quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Coroação da Arte



O casal de artistas plásticos Christo, búlgaro de 1935, e a marroquina Jeanne-Claude (1935 – 2009) é conhecido por suas extravagantes e grandiosas instalações, causando comoções. Conheceram-se em Paris em 1958, passando mais de meio século casados. A partir de 1994, passaram a assinar os nomes juntos. Rejeitaram patrocinadores e fundos públicos. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!


Acima, Cortina do Vale. Local: Rifle, Colorado, EUA. Uma represa buscando reter e acumular água, num vale tão árido como este. CJC buscam fazer interferências contundentes, as quais jamais desejariam passar despercebidas. Aqui, o laranja se destaca cromaticamente, pois está num local  com cores naturais que fogem de tal tom laranja. Imagina-se o quanto deve ter custado financeiramente tal instalação, e o quanto de trabalho que deve ter sido concretizar tal sonho plástico. É como uma boca sorrindo, na alegria de artistas que conseguiram atingir notoriedade, renome e respeito. É o formato de uma sunga, ou da parte debaixo de um biquíni, numa obra que busca contrastar com a aridez do estado americano do Colorado, pois é claro que a obra não atrairia tanta atenção se fosse da mesma cor das colinas ao redor, fazendo com que CJC queiram causar impacto, estranheza, instigando o espectador, desafiando este a imaginar conceitos primordialmente inimagináveis. É uma extravagância, é claro, com artistas que rejeitam ao máximo ser simplório, na tarefa da Arte em ser grandiosa, portentosa, desafiante, ambiciosa, com artistas que sabem que o reconhecimento só vem àquele que tem o dom de se expressar monumentalmente, pois não são todas as mentes que são tão sedentas por reconhecimento. Esta obra é como se fosse uma colina do vale, só que uma espécie de ovelha negra da família, num espírito que vê o que é comum e que decide gravitar acima de mediocridades, decidindo, como diz o termo chulo, “colocar o pau na mesa”, ou seja, mostrar ao que veio. Esta obra é como se fosse um marco, dividindo o Tempo entre antes e depois, numa agressão catártica, convidando o espectador a olhar mais alto, mais longe. Aqui, CJC querem ser uma força da Natureza, como as majestosas nuvens na foto, ou a voluptuosidade das colinas e vales. É algo que busca diferenciação, muita diferenciação, como se estes artistas tivessem mãos gigantes, como a mão de Deus, dando-nos a (falsa) impressão de que foi facílimo e rapidíssimo concretizar esta obra de Arte. As intervenções de CJC são temporárias, ou seja, convidam-nos a observar o máximo possível enquanto a obra ainda está exposta, marcando um certo momento, no frescor de um momento de transgressão, fazendo com que cresça a percepção do observador. A cor vibrante desafia Céu e Terra, como um pinto lutando para quebrar a casca do ovo e iniciar seu processo de identidade, fazendo com que CJC obtenham uma identidade, um estilo inconfundível, fazendo escola e servindo de referência a muitos outros artistas, no modo como é inevitável o grande artista fazer escola, nas inspirações mútuas entre artistas. A Arte quer ser grande como Tao, tentando desvendar os segredos deste. Aqui, é como se fosse uma poça de água laranja acumulada, como se fosse um vale cheio de um doce suco cítrico. À medida que vamos nos aproximando, vamos nos dando conta de que a obra fica maior e maior, ameaçando nos engolir, nos soterrar, com CJC dando um banho em nossos sentidos. É como se fosse um grande pássaro com as asas abertas, desafiando os limites do Céu, querendo Liberdade para pensar, no modo como a Liberdade do pensamento artístico perece frente a ditaduras, infelizmente. CJC querem tal libertação. O vento bate e os gigantescos pedaços de tecido tremulam como uma altiva bandeira, como se fosse a bandeira de um reino livre e feliz. São como cortinas desvelando um grande espetáculo, no modo como a Arte quer imitar a Inteligência Suprema que nos gerou.


Acima, Costa Embrulhada. Local: Austrália. Parece que CJC querem nos dar um presente majestosamente embrulhado. É como se estes impávidos rochedos, que resistem bravamente às ondas do Mar, tivessem se congelado e virado uma geleira. É como se fosse um grande bloco de mármore toscamente lapidado, talvez esperando por um trabalho de aperfeiçoamento, no modo como todos os espíritos estão na Terra em busca de aperfeiçoamento, de evolução, de melhoria moral, no fato de que a dureza da Vida faz de nós pessoas melhores, muito melhores – não éramos tolos décadas atrás? É a Vida se desdobrando em toda sua seriedade. Aqui, CJC desafiam a Natureza, as forças da Natureza, tentando domar tal selvageria, talvez como na intenção do Homem Europeu em civilizar e cristianizar as populações indígenas americanas, num claro ato colonialista, como nas intervenções que a Inglaterra fez antigamente na Argentina, numa espécie de Eurocentrismo, ou seja, o europeu como baluarte do Mundo Civilizado. É como se algo quisesse ser escondido aqui, nos segredos que uma pessoa pode carregar dentro de si, somente confiando tais segredos a amigos altamente próximos. É como se algo estivesse sendo feito sob tal disfarce, com tudo só sendo revelado num momento apropriado, como numa criança que espera avidamente pelo Natal, sonhando com um ambicionado presente ao pé do pinheirinho. É como se fossem gases, ataduras em um corpo muito machucado, no modo como a Vida exige que tenhamos Paciência, como numa pessoa não fumante, que tem que aguentar pacientemente um cônjuge fumante. É como um corpo de faraó sendo devidamente mumificado, nos modos humanos de entender a Vida Material, a Vida Imaterial e o Óbito, sendo este a poderosa vírgula que separa (momentaneamente) as pessoas. É um grande véu que caiu sobre tal rochedo, como no encanto de uma noiva toda de branco ao entrar triunfante em uma igreja, na vitória da Pureza sobre a Malícia. Aqui, é como se um gigantesco saco plástico, indevidamente descartado, tivesse rumado pelas águas e atracado no rochedo, nos inevitáveis modos como a poluição é tão inevitável no mundo em que vivemos, com as cidades físicas querendo, ao máximo, parecer-se com as cidades apolíneas. Aqui, uma parte das rochas está desvelada, exposta, como num provocante striptease, com umas partes reveladas e outras partes escondidas, num jogo de sedução. Aqui, CJC se depararam com as forças naturais, e as ondas e os ventos desafiam tal obra de Arte, ameaçando levar tudo embora, com as forças naturais dando as costas à Civilização, trazendo momentos como inundações e terremotos – são as vicissitudes materiais encarnatórias. Nesta foto, que foi extraída do ótimo site de CJC, podemos ouvir o som do Mar requebrando, e podemos sentir no rosto a brisa marítima. Unindo forças, CJC empenharam-se em intervenções muito, muito grandiosas, com duas mentes que estão absolutamente longe da Mediocridade. É como se fosse uma roupa sobre um corpo nu, num ato de recato e vergonha, como na vergonha sexual que acometeu Adão e Eva no momento em que a infame maçã foi mordida – é a Malícia versus Virtude, ou seja, é o pensamento tortuoso versus o pensamento racional. Os tecidos aqui tiveram que ser pacientemente costurados, e as rochas tiveram que sofrer perfurações para a fixação de tais tecidos, e ficamos imaginando o tempo que levou para a obra ser concretizada, e o trabalho que deu desmontar tudo isso. E depois, para onde foi o tecido? Será que foi usado em outra(s) obra(s)? E o custo financeiro de tudo isso? E de onde veio o dinheiro, já que CJC rechaçaram patrocínios e verbas públicas? Aqui, é como se fosse uma rede de pescador, querendo fisgar seus peixes, na luta diária pela Vida e pelos sagrados alimentos. É como se fossem grandes fantasmas, brancos, terríveis, assombrando alguma casa, como no hotel maldito de O Iluminado, com os resquícios de crimes horríveis pairando no ar, só podendo ser captados por mentes muito sensíveis. É o manto majestoso de Tao, aquele que veste a Natureza com vestes maravilhosas.


Acima, Embalagem de 5,600 Metros Cúbicos. Local: Kassel, Alemanha. É claro que temos aqui um elemento fálico, como um obelisco paladino, como um galo viril anunciando o início de um novo dia, numa questão de liderança, de macho alfa. Os falos fazem metáfora com a Verdade, na exposição claríssima de fatos, de questões irrefutáveis, como poderosas provas científicas, marcando épocas e ampliando as percepções do Ser Humano em geral, num caminho evolutivo do Conhecimento, numa Medicina em constante trabalho de depuração para desvendar a cura de doenças, como já me disse um inesquecível professor: Ciência é descobrir como funciona um relógio sem abrir ou examinar o mesmo por dentro. Esta forte coluna estável parece estar enraizada, com profundas raízes, estruturas que, fincadas fundo na terra, proporcionam a estabilidade necessária, na metáfora taoista: Aquele que tem raízes fortes, nunca cai. As raízes são as referências, a discrição, a seriedade, numa pessoa que sabe que a Mentira tem raízes fracas, que acabam perecendo, tal a falta de firmeza e estabilidade. Esta torre desafia os Céus, como se quisesse tocar nos limites; como se quisesse encontrar um atalho para o Reino dos Céus, na dificuldade humana em apreender o metafísico, o espiritual, pois como a pessoa pode ter a certeza de que há um Reino Superior se, ao olhar para cima, nada vê? É o desafio da Fé. Este falo é o porrete do policial, numa autoridade que se impõe, e, se somos sábios, jamais desafiaremos tal liderança, nas regras sociais e morais que regem quaisquer grupos humanos, havendo severas punições aos que não obedecerem tal autoridade, no modo como a Sociedade exige que o indivíduo seja manso e comportado, uma imposição que se torna excessiva nas ditaduras, pois o ditador não é um líder, e sim um carcereiro. Esta espada de CJC desafia tudo e todos ao seu redor, como se fosse um competidor, na excelência de um Senna na pista, ou de uma Gisele em outra pista, numa pessoa que se deu conta da alta competitividade que permeia a Vida em Sociedade, e nisso se encaixam CJC, uma equipe que sabe que não pode fazer coisas simplórias ou inexpressivas, num esforço em se destacar entre tantos outros artistas que querem ser também reconhecidos. É a competição para ver qual país ergue a maior torre do Mundo, nas brincadeiras agressivas em que todos os falos são comparados para que o maior seja eleito o líder. Esta estrutura de CJC tem o respaldo de muitas fortes cordas, talvez cabos de aço, como uma aranha construindo tranquilamente sua ardilosa teia, seduzindo insetos desavisados. Ficamos nos perguntando como CJC mediram com exatidão quantas cordas, de quanta resistência, seriam necessárias para tal obra suntuosa. Os falos são marcos, no modo como um artista quer se tornar tal marco, numa ambição, ou quase numa obsessão, nas obsessões humanas em busca de poder. Este falo se ergue maior do que qualquer coisa ao seu redor, e só poderia ser assim, pois como o falo poderia se destacar se fosse menor e simplório? É o desafio da autoexpressão, num casal que soube trabalhar em harmoniosa dupla. É como se fosse uma embalagem de biscoitos redondos, na missão da Arte em alimentar os olhos do espectador, como disse certa vez o patriarca Luiz Carlos Barreto: “Para se fazer Cinema, é necessário ser megalomaníaco”. É o ímpeto, aquela força que desafia limites paradigmáticos. É como se fosse uma múmia fálica, ressuscitando no novo mundo, no desafio que é compreender que a Mente não se vai com a Carne no Desencarne. É como se fosse um grande balão inflável, só que em forma fálica, com o ar quente sendo bombeado, no calor de um coração sonhador, cheio de ímpetos, intenções e projetos. É como o Sagrado Coração de Jesus, no tesão que é a vontade de viver, fazendo da Arte um sinal de tal desejo, de tal tesão pela Vida, pois já ouvi dizer: “Sem tesão, não há solução”. É como se fosse um casamento sólido, com duas pessoas felizes juntas, trabalhando em equipe, num casal maravilha como CJC.


Acima, Ilhas Cercadas. Local: Miami, EUA. As ilhas assinaladas com uma farta margem em cor de rosa. CJC desafiam os poderes da Natureza, numa obra que teve que ser pensada para resistir às forças das marés, na sensual cidade Miami, a pontinha tropical dos EUA. São como grandes manchas de óleo rosa boiando, numa tragédia ecológica do Bem. São como abas de chapéu, no modo como a Arte é tal proteção, trazendo saúde mental ao Corpo Social, com estranhos se reunindo numa sala de Cinema para ver uma película, no poder da Arte em unir as pessoas, fazendo com que a Paz se mostre mais forte do que a Guerra. Aqui, as embarcações têm que se cuidar para não cruzar os limites dessas ilhas artificiais cor de rosa. O rosa é a cor da Feminilidade, como no Outubro Rosa, a campanha que visa alertar as mulheres em relação ao Câncer de Mama. É a cor da candura, da doçura, com todos os encantos perfumados da Feminilidade. São como praias de areia cor de rosa, como se fosse uma praia exótica em algum estranho planeta alienígena. É como se as ilhas estivessem sangrando, espalhando seu sangue pela água, causando influências, no modo como o artista quer ser agente de influências, afetando os rumos do Mundo, como numa canção que se torna um megahit, entrando na Moda e se tornando um agente de comoção, como na história de amor de Titanic, um manifesto contra as insensibilidades do Mundo Material. Aqui, são como barcos estáveis, que pouco parecem sofrer influência das águas ao redor. É como uma canetinha colorida destacando algum trecho de um texto, frisando algo importante, em CJC querendo frisar a si mesmos. Imagina-se a batalha que foi para o casal convencer governos e prefeituras a sediar tais mostras, num Mundo tão insensível em relação aos ímpetos da Arte, esta força inteligente que traz o sopro de renovação a uma Sociedade, na capacidade de uma obra em marcar uma década. É como se estas águas cor de rosa estivessem prestes a se diluir com as águas escuras ao redor, como cubinhos de gelo, lentamente derretendo, lentamente se integrando, como numa pessoa que vai, aos poucos, encontrando um lugar no Mundo, permitindo a si mesma se entregar, confiar nas pessoas ao redor, numa espécie de autoentrega, num artista dando o melhor, o ultramelhor de si mesmo. São como grandes pranchas de Surf boiando, ou como algum lixo boiando, na inevitabilidade da poluição ambiental, um mal necessário, pois, na Terra, não há cidades metafísicas perfeitas... Bem ao fundo nesta foto, vemos uma terceira ilha, também cercada pela aura cor de rosa. Esta terceira ilha está do outro lado da ponte, talvez numa intenção de CJC em desafiar limites, rejeitando os ranços tolhedores, as medíocres faltas de imaginação, numa dupla de artistas que teve que ralar muito até ser atingida a notoriedade. Podemos ouvir o delicioso barulho aquoso de coisas boiando, em doces memórias de Verão, numa Miami que é tão quente nos meses veranis. É como se um grande contagotas tivesse pingado essas manchas cor de rosa, no apelo cromático de CJC, com cores que visam, de fato, quebrar a monotonia cromática, usando uma cor que não se vê no resto da paisagem. É claro: esta obra se destacaria se fosse da mesma cor do que o Mar? É como se essas ilhas estivessem emergindo, saindo do fundo da água, erguendo-se altivamente, numa revelação, como na lendária Atlântida emergindo e revelando-se por inteiro, no modo como a Dimensão Metafísica se revela ao recém-desencarnado – é o Plano Divino para conosco. É como uma saia rodada em volta de uma formosa mulher, com saias e vestidos justos, desafiando os limites do pudor, no desafio que é fazer o sexy sem ser vulgar. São como grandes bandejas servindo as ilhas, no privilégio que é o do ator estelar em optar por algum projeto, tendo um “buffet” de propostas frente a si. São como discos vinis coloridos, rodando e reproduzindo Música. É como um ralo entupido, produzindo um vazamento de água cor de rosa, numa obra de Arte que visa ser tal tsunami do Bem, “destruindo” tudo e todos, na gíria do termo “arrasar”.


Acima, Muro de Barris de Óleo - A Cortina de Ferro. Local: Paris. Parece um maço de cigarros amontoados. É um acúmulo, uma obstrução, como uma artéria acometida por uma cardiopatia. É uma interrupção, num beco sem saída. É quando a pessoa se depara com um percalço, tendo que ter garbo olímpico para contornar tal vicissitude, tal desafio. É como o alpinista aceitando o desafio de conquistar alguma montanha, num terreno duro e inóspito, numa dureza que faz com que a pessoa cresça existencialmente, tornando-se uma pessoa melhor e mais depurada, num caminho de aperfeiçoamento, como cursar uma faculdade. Os barris estão estocados e acumulados, como na casa de um acumulador compulsivo, com objetos e mais objetos, no caminho do apego material, numa pessoa que não sabe a verdade taoista – menos é mais. É como uma mão repleta de anéis, com dedos que sequer podem ser dobrados, tal a quantidade de joias, na ilusão que é a possessão material, sendo difícil o Desencarne para uma pessoa que não quer se desapegar das riquezas mundanas. Aqui, temos que escalar este monte se quisermos continuar nosso trajeto. É como uma queda de árvore ou de uma rocha sobre uma pista ou estrada, fazendo com que os viajantes busquem rotas alternativas para contornar tal impedimento, na necessidade de se ter imaginação e criatividade, fazendo uso da inteligência emocional, como um jogador persistente de futebol, que faz o gol num rebote, aproveitando ao máximo as oportunidades. É como no videogame Tetris, com pecinhas caindo do céu e se acumulando, desfiando o jogador a encaixar as pecinhas cadentes, numa corrida contra o Tempo, no encanto que os desafios exercem sobre o Ser Humano. Aqui são como várias colunas deitadas, talvez estocadas, esperando por uma oportunidade para ser utilizadas. São como vários lápis, numa coleção, no paciente e extenso trabalho de colecionador, com muita paciência e persistência, como no acúmulo de peças num museu de Arte, no encanto de galerias com grandes e célebres obras de Arte, no caminho oposto à acumulação, a qual é o acúmulo de objetos inúteis ou insalubres. Aqui, são como vários potes de pepino, como no estoque de um supermercado, ou como latinhas em conserva. São como vários flocos coloridos de neve acumulados, formando um terreno branco e fascinante, fazendo metáfora com a imaculada pureza da maravilhosa Dimensão Metafísica, o lugar em que quaisquer doenças desaparecem. Aqui, é como se estas paredes fossem um aparelho de compressão de lixo, apertando os barris, esmagando-os, compactando-os. Aqui, CJC nos dizem que não há como contornar tal problema, fazendo com que a pessoa tome outras rotas, rotas alternativas. É como o desafio científico em descobrir a cura de doenças como Câncer e AIDS, num Tao desafiador, que exige que evoluamos, como um professor rigoroso, o qual, ao término do curso, mostra-se um grande amigo, tornando-se inesquecível e lembrado com carinho. Este beco é escuro e misterioso, com tantas dúvidas que a Ciência ainda não consegue elucidar. Os barris enferrujados mostram a passagem de Tempo, na cor do sangue oxidado, como numa ferida há tempos curada, deixando apenas vestígios. É o inevitável sangramento, como na Coroa de Cristo, com as cruéis gotas de sangue caindo sobre um homem então incompreendido. Esta obra tem um certo colorido e uma certa diversidade, pois os barris não são todos da mesma cor. São como festivos confetes num salão de Carnaval, como uma neve multicolorida que não gela, mas acolhe. São como várias árvores cortadas e empilhadas, na inevitável exploração que o Ser Humano faz da Natureza, num conflito – quero crescer, mas não quero esgotar a Natureza. É como um caminhão cheio de mercadorias e riquezas, nos caminhões que cruzam diariamente as terras vastas de um país de dimensões continentais, no modo como o Brasil nada é sem seus caminhoneiros. Aqui, é como um artista produzindo e acumulando obras, vendo-se forçado a vender ou doar, como uma torneira que jamais para de fluir.


Acima, Os Portões. Local: Nova York, EUA. É claro que CJC escolheram a dedo a época do ano para fazer essa suntuosa e vasta instalação no icônico Central Park. Esses portões alaranjados, enfileirados tortuosamente pela extensão do espaço público, contrastam muito com os tristes tons cinzentos de neve no inverno novaiorquino. Vários e vários portões, com seus esvoaçantes panos, cortaram o parque, num ato que virou notícia internacional, talvez na instalação mais famosa do casal. A instalação faz metáfora com o passar por etapas, numa pessoa que vai acumulando experiências de Vida e vai se tornando mais sábia e prudente. Os portões aqui dão um certo agouro, num caminho depurativo repleto de aprendizados. Os panos esvoaçam como bandeiras de nobres e belos países, talvez remetendo às bandeiras internacionais em frente ao prédio da ONU, na mesma cidade. É como se o vento fosse um agente artístico, como um escultor, agitando os panos e trazendo fluidez e leveza ao empreendimento de CJC. É como um túnel, um longo túnel, numa encarnação extensa e intensa, com nada em vão. Essa cor vibrante desafia o frio da neve, trazendo um pouco de calor a uma cidade na qual o Inverno é bem rigoroso, com dias de tanta neve que a Prefeitura aconselha os novaiorquinos a não sair de casa. É uma obra que convida a um prazeroso e inocente passeio, numa obra que visa se integrar à mágica grandiosidade da cidade que é tida como a Capital do Mundo, cenário do maior atentado terrorista da História. Os panos acariciam e acolhem o espectador, fazendo com que o pálido e descolorido Sol invernal tome ares de um vibrante Sol tropical, como o canto de pássaros exóticos, o sabor de doces frutas exóticas e praias de areia macia e convidativa. CJC querem aquecer uma cidade que, apesar de respirar Arte, é um lugar onde tudo gira em torno de dinheiro... Nada mais americano! Como toda obra de CJC, imagina-se o trabalhão que foi montar toda essa estrutura, com artistas que sonham a obra e, então, trabalham ensandecidamente para concretizar tal sonho artístico, na clara vírgula entre pensar e concretizar. É como se fosse uma grande muralha da China, na intenção o artista em se sobressair frente à selvagem Natureza, fazendo coisas que, definitivamente, não se veem por aí. É como um túnel de luz, quando a pessoa desencarna e entra em tal duto, sendo guiada por espíritos amorosos, por irmãos, até a pessoa ter a plena consciência de que seu corpo físico ficou irremediavelmente para trás, para sempre. É uma obra que nos convida ao passeio, curtindo a pujança artística da Big Apple, com seus ousados museus e recantos de lazer. À noite, tal obra adormece, sem iluminação própria, para, no dia seguinte, renascer dourada como o Sol, irradiando ouro, fartura, no modo como tosco ouro físico é mera metáfora da Vida Eterna que nos espera após o óbito – os metais físicos não sobrevivem ao Desencarne, no modo como poder ser infeliz a vida de um ganhador da loteria. Você duvida? Esses panos de CJC tremulam deliciosamente, como num mar cheio de peixes coloridos. É como se fosse sempre o mesmo portal, só que repetido, na tentativa de se compreender a permanência, a imortalidade daquilo que realmente importa. É uma permanência. É como se fosse um caminho protegido, feito por alguém que nos ama, como um professor empenhado em nos alfabetizar. É claro que esta instalação foi temporária. Portanto, CJC nos convidam a curtir tal obra, aproveitando e passeando por esta enquanto esta ainda dura. Esta é a tristeza de um artista – desmanchar uma mostra ou uma instalação, havendo nos museus a intenção de contornar tal transitoriedade, eternizando obras célebres. Podemos ouvir o som dos panos farfalhando, acariciando quem por ali passar, no modo como as coisas agradáveis são do Bem, como a Liberdade. Esses panos são a liberdade de pensamento, a liberdade para um artista imaginar e concretizar, havendo nos sistemas ditatoriais um desconfortável e desprazeroso tolhimento em relação ao artista. Tao abençoe as terras livres.

Referências bibliográficas:

Artworks/Realized Projects. Disponível em <www.christojeanneclaude.net>. Acesso 23 out. 2019.
Christo e Jeanne-Claude. Disponível em <www.pt.wikipedia.org>. Acesso 23 out. 2019.

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