quarta-feira, 29 de junho de 2022

Helen de Troia (Parte 4 de 9)

 

 

Falo pela quarta vez sobre a talentosa pintora escocesa Helen Flockhart. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Calêndula. As flores são tal símbolo de feminilidade e delicadeza, na sobreposição do sutil sobre o vulgar e o óbvio, no modo como os cânticos de Whitney Houston em I Will Always Love You remetem a um belo buquê de rosas, em tal símbolo de beleza e fragilidade no discernimento taoista: Fino é forte; grosso é fraco. Aqui é um jardim de delícias, numa Disneylândia cheia de atrações e coisas divertidas, na etérea Cidade das Crianças na Argentina, no termo Jardim de Infância, na candura infantil de uma criança que traz um certo residual do Plano Metafísico, o plano em que estamos cercados de amigos, ao contrário do Umbral, onde ninguém ama ninguém, num lugar infernal como um presídio. É a pureza infantil. Aqui temos um fidalgo beijaflor, namorador, pulando de flor em flor, na polinização primaveril, nos majestosos ipês roxos nas ruas de Porto Alegre, deixando, na Primavera, um tapete de flores nas calçadas da capital gaúcha, uma cidade a qual guardo em meu coração, pois me sinto um portoalegrense adotivo. O beijaflor é a libido, no instinto sexual de perpetuação da espécie. Aqui podemos quase ouvir os sons do jardim, com pássaros cujo canto é um colírio para os ouvidos, num lugar tão cheio de vida, tão diferente de um morto cemitério, no modo espírita de lidar com naturalidade em relação à inevitável morte, longe de escuros e dolorosos rituais fúnebres, naquele caixão o qual, ao ser enterrado, nos dá a impressão de que jamais veremos aquela pessoa novamente, o que é uma ilusão, no poderoso fato de que a Mente sobrevive à morte do Corpo. As flores são a naturalidade, o inevitável, como no inevitável crescimento de uma pessoa numa dada encarnação, num crescimento formidável que nos dá a vontade de voltar ao passado e “passar uma borracha” em tudo, como no título do livro escrito por Gisele: “Aprendizados”, na ironia na qual ninguém está por cima o tempo todo, num livro que acabou não sendo tão bem sucedido – é a Vida, Gi! A mulher aqui é o receptáculo feminino, numa jarra, como numa flor deflorada pelo beijaflor, cujo bico é o falo do unicórnio, na espada do enfrentamento, numa pessoa se impondo ao Mundo, mostrando que Zezinho é dono da vida de Zezinho, no modo como não podemos fazer com que o Mundo nos dite como devemos viver nossas vidas, no caminho de uma saudável agressividade, numa pitada de Yang em tal feminino jardim, na polinização do esperma, da semente, no ritual de casamento que nos dá um gostinho da plenitude de desencarnados, na dimensão em que não só somos felizes como sabemos que somos felizes, no paraíso para aqueles que querem se manter espíritos produtivos e trabalhadores, mas sem ser workaholics, pois até Tao é tal elaborador, no infalível ditado: “Cabeça vazia é oficina do Diabo”, ou seja, produtividade sempre, numa construção de carreira, num pai orgulhoso do filho no dia de formatura de tal filho. A mulher aqui está num perfil egípcio, na constância milenar dos padrões estéticos do Antigo Egito, com as figuras humanas eternamente de lado, de perfil, havendo na história de tal civilização a transgressão herege no faraó Aquenáton, o qual, sendo um indivíduo, desafiou tais tradições imutáveis, no modo como os transgressores acabam causando o crescimento de um corpo social, como uma feminista “remando contra a maré”, apontando a universalidade dos preconceitos do patriarcado, nos quais a mulher é um cidadão de segunda categoria, tendo que ser sempre respaldada e representada por um homem, seja o marido, o pai, o patrão ou o Papa. Aqui os seios da mulher estão ressaltados graficamente, como nos seios cônicos de Madonna, combinando feminilidade com força abrasiva, em artistas que se impõem ao Mundo, desafiando “ranços” milenares. A mulher não sorri, e observa tudo sem expectativas, as quais são as responsáveis pelas frustrações, numa pessoa que aprendeu a não esperar “mundos e fundos” do Mundo, no caminho espírita da mortificação, abandonando tolas crenças como acreditar em “felizes para sempre”, numa vida que segue sempre.

 


Acima, Costela trapaceira. Aqui novamente uma mulher de perfil egípcio, altiva, orgulhosa, talvez herdeira de alguma tradição secular, como numa família de realeza, com a dignidade de representar todo um povo, toda uma história e toda uma tradição, no contraste da Inglaterra tradicional com a moderna, na consideravelmente controversa pirâmide de vidro do Louvre, a qual causa grados e desagrados, como num senhor intelectual que conheço, o qual diz ter dois olhos: um tradicional e um avançado, como na formidável transgressão da Semana de Arte Moderna, trazendo todo um desejo de identidade brasileira, talvez longe de rígidos padrões clássicos europeus, como na pintura acadêmica de Pedro Américo ou de Pedro Weingärtner, antepassado este de familiares meus, neste jardim onde os ramos vão se entrelaçando em casamentos entre famílias e linhagens, como na curiosa e única miscigenação brasileira, ao contrário dos EUA, nos quais branco tem filho com branca e negro tem filho com negra, normalmente. Os cabelos aqui são como algas, no odor de mar, de origem, de proveniência, na sensação libertadora que o vazio da orla traz, no cheiro marítimo, da Grande Mãe Oceânica que trouxe a Vida para a Terra, nos mistérios de exploração: Por que a Terra é tão rica e os outros planetas tão pobres de vida? A gola da mulher é um tanto elizabethana, no boom renascentista das explorações além mar, na competição para ver qual a potência europeia obteria a maior fatia das Américas, num rei infeliz, que nunca está feliz dentro do próprio reino, sempre querendo anexar territórios vizinhos, como na insana Guerra na Ucrânia, num Putin que nada mais tem para fazer de sua vida de ditador disfarçado de presidente democrático, homofóbico ao ponto de proibir na Rússia a exibição do filme sobre Elton John, por causa do teor homoerótico – és teu próprio flagelo. Os cabelos aqui são como as serpentes de Medusa, no mito misógino que coloca o feminino como a fonte dos flagelos da Humanidade, num monstro poderoso, feio ao ponto de causar a morte do homem que olha para Medusa, na prisão da mulher em relação ao espelho, como nos cruéis padrões de beleza semianoréxicos, naquela magreza em que os ossos do peitoral da mulher ficam expostos, atingindo em cheio a autoestima de mulheres as quais, apesar de lindas, não se acham tão lindas assim. O nariz da mulher é cheio de personalidade, protuberante, no charme de narizes descomunais, numa Barbra Streisand, num “feio bonito”, charmoso, fazendo com que certas imperfeições fiquem tão sexy e instigantes, no fato de que não existe, no Plano Material, a beleza perfeita. A mulher fita o espectador, num Helen Flockhart entrando em nossas mentes, talvez aqui num autorretrato, como numa Frida Khalo, com tantos autorretratos em suas obras célebres, na prova de que uma mulher pode ser tão boa quanto um homem, no sonho feminista de equiparação entre os gêneros, na frieza da Lei, a qual pune igualmente o assassinato de um homem e de uma mulher, no caminho espírita do Humanismo, a força que nos faz irmãos, na assexualidade dos anjos, no modo como inteligência não tem gênero, ao contrário do absurdo de dizer, por exemplo, que siamês não é gato. O pescoço da mulher é longilíneo, como de uma Nefertiti, a “Monalisa” do Museu de Berlim, uma mulher que, apesar de morta, segue viva numa briga entre Egito e Alemanha, países disputando pelo busto famoso, numa Helena de Troia fazendo da beleza tal sensual pomo de discórdia. A gola aqui é como um doce mil folhas, como num livro volumoso, gordo, que exige muitas horas de leitura, na revolução da tecnologia que fez possível a impressão em massa de livros. O figo aqui está partido ao meio, revelado em seu interior, no Útero Imaculado de Maria, a fonte de cada um de nós, os filhos pecadores. O figo aqui é uma revelação, como num astro sendo revelado ao Mundo, no sonho de um artista em se tornar tal estrela atemporal no Céu, vibrando com seu brilho fino e limpo. O figo é algo delicioso, como num trabalho que traz satisfação ao trabalhador, no poder da disciplina – não dá para viver “ao sabor do vento”.

 


Acima, Demétrio e Abas. Aqui temos uma altivez de monarca, talvez num espírito o qual, numa encarnação anterior, foi de fato governante, no dito popular: “Quem já reinou, jamais perde a majestade”. O pescoço é a força, a sustentação, no fascínio universal do busto de Nefertiti, num pescoço delgado, aristocrático e elegante, no fato de que elegância vem de dentro, no caminho autodidata no qual a pessoa tem que aprender, por si, o que é ter estilo e bom gosto, num caminho de crescimento e depuração. As plumas são o cuidado e a suavidade, no fascínio de uma cama deliciosa com lençóis de cetim, algo tão romântico como uma lua de mel em Gramado, ou Paris, a cidade dos amantes, numa doçura de recém casados que pode perecer, fazendo com que o casamento entre na mesmice rotineira e com que o sexo comece a se tornar mecânico e sem romantismo. Os cabelos são tortuosos e sedutores, nas forças marítimas que fascinam e subjugam o marinheiro, na generosidade da Mãe Iemanjá, trazendo fartura às redes dos pescadores, no milagre cristão da multiplicação dos pães, como num reino farto e rico, como num Canadá, um país tão repleto de qualidade de vida, em contraste com nações tão miseráveis, como a Coreia do Norte, regida por um tirano que tem aversão a qualquer liberdade de expressão – é um horror. Vemos aqui um lagartinho, tortuoso, remetendo a um belíssimo par de dragões chineses que tive, comprados em Nova York, a cidade que fede a cultura e arte, na pulsação da Broadway, o mercado no qual medíocres não têm vez, numa Barbra Streisand, a qual, antes de se tornar tal diva monstruosa, começou humildemente, sendo lanterninha dos teatros novaiorquinos, no caminho da humildade, numa pessoa que começa por baixo e, com força e persistência, sabendo de seu próprio potencial, vai obter sucesso mais tarde, inevitavelmente, ao contrário da teimosia obstinada, numa pessoa que não tem potencial para um determinado trabalho, como numa moça que se inscreveu duas vezes no concurso de escolha de Rainha da Festa da Uva de Caxias do Sul – é a questão da dignidade e do autorrespeito. A salamandra é furtiva e brincalhona, liquidiscente, difícil como capturar um peixe na água, no termo “sabonete”, designando pessoas difíceis e fugidias, as quais parecem ter medo de parar e conversar confortavelmente, talvez numa pessoa com um certo desconforto existencial, a qual ainda não delineou muito bem qual é seu próprio lugar no Mundo, como numa peça exposta num museu, num objeto cujo uso é desconhecido, no caminho do ajuste e da adaptação, numa pessoa que encontrou algo de nobre para se centrar, como um senhor que conheço, pragmático, pés no chão, centrado no trabalho e na firma, num homem sério e firme, fazendo a uma mulher uma sólida e realista proposta de casamento, digno de receber o respeito dos sogros, ao contrário de uma pessoa sensível e sonhadora, com alma de artista. Os dedos da mulher são longilíneos, finos, como no elegante uso de talheres, na divertida cena de Julia Roberts se atrapalhando para comer um escargô, como uma fina senhora que conheço, a qual respeito, pois ela escreve livros de etiqueta, havendo no Plano Metafísico a plena polidez e nobreza, num lugar onde ambições e grosserias definitivamente não têm espaço, na máxima de contradição taoista: Fino é forte; grosso é fraco (apesar de parecer o contrário). Ao fundo no quadro, em detalhe coadjuvante, uma janela rubra, sensual, das cores do bordel, com árvores, que são a libido da Natureza em época de acasalamento, com galhos cujo “design” imita raios de tempestade ou veias de sangue, na força inabalável da Vida, na força dos campos magnéticos dos planetas, fazendo da magnetosfera terrestre uma proteção contra raios nocivos no Sol, colocando a Terra na posição ideal para se ter Vida, esta força tão rara, ao menos até o presente momento de avanço científico astronômico. A roupa aqui é rica como uma mina, luxuosa, cheia de riquezas, de pérolas, fazendo metáfora com a riqueza do caráter de uma pessoa a qual simplesmente odeia mentir.

 


Acima, Fique um tempo. Aqui temos uma espécie de Pietà, num Complexo de Édipo, na Virgem chorando, a mulher à qual foi negado ter sexualidade, na castração patriarcal, colocando o pênis acima da vagina, numa hierarquia a qual, sendo subjetiva, acaba sendo objetiva. Aqui é a letra da canção brega: “Aqui nesse lugar, não há rainha ou rei. Há uma mulher e um homem trocando sonhos fora da lei”, brincando com o nome “Édipo Rei”. As flores são o cortejo, num amante entregando um vistoso buquê de flores românicas, as quais não são o suficiente, pois num relacionamento, que tem os pés no chão, a cabeça e a fria razão têm que ter espaço, abreviando caminhos e vendo o Mundo do jeito que este é. As flores são o buquê da noiva, na entrada solene no Templo, nessa expressão de tanta magia feminina ao redor da noive pura e casta, a contrário do homem, cuja sexualidade é estimulada e encorajada desde cedo na vida, na ida do rapaz ao bordel para perder a virgindade, no patriarca que só vê duas mulheres – a santa e a puta, com o perdão do termo chulo. Aqui é a Madona e o filho, no binômio poderoso mãe filho, numa embalagem de fraldas com a mãe carinhosa com o filho, relegando a mulher a tal escravidão do lar, numa mulher que vive a vida inteira na sombra do marido, o qual, no casal, é o único a se realizar de fato profissionalmente, nos esforços feministas de dar à mulher o pleno direito de liberdade e de construção de carreira, num Mundo que até está evoluindo dessa maneira, pois a inteligência do espírito independe de estar em um corpo de homem ou de mulher, na ilusão no Plano Material, no qual a Humanidade está segregada entre banheiro masculino e feminino – os anjos não têm sexo. Aqui é uma inversão, pois o homem, o Adão primordial de Deus, está subalterno e coadjuvante, como uma mulher me disse certa vez: “Eu quero um namorado que seja mais alto do que eu”, como num Tom Cruise baixinho, exigindo que a esposa, na tapete vermelho, use um salto baixo, para não parecer que a astro é tampinha, o que é uma bobagem, no termo popular: “Tamanho não é documento”. Aqui é a magia universal do casório, no momento mágico cósmico da união entre Yin e Yang, desde um casamento tribal indígena na Amazônia, com o noivo e a noiva fazendo sexo na frente de toda a tribo, numa vibrante avenida apolínea do glamour dos recém casados, fazendo metáfora com a plenitude perfeita metafísica, o lugar mágico onde não há os percalços carnais, como a fadiga, o cansaço e o esgotamento, num paraíso para os que gostam de se manter produtivos – que esperança há fora do trabalho? Não é Tao tal trabalhador? Helen Flockhart gosta de figuras em perfil, e o olho parece um peixe, livre na água, devorado cru e ainda vivo pelo monstrinho Gollum, de Tolkien, o personagem mais fascinante de toda a obra do autor brilhante, no modo como o desejo de poder pode corroer até o coração mais nobre, numa história sombria, que revela a fraqueza humana perante o Anel, muito longe dos heróis bondosos e perfeitos de Disney. O branco, é claro, é a virgindade, como num pai o qual, ao ver a filhinha nascer, diz a si mesmo: “Esta eu vou guardar debaixo de sete chaves e entregar pura e casta ao marido na Igreja”, na exigência do concurso a Rainha da Festa da Uva, que exige que a moça inscrita seja solteira, ou seja, virgem, ao menos na teoria. O homem aqui está em posição fetal, uterina, como numa cama aconchegante, fazendo do útero a cama mais confortável de deliciosa de todas, fazendo uma cópia mundana da cama na qual dorme um rei ou rainha, na deliciosa sensação de liberdade e paz da Experiência Extracorporal, no mágico momento em que o espírito se liberta por algum momento do corpo físico, dando uma amostrinha da plenitude gloriosa do Plano Metafísico, o lugar onde, acima de tudo, há Saúde, em todos os sentidos – Saúde não é tudo? O fundo aqui é cinzento e incerto, na junção do branco da noiva com o preto do noivo, como no Castelo de Grayskull, o castelo da caveira cinza, palco de competição entre o Bem, que é a Luz, e o Mal, que é a Escuridão.

 


Acima, Olho da amante. A gola é a aprumação, no ritual diário em frente a um espelho, ajeitando os cabelos, na exigência social de uma pessoa sair de casa arrumada, como num homem fazendo a barba diariamente, num cavalheiro limpo e perfumado, no fascínio exercido pelos aromas, como nas especiarias orientais que tanto encantaram a Europa, na universalidade humana em relação à limpeza e à pureza, no fascínio da perfumaria. O nariz da mulher é desproporcional, descomunal, como numa pessoa de inteligência descomunal, deixando-nos perplexos com tal inteligência emocional, com tal instinto O pomar aqui é fértil, próspero, no costume de antigamente, quando um vizinho visitava o outro vizinho levando algo do pomar de sua casa para a casa do anfitrião, numa troca de gentilezas, como no imigrante italiano no RS, num domingo improdutivo, fazendo com que a único programa de domingo fosse visitar os colonos dos lotes vizinhos, numa pessoa feliz dentro de sua própria vizinhança. A moça é a seriedade, talvez num momento áspero, e não vemos qualquer resquício de sorriso, na seriedade inevitável da Vida, esta força cheia de percalços que faz com que evoluamos, tornando-nos pessoas melhores, mais sábias e mais nobres, na classe impecável dos espíritos de superioridade moral, no poder da verdade, que é eterna, sobre a mentira, que está fadada à danação. Aqui é uma colheita próspera, como na prosperidade agrícola do Nilo no Antigo Egito, e os pêssegos brotam doces, maduros e perfumados, no talento de Tao em criar as frutas, os sabores, numa incrível riqueza gastronômica, como na manga vinda da Índia, hoje uma fruta disseminada pelo Mundo, como uma pêra doce e suculenta, irresistível, na irresistível hierarquia entre os espíritos, fazendo com que façamos questão de obedecer a um espírito mais depurado. A mulher carrega uma joia, uma bijuteria, e é um olho, no terrível olho tirano do Sauron de Tolkien, num líder malévolo que quer manter tudo sobre controle, o que é uma ilusão: Quanto mais Tao você tem, menos controle você quer obter. A mulher aqui veste uma estampa com um casario à beira de um rio com uma canoa, que é a pesca, a lida diária, no fato de que a Vida é difícil em qualquer lugar, com pessoas iludidas, que se mudam de cidade, buscando, assim, fugir da seriedade da Vida, comprando a ilusão de que a Vida é fácil em um determinado lugar ou cidade, como num doce verão passando e indo embora, numa orla fria, chuvosa e cinzenta, deserta, deprimente, numa praia que nos mostra que a vida não é só verão. Aqui o olho é como um pavão exibido e luxuriante, num macho cortejando a fêmea, na competição atroz para ver quem passa para frente seus próprios genes, na inevitável lei da selva, fazendo metáfora com o mundo competitivo no qual vivemos, num mundo cheio de competições, no fascínio dos esportes, num Brasil que se une de norte a sul em época de Copa do Mundo, na pressão em cima dos pobres atletas, pressionados a trazer a taça para casa, num país interior pressionando o pobre atleta, como numa Whitney Houston, a qual passou a sofrer pressões gigantesca após o sucesso arrasador do álbum famoso de O Guardacostas, fazendo com que a diva, numa desesperada válvula de escape, recorresse à drogas, as quais devastaram a voz da cantora, no modo como são malditas as drogas, esses “remédios” que destroem vidas e levam o espírito ao Umbral, a dimensão onde não há contentamento – é um horror. Uma das palmas da mão está virada para cima, num gesto de aceitação, como no passe num centro espírita, com a pessoa, ao levar o amoroso passe de um médium, tem que posicionar as palmas das mãos para cima, aceitando aquilo que Deus lhe coloca nas mãos, havendo no suicídio um sacrilégio, jogando fora uma vida que Tao nos concedeu com tanto carinho. Aqui é um doce jardim, e podemos ouvir o doce canto de pássaros, esse bálsamo para os ouvidos, no modo como a Natureza está repleta de maravilhas, no esforço ecológico de preservação, como na complicada questão do lixo plástico, numa Baía da Guanabara abarrotada de lixo, infelizmente.

 


Acima, Sofrimento ou ataque. Aqui o quadro é bem sombrio, numa cena noturna em algum palácio europeu, num inverno gélido. O calor da lareira é ao acalento, o contentamento, o consolo em meio a uma noite tão fria. O fogo é a Vida que arde, nos animais de sangue quente sobrevivendo à catástrofe que dizimou os de sangue frio, no meteoro que matou os dinossauros. A lareira é a sedução entre enamorados, tomando um vinho à beira do fogo, no demônio Balrog de Tolkien, feito de labaredas e escuridão, com seu chicote inclemente, no delírio sadomasoquista, em joguinhos eróticos inofensivos, como numa sexshop com artigos que prometem apimentar um relacionamento, talvez num casamento que caiu na mesmice, com o sexo se tornando mecânico e impessoal, na contramão de fazer amor, que é um sexo manso, delicioso e cheio de intimidade, num maravilhoso momento de entrega nas mãos do enamorado. As tochas ardem como olhos e a lareira como boca, num demônio erótico cheio de sedução.  A menina aristocrática posa ao centro de tudo, talvez para um pintor. Ela está centrada, simétrica e comportada, disciplinada, como numa menina ainda muito jovem, recém começando a menstruar, e já negociada pelos próprios pais para um casamento arranjado, no qual, convenhamos, não há muito amor, mas muita conveniência, numa pobre menina sendo usada como moeda de troca, num mundo insensível, que sequer pergunta à pessoa se esta está feliz, fazendo com que seja necessário que a pessoa adquira o controle sobre sua própria vida, parando de se preocupar em satisfazer às expectativas de outrem – mostre para o Mundo o dedo do meio. Ao fundo vemos um cavalo domado, sonolento, contentado com o calor da lareira. O cavalo está entregue, adaptado, numa pessoa que se adaptou a algum local de vida, como se sentindo confortável dentro de uma empresa, contente em desempenhar seu papel no organismo. É a ato de relaxamento e entrega, como o dormente Marte de Botticelli rendido aos encantos hipnóticos de Vênus, no jogo de sedução entre ativo e passivo, na aranha passiva com sua teia, esperando que ali caia uma desavisada mosca. Ao fundo na janela, no negror da noite, vemos uma estrela cadente, talvez a Estrela de Belém que guiou os Reis Magos, no poder das tradições natalinas, numa época em que cidades como Nova York se enfeitam com adornos e luzes, fazendo com que até um judeu, que não celebra o Natal, fique impressionado com tal beleza, como numa judia Barbra Streisand, cantando Jingle Bells em um de seus concertos, na universalidade da beleza, da união, da comunhão e da harmonia, num homem que dividiu a História em duas. Vemos um senhor cabisbaixo, discreto, quase oculto, talvez triste, em luto, no meio de tal escuridão neste quadro, no período de luto necessário para que a pessoa dê a volta por cima e retome sua vida, como uma pessoa que conheço, a qual, depois de tratar um câncer, voltou a suas atividades rotineiras, na força para que demos a volta por cima, no caminho da superação e do crescimento. Ao fundo vemos um raio de luz entrando, que é a esperança, a saída para tal negror. É a retilinidade do pensamento racional, abreviando atalhos e chegando direto ao ponto, rechaçando crendices ignorantes e tolas superstições, na Revolução Científica, na universalidade de tal lógica, na universalidade da mente humana e da questão encarnatória, fazendo dos japoneses, por exemplo, nossos irmãos e nossos iguais, apesar da ilusão das diferenças culturais. Ao fundo vemos pessoas, vultos, talvez anônimos súditos, na função de um monarca em trazer contentamento para um plebeu, para uma pessoa comum, num reino onde a pessoa está contente em assumir o posto em que está, com cada ator com seu papel. Bem ao fundo, de forma bem discreta, vemos uma escadaria, que é a saída, o êxito, a solução de um problema ou de uma questão, numa charada sendo morta, na resolução de um complexo labirinto, numa pessoa encontrando Paz em seus dias na Terra – é a glória. O vestido aqui é em forma de sino, na marcação das horas e dos deveres do dia.

 

Referência bibliográfica:

 

Home. Disponível em: <www.helenflockhart.com>. Acesso em: 1 jun. 2022.

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