quarta-feira, 15 de junho de 2022

Helen de Troia (Parte 2 de 9)

 

 

Volto a falar sobre a talentosa pintora escocesa Helen Flockhart. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Dédalos e Ícaro. As asas são os sonhos, com tanta gente “quebrando a cara”, frustrando-se, arrastando-se pela melancólica boulevard dos sonhos despedaçados, como numa pessoa que teve várias expectativas em relação à Vida, vendo cada uma dessas expectativas sendo uma a uma despedaçadas, até a pessoa se ver de mãos abanando, miserável, mergulhando numa fossa depressiva, da qual a pessoa só pode sair se empreender um esforço ENORME para, assim, voltar a ter uma vida estável e tranquila. A porta entreaberta é a saída, a solução, numa pessoa que, em tal crise, tem que ver alguma porta, algum caminho, como encontrar a solução de um labirinto, numa pessoa que está só e desencaminhada, como uma pessoa que abandona um curso universitário sem nada fazer no lugar do estudo, numa pessoa que de certo modo se perdeu existencialmente. Aqui, o rapaz alado é consolado e desafiado, como num abrigo de assistência social, no qual a pessoa em situação de Rua é confrontada pelos psicólogos e pelos assistentes sociais, colocando o “dedo na tomada” do indigente, para acordar este em relação à Vida e à realidade: “Você não pode ficar aqui o dia inteiro; você tem que ir para a Rua para procurar emprego e se reerguer!”. É o desafio da Vida, a qual exige que sejamos homenzinhos responsáveis. A luz aqui entra como pelas barras de uma cela, no modo como a encarnação é tal prisão, exigindo que façamos algo de produtivo em nossas vidas, sem perder tempo com futilidades como fofocas, fazendo do fofoqueiro tal pessoa improdutiva e desinteressante, uma pessoa que pode ser financeiramente rica, mas, no frigir dos ovos, é paupérrima, no modo como tanto encarnadas quanto desencarnadas, as pessoas têm que trabalhar ou estudar! A cadeira é o descanso e o retiro, numa pessoa que precisa de um certo tempo até voltar de um momento de luto, como numa impositiva rainha Victoria, só voltando às suas atividades e responsabilidades após passar completamente o momento de luto pelo falecido marido, na máxima: “Quem já reinou, jamais perde a majestade”, ou seja, uma encarnação como regente deixa no espírito tal altivez, a qual nunca se perde. Aqui temos uma liberdade castrada, como num pobre coitado presidiário, no modo como dizem que o Presídio Central de Porto Alegre é uma sucursal do Inferno, e por quê? Porque é um lugar onde não há amor fraternal, num lugar no qual, definitivamente, não nos sentimos num acalentador lar – é um horror. Os pés descalços são a simplicidade, como na sensação de liberdade que a Praia nos traz, calçando simples, humildes e despretensiosos chinelos Havaianas, numa simplicidade: “Quer sair de casa? Coloque os chinelos e saia!”. Neste cenário, luz e sombras parecem duelar, num limiar entre luz e escuridão, talvez num Ícaro confuso, incerto, como numa pessoa sem muita identidade, como uma dona de casa, a qual, por ser somente do lar, é uma pessoa desinteressante, seja homem, seja mulher – é o desafio de se encontrar algo de nobre para fazer, nas palavras de minha querida avó Nelly, aposentada como professora, tornando-se poetisa: “Sem a poesia, o que faria eu desta tarde brumosa?”. Os homens aqui vestem roupas cinzentas, fazendo do cinza tal cor de discrição e sofisticação, como na heroína inglesa sofisticada Lara Croft, com lençóis cinzas, chic. A luz aqui traz esperança, como se fosse uma voz fraternal em nossas mentes nos dizendo: “Vai passar!”. A porta ao fundo é tal perspectiva, tal promessa, como numa pessoa que entra num curso universitário e, mesmo estando farta no último ano de faculdade, faz um esforço para se formar de uma vez por todas, endurecendo o coração e ouvindo a mente: “Saia da retranca!”. Aqui é como um carinhoso e fraternal médium espírita nos dando palavras de conforto e esperança, num auxílio fraternal, como no “banho de luz” que é o passe espírita, numa sensação reconfortante de calor e consolo, naquele amigo que tanta alegria nos traz, nos amigões para sempre, com os quais certamente nos encontraremos no Plano Superior, a terra da beleza, da juventude, do propósito, do vigor, da liberdade e da produtividade – é o tesão pela Vida.

 


Acima, Eva. Lady Godiva cavalgando nua, como numa certa mulher na lendária boate novaiorquina Studio 54. Toda nua. Aqui ela descansa, e a zebra é o acalento do lar, no amor, no sentido de encontrar alguém especial, que toque num lugar profundo de nosso coração, numa entrega existencial, como se essa pessoa tivesse tal “chave” para acessar nosso âmago. Neste jardim fechado ouvimos o canto dos grilos, os quais não são ouvidos nas noites frias de Inverso, fazendo do grilo tal símbolo sensual de noites amenas de Verão, no ambiente propício para os enamorados enluarados. Aqui voltamos a ver a paixão de Helen Flockhart por serpentes, na Serpente do Éden tentando Eva, a qual não resiste e prova do fruto proibido. Aqui, Eva é dona e senhora do Éden, e suas partes íntimas ainda não estão tapadas, na inocência da nudez, na simplicidade da nudez, na beleza do Corpo Humano, esta invenção de Tao, cuja genialidade suprema podemos contemplar na Natureza, fazendo da Terra algo tão único no Universo, na crença ufológica de que muitas civilizações alienígenas nos observam há muito tempo, querendo entender nosso modo de Vida, mas não querendo interferir neste – eles só querem observar, mantendo-se discretos e imperceptíveis. A serpente segue aquosa, curvilínea, orgânica, num cordão umbilical unindo mar e filho, digo, mãe e filho, no trauma do parto, no indivíduo nascendo numa sala fria e dura: Você pode estar cansado da Vida, mas você, meu filho, será um homem! É o desafio liberal, no qual a pessoa pertence a si mesma, e não a um estado, no choque ideológico que um refugiado sofre ao sair da Coreia do Norte para a Coreia do Sul, as nações em guerra técnica, numa questão em que nem a poderosa China pode intervir, no talento malévolo de Caim matando Abel, nos esforços dos padres no púlpito, dizendo que somos todos irmãos. A cena aqui é noturna, misteriosa, e Eva parece estar esperando por seu amante Adão, o qual não aparece no quadro, trazendo Eva ao protagonismo, longe da crença misógina de que Adão é a obra prima de Deus, fazendo de Eva um mero arremedo com a função de parir – é muito machismo. A zebra, com suas listras, é a capacidade de adaptação do Ser Humano, como um camaleão mudando de cor, com o intuito de não ser visto nem por presas, nem por predadores, na capacidade do grande artista em se reinventar, abraçando um novo desafio, uma nova página em branco. A zebra aqui, com suas listras, quer ser discreta em meio à vegetação, como se soubesse o valor da discrição. As listras aqui são elegantes e aristocráticas, simbolizando nobreza, honestidade e distinção. É como um código binário, formando fotos em preto e branco, na Era de Ouro de Hollywood, com os filmes em preto e branco, numa notável geração de artistas, com mulheres que sabiam portar muito bem seus elegantes vestidos pela tela – o que será que fez de tal geração uma geração tão notável? O código binário é como nos espíritos superiores, mais desenvolvidos do que nós aqui na Terra, espíritos os quais só respondem “sim” ou “não” às nossas perguntas, como num adulto o qual, apesar de ser mais sábio do que a criança, ama esta incondicionalmente – de que ajuda uma inteligência sem amor? São espíritos que dizem a nós: “Como vai, querido pequeno?”. A serpente reluta em chegar perto de Eva, como se a zebra fosse um amedrontador guardacostas. Aqui temos um descanso, no gostoso pecadinho da Preguiça, como ficar um pouco mais de tempo na cama, fazendo da Preguiça a mãe de grandes invenções, como o Telefone e a Roda. Neste jardim lânguido vemos muita Vida, só que discreta, escondida em meio à densa vegetação, como um útero fértil, ou numa mente criativa, no desafio de um publicitário em criar conceitos inteligentes e pertinentes em relação a algum produto ou serviço, na animalesca competição entre anúncios na novaiorquina Times Square. Eva aqui seduz com sua languidez, encorajando um explorador a deflorá-la, no tesão de escalar uma montanha, querendo viver e descobrir, como uma pessoa que, em meio à Depressão, tem que reencontrar tal tesão de viver.

 


Acima, Pallas Athena. O centauro é a porção animal do Ser Humano; é o ímpeto de cavalaria, numa pessoa com tanta energia, tendo que encontrar uma forma de canalizar tal energia, num divisor de águas na vida de uma pessoa, que é o autoencontro, no patinho feio que se descobre cisne. O quarto aqui está limpo, e as folhas estão reunidas num canto. É a sensação catártica de lavagem da alma, naquele filme que faz com que saiamos leves da sala de projeção, na gloriosa sensação de se limpar uma casa suja, habilitando esta para ser de fato uma moradia digna e decente. O centauro está triste, cabisbaixo, talvez lamentando algum desperdício, alguma perda de tempo. As folhas são o lixo espiritual do ressentimento, do qual devemos nos desapegar, na insalubridade de uma casa na qual o lixo nunca é colocado para fora para ser recolhido pelo caminhão sanitário. O centauro melancólico está limitado, olhando para um canto, sem conseguir ver outras possibilidades, obcecado com o próprio fracasso, o qual vem para desiludir e, assim, ajudar a pessoa, no amargo que se revela doce. Aqui remete ao livro Centauro no Jardim, de Moacir Scliar, no realismo fantástico latinoamericano que tanto fascina o Mundo Literário. O centauro é o cio, o tesão, mas aqui num momento “broxante”, de desânimo, num alpinista que se desinteressou pela montanha, na fossa depressiva, o qual resulta de uma frustração existencial enorme, numa pessoa que viu as suas próprias expectativas sendo destruídas uma a uma, como já ouvi falar: “A Vida caçoa de nossas expectativas”. É um remédio amargo que faz muito bem, no termo “Mostrar o que é bom para tosse”, como numa Britney Spears, a qual se sentiu tão humilhada por ter sido internada numa instituição psiquiátrica, na arrogância que precede a queda, como não canso de dizer: Quem é humilde não quebra a própria cara. O salão aqui é vago, digno de receber móveis e itens de decoração, na magia do vazio, na sensualidade da orla, uma folha em branco que tanto nos atrai, fazendo de Tao tal vazio, tal copo que tanto nos serve para servir água, no caminho de uma pessoa em encontrar seu caminho no Mundo, como, no mesmo dia em que redijo aqui, vi duas transexuais na Rua – cada um é livre para viver como quiser, pois não é o respeito o cimento que sustenta a Vida em Sociedade? A moça aqui está elegante, num vestido estampado, que é o cio da Primavera, no tesão de acasalar do centauro, na força da vida renascendo após a rigor invernal, nos vinhedos trazendo a floração, a qual se tornará cacho de uvas, na magia sensual das vindimas, estas festas tão italianas, celebrando o fruto da terra e do trabalho, na universalidade do vinho, sendo feito nos quatro cantos do Mundo. A moça é racional e direta, com sua espada afiada, remetendo a uma espada de meu falecido tio avô, o qual era militar e morreu jovem, deixando a arma como “herança”. A espada é ir direto ao ponto, sem delongas, sem frescuras e sem desnecessidades, na liberdade do pensamento racional, na liberdade de uma majestosa águia, um dos símbolos da democracia dos EUA, numa contradição do Tio Sam: Se os EUA fossem tal baluarte de liberdade, a prostituição naquele país não seria crime, por exemplo. Aqui parece que a espada está punindo, repreendendo e humilhando o centauro, numa punição, como certa vez no Ensino Fundamental, quando fui suspenso do colégio por três dias por mau comportamento – a Sociedade tem seus meios de punição e recompensa. Bem ao fundo no quadro vemos uma escultura, talvez de uma deusa, remetendo à majestosa escultura da Antiguidade no MASP, no modo como tal pedra esculpida soube tanto sobreviver à passagem dos milênios. A espada é tal “alfinetada”, no professor chamando a atenção do aluno, nas “espetadas” num consultório de Psicoterapia, no terapeuta chamando a atenção para o que é importante e indispensável, num processo que pode ter lá suas dores, as quais acabam se revelando necessárias de algum modo. A espada é a autoridade, na máxima absolutista: “O Estado sou eu!”.

 


Acima, Pasifae. A gravidez é a espera, o processo se desenrolando vagarosamente, como já ouvi dizer: A gravidez e o parto são grandes piadas de Deus para com as mulheres. Aqui é a fertilidade, numa matriarca, como numa rainha Victoria, dando à luz muitos filhos, ao ponto de ter o problema de útero caído, como numa assoberbada rainha de colmeia, fadada a manter a Vida numa sociedade, no preconceito patriarcal, como nas malévolas palavras de Hitler, relegando a mulher a três coisas: crianças, cozinha e igreja – Jesus, quanto machismo. É a “vingança patricarcal”, num Mundo de homens, ficando imaginar se um dia veremos uma papiza. O jarro aqui é o receptáculo feminino, no refúgio da garrafa de Jeannie é um Gênio, na mulher reclusa no seu momento de autoestima, como fazer as unhas ou depilar-se, no modo como é tão importante que a pessoa tenha autoestima e goste de si mesma, preservando-se de desgastes, sabendo que o Amor é o segredo da Vida, como numa pessoa que faz o que gosta. O jarro dourado é a cor dourada da vitória, na famosa musiquinha das vitórias de Senna, trazendo orgulho para um país inteiro, no modo como o sucesso pode trazer tantas pressões – como você acha que se sente um jogador de Futebol com um país inteiro pressionando você a trazer para casa uma taça? É como numa Whitney Houston, assoberbada de pressões depois do doce momento de O Guardacostas – o sucesso é uma merda, com o perdão do termo chulo. Aqui é um momento em que a mulher está prestes a parir, sentindo o nenê dando chutes de ímpeto, como um cavalo louco para ser libertado no campo, em dourados ímpetos, como num artista impetuoso, como no Jack de Titanic, combinando sensibilidade com tal ímpeto de avassalar Mundo, neste filme que tanta comoção causou, num manifesto contra a insensibilidade, seduzindo o Mundo inteiro no relato de uma Rose idosa e bem vivida, num filme absolutamente incompreensível para frios e ardilosos sociopatas, pessoas nada humanas. A tatuagem aqui é um marco e um registro, num caminho, numa carreira e numa trajetória, em carreiras brilhantes como uma Fernanda Montenegro, a prova de que humildade é o que nos leva longe da Vida, numa artista antissimplória, que explora todos os meios de expressão cênica, ao contrário de uma certa artista, sujo nome não mencionarei, uma pessoa que talvez nunca pisará num palco de Teatro. A vegetação aqui é o verde do vestido, numa horta fértil e feliz, nos frutos da terra, numa plantação, como na árdua vida de agricultor, trabalhando de Sol a Sol para garantir uma boa colheita, no ato de devoção e dedicação num vinhedo, fazendo a poda outonal e a colheita ao Verão, num colono italiano workaholic, o qual só não trabalhava no Domingo porque o padre e a religião não permitiam. A janela aqui é a saída e a perspectiva, num respiro, num vislumbre a perspectivas. A luz aqui entra suave, difusa, como num dia de densa nebulosidade, no qual os objetos não fazem uma sombra muito nítida no chão. Na cena vemos um abajur, que é o esclarecimento, a solução de dúvidas, numa pessoa conseguindo imaginar o Mundo com tal nitidez, observando o Mundo do jeitinho que este é, sem idealizações ou tolas expectativas, como já ouvi que a Filosofia não muda o Mundo. A mulher aqui é jovem, talvez na primeira gravidez, com incômodos como náuseas, na dureza da vida de mãe, no termo popular “Ser mãe é padecer no paraíso”, na enorme responsabilidade de se criar uma criança, incutindo nesta os valores mais nobres possíveis. Aqui é um solitário momento de reflexão e meditação. A janela é este buraco que mostra uma saída em um labirinto intrincado. A camisa da mulher tem marcas como rastros de colheita em plantações, na marca humana sobre a Natureza, domesticando esta, nas mãos humanas que laboram, no poder de um artista plástico em criar coisas novas, na brincadeira de massinha de modelar. A mão aqui é bem longilínea, com dedos longos, que são uma mente que consegue enxergar longe, no termo “Miopia em Marketing”, com pessoas cuja visão não vai “além da esquina”.

 


Acima, Pulo do Veado. Aqui remete à redentora cena final do filme clássico dos anos 1980, Flashdance, com uma dançarina sonhadora que não se encaixava em padrões rígidos acadêmicos de Balé Clássico, conquistando o exigente jurado, dançando esfuziantemente numa canção moderna, pop, nessa incrível sinergia pop dos anos 1980, uma década tão particular e cheia de jovialidade, com jeans rasgados e desbotados, com cabelos arrepiados, no termo de gíria “chocante”, numa inocente era em que não se imaginava mídia mais moderna do que o disco de vinil, a fitinha cassete e a fita VHS – bons tempos para quarentões como eu. A bailarina aqui é como Fred Astaire e Ginger Rogers, praticamente voando no ar, numa enorme disciplina de exaustivos ensaios para não fazer feio perante a câmera, em tal era de ouro de Hollywood, em um deslumbrante panteão de ídolos que embalaram tantos sonhos em meio aos anos escuros da II Guerra Mundial, na eterna estupidez humana em busca de poder, poder e poder, fazendo da ambição a inimiga da paz – como pode haver paz num vizinho invejando o gramado do outro? A bailarina aqui é leve como uma pluma, num efeito deslumbrante, como numa competente topmodel numa passarela, numa elegância e numa sensualidade, como no boom de supermodelos nos anos 1990, em divas como Linda Evangelista e Cindy Crawford, para citar só algumas, como se fossem herdeiras de tal verve hollywoodiana. A plateia aqui está apática, como perguntado a Marília Pêra o que a fazia feliz e o que a fazia triste, respectivamente: uma plateia cheia e uma plateia vazia. Aqui é como o Mundo pode ser tão insensível e indiferente em relação a um artista, como nos reconhecimentos póstumos de Van Gogh, o qual, em vida, provou o amargo sabor do fracasso, nas desilusões que servem para colocar nossos pés de volta no chão, pois o Mundo não pertence aos realistas? Podemos aqui neste cômodo ouvir a música, no formidável e inevitável casamento entre as artes – o que seria da Dança sem a Música? Os veados aqui são animalescos, como numa fria indiferença, como numa pessoa insensível, um vampiro, um psicopata, o qual desdenha da arte e da sensibilidade, fazendo de obras como o Livro de Tao algo só compreensível para quem tem um coração no peito, ou seja, para quem tem inteligência emocional, como um certo professor que tive certa vez, e é fácil de se detectar a sociopatia, pois este professor disse em aula, de fato, que considerava o Mal mais interessante do que o Bem – viu como é claro de se observar? Os lustres aqui são o esclarecimento, no modo como até pessoas sábias e letradas podem ter preconceito ignorante, como na questão da inclusão da transexualidade, pessoas que, em meio a tal escolha livre e pessoal, devem ser respeitadas pelo Corpo Social – cada um faz o que quiser fazer consigo mesmo, não? A parede aqui é o tom de Mar, no ar fresco da orla, na sensação de liberdade que temos quando estamos na praia, no espaço vazio da beirinha, numa folha em branco pronta para ser preenchida, na Grande Mãe Mar, da qual todos viemos e para a qual todos voltaremos, como na metáfora ao fim de O Senhor dos Anéis, com barcos rumando a praias brancas e lindas de paz, ao som da canção de Annie Lennox: “Os navios chegaram para carregar você para casa!”. As cadeiras vazias aqui são tal folga, tais férias, numa pessoa que, tendo passado por uma experiência workaholic, percebeu que não é positiva tal feita de respeito para consigo mesma, na questão da pessoa se dar ao respeito – a Vida não abona os workaholics, bem pelo contrário; pune estes. Ao fundo vemos uma porta escura, que é a liberdade, como na dica do Feng Shui de se posicionar móveis em sentido de U, com a abertura voltada para fora: quem quer entrar, entra; quem quer sair, sai. O carpete aqui é o conforto, o aconchego do lar, numa pessoa de pés descalços dentro de casa, num lugar onde estamos muito à vontade, fazendo com que nossos convidados se sintam bem em nossa casa. A dançarina é o êxito e o sucesso, num artista em um momento de pico, como ganhar um Oscar.

 


Acima, Venha para o meu jardim. A Lua é tal força de libido, regendo as marés com a força gravitacional, nos ciclos menstruais, fazendo da Lua tal símbolo de feminilidade, prateada como um espelho feminino, com ciclos que pouco se importam com a sisudez adimplente do Sol, o qual sempre nasce invariavelmente, na garantia do Yang, num homem de palavra, honrando as próprias promessas, ao contrário de um político mentiroso, mal se importando com as próprias promessas de campanha – a palavra é o maior bem de um homem. Aqui temos uma cena brutal de cadeia alimentar, com a pantera negra abocanhando a zebra herbívora, nas leis da Natureza, na dureza material do plano dos encarnados, numa cena que, aparentemente brutal e violenta, é do curso; é natural. São as necessidades materiais, como um banho diário, fazendo com que nos aproximemos ritualisticamente do Plano Metafísico, o plano da limpeza e do perfume perene, na fragrância metafísica de Chico Xavier, na prova de que um perfume só faz efeito se usado por uma pessoa de atitude elegante – de nada vale uma moldura majestosa para um quadro medíocre. A Lua aqui ilumina esta cena de Natureza, no uivo do lobo ao luar, no ícone brega da canção: “A música na sombra. O ritmo no ar. Um animal que ronda no véu do luar”. Aqui é um boom natural de Big Bang, com folhagens luxuriantes, tropicais, algo tão além de uma Helen escocesa, morando num país frio e cinzento como a Escócia, num sonho tropical de exuberância, no fascínio que os trópicos exercem sobre os moradores de terras frias, como no deprimente e longo inverno escandinavo. A zebra aqui grita de dor, no modo como as dores são inevitáveis, como uma pessoa que conheço, a qual acabou de perder um filho suicida – o luto passa, mas a dor não, no sentido de termos que aprender a conviver com tal dor, como no seriado Chaves, no qual os personagens, morando na mesma vila, têm que aprender a conviver uns com os outros, na sabedoria popular: “Vizinho não se escolhe; vizinho se tem”. O escuro noturno é o mistério, em mistérios insolúveis, como Tao, o inconfrontável, nos mistérios poderosos da Eternidade, na prova de tal poder imenso, que nenhuma régua pode medir, no absurdo maravilhoso de que jamais findaremos, dando um “frio na barriga” ao imaginarmos tal dádiva de Tao, o mistério eterno, como no seriado The Nanny, com um charme que girava em torno do eterno flerte entre babá e patrão – a partir do momento em que os dois se casaram, perdeu-se o charme do show televisivo. A mulher nua se banha ao luar, na canção inesquecível: “Tomo um banho de Lua. Fico branca como a neve”. É uma entrega sensual, como se seduzida pelas leis da selva, numa gata em cio, num nu natural, sem malícia. Bem ao fundo no quadro, de forma muito sutil e coadjuvante, um misterioso homem, o qual deseja observar, talvez cobiçando a mulher, em meio a trevas, no papel importante de um personagem coadjuvante, como se duelasse com o protagonista, no ditado: “Por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher”. Só que aqui é o contrário, pois o homem está por trás da mulher, talvez num casal em que a mulher é mais bem sucedida pelo homem, algo mal visto pelos preconceitos machistas do patriarcado, nos quais o homem tem que estar sempre acima da mulher, numa mulher que realmente quer ser tal ator coadjuvante, conformando-se em trabalhos caseiros que não trazem preenchimento existencial a tal dona de casa. Aqui Eva assume a liderança, e Adão, a obra prima de Deus, está retirado e quase oculto, no Sol durante a noite, iluminando a Lua e dando a impressão de que esta tem luz própria, na dança de sedução de opostos que gera o Universo. Aqui, a serpente do Éden também está sutil e coadjuvante, no aspecto clean de tal animal, sem braços ou pernas, escorrendo como água curvilínea, nos fluxos naturais de água, formando rios, lagos e mares, no modo como, pelo menos no nosso sistema solar, a Vida é tão rara. A mulher aqui aceita leis naturais, e não parece estar escandalizada com tal cena de ataque felino.

 

Referência bibliográfica:

 

Home. Disponível em: <www.helenflockhart.com>. Acesso em: 1 jun. 2022.

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