quarta-feira, 2 de junho de 2021

Grande Grundini (Parte 2)

 

 

Volto a falar sobre o ilustrador londrino Grundini. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (1). As setas são o falo hierárquico, numa imposição moral, no falo do Código de Hamurabi, assustando aqueles que faltarem com o apuro moral, como nas noções morais norteadoras dos Dez Mandamentos, sempre numa figura patriarcal, como Moisés, um dos maiores patriarcas bíblicos, ou como na própria imagem que temos de Deus – a de um patriarca, relegando a mulher à muda submissão, no mito de Nossa Senhora, a mulher que não tem história, não tem carreira, não tem rugas, muito longe da realidade de qualquer mulher. A figura humana aqui tem a cabeça de um globo terrestre, na vertiginosa Era Digital, uma era que vai encaminhando tudo ao digital; à ausência de papel. O globo é a vizinhança, a comunidade, em dias em que posso convidar em tempo real com alguém em Tóquio, do outro lado do Mundo – é impressionante, principalmente para as gerações que testemunharam a Era Analógica, com telefones de disco, hoje um item retrô de antiquários. A figura aqui está correndo, dinâmica, influenciada por ordens hierárquicas de seus superiores, no divertido filme O Diabo Veste Prada, numa mandachuva implacável, impositiva, amedrontadora, arrebatadora, com subalternos sempre em pânico, quase temendo a posição de poder da personagem de Streep, uma personagem que, apesar de aparentemente tão durona, chega a um ponto em que desaba, no discernimento taoista – forte é fraco; fraco é forte. É fácil de compreender: o que é melhor – ser fino ou ser grosso? Você decide, pois cada um de nós vive em livre arbítrio espiritual. As setas são múltiplas e confusas, complexas, causando uma confusão e uma exaustão, até o indivíduo não mais permitir que o Mundo lhe diga como deve viver, fazendo algo saudável, que é mostrar o dedo do meio para o Mundo, um Mundo frio que pouca se importa se estamos felizes ou infelizes. A figura aqui corre, como num superatleta que se dedica ao máximo para o momento olímpico crucial, vendo se algum outro atleta está mais bem preparado, no fato de que vence o que for mais sério e competitivo, num caminho de humildade, sabendo que não posso vencer por pura presunção de minha parte, na fábula da Lebre e da Tartaruga, com uma pessoa subestimando a seriedade da situação, numa pessoa subestimada, que acaba pegando todos de surpresa. Os tons aqui são marinhos, verdejantes, na magia das cores divididas pelo prisma, no glamoroso apelo dos lustres de cristal, fazendo metáfora com a classe e a distinção dos espíritos superiores desencarnados, espíritos que não estão submetidos aos insanos apelos da Sociedade de Consumo, num caminho de essencial mortificação espiritual – se não estou o tempo todo ambicionando, posso ter Paz. Este indivíduo está dilacerado, como um Frankenstein, e está prestes a explodir e rejeitar o assédio moral, no modo como eu próprio certa vez numa empresa sofri assédio moral, no ancestral e indestrutível talento humano para a grosseria e o atraso moral. O globo aqui remete ao antigo cenário do Jornal Nacional, ironicamente de uma TV chamada Globo, no modo como desde sempre o Ser Humano quer unificar o Mundo, como imperadores ambiciosos querendo conquistar a Europa inteira, ou como no momento renascentista em que a Europa quis unificar o Novo Mundo, numa verdadeira corrida entre potências, tal qual uma corrida de Fórmula 1, com um Senna trazendo vitórias para casa, nas construções míticas. Aqui é um vaivém de naus cruzando o Atlântico, até com navios piratas trazendo terror, assim como bárbaros saqueando castelos na Idade Média, como ladrões de túmulos saqueando o Vale dos Reis no Egito, nesta antiquíssima sede humana por Poder, sempre Poder, na metáfora do Anel do Poder de Tolkien, a diabólica serpente do Éden.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (2). Aqui remete a um desenvolvido parque eólico no Rio Grande do Sul, no apelo das energias limpas, no modo como os produtores orientais de Petróleo, com sua riqueza nababesca, temem o fim do combustível à base de Petróleo. Aqui temos uma hélice, na libertação que foi e é a Aviação, num Ser Humano que, como na Torre de Babel, procura desafiar os limites da Matéria, fazendo voar uma máquina que é bem mais pesada do que o Ar. Podemos ouvir aqui o barulho das hélices, no incessante galgar das novas tecnologias, fazendo com que relógios de pulso, adereços tão essenciais no passado, comecem a se tornar obsoletos frente aos dispositivos móveis, ou como pereceram os barões da Fotografia, como a toda poderosa Kodak, vendo tudo ruir frente à Era da Foto Digital, simplificando gigantescamente o ato de registro de imagens, tornando Foto algo comum, diferente no surgimento de tal tecnologia, onde só reis e imperadores podiam contratar o trabalho de um fotógrafo, como no registro da Família Real Russa, ou na famosa coleção de fotos da brasileira Princesa Isabel. No centro desta obra vemos um olho faminto, terrível, num olho que tudo vê, num sistema ditatorial que busca manter o cidadão sob controle, censurando obras de Arte, neste medo que os ditadores têm da Liberdade de Pensamento, no poder libertador do Conhecimento, ou como na Rússia foi censurado o recente filme sobre Elton John, vetado por causa do teor homossexual, nesta obsessão do ditador em nunca, jamais perder Poder, numa ditadura disfarçada de democracia, no modo como não deve ser interessante viajar para países como a Coreia do Norte, um país que barra a entrada de viajantes que têm blogs, numa ditadura temendo a libertação da mente do cidadão, no sonho de Adam Smith de eliminar os estados e fazer do Mundo um mercado autorregulável, numa filosofia na qual o cidadão pertence a si mesmo, nunca a um estado, como na obrigação de um rapaz se apresentar para o Serviço Militar em seu país. Este é o olho malicioso e terrível de Sauron, o Senhor do Escuro, na grosseria que impera no Umbral, o arremedo mais tosco do Céu, da Dimensão Metafísica redentora, na metáfora de dois povos: os belos e finos, que são os elfos, e os brutais e toscos, que são os orcs – de que lado você está? Vemos aqui várias mãos humanas, trazendo aspectos como um Sol, uma folha de árvore e o nome científico da Água. A folha é a preservação ambiental, no modo como correm o Mundo as notícias de desmatamento amazônico. O Sol é a energia limpa, no sonho de um carro elétrico, trazendo grandes personalidades ambientais como Leonardo DiCaprio, numa pessoa que usa o próprio renome como ferramenta de conscientização e preservação. A Água é este líquido tão essencial à Vida na Terra, no modo como os recursos não são infinitos, e algo tem que ser feito. Este é um quadro de apelo ambiental. As mãos são a responsabilidade humana em não exaurir a Natureza, no modo como é complexa a questão do descarte, com aterros sanitários que não são infinitos – como resolver tal problema? São questões assim que nos mostram que nossas cidades aqui, na Terra, são meras e toscas cópias da plenitude das cidades metafísicas, o Reino de Deus prometido por Jesus, num homem que encarnou muito, muito antes de seu tempo, trazendo perplexidade até hoje. A haste que sustenta estas hélices são a sedimentação, a firmeza, numa pessoa que resolveu colocar os pés no chão, no poder transformador das frustrações e das crises, as quase acabam por fazer que a pessoa coloque os pés no chão, e o Mundo não pertences àqueles que são realistas? Bem no centro do quadro vemos uma esfera azul, que é a Terra, nossa casa, o único lugar que pode nos acolher devidamente, não havendo qualquer outro lugar para o qual possamos ir. Aqui é como uma esfera cortada ao meio, revelando as camadas geológicas, numa revelação, como o expresidente Obama disse que o Pentágono dos EUA sabe, sim, de Vida Extraterrestre, mas o temor é que tal revelação causaria uma histeria coletiva na Terra.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (3). A chaleira apita e podemos ouvi-la, no dia a dia de uma casa, em coisas simples como preparar um café, um chá ou um chimarrão. É o prazer do aroma de café se espalhando por uma casa, num famoso antigo slogan de Propaganda de uma marca de café: “Tá fazendo na cozinha tá cheirando aqui?”. Vemos prédios de uma cidade apolínea, bela, limpa e organizada, de dar inveja a qualquer cidade desenvolvida do Mundo Físico. É um plano espiritual no qual não há os calores de egos, vaidades e ambições mundanas, em reinos que se respeitam mutuamente, respeitando o mandamento: “Não cobice a mulher do próximo”, ou seja, fique feliz em saber que a grama do vizinho é tão verde quanto a tua grama o é. Os prédios aqui estão ao dia e à noite, pois num a luz vêm de dentro e noutro a luz vem de fora, englobando todos os momentos rotacionais da Terra, unificando uma esfera, sabendo que passado e futuro coexistem, um respaldando o outro. A chaleira está bem quente, e exige respeito, ou seja, temos que ter cuidado, como não tocar onde não há o cabo arredondando. A chaleira é a pressão, numa pessoa se sentindo estressada e assediada, num ambiente de trabalho doente e disfuncional, no qual não paira no ar o aroma de mútuo respeito. A chaleira é uma pessoa “cabeça quente”, incomodada, talvez neurótica, borderline, uma pessoa que definitivamente precisa de um remedinho psiquiátrico, pois temos que dar graças aos Céus pelo fato de que hoje em dia há remédios, tratamentos e curas de muitos males. A chaleira é marrom, como se estivesse enferrujada ou oxidada, pedindo por um trabalho de restauração e revitalização, como numa prefeitura competente e esforçada, buscando revitalizar partes da cidade, como no recente investimento da rede mundial Starbucks, a qual em breve abrirá uma operação no Centro Histórico de Porto Alegre, numa região da cidade que há décadas respira ares de decadência, no modo como as cidades são corpos dinâmicos, que vão se transformando e mudando, no modo como eu, que já vivi em Porto Alegre entre 1996 e 2003, hoje passeio pelas ruas da cidade mal podendo reconhecer esta – tudo é processo. Ao centro do quadro vemos uma forma estranha, um círculo vazado, vazio, leve, permitindo que vejamos além, como numa amizade transparente, num amigo íntimo, o qual sempre permanecerá em nossas mentes, no feliz reencontro na Dimensão Metafísica, o lugar de reencontro no qual está tudo bem, estando resolvidos absolutamente todos os problemas de encarnado, no fato de que a Eternidade é tempo para qualquer perdão; para qualquer esclarecimento. É o lugar onde a Morte é derrotada pelas luzes douradas de Aurora, a grande revelação do Grande Plano Divino para conosco, os filhos de Tao. Do bico da chaleira sai o vapor, como reticências, numa irresolução, numa encarnação que ainda não pode acabar, com todo um itinerário espiritual à frente, numa missão a ser cumprida com coragem e graça, como no funeral de minha avó Nelly em 1992, no qual se respirava o ar de missão cumprida, num espírito absolutamente consciente do próprio desencarne – desencarnar com tranquilidade é uma dádiva. No centro do quadro temos uma luminária dependurada no teto, que é o esclarecimento, a resolução de dúvidas, num professor esforçado na missão educadora, com paciência, impondo respeito, mostrando às crianças o respeito que se deve ter pelos mais velhos, havendo uma natural punição para a criança mal comportada, na lição da disciplina, numa vida regrada sem espaço para bobagens auspiciosas. O cabo desta luminária parece um saquinho de chá sendo embebido na água fervente, neste hábito que tanto conquistou os britânicos, numa tradição, como reza a lenda de que Elizabeth II, no exato badalar das dezessete horas, todos os dias, desce uma escadaria para tomar seu tea. A luminária é a resolução, a destruição de dúvidas, nos olhos abertos de uma máscara mortuária egípcia, na pessoa consciente de que sua vida na Terra acabou, sempre havendo a chance de uma nova encarnação, com mais desafios a serem encarados, como nas fases de sofisticação de um videogame.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (4). Temos aqui um graduando, na deliciosa sensação de se formar na Faculdade, no fechamento de um ciclo e na coroação de um esforço de anos, com muitos trabalhos sendo feitos e muitas viagens de ida e volta ao Campus, naquela solenidade de encher de orgulho os pais do formando, no modo como são tristes as histórias de vida de pessoas que abandonaram a Faculdade, deixando assim a Virtude de lado e permitindo que a própria vida empobrecesse existencialmente, no modo como eu anteriormente abandonei um curso universitário para, depois, partir em busca do tempo perdido e reentrar na Academia para, de uma vez por todas, segurar o bendito diploma, neste país pobre como o Brasil, uma nação que paga alto pelo baixo índice de Cultura Erudita do cidadão brasileiro em geral, de Cultura Civilizatória. O chapéu do formando tem o cabinho, que é como se fosse um interruptor de luz de um abajur, no poder do esclarecimento, numa pessoa que tem a informação científica para encarar o Mundo do modo mais realista e fresquinho possível, rejeitando as sombras da ignorância, essa energia sombria que tanto forma cidadãos obtusos e vazios; grossos; desinteressantes. No quadro vemos um valor monetário, em todos os custos financeiros para o pagamento das altas mensalidades de uma instituição particular de Ensino, com alunos bolsistas, carentes, para os quais é duro bancar integralmente com a mensalidade, num jovem batalhador, que encara a lida para segurar o tão desejado diploma. Este valor aqui no quadro é zero, ou seja, pode também falar do aluno de uma instituição pública, como a UFRGS, instituições de respeito, formando cidadãos sem cobrar algo financeiramente de tal aluno. O zero quer dizer que a produção de Cultura Erudita justifica qualquer custo, e que os grandes governantes têm que saber do valor da produção de tal cultura, fazendo da Inteligência o passaporte humano para um Mundo melhor e mais depurado, com cidadãos disciplinados, que respeitam a Lei, em tarefas simples como atravessar a rua na faixa de pedestres e como entender as projeções da Mente Humana, ao ponto de eu me dar conta de que projeto em outrem meus próprios defeitos e virtudes. O formando aqui é de pele azul, da cor do Céu, da cor dos sonhos, de um jovem que tantas coisas quer fazer, talvez ainda sem a plena maturidade para saber exatamente o que fazer, no galgar instintivo do autoencontro, fazendo da Cultura Erudita um meio, uma ferramenta importante para a Cidadania, com cidadãos que protestam com respeitável garbo e elegância, ao contrário do cidadão obtuso e grosseiro, o qual não sabe o que é elegância e respeitabilidade – é um horror. O zero aqui é o fechamento de um ciclo, voltando ao ponto inicial, no eterno recomeço, como no feto o final da película 2001, numa Humanidade que, com tanto ainda por vir, é um feto que sequer nasceu. É o retorno ao Lar, ao Divino Útero Imaculado de Nossa Senhora, a Mãe Metafísica de todos, como uma carinhosa Evita construindo na Argentina a Cidade das Crianças, no maior mito de toda a História da Argentina, numa mulher com cara de santa e alma de capeta, numa forte controvérsia – amada por uns; odiada por outros. O olho do formando está bem arregalado, talvez de orgulho, feliz por estar se formando, não mais suportando um só dia a mais de aula, no modo como o ano final de faculdade tem que ter essa força de mulher parindo um filho, tirando forças do fundo a alma. Se o formando aqui é de uma cor fria, o fundo do quadro é bem quente, dourado, na glória dourada de um novo dia que nasce, numa etapa que finda e noutra que recomeça. A vida é oportunidade constante de se fazer amigos, e na faculdade encontramos muitos colegas e professores pelos quais vamos desenvolvendo empatia, com amigos que, depois do inevitável adeus, reencontram-se conosco no Plano Metafísico, o lugar onde as amizades nunca morrem, havendo na Eternidade o tempo para qualquer relacionamento.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (5). Um atleta, numa articulação, na capacidade de articulação psíquica de certas pessoas, relacionado-se com o Mundo de forma harmoniosa. Este boneco é a intenção de Tao, nos corpos metafísicos, perfeitos, sem qualquer doença ou síndrome. São como bonecos, máquinas que vivem para sempre, só que com Amor, fazendo dos corpos físicos meras cópias dos corpos metafísicos, estes com peles maravilhosas, sem um único poro. Aqui remete ao grande sucesso do filme Robocop, na ficção na qual o cérebro de um policial morto é transplantado para uma máquina, fazendo esta metáfora dos corpos metafísicos. Aqui são como aulas de desenho, ensinando as articulações e proporções do Corpo Humano, remetendo-me a uma aula no início do Ensino Fundamental, aula na qual os alunos tinham que folhear revistas e recortar fotos do Corpo Humano, familiarizando as crianças com o modo científico de ver e analisar tais corpos, na missão da Cultura Erudita em formar cidadãos esclarecidos, letrados e inteligentes, neste papel fundamental do educador, pois como pode haver uma pátria cheia de cidadãos ignorantes? Aqui o boneco trilha um caminho, um objetivo, num processo de avanço, de evolução, buscando algo, num objetivo, numa pessoa que quer ser vista, amada e respeitada, enfrentando o grande desafio que é merecer o respeito das pessoas e do Corpo Social como um todo. Aqui é como os brinquedos buscam familiarizar a criança com o Mundo. As articulações aqui são como pequenas luas circundando um planeta, no mistério das forças gravitacionais, na hierarquia gravitacional. Cada dobra, cada articulação aqui é um ator, tendo um papel fundamental no todo, como nos setores de uma firma, onde cada um tem sua função no organismo, visando este funcionar de forma harmônica e eficiente, numa pessoa querendo se encontrar e querendo encontrar seu próprio lugar no Mundo, numa busca existencial. A cabeça aqui está no topo hierárquico, governando tudo e todos, como no poder simbólico de um monarca inglês, numa posição de alta contradição – reinar sem governar, numa função que muitos consideram enfadonha. Aqui temos o esforço de uma caminhada, como nos vários quilômetros que devotos fazem a pé anualmente ao santuário gaúcho de Nossa Senhora de Caravaggio, remetendo a minhas longas caminhadas pelas ruas de Porto Alegre, no prazer de se respirar uma cidade, com suas opções e pessoas, num reconhecimento de campo. Temos aqui a marca registrada de Grundini, que é o Minimalismo, como na majestosa Bandeira Nacional Japonesa, uma simples e discreta gota de Sol num fundo brumoso, como num publicitário que está desenhando um anúncio de outdoor, sabendo que a peça tem que ser fácil e rápida, sabendo que o condutor de veículo não tem tempo para parar em frente ao anúncio e ler tudo que está ali – quanto menos informações, melhor, fazendo que a mensagem simples tenha tanto poder e penetração. Com as mãos armadas para cima, o boneco parece estar numa posição de luta, sabendo que a Vida é luta sempre, talvez partindo para procurar um emprego, numa pessoa decente e digna, que batalha todos os dias na labuta, fazendo do Trabalho tal inabalável fonte de dignidade, numa pessoa que, no seu trabalho, encontra seu lugar no Mundo, ainda mais em tempos de Pandemia e crise econômica, com tantos negócios fechando as portas, dificultando ainda mais a vida do brasileiro trabalhador. Aqui temos flexibilidade, numa pessoa que sabe que tem que se curvar para reinar, no caminho da humildade, pois o que é morto é duro e inflexível, e o que é vivo é flexível, na questão da aquosidade, como a Água sempre se adapta, sempre flexível, nunca trilhando o caminho da crueldade inflexível, da dureza, do egoísmo, pois o que é vivo sempre encontra um lugar para se adaptar. Aqui temos uma maleabilidade, e podemos brincar com o boneco, flexionando-o à nossa vontade, remetendo a doces memórias de Infância, com meus bonequinhos do universo de He-Man – saudades!

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica (6). Aqui temos uma submissão a regras, no modo como a Vida em Sociedade é feita de regras, com regras como tomar banhos diários ou respeitar o sinal vermelho no semáforo, tendo que haver tal respeito para que o Mundo funcione. Vemos dois indivíduos submetidos a estas limitações, como soldados na base da hierarquia, tendo que aceitar as diretrizes de quem está acima na hierarquia. As setas aqui não são retas ou rígidas, mas flexíveis, como se estivessem aceitando uma força maior, como setas de frentes frias avançando por um território, com formatos vaporosos, avançando com aquosidade, liquidiscência, como vapor em uma sauna, espalhando-se de forma orgânica. As setas são como minhocas, entremeando a terra com túneis tortuosos, como em labirintos de formigueiros, numa organização na qual somente uma formiga é capaz de se encontrar, como no caótico atelier de um artista, num ambiente em que somente o artista é capaz de se encontrar, numa espécie de caos organizado. As formas humanas são os cidadãos, as pessoas que formam uma sociedade, uma cidade. Suas pernas entreabertas são como tesouras cortando o quadro, como estilistas cortando tecidos, pegando um tecido e transformando este em peças de roupa, em coisas novas, no poder transformador das mãos humanas. Aqui temos um ator principal, no topo da hierarquia no set, e um anônimo ator coadjuvante, sempre subestimado, sempre ignorado, podendo, assim, surpreender a todos, dando o pulo do gato e mostrando como o Mundo estava errado, como numa Madonna em início de carreira, sempre subestimada, surpreendendo a todos, mostrando o quão longe pode ir uma pessoa subestimada, num ponto de guinada, de “vingança”. Vemos aqui dois semicírculos, segmentados, fatiados, no trabalho de se fatiar o pão, fabricando um pão que já vem em fatias, num mercado que adivinha os anseios do consumidor, sempre querendo se antecipar, nas facilidades da Sociedade de Consumo, sempre adivinhando os anseios públicos, como fabricar molho de tomate, num caminho prático, poupando o consumidor do trabalho de fatiar tomates e fazer o tal molho. As setas aqui são complexas e divergentes, confusas, cada uma apontando para um lado, num mercado com múltiplas ofertas e apelos, como na acirrada competição novaiorquina da Times Square, com anúncios publicitários concorrendo para ver quem é o mais marcante e penetrante, ao contrário da Avenida Paulista, submetida a uma lei que simplesmente proibiu a poluição visual, assassinando, assim, a competição publicitária, uma pena, pois a Propaganda pode ser um meio tão interessante e competitivo, com anúncios que querem devorar as entranhas do concorrente, tal qual um torneio esportivo. Estas setas aqui têm uma textura transparente, translúcida, leves como um tecido através do qual podemos enxergar, como um delicado véu, querendo se igualar aos maravilhosos tecidos metafísicos, fluidios, vaporosos, muito além de qualquer tecido fino sobre a face da Terra. É como a transparência de um amigo verdadeiro, através do qual, em sua verdade e sinceridade, podemos enxergar. É como um fog londrino, vaporoso, em brumas de indefinição, misteriosas, no jogo sensual de striptease, sempre sem revelar tudo em sua totalidade, provocando a imaginação do espectador. Aqui vemos dois pedestres em trânsito, em pontos diferentes de travessia, no modo como as pessoas estão em fases diferentes de desenvolvimento espiritual, com cada um com sua agenda psíquica, em seu ponto de depuração moral, sendo esta o objetivo da vida de qualquer pessoa – tornar-se uma pessoa melhor e mais íntegra. Aqui é uma placa de diversidade, e o indivíduo fica confrontado com tantas opções, tendo que fazer uma escolha, como no momento de escolher um curso universitário, no modo como, já me disse uma grande amiga psicóloga, a Vida é feita de escolhas, e cada um é livre para fazê-las. Aqui temos momentos diferentes de evolução, e um dos indivíduos é maior do que o outro, numa hierarquia baseada no apuro moral, havendo nas pessoas imorais o estágio mais tosco e primitivo da evolução espiritual – a Eternidade é tempo para qualquer aprendizado.

 

Referência bibliográfica:

 

Grundini. Disponível em: <www.ba-reps.com/illustrators>. Acesso em: 26 mai. 2021.

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