negros, sugando tudo em força igual, nas imensidões cósmicas que nos perguntam:
Depois do fim do Cosmos, o que há além? Esses quatro pontos negros são pontos
de referência, e formam o princípio quadricular do quadro, para depois se
desdobrar em tal sofisticação de Op Art, como num competente designer de
logomarcas, bolando coisas que brincam com a percepção do espectador. Temos
aqui um jogo de listras, sofisticando-se em contrastes, como superfícies
metálicas, produzindo um aspecto de fonte, uma fonte que jamais se esgota, como
Tao, o inesgotável, o sempre produtor. Temos aqui quatro túneis, como num
labirinto, um lugar no qual temos que fazer escolhas de caminho, tendo que
abraçar tais escolhas e as consequências destas, no modo como a Vida exige que
façamos escolhas, na pergunta de Tao: O que importa mais: tua imagem ou tua
alma? Escolha. É como em Matrix, no
indivíduo como o protagonista Neo, que tem que fazer uma escolha, e tem que se
sentir livre para fazer tal escolha. Numa sociedade patriarcal, uma mulher não
pode ser livre, e não pode se dar ao luxo de fazer uma escolha. E, sem
Liberdade, não há bem estar, e tudo que é incômodo é mau. Bird quer que façamos
aqui uma escolha, e quer que nos sintamos livres, pois, sem Liberdade, a Arte
não tem como ter poder de expressão, pois os estados totalitários castram o
cidadão e fazem da Arte um mero instrumento de propaganda ideológica.
Acima, sem título (3). Temos
aqui uma figura alada, na liberdade que permeia o puro pensamento racional, o
pensamento que nos desliga dos sofreres e das mágoas, ou seja, o perdão é
lógico, pois este supera e faz crescer. Este pássaro está quase fugindo do
quadro, como se estivesse ansioso para se libertar, como numa pausa no
expediente, ou no recreio escolar, no momento em que mostra que a Vida não é só
trabalho e sisudez, na necessidade da pessoa em desenvolver senso de humor. Um
discreto círculo pontua este quadro, um grande círculo, mas mal podemos ver tal
figura, pois é como se fosse um discreto e translúcido cristal, algo muito fino
e sofisticado, na virtude que existe por trás da Discrição. Este “cristal” pode
ser percebido a partir das distorções que faz, como na atual direção de arte do
canal Globonews, com esse material invisível se fazer visível a partir de tais
distorções, no modo como age Tao, o discreto, o invisível, sempre subestimado,
sempre agindo nos bastidores e, assim, torna-se tudo, pois quem não ambiciona
ter tudo, tudo tem... É a negação, o desinteresse de um espírito que está se
mortificando e está se desprendendo das ilusões e das riquezas mundanas, num ato
de repúdio, de virtude e de crescimento, num espírito que entende que as pedras
preciosas são só pedras, ou seja, não entram na Dimensão Metafísica. É uma
espécie de filtro, e quanto mais apegado ao mundano sou, mais dificuldade terei
em aceitar o Desencarne, ou seja, irei a um lugar, o lugar onde as pessoas
sentem pena de si mesmas. Este quadro tem tons muito suaves, e não vemos aqui
elementos que se impõem contundentemente, marcantemente. Este pássaro é como a
águia americana na armadura da Mulher Maravilha, e a águia significa a
liberdade do pensamento racional, o pensamento no qual qualquer malícia é
detectada e eliminada, como se estivéssemos passando um paninho na bancada da
cozinha, no perfume versus sujeira – e como é sujo e desnecessário o Umbral! A
dureza da armadura é a capacidade da pessoa em dizer NÃO, nunca, assim,
colocando-se nas mãos de outrem, ou seja, Liberdade e Livre Arbítrio, e como
são infelizes os povos que são tolhidos pelo próprio governo. A armadura bélica
protege dos tiros maus, preservando a pureza e a leveza da alma. É uma pessoa
adquirindo o controle sobre sua própria vida, tornando-se adulta e resolvendo
dentro de si suas tristezas e decepções, pois a Vida exige força da pessoa que
se frustra, sendo duro virar uma página amarga, mas a frustração é
desmotivadora e desnorteante, fazendo com que a pessoa se sinta num traiçoeiro
labirinto, cheio de ilusórios sinais auspiciosos. Este pássaro tem lá duas
quinas, suas arestas, impondo a condição de que mantenhamos distância, numa
defesa que acolhe amigos e rechaça inimigos, como uma pessoa que sabe detectar
ardilosos psicopatas quando estes começam a se insinuar. A armadura é a faca
que corta tais ardilosas teias, como um antivírus, detectando o menor sinal de
malícia no computador. É a imagem majestosa de Nossa Senhora esmagando com os
pés a serpente da Malícia, a vilã do Éden. Este quadro parece que foi tirada
uma foto do pássaro enquanto este passava, num momento raro, em que um
fotógrafo flagra uma cena inusitada. São as asas dos anjos, os espíritos
amorosos que se tornam nossos anjos da guarda, sempre buscando nos colocar no
bom caminho, no caminho feliz, no caminho fresquinho e desapegado, com na
agradável temperatura, diurna ou noturna, das colônias espirituais, o plano
metafísico no qual não mais estamos expostos às intempéries da Matéria. É a
Vida Eterna se desdobrando ante nossos olhos, no maior presente que pode ser
dado, pois carros luxuosos são bons, mas nunca duram. Este pássaro tem tons de
azul bebê, numa candura, num perfume de lavanda, no fascínio das finas
fragrâncias, fazendo metáfora com o perfume metafísico eterno, o perfume que
nuca se esgota no vidrinho, pois de que adianta um psicopata perfumado que só
faz o Mal?
Acima, sem título (4). Aqui,
temos um jogo entre retilíneo e curvilíneo, e é como um tabuleiro de Xadrez ou
Damas. É como uma embalagem com vários ovos de Páscoa, nas doces lembranças de
Infância daquele cesto cheio de delícias multicoloridas. Aqui, é como uma
povoada avenida, numa grande e pujante cidade, como no sonho de vida da humilde
camponesa Teresa, de José Clemente Pozenato, numa personagem que sonhava com
uma vida sofisticada e urbana, com amplas ruas movimentadas, com cafés,
teatros, cinemas etc. Essas bolas de Jim parecem girar, na capciosidade de um
bom artista de Op Art, pregando peças no espectador, fazendo este “viajar” nas
ilusões de ótica. Temos aqui uma cor discreta, de argila, nas milagrosas mãos
de um artesão, pegando argila e produzindo coisas novas, como na idosa Rose de Titanic, num estilo de vida sossegado,
sábio, estável, longe das tempestades de ambições que assolam a maioria dos
seres humanos, pois se não estou o tempo todo querendo coisas, posso ter Paz.
Este quadro parece um painel em algum hall luxuoso, com elegantes lugares,
projetados por felizes conceptores, espíritos imbuídos da mais alta classe
comportamental, espíritos que já estão fartos dos sinais auspiciosos do Mundo
Físico. Aqui, são como vários relógios, marcando a hora em diversos lugares do
Mundo, no modo humano em fatiar e categorizar, tentando impor alguma ordem a
uma Natureza tão caótica e espinhosa, como espinhos numa doce roseira, ou seja,
não vou dizer que foram só flores; não vou dizer que foram só espinhos. É o
modo como o Ser Humano é constantemente palco dessa luta entre Bem e Mal. Aqui
é como uma cancha de tênis, feita com pó de tijolo, nas inevitáveis marcas, nos
vestígios no chão narrando uma partida, uma etapa, um acontecimento, num chão
que, após o jogo, é restaurado, e tudo volta à etapa inicial, para um novo
desafio, no eterno recomeço que pontua qualquer tipo de trabalho, na nova
página em branco, no novo aprendizado, num caminho infinito de depuração, cujo
objetivo é a Suprema Felicidade, a felicidade que há nos Espírito Superiores,
as almas que passaram por muita, muita depuração, aperfeiçoamento, ou seja, o
sentido da Vida é Crescimento, tornando-nos pessoas melhores, mais pés no chão.
Os degradês de Jim Bird trazem esse aspecto acetinado, suave, no discreto e
delicioso som de lençóis de cetim, numa cama convidativa e deliciosa, num
merecido descanso depois de uma encarnação cheia de desafios e arestas
aparadas. Cada um desses círculos é como se fosse um barril de vinho, com seus
preciosos conteúdos etílicos, como na respeitável pujança do Vale dos Vinhedos,
em Bento Gonçalo,
digo, Gonçalves. São barris na horizontal, empilhados em escuros porões,
preservados da nociva luz solar que pode danificar o produto. É um trabalho de
paciência, com tempo sendo esperado, como nos vários anos de maturação de um
uísque. Esses barris parecem se mexer, e o líquido parece seguir tal cinética,
como nos movimentos circulares feitos na taça, libertando aromas, no prazer
enófilo. Aqui, são como vários olhos de uma aranha, num ser tão estranho, que
mostra a inventividade de Tao, produzindo seres tão diferentes, tão exóticos. A
junção dos círculos com os quadrados produz losangos, os quais parecem ser
cataventos girando ao vento, nas doces lembranças de brincadeiras infantis,
numa brincadeira simples, como moinhos girando e gerando a energia, como na
campanha publicitária da inauguração do Shopping Moinhos de Porto Alegre, com
pessoas e seus cataventos girando ao vento, fazendo alusão ao grande Moinho que
é um ícone da Arquitetura Portoalegrense. A Op Art é lúdica, numa emocionante
interação que convida o espectador. Aqui, os contrastes têm papel chave, com
sem estes, a cinética não funcionaria. Os círculos são a facilidade, no termo
“desce redondo”, para que seja expressado o prazer de se beber algo gostoso. O
círculo é como comida sendo engolida, no ato de prazer que é comer. Pode-se
aqui ouvir o som de musiquinha de videogame, no poder dos momentos de doce
infância.
Acima, sem título (5). Temos
aqui um jogo de vaivém, com pistas cujos sentidos contradizem umas aos outros.
É como uma declaração polêmica, que suscita amor por uns e ódio por outros,
como um artista controverso, que transita por uma perigosa e deliciosa linha
tênue, mostrando que a Arte não é puro passatempo, mas um instrumento de
produção de pensamento, de opinião, de inteligência e de posicionamentos, sendo
imprescindível a Liberdade para que a Arte não tenha suas asas castradas. O
verde é da cor das majestosas vestes florestais, no modo como o Mundo faz
protestos contundentes em relação à Floresta Amazônica, num ponto em que se
discute a soberania brasileira sobre tais terras. Como diz Tao, os campos e
florestas vestem roupas majestosas e maravilhosas, mas infelizmente o Ser
Humano só dá bola para os palácios, sendo estes meras cópias do incrível
trabalho de Tao, dotando nosso planeta de tanta diversidade e riqueza
biológica, geológica, florestal etc. Aqui, é como os astrônomos puderam
observar os movimentos na superfície de Júpiter, com gases formando uma espécie
de mármore líquido, fluidio, tendo uns gases girando para um lado e outros
gases girando para o sentido oposto, numa diversidade de opiniões, no modo como
é dever da Democracia criar os meios para que não se perca a Liberdade e a
Diversidade Intelectual. Este quadro, numa ditadura, faria com que os elementos
migrassem todos para a mesma direção, transformando este quadro em algo
monótono e óbvio, sem graça, sem sentido, porque a Arte precisa, também, ser
divertida e interessante, divertindo e tocando o espectador. Aqui são como
bolinhas de tênis sendo jogadas de um lado para o outro na cancha, e podemos
ouvir o som de uma partida, talvez numa grande final, no modo humano de
confrontar os melhores para ver que é o suprassumo, na diversão que pode surgir
na competitividade, desde que o cavalheirismo e a civilidade não sejam
perdidos, num elegante acordo entre cavalheiros, num contrato cordato,
impedindo que a ambição e a ganância ganhem traços sociopáticos de crueldade e
trapaça. E quando o cavalheirismo é perdido, acontecem as guerras, a falta de
diálogo, de concórdia, pois já ouvi dizer que, quando há diálogo, tudo se
resolve. Este quadro traz a ironia de Tao, que diz que, se você quer reinar,
tem que ser humilde; se quiser cair, tem que ser arrogante. São as divertidas
contradições, lições impossíveis de ser aprendidas pela microscópica mente de
um psicopata, pois Tao é à prova de tolos, numa doutrina que só pode ser
compreendida por quem tem caráter e coração. Aqui são como várias fases da Lua,
o corpo celeste que sempre tanto encantou o Ser Humano, com sua luz suave, sem
a força da luz solar que pode cegar. O calendário chinês, por exemplo, guia-se
pela Lua, não pelo Sol, o que me remete aos arranjos florais no bairro
novaiorquino de Chinatown, o qual visitei em 1998, na festividade de renovação
do ano, com arranjos que me remeteram muito a coroas funerárias, na eterna
tentativa humana em compreender a Morte e a Ressurreição. A Lua dança pelos
céus, completamente alheia ao Sol, ao compartimento comum de dias durante 365
dias. A Lua é identificada com o feminino, nos ciclos das marés, na Iemanjá
emergindo das águas e encantando com sua beleza e sensualidade liquidiscente.
Esses degradês são como colunas gregas clássicas, ou cortinas persianas, num
efeito de brisa que balança suavemente as cortinas em uma amena noite de verão,
noite digna de um desfile da Festa da Uva, na sensual magia das vindimas,
anunciando a renovação da Vida, no perfume doce de uvas no ar, nos atrativos de
uma fruta doce e deliciosa. Aqui é como uma chapa perfurada por círculos, como
numa fabricação de moedas, no modo humano em simplificar o sistema de troca,
fazendo do dinheiro um atalho e, também, infelizmente, uma obsessão, pois o que
não faltam são pessoas gananciosas, obcecadas com riqueza... E como diz Tao, se
você não adquirir tesouros, ninguém vai querer roubá-los.
Acima, sem título (6). Esse
X me remete aos anúncios do show que Xuxa fará em breve em Porto Alegre, com
muitas cores alegres, numa pessoa que sabe entreter a gurizadinha. Este X é
como um marco de um tesouro enterrado, na ganância de um pirata, roubando ouro
e escondendo o mesmo, com medo de que outros possam se apoderar de tais
preciosidades, no modo como a riqueza mundana pode significar um problema, um
peso, uma carga, algo que tira da pessoa rica o privilégio dos pequenos
prazeres, como caminhar e olhar para um majestoso Céu de Brigadeiro. Numa amarga
ironia, a pessoa rica é uma prisioneira tal qual uma joia trancada num cofre. E
o Ser Humano, infelizmente quanto mais tem, menos satisfeito está, perdendo a
Simplicidade, que é gêmea siamesa da Elegância, no trabalho transgressor de uma
Chanel, libertando a mulher da obrigação de usar joias caras – é o poder
renovador das mentes brilhantes. Este quadro é como um majestoso diamante,
profissionalmente lapidado, feito para brilhar, para emocionar e para seduzir.
É a magia de um objeto brilhante, dando uma modesta amostra da elegância das
salas da Dimensão Metafísica, lugares onde só há espaço para a Elegância e para
coisas boas. A ganância faz com que as joias se tornem grosserias, pois o ávido
não entende que os diamantes são meras cópias do que realmente importa, que é a
pureza do pensamento racional e do pensamento amoroso. Sem amor a si mesmo e ao
próximo, a civilidade e a irmandade se perdem, e o diamante entra como um
estopim para guerras, grosserias, confusões e desentendimentos. Não existe mal
em usar joias; existe mal em menosprezar bijuterias. Aqui, é como uma grande
Rosa dos Ventos, nas noções civilizatórias das Navegações, na explosão das
tecnologias da época, tecnologias que mostraram ao Ser Humano algo além de
misticismo obscuro. Aqui, é como uma grande e majestosa roseta, numa grande
mandala explodindo em todas as direções, como uma supernova, como um artista
estelar sendo revelado ao Mundo, ou um artista, antes esquecido, voltando à
ativa de forma surpreendente a contundente. Temos aqui um efeito de cristal,
com a luz branca sendo desdobrada em outras cores, no fascínio que o arcoíris
exerceu, por exemplo, nos povos indígenas. Este quadro nos traz um perfume
muito fino, como num elegante anfitrião recebendo os convidados com honras de
rei, fazendo o convidado se sentir muito confortável e à vontade, pois se não
tenho liberdade, como posso me sentir confortável e à vontade? A Liberdade é o
Bem, e o Bem gera boa Arte. Aqui é como um disco de vinil girando, no boom que
a Indústria Fonográfica teve a partir do surgimento de tal tecnologia, uma
indústria que hoje se depara com a facilidade do Download. Aqui, temos tons
bebês, pastéis. O azul é um perfume cítrico e refrescante, na magia de fragrâncias
em frascos azuis e praianos. O rosa, já, traz um perfume mais doce e feminino,
no encanto de uma mulher perfumada entrando em algum lugar e trazendo consigo
tal elegante fragrância. O perfume está no comportamental, no psicológico: se
sou do Bem, meu perfume será realçado por tal hálito comportamental; se sou do
Mal, não há fragrância que me torne uma pessoa elegante de fato. Ou seja, na
base de tudo, há o espiritual. Aqui, é como um belíssimo planeta girando,
composto por todo o complexo de cidades espirituais da Dimensão Metafísica, o
prometido Reino dos Céus que nos revela a misteriosa e maravilhosa intenção de
Tao para conosco, num Tao nos proporcionando uma vida plena, produtiva, maravilhosa
e divertida, num Pai que quer tudo de bom e de melhor aos filhos, tratando-nos
como o sangue azul metafísico, sangue que corre nas veias de absolutamente
todos nós. Este quadro nos traz uma certa magia, como se fosse o lugar de uma
maravilhosa feiticeira do Bem, como na enigmática Galadriel de Tolkien, a
feiticeira que é como uma água gelada, a qual, apesar de fria, é limpa, cura e
beneficia.
Referências bibliográficas:
Biografia. Disponível em <www.jimbird.org>.
Acesso 2 out. 2019.
Jim Bird. Disponível em <www.catalogodasartes.com.br
>. Acesso 2 out. 2019.
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