quarta-feira, 8 de junho de 2022

Helen de Troia (Parte 1 de 9)

 

 

De claro talento, com uma pitada de Surrealismo, a escocesa Helen Flockhart, nascida em 1963, já fez vinte mostras solo, quarenta e uma coletivas, recebeu dezoito prêmios e honrarias e pertence à coleção de vários museus. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Asterion. A hera é a força natural, numa vontade, num tesão, numa pessoa que abraça a lida sem medo, sabendo que nenhum trabalho é em vão, até mesmo o humilde trabalho de uma pessoa carpindo um lote, fazendo com que tudo fique anexado e incorporado à grande carreira espiritual, até o espírito chegar ao ponto de perfeição de arcanjo, no momento de nossa “formatura” que tanto orgulho dá aos nossos pais. A hera vem devagar e silenciosa, apoderando-se aos pouquinhos, como se soubesse que Roma não foi feita num dia só, até a hera chegar ao ponto de apoderamento, de posse, num processo que vai se desdobrando silenciosamente ao longo de anos, talvez numa pessoa que só se dê conta disso quando é tarde demais, como num processo de empobrecimento existencial, de Vida existencialmente miserável, como numa pessoa financeiramente rica, porém improdutiva, uma pessoa que não é feliz, pois não se sente útil ao Mundo – é o personagem Hellen de A Época do Inocência, uma mulher que não sabe qual é o seu lugar no Mundo, deprimindo-se fugindo de uma vida da qual ninguém pode fugir, como num mendigo, o qual não quer saber de encarar a lida, num ponto degradante de vida, sem autoestima ou autorrespeito. A moçoila virgem sofre o sensual assédio animalesco, num ser humano com cara de bicho, como num sexy deus egípcio, com um deus para cada necessidade, no modo como o paganismo sobrevive, mesmo em plena era cristã, com santos católicos com várias serventias, como rezar para Santa Clara para que a chuva passe e que o tempo fique ensolarado – nada de errado em um altar com imagens. O novelo de lã vai se desenrolando aqui, num processo evolutivo, no crescimento de uma criança se desinteressando pelos brinquedos, ou num adulto não mais tendo ardores de paixão adolescente por ídolos da Música, no poder da desilusão, da crise, a qual é positiva, pois assinala um momento da vida em que a pessoa deixa de “acreditar em Papai Noel”, colocando os pés no chão, assinalando um momento de renovação, de refôlego, ao contrário de um certo ator mundialmente famoso, o qual se encontra atualmente deprimido, recluso e improdutivo, no poder da Depressão em castrar o tesão da pessoa pela Vida – você pode estar cansado de tudo, mas você será um homem, meu filho. Vamos lá: hora de deixar papai e mamãe orgulhosos. Aqui temos uma libido, um flerte, numa sensual noite tropical enluarada para os amantes. Aqui é como a esvoaçante camisola feminina em Drácula de Bram Stoker, premiado com Oscar de Figurino, numa concubina do diabo em pleno êxtase de cio, transando com um lobisomem num jardim escuro e sensual, como num labirinto do Minotauro, o qual é dono e senhor de tal lugar, sendo só uma questão de tempo até que ele nos ache, no modo como quando uma pessoa tem potencial, tudo o que é necessário é ter persistência, vontade e paciência – o talento tem que ser desenvolvido. Aqui temos um flerte entre grosso e fino; entre civilizado e animal, como nos toscos pés de Frodo no jardim secreto de Galadriel, no princípio feminino do espelho e da jarra, o receptáculo uterino, no espelho mágico da heroína Cheetara do desenho Thundercats, sendo ela a única mulher em sua tribo, fazendo o espelho o símbolo de vaidade feminina, no modo como, já li em uma biografia, Evita levava quarenta minutos em frente a um espelho para se preparar todas as manhãs. É a beleza de Helena de Tróia, bela ao ponto de causar tanta dor de cabeça aos homens, sendo um pomo de discórdia, no mito misógino da Eva, culpando a Mulher pelos males da Humanidade. Aqui as flores são a fertilidade, o cio primaveril, num urso acordando da hibernação faminto, catando seus salmões que sobem correnteza acima num rio para se reproduzir, na necessidade da chuva para fazer com que os vegetais cresçam. Aqui é a primeira menstruação, na menina virando mulher, no ardor adolescente por Sexo.

 


Acima, Bacante. O porão é a misteriosa força do inconsciente, nas palavras de um certo psiquiatra: “Não acorde o monstro que existe dentro de você”. É como no termo “segurar a cavalaria”, numa pessoa com muito ímpeto, tendo que reprimir os impulsos, num trabalho de disciplina, deixando de ouvir ao traiçoeiro coração para ouvir às frias e ponderadas palavras da mente, da cabeça, da racionalidade, num abreviamento, num caminho simples, reto, que vai direto ao ponto. Neste porão vemos uma besta, um monstro, no demônio Balrog de Tolkien, envolto de sombra e chamas, na sedução de um amante na beira de uma lareira, na sensualidade claustrofóbica de As Brumas de Avalon, na grande Mãe pagã sendo tranquilamente substituída pela Virgem Maria, em arquétipos femininos como a Mulher Maravilha, que é o Espírito da Verdade, sabendo que a mentira não vai longe nem é infinita, nas palavras de minha mãe para mim, quando eu era criança: “A mentira tem pernas curtas!”. A moça aqui é solitária, e está hesitante se pode se permitir um gostoso pecadinho, como a Gula ou a Luxúria, pecadinhos que nos fazem humanos; não nos fazem demônios, ou seja, esta culpa tem que ser deixada de lado, como diria qualquer psicoterapeuta a um paciente – somos seres humanos e não anjos perfeitos. Ao fundo do quadro são as moças virgens, como debutantes, na afloração primaveril, fazendo com que as moças façam metáfora com a ressurreição da Vida, das flores, da Primavera, de coisas agradáveis e femininas, precisando aí de uma pitadinha de agressividade, como no desenho animado feminista das Meninas Superpoderosas: elas são belas e femininas, mas dão uma surra em qualquer marmanjo mal intencionado. Ao fundo aqui, vemos um cenário onírico, na magia de uma noiva de branco, leve, esvoaçante, na estrela do dia do casório, arrancando todas as atenções na Igreja, rumando ao altar para desposar seu príncipe, um príncipe que, depois, pode se revelar sapo, no calor de uma relação que pode esfriar com o passar de anos de rotina, talvez num sexo que se tornou mecânico, sem o romantismo da Lua de Mel. A cama aqui é a necessidade de repouso, de pausa, numa Vida que precisa de compartilhamentos, como viver um dia depois do outro. A cama é o pecadinho da Preguiça, como ficar mais um tempo na cama, protelando com uma sonequinha extra o sinal impiedoso do despertador – hora de sacrificar o impulso de prazer do Id e abraçar a sisudez da Vida disciplinada, numa dona de casa encarando mais um dia de trabalho no lar, nas sábias palavras de minha avó materna: “Minhas mãos foram úteis ao Mundo, pois com elas passei, lavei, cozinhei e costurei!”. A garrafa de vinho aqui é o prazer enológico, num merecido happy hour depois de um dia de trabalho e sisudez, com gravatas afrouxadas e um bate papo descontraído, numa pessoa que se nega a ser workaholic, tornando-se, assim, digna de respeito. O vinho derramado aqui é como um desperdício, como uma pessoa se suicidando, jogando fora um presente de Tao, que é a Vida. Aqui, o papel de parede tem uma discreta estampa de peixes, que são a Grande Mãe Iemanjá, no cheiro de Mar, de libertação, num navio que chega para nos levar de volta para casa, como acordar numa cama com lençóis suavemente perfumados – é o eterno retorno no fim de 2001, Uma Odisseia no Espaço, num feto retornando ao confortável útero metafísico, ao qual todos pertencemos como irmãos, na imaculada conceição que originou a todos nós, na Grande Realeza Metafísica, no sangue estelar que nos une: Todo mundo é um príncipe. A moça aqui tem cornos, numa libido por Sexo, talvez querendo acasalar com o monstro do porão. Mas a moça está hesitante, talvez criando juízo e ponderação, hesitante diante de uma piscina que não parece nem ter profundidade nem ter água dentro, numa avaliação de risco, num senso de perigo e de sabedoria adulta. O lindo povo ao fundo do quadro é o Plano Superior, belo, limpo, alegre, jovem, eterno, com anjos felizes que voam em sua liberdade desencarnada, sendo só questão de tempo até nós, os encarnados, chegarmos lá.

 


Acima, Besta. Aqui é o mito da Bela e da Fera. A Fera é o Yang, o masculino, num homem que, apesar de ser um “cachorro” de feio, joga charme em parceiras, na Besta revelando a beleza interior, como na revelação de uma Susan Boyle em um reality show de cantores amadores, numa Susan que arrebatou jurados e plateia, numa performance emocionante, na beleza interior se revelando em toda a sua riqueza, como uma pedra de ametista – feia e subestimada por fora; belíssima por dentro com suas cores roxas. É ao contrário de um certo senhor, o qual estreou em uma telenovela da Globo, mas um homem que acabou se revelando vazio e obtuso, sem algo de muito interessante para mostrar, como num homem de musculatura hipertrofiada, ao qual nada mais resta do que mostrar o peitoral definido, na máxima de Tao: Ninguém no fundo respeita o exibidinho, o “Robert”, a gíria que define os que somente querem aparecer. Aqui é como no clipe Like a Virgin de Madonna, no leão cortejando a moça virgem, nos véus brancos da diva em gôndolas venezianas, trazendo todo um charme europeu ao cenário pop do Tio Sam, no eterno flerte entre masculino e feminino, fazendo amor e gerando o Universo, no arquétipo do rei e da rainha: Sabemos que o homem é alto porque a mulher ao lado é mais baixa do que ele, no discreto papel coadjuvante da mulher, poderosa nos bastidores do poder, como numa Evita Perón, a qual era, de jure, a dondoca improdutiva do presidente, sendo, de facto, a copresidente da Argentina. Aqui é um Éden fértil, num sexy sem ser vulgar, num misterioso sensual sem ser sexual, com dos namorados na cama num mágico momento de intimidade, num amor manso e gostoso, calmo, na versão da canção célebre: “O meu amor tem um jeito manso que é só seu”, ao contrário do sexo “mecânico”, num relacionamento que perdeu, com o passar dos anos, o calor da Lua de Mel. Aqui é a serpente da malícia, na arrebatadora imagem da Virgem Maria esmagando com os pés tal serpente malévola, na vitória do Bem sobre as intenções desvirtuosas, na danação de tudo o que é material – a Matéria não sobrevive ao Desencarne, no termo popular “Vão-se os anéis; ficam os dedos”. Em outras culturas, a serpente era vista não como maldosa, mas como um símbolo de fertilidade, como numa moça que se torna um útero reprodutor a serviço de uma coroa monárquica. O trajeto liquidiscente e tortuoso da serpente é tal aquosidade, nos sensuais quadris de uma modelo na passarela, no balanço das ondas do Mar, no vaivém curvilíneo das ondas de pedra no calçadão do Rio de Janeiro, a cidade mais bela do Mundo, numa interessante mescla de cidade e natureza, como nos furtivos esquilinhos no Central Park, sobrevivendo a uma cidade tão coberta de concreto e asfalto, na responsabilidade de fazer o estoque de alimento para o inclemente inverno novaiorquino, no senso de responsabilidade, numa pessoa pensando no futuro, na aposentadoria, na sisudez da formiga, preparando-se para o Inverno. Aqui a mata é fechada e densa, um tanto sombria, como numa sala iluminada por um único abajur, numa luminosidade que não fere as vistas, como consultório de uma certa psiquiatra, numa luminosidade sutil que convida o paciente a relaxar e abrir sua mente para a terapeuta, numa relação de confiança: Se não confio em meu terapeuta, estou perdendo tempo e dinheiro. A mulher aqui é toda tatuada, num registro, como vários carimbos em um passaporte, num itinerário de vidas passadas, causando o crescimento moral na pessoa, pois não são os bandidos quem faz do Mundo um lugar tão perigoso? O leão aqui ruge, simbolizando a coragem de um rei, regendo a selva com sua juba que remete ao Sol, esta fonte tão essencial de luz e calor, remetendo-me a um lagarto que morou certa vez no jardim de minha casa, com o réptil erguendo a cabeça para tomar banho de Sol! Aqui a nudez é pura e inocente. O leão é a garantia, a segurança, como num guardacostas protegendo um presidente. A mulher aqui se sente segura, confiando em tal figura masculina, na universalidade do Patriarcado, no termo “Beleza não põe à mesa”.

 


Acima, Leda e o Cisne. Helen Flockhart é sexy. Aqui temos uma transa, num sentido de sexo animalesco, selvagem, numa gata em cio, enlouquecida, como nos hormônios à flor da pele de uma adolescente, numa sociedade que tanto tolhe a sexualidade feminina, na figura da Virgem Maria, a mulher à qual foi negado ter uma sexualidade, numa embalagem de Leite Moça, na pureza branca do leite, na pureza da noiva segurando um elegante buquê de flor de copo de leite. Aqui a nudez é sutil, não agressiva, como nos nus de bom gosto da revista Playboy brasileira, no sexy sem ser vulgar, um limiar tão desafiante, que depende do bom gosto do fotógrafo, no boom federal da primeira Playboy de Adriane Galisteu, revelando uma estrela, num nu de tanto bom gosto, digna de ser a parceira do ídolo dourado brasileiro Senna, como numa mulher prêmio, de difícil acesso, só aceitando homens bem sucedidos como Kuerten. Aqui voltamos a ver a serpente, trocando de pele, renovando-se, como num cantor sobrevivendo a décadas de carreira, reinventando-se com o passar do tempo, sabendo que, sem reinvenção, tornar-se-ia tedioso e repetitivo aos olhos do público, no modo como há tantos e tantos artistas talentosos que não souberam galgar o caminho da reinvenção, tornando-se “fósseis” dos anos 1908 ou 1990 – a Vida é luta sempre, meu amigo. O chão aqui é de terra, simples, aconchegante, como numa certa adega de vinhos que conheci, com o chão de terra, nada mais pertinente em relação a uma bebida que, no frigir dos ovos, vem das entranhas da terra. É o casamento entre simplicidade e aconchego, reunindo pessoas em torno de uma mesa com um grande prato ou travessa ao centro, num astro rei Sol provendo todos os seus filhos no sistema solar, numa capacidade distributiva, fazendo metáfora com Tao, o Pai que, invisível e indefinível, está no centro de tudo, regendo as dimensões do Universo, como mosquitos em torno de uma lâmpada, ou no incessante assédio midiático a Diana, a qual, ao mesmo tempo, amava e odiava a Mídia Global, numa diva que adorava aparecer midiaticamente mas que, ao mesmo passo, sentia-se tão invadida e desrespeitada pelos assédio midiático, como na relação de amor e ódio de uma pessoa mergulhada e aprisionada em alguma espécie de submundo. A mulher pega e acolhe o cisne, num afago, numa aceitação. O cisne é a beleza e a elegância, no mito do patinho feio, o qual viu que nunca foi pato, mas cisne, no termo “Não se torne; seja!”. É como uma certa popstar, a qual nada mais é do que uma cheerleader, uma líder de torcida, girando em torno do que importa, que é o jogo dos homens – as pessoas evoluem mas não mudam! A natureza aqui pulsa na libido dos amantes, numa explosão primaveril de hormônios. O cisne é tal liberdade de orgasmo, num doce momento de sucesso, momento que passa, fazendo do sucesso tal amante infiel; fazendo do sucesso um problema, fazendo com que a pessoa tenha que sobreviver a tal momento de orgasmo, pois ninguém está por cima o tempo todo, como num ator que costuma fazer excelentes escolhas de papéis, podendo, de vez em quando, tropeçar em papéis não tão interessantes, em filmes não tão interessantes, pois errar não é humano? A nudez aqui é tão inocente, numa das canções de Alanis Morissette, a qual nos aconselha a ficamos nus dentro de nossas próprias salas de estar, na completa inocência da nudez do feto na barriga da mãe, na inocência de uma praia de nudismo, lidando com o que é natural, como Tao, no baile das estações climáticas durante o ano. A mulher é a inocência, como numa aula de Sexologia para uma atenta turma de pré adolescentes, pois, como eu já disse a uma amiga freira minha, como Deus pode se envergonhar de algo que Ele mesmo fez? O jardim é tal fertilidade, numa mente criativa, vibrante, conquistando as percepções do Mundo, num artista que sabe o valor da transgressão e da ousadia, no modo como atitude é tão visceral no Mundo da Moda, fazendo do Estilo esta excelente ferramenta de expressão, de autoexpressão, nas ondas de renovação, como no abismo estilístico entre os anos 1970 e 1980.

 


Acima, Leviatã. O lago é a placidez, numa espera pelo momento ideal, como num líder atravessando um rio cautelosamente, como se soubesse que há perigo. É o lago novaiorquino Jacqueline Kennedy Onassis, em homenagem à mulher mais emblemática da História dos EUA. A mulher aqui mergulha em tal calma, no ritual diário de purificação de uma ducha e sabonete, numa sensação revigorante, fazendo com que nos aproximemos da suprema limpeza perfumada do Plano Metafísico, o lugar onde sequer há uma única bactéria, ou seja, um lugar onde há beleza em cada canto, como numa faxineira esforçada, limpando ao máximo uma casa. O lago é o espelho de Narciso, no narcisismo sociopático, numa pessoa que simplesmente se acha Deus, achando-se perfeita, querendo ter tudo e todos aos seus pés, num Narciso se afogando em sua própria vaidade, destruído por si mesmo, no modo como cada pessoa é responsável pela sua própria vida – tu és teu próprio inimigo. Helen tem uma paixão botânica, com tantas plantas em seus quadros, num vegano mergulhando numa dieta saudável, rejeitando tudo o que for de origem animal, ao contrário de uma pessoa que come “de joelhos” um belo e suculento filé de gado, tenro e rosadinho por dentro, num prazer carnívoro de um tiranossauro rex, no boom de popularidade do filme de Spielberg que se passa num parque temático de dinossauros reais, reconstruídos geneticamente, num sonho de ficção em recriar animais há muito instintos, no sonho de gerar humanos perfeitos, batendo de frente com a questão da Ética versus Ciência. Aqui são as vitórias régias no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com suas majestosas flores, como na flor de lótus em simbologia monárquica, fazendo das flores tal grande invenção de Tao, o poeta, em algo tão belo e frágil, ao contrário da flor metálica de Buenos Aires, chorando pelos vários rapazes que perderam a vida em tal insano episódio, nesta eterna “queda de braço” entre líderes, como num Putin, condenado por toda a comunidade internacional. Ao fundo vemos um pássaro rubro, que é o sangue, os vínculos de sangue, as almas tão cobiçadas por vampiros sociopatas, numa pessoa que simplesmente quer subjugar tudo e todos, num Hitler que quase destruiu o Mundo, no sonho sociopático de fazer com que tudo acabe, como nos insanos suicídios coletivos, fazendo com que o suicídio mais atrapalhe do que ajude – quem não tem amor à vida vai para o Umbral, a dimensão dos que rejeitam este grande presente de Tao, que é a Vida. Aqui é como um oásis num inclemente deserto, como encontrar alguém especial em meio a um submundo, uma pessoa verdadeira que faz com que não mais nos sintamos perdidos e solitários, numa lua de cristal, linda, num relacionamento que, mesmo não tendo durado para sempre, foi uma eternidade, num dos maiores amigos que já tivemos na Vida, num amigo que tão profundamente nos conhece, na eternidade da Amizade, a força que faz com que sejamos eternos em nossos relacionamentos, no glorioso reencontro metafísico. A mulher aqui é rubra, menstruando, no modo como deve ser complicado ser mulher, sentindo cólicas e tendo que usar absorventes, tendo que fazer depilação, sofrendo com os preconceitos misóginos de Eva, a mulher que trouxe a desgraça para a Terra. As pedras aqui são a dureza da Vida, num Mundo exigente, que faz com que encaremos a luta para “tocar o barco para frente”, na ironia de que, após o Desencarne, a pessoa tem que se manter produtiva e atuante, pois que esperança há para uma água parada? Aqui é o jardim da intimidade, num ponto em que podemos conversar por telepatia, sem proferir uma só palavra, numa intimidade, numa pessoa altamente sensível, deparando-se com a dureza mundana, na luta de um artista em ser propriamente reconhecido, num Mundo que pode ser tão frio e indiferente. Bem ao fundo vemos Vênus, a estrela que nos brinda nos fins e nos inícios de dia, na beleza de um novo dia, na beleza da deusa grega Eos, “decorando” a beleza dourada da Aurora, na promessa de um mundo belo.

 


Acima, Preencha meus Ferimentos com Ouro. O leão rugindo é a coragem de um rei, como numa paladina Elizabeth I, desfiando a maior potência da época, que era a Espanha e sua assim chamada “Invencível Armada” marítima. É como em O Mágico de Oz, com um leão querendo ter um coração corajoso, no mito do Rei Leão, tendo a selva a seus pés, na virilidade de um Tarzan, regendo a selva com seu grito de guerra, na capacidade de liderança, numa pessoa que sabe unificar o corpo social, ao contrário de um líder controverso, que é amado por uns e odiado por outros, como na controversa Evita Perón, uma virgem santíssima para o proletariado e uma puta para o resto do povo argentino, com o perdão do termo chulo. Talvez a mulher aqui esteja grávida, no poder feminino de trazer vida ao Mundo, fazendo contraponto com poder patriarcal, num Mundo de homens, confrontando tal poder mundano com o poder de uma mãe, sem a qual nenhum grande líder patriarcal existiria, nos versos de uma canção gravada por Cher: “É um mundo de homens, mas nada seria sem uma mulher ou uma garota!”. A cena aqui é noturna, no véu do luar, no ícone brega de Rosana: “Um animal que ronda no véu do luar”. Aqui vemos a paixão de Helen Flockhart por serpentes, que são os ritmos lunares influenciando as marés, regendo o sangramento dos úteros, no termo “ser de lua”, que designa pessoas que seguem regras alienadas do senso comum, ou no termo “viver no mundo da lua”, numa pessoa alienada, que vive “em outra dimensão”, com seus próprios parâmetros. Aqui é a árvore da Vida, da genética, dos códigos que selam nossos destinos encarnatórios, como encarnar com alguma doença congênita, nas características genéticas que estão definidas a partir do momento em que o óvulo se une ao espermatozoide, num destino selado, fazendo difícil de acreditar que tais características são opções, e não inevitáveis consequências de herança genética. A mulher aqui contempla a Lua, numa luz tão dúbia, que tanto revela quanto oculta, no uivo do lobo para a Lua, espalhando terror pela floresta, nas danças da cadeia alimentar, como na “cadeia alimentar de Hollywood”, a terra que é a prova de que ninguém está por cima o tempo todo, fazendo com que um artista oscarizado encare o deboche da Framboesa de Ouro, que “premia” quem está em tempos de vacas magras em Hollywood, a terra que é tão dura quanto qualquer outra terra. A serpente aqui é a tentação, numa Eva sendo seduzida pelo Mal, pela Malícia, enchendo de culpa a nudez, como na agressão que o Vaticano fez ao desrespeitar obras de Michelangelo, pintando panos que tapassem os sexos das pessoas pintadas – pudor e malícia andam juntos. A árvore é a sustentação, com raízes profundas, como numa pessoa solidificada, estabelecida, firme em uma vida séria e sisuda, nas responsabilidades adultas do trabalho, com tantas pessoas que desde cedo na Vida encaram tal siso, tal responsabilidade, num filho tendo que ajudar a criar seus irmãos mais novos, na “loucura” de uma casa com muitas crianças. A mulher aqui traz pinturas ritualísticas sobre o corpo, como numa cerimônia indígena, com os cocares que servem para dias especiais, na universalidade das festas, das celebrações, como nas vindimas, nos momentos em que a sociedade projeta a si mesma, espelhando-se num espelho sociológico. O leão aqui é a guarda, a garantia, num segurança na porta de algum estabelecimento, como uma joalheria, no fato de que quanto mais tesouros tenho, menos seguro estou, na bênção libertárias das bijuterias, na prova de que o que importa é o efeito do adorno, e não o custo financeiro do adorno em si. A serpente é esta elegância minimalista, como num cabelo aprumado com gel, impecável, sem um fio fora do lugar, num baile de gala, como num Collor, o qual, em sua aparência impecável, seduziu muitos eleitores. O leão aqui é o majestoso leão dos estúdios MGM, numa coragem, intimidando concorrentes, como num lutador num ringue, intimidado o opositor, na universalidade das “quedas de braço” para ver quem é o campeão.

 

Referência bibliográfica:

 

Home. Disponível em: <www.helenflockhart.com>. Acesso em: 1 jun. 2022.

Nenhum comentário: