quarta-feira, 22 de junho de 2022

Helen de Troia (Parte 3 de 9)

 

 

Falo pela terceira vez sobre a talentosa pintora escocesa Helen Flockhart. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Acerto de Contas. Uma rosa desabrochando, com hormônios adolescentes na explosão de Vida, no boom primaveril, onde toda a Vida renasce em libido no instinto de perpetuação da espécie, como um cachorro transando com uma almofada, na flor dos amantes, dos apaixonados. A rosa é esta delicadeza, num fidalgo símbolo fino de poder, como na flor de Lis da França, simbolizando a polidez acima da grosseria. Aqui é como um rocambole fatiado, mostrando sua estrutura interna, no trabalho científico de análise, na curiosidade de se desmontar um relógio, na curiosidade de da Vinci em analisar cadáveres, muito tempo antes da Revolução Científica, no trabalho metódico de cientista, procurando evidências frias e racionais de que há Vida fora da Terra, este planetinha tão único nosso. No centro deste labirinto vemos o terrível Minotauro, o guardião, numa cilada, como na traiçoeira toca da monstruosa Laracna de Tolkien, no talento de pessoas descomunais, excepcionais, causando perplexidade, na figura do brujo, o feiticeiro da tribo, uma pessoa de enorme inteligência emocional, instintiva, intuitiva, uma pessoa que vai desbravando inconscientemente seu próprio caminho, até alcançar sucesso e respeito, como numa respeitável Lady Gaga, uma pessoa que, vindo do nada, conquistou o Mundo – não há livro ou faculdade que nos diga “Dez passos para se brilhar”, num caminho autodidata, no caminho existencial do autoencontro, o qual é sempre dentro da pessoa, nunca fora, no modo como minha vida não vai mudar enormemente só porque me mudei de cidade; no fato de que a Vida é dura em qualquer lugar, esta força impositiva que, em tais percalços variados, vai nos depurando e fazendo de nós pessoas mais nobres, humildes e finas. Os cornos do Minotauro são essa libido, num lugar fechado, claustrofóbico, no qual tal ente é dono e senhor, sendo só questão de tempo até que ele nos encontre, num jogo de gato e rato, em coisa inevitáveis, numa pessoa que, com talento e potencial, precisa de persistência, como uma Paola de Orleans e Bragança, uma pessoa que tinha tudo para se tornar a “Anastácia Romanov dos trópicos”, mas uma pessoa que, infelizmente, acabou abandonando a lida, numa pessoa que tinha o potencial de encher o Brasil de orgulho, na nobre proveniência europeia que cerca a Família Real Brasileira, tal qual um Senna trazendo o ouro para casa – uma coisa é ser princesa de jure; outra, é ser princesa de facto. Que desafio, não? A cor aqui é carnal, de bordel, num abajur cor de carne, na “Casa da Luz Vermelha”, num Brasil que não criminaliza a prostituição, num cidadão que tem o direito de fazer o que bem entender de seu próprio corpo, numa vida dura, tendo que transar com estranhos para ter o que comer. Vemos aqui alguns animais, talvez no caminho inevitável do abatedouro, sendo conduzidos a seu destino selado, que é servir de alimento, como um furioso T-rex no genial blockbuster de Spielberg que tantas multidões atraiu aos cinemas do globo inteiro, numa das provas da universalidade da Arte, a força que nos faz humanos, longe de animais. Vemos algumas árvores frágeis, que são os sentimentos, numa vulnerabilidade e numa fragilidade, numa dolorosa briga de namorados, como numa dona Florinda, a qual desabou completamente ao brigar com o amado professor Girafalez. Aqui é um desafio de uma pessoa no trajeto do autoencontro, cheia de dúvidas, num caminho traiçoeiro, cheio de pistas falsas, como numa genial Agatha Christie, atraindo o leitor por pistas falsas, sempre surpreendendo ao final, no modo como são raros os leitores que adivinham quem é o assassino antes de terminar livro, num desafio, numa AC divertida. Aqui é um desnorteamento, num longo e penoso processo, até a pessoa encontrar um fio terra, uma referência, uma pista, algo de nobre para fazer de seus dias aqui na Terra, o lugar onde nenhum trabalho é em vão, nem mesmo o humilde e anônimo trabalho do gari varredor de ruas, pois tudo faz parte da construção da Grande Carreira Espiritual, até o espírito chegar ao ponto de Arcanjo, um espírito de perfeição moral.

 


Acima, Dama das Bestas. A magia da Lua remete ao MAJESTOSO quadro de Pedro Américo, A Noite, numa deusa enluarada trazendo estrelas para o céu num prato prateado, numa quase divindade, um quadro o qual tive a rara oportunidade de ver “ao vivo e a cores”, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, numa peça imponente, enorme, na primeira obra aos olhos do espectador que visitava a mostra no célebre museu, numa musa com seus cabelos negros como a noite, como na donzela Arwen de Tolkien, a Estrela Vespertina anunciando o fim da jornada, nos sonhos de qualquer pessoa em se tornar uma estrela, uma referência, um ponto de luz guia no céu, algo que vale mais do que qualquer dinheiro mundano, algo sem sexo ou nacionalidade, num brilho vibrante, coruscante, vibrando no ritmo da Vida, do coração, pois, já ouvi dizer, a Vida é o nervo da Arte, nos mistérios da Vida, num coração que pulsa e bombeia sangue, como numa urbe vibrante, numa agenda social excitante, num lugar onde todos são produtivos, num lugar que é o paraíso para quem gosta de laborar e construir algo na Vida. Vemos em segundo plano uma alcateia ou matilha, numa ninhada, numa fertilidade, numa cadela parindo vários filhotes, no milagre da Vida, como numa Nossa Senhora cercada de flores e anjinhos, num canto celestial angelical de vitória, de força, na vitória da Beleza sobre a Vulgaridade, no índio de Erico Veríssimo narrando uma visão que teve com a Santa Mãe, num Veríssimo tão rico, tão incólume, na vitória do talento sobre a mediocridade. O cervo aqui é a beleza, como na cena do filme A Rainha, na qual a soberana tem um momento pessoal de luto pela morte da nora Diana, numa cena em que Elizabeth vê um belíssimo alce selvagem, dizendo a este: “Você é uma beleza!”. É o toque de Tao na Criação, num sistema evolutivo que se autorregula, como nos sonhos liberais de Smith numa economia global autorregulada, sem interferências estatais, no oposto comunista, que é o Estado Absoluto, na Guerra Fria que tanto tempo durou. Ao lado da donzela vemos um arco e flecha, só que desativados, talvez numa depressão, no modo como a pessoa deprimida perde totalmente o tesão de viver, tendo que trilhar um esforço enorme para voltar a ter uma vida plena e produtiva. É a flecha de cupido, que é o falo racional, furando um coração que não está blindado, no modo como podemos observar que está de coração fechado para pretendentes uma pessoa cujo coração já tem um dono enamorado, ao contrário de uma pessoa infeliz que leva vida dupla, num estilo de vida que realmente falta com a integridade da pessoa, numa pessoa “em cima de um muro”, em dúvida, sem viver de verdade – é muito triste. A moça tem um vestido farto, e está sentada, descansando, numa pessoa que, em momento de luto, só voltará quando o processo escuro passar, dando tempo ao tempo, na sabedoria de que as tristezas passam, como numa pessoa que, recobrada, consegue sorrir e rir novamente, como numa Carrie no filme Sex and the City, magoadíssima por um noivo que simplesmente não foi à igreja ano dia do casamento, uma noiva que, num majestoso Vivienne Westwood, despedaçou as pétalas do buquê batendo no amado, fazendo metáfora com o coração despedaçado de Carrie. Esta selva está repleta de Vida, na crença ufológica de que estamos cercados de vida alienígena, fazendo de Tao este grande arquiteto que traz vida a todo o Cosmos, na curiosidade tenaz de um Mulder de Arquivo X, no lema: “Eu quero acreditar”. A Lua cheia anuncia que tudo pode acontecer nesta sensual noite tropical, com as folhas nas árvores farfalhando, sussurrando, como o som sutil de veludo roçando, numa Kim Basinger em LA Confidential, na diva abocanhando a tela, numa aparição digna de grande estrela, numa atriz que teve lá seus altos e baixos na vida – fazer o quê? A selva tem seus sons furtivos, na letra de Cole Porter em Night and Day, nos mistérios de uma mata virgem, causando fascínio a uma pessoa da “selva de pedra e concreto”. A moça aqui precisa de um tempo para se recobrar, como na recuperação de uma cirurgia, como uma pessoa que conheço, a qual teve que fazer uma mastectomia, uma pessoa que, depois de período de se recobrar, voltou plena à Vida.

 


Acima, Labirinto. O filme Labirinto, com o deus pop David Bowie, angariou muitos fãs ao astro pop, e eu fui um deles. A trama é com Sarah, uma menina que, na transição de menina para mulher, tem a obrigação de resgatar o seu irmão bebê das garras do malévolo rei dos Duendes, tendo que Sarah encarar um labirinto traiçoeiro, cheio de armadilhas e pistas falsas. Aqui é como na claustrofobia de O Iluminado, num hotel mal assombrado que causa um fenomenal surto psicótico no personagem do deus Jack Nicholson, num Minotauro rei de um labirinto, esperando para abocanhar suas vítimas, sendo só questão de tempo até a caçada ser concluída. Aqui remete ao labirinto verde no município de Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha, num lugar desafiador, desafiando-me a me encontrar na vida, tendo que lidar com pistas falsas e armadilhas, com tolos sinais auspiciosos. Aqui o Minotauro repousa calmamente, sem presas em potencial no momento. É o retiro, uma aposentadoria, uma pausa, umas férias, na revolução getulista dos direitos do trabalhador, com um mês inteiro de férias remuneradas, num líder popular, populista, mas na prova de que uma pessoa feliz não se suicida – o poder traz felicidade? O Anel do Poder traz felicidade? Aqui é como no desenho do cérebro, com meandros tão traiçoeiros, com ruas enganosas, num processo de autoencontro, num processo longo e penoso, que pode levar muitos anos, numa pessoa que se vê obrigada a encontrar seu “fio terra”, seu canal, para, assim, canalizar sua própria energia, fazendo algo de produtivo de seus dias aqui na Terra, esta esfera na qual só é feliz quem é produtivo, na relação de continuidade com o Plano Metafísico, no qual permanece viva e plena a noção de que devemos nos manter produtivos, no modo como Tao é esse labor, este ente que está sempre produtivo, deixando-nos perplexos com a riqueza biológica do planeta Terra, um pontinho azul visto de Marte. O Minotauro aqui é a solidão, nessa pitada de solidão que é a Vida, num momento em que a pessoa conversa consigo mesma, numa pertinente pitada de solitude, no modo como até Tao se retira às vezes, saindo da vista de qualquer um, no modo como todos nós precisamos de tal momento de retiro às vezes, numa pessoa reservada e quieta, como no divertido filme Dogma, no qual Deus é este ser que às vezes se retira da vista de todos, num filme que, com jovial irreverência, só vem a elogiar e fortificar a Fé da Igreja, num Deus que, apesar de poder imenso, é brincalhão. Aqui o labirinto está em silêncio e meditação, num momento de aposentadoria, e não há aqui presas a serem abocanhadas pelo feroz Minotauro. É no conto grego de Teseu, desafiado a encontrar um ponto de saída no labirinto, tendo que enfrentar o monstro carcereiro, numa pessoa que se vê desafiada a encarar um certo fato ou uma certa verdade na Vida, num choque de realidade, como numa pessoa que encara um momento de internação psiquiátrica hospitalar, no termo “colocar os dedos na tomada”, num choque de realidade, numa pessoa que se sente tão humilhada num episódio de internação, como numa Britney Spears em surto psicótico, encarando um lugar e um contexto nos quais não era estrela nem famosa, dizendo aos próprios fãs: “Fui a um lugar humilhante chamado Reabilitação”. Aqui, o Minotauro está centrado, focalizado, talvez encarando algum fato, debruçando-se existencialmente, talvez se sentindo acuado dentro de seu próprio labirinto, no fato de que a pessoa coloca a si mesma dentro de tal situação, na frase: “És teu próprio inimigo”. O monstro aqui está exaurido, cansado, tendo que se recobrar talvez de uma humilhante queda, nas crises que acabam causando uma desilusão, uma desilusão que, quando chega , é para o bem, colocando no chão os pés da pessoa, na frase de uma certa psicoterapeuta: “As crises são positivas”. O Minotauro está ponderando e meditando, sozinho, como se estivesse pesando as coisas numa balança, num momento solitário de introspecção, na saudável solidão do lar e do retiro, numa pessoa encarando a própria existência.

 


Acima, Touro Cólquida. O Sol é a majestade, no deus sol egípcio, no início do musical O Rei Leão, na Broadway, com o forte Sol africano raiando e trazendo um novo dia, numa força avassaladora, numa estrela sem a qual a Vida não seria possível. O Sol é a magia dourada da Aurora, na Galadriel de Tolkien, gélida, porém bela. É um campo de amanhecer de geada, quando o capim esbranquiçado parece ser feito de cristal, no microclima da Serra Gaúcha que tanto fascina o resto do Brasil. O Sol é o ouro e a recompensa, nas cores do sucesso, este amante tão infiel, que hoje faz amor com você, mas amanhã deixa a cama vazia, nos inevitáveis altos e baixos da Vida, na liquidez que nos leva a extremos, como num ator oscarizado que levou o prêmio deboche Framboesa de Ouro, nesta gangorra hollywoodiana que nos ensina a não ser arrogantes, pois a arrogância precede a queda, meu irmão. O touro é a força e a coragem, no famoso touro de Wall Street, neste rei possante, forte, que gere com virilidade e coragem, conquistando a confiança do povo, como num firme Churchill, guiando a Inglaterra contra a ameaça letal de Hitler, o senhor malévolo da destruição, um sociopata que simplesmente quis acabar com qualquer vida sobre a face da Terra. Os chifres do touro são tal tesão, tal vontade, no ditado popular: “Deus ajuda a quem ajuda a si mesmo”, numa pessoa paladina, que não se “atira nas cordas” do ringue da Vida, num menino que quer ser homem, apesar de tantas frustrações depressoras e desapontantes da Vida, nas palavras de Barbra num show: “Você pode perfeitamente sobreviver às decepções da Vida”, pois como a Vida pode ser exatamente o que espero que seja? Que graça ou sentido haveria numa vida completamente prevista? O touro aqui esguicha um fogo, um empenho, no termo “monstro”, que designa pessoas que brilham descomunalmente, como no “tsunami” que é Gisele, ditando tendência capilar há vários anos, com mulheres ao redor do globo copiando seus cabelos longos ondulados. O touro aqui é quase grosso, é viril, e é de serventia, no juramento na coroação de um rei, jurando servir a seu próprio povo, num rei que sabe que, para ser rei, nunca pode se afastar de seu próprio povo, no modo como a repentina morte de Diana expôs a distância entre Elizabeth e os britânicos, na manchete de um tabloide inglês: “Onde está nossa rainha?”, fazendo a monarca se sentir acuada e forçada a tomar alguma atitude frente ao povo. A mulher aqui, agarrada ao touro, é a dependência, como num casal que viveu décadas assim, com o homem fazendo o papel de provedor e a mulher no papel de dona de casa, havendo uma forte ruptura no falecimento de um dos dois, como um viúvo que recém perdeu a esposa, encarando a dureza de reinventar a vida, fazendo coisas que sua esposa fazia em seu lugar, como supermercado. O vermelho da mulher é a dor da menstruação, fazendo com que as mulheres sejam tolerantes com um pouco de dor, ao contrário dos homens, que não sabem o que é cólica. A mulher é a adesão, como um carrapato, como num casal feliz, com a paciência para que um aguente os defeitos do outro, como um não fumante suportando um fumante. A mulher aqui embarca numa onda, numa pessoa com tal alma de surfista, pegando um impulso num cipó, como num ator se agarrando ao máximo a um papel divisor de águas na carreira de tal ator, como num Viggo Mortensen, o qual se tornou astro de fato após seu impecável Aragorn, no modo como o Mundo dá voltas e como não devemos subestimar as pessoas. A mulher aqui grita, como a “patroa” repreendendo o marido, mostrando quem manda dentro de casa, nas inevitáveis brigas de casais, fazendo com que existam psicoterapeutas que fazem terapias para casais. Aqui é um baque forte, um impacto, num touro tão forte, como no personagem Pacato, de He-Man, um tigre medroso que se transforma no corajoso Gato Guerreiro, o companheiro do super herói, na metáfora do Clark Kent e o Super Homem: curve-se e seja pacato para, assim, reinar, pois não é insuportável uma pessoa prepotente, que se acha imune a erros?

 


Acima, Venha para dentro de meu palácio, querida. Aqui é a magia de uma debutante, fazendo metáfora com o frescor da Primavera, da renovação da Vida. Aqui é a Bela no palácio da Fera, no embate entre Yin e Yang, na Vênus “domando” Marte, na máxima taoista: “Entenda a força do Yang, mas seja mais Yin dentro de você mesmo”, no sentido da pessoa levar uma vida pacata, em paz com o Cosmos, como se despedir de um amigo após visitá-lo, na sabedoria de um rei que sabe que não deve interferir no dia a dia pacato do cidadão, sempre cuidando para que os impostos não sejam abusivos. A plantinha aqui é a Vida lutando para prosperar e sobreviver, na brincadeira de crianças em colocar um grão de feijão num algodão molhado, no milagre da Vida surgindo, num espírito com tesão pela Vida, estando desencarnado ou encarnado, na forte relação de continuidade entre Vida e pós Vida, numa pessoa que conserva seus traços de personalidade e singularidade, no modo como Tao nunca faz dois filhos iguais. Aqui é a vaidade de uma Evita, mandando vir da Europa um vestido junto a um manequim de madeira, para assim evitar que a peça se amassasse, numa mulher exigente, que cobra muito do marido, numa fome infindável por ascensão social, numa “domadora” que colocou um homem na linha. Aqui é ironia de metalinguagem, pois é arte falando de arte, ou seja, Helen Flockhart pintando esculturas de forte apelo clássico, grecorromano, nos cânones ocidentais de beleza, havendo, de certa forma, uma ocidentalização do Mundo, com mulheres japonesas dispostas e fazer uma cirurgia plástica de pálpebra para “ocidentalizar” seus olhos. A moça aqui é frágil, fraca e magra, e seu vestido é como uma vulnerável camélia no pé, caindo por qualquer vento, nos versos carnavalescos: “Foi a camélia que caiu do galho, que deu dois suspiros e depois morreu!”, numa certa melancolia em frente a uma colorida festa de Carnaval. A luz entra pela janela, e é o esclarecimento, talvez num processo de autoesclarecimento, numa pessoa que, com o passar do Tempo, vai adquirindo certa consciência, como numa pessoa que sabe direitinho o que quer fazer da Vida, abraçando uma carreira, como numa feliz Marisa Monte, deusa da MPB, uma artista respeitadíssima, que diz amar o que faz, e isso é uma dádiva, sendo a Elis Regina da nova geração, à qual pertenço, nos versos de Elis, que dizem que o novo sempre vem. Aqui é como uma coleção inestimável de algum museu, num farto Louvre, no qual precisaríamos de um ano inteiro dentro dele para apreender tudo o que nele existe, na riqueza da França, numa Paris que por tanto tempo foi o centro do Mundo, nas noções civilizatórias eurocentristas, no casamento entre simplicidade e sofisticação, como num jantar de apenas pão e vinho, numa Paris que tantos turistas atrai. A mulher aqui está aprisionada, talvez esperando pelo príncipe encantado que a libertará, no final de Uma Linda Mulher, com o homem empunhando seu guardachuva fálico, na chave fálica que entra na fechadura vaginal, libertando a mulher e abrindo um coração, na dádiva que é termos na vida alguém que toque fundo em nossos corações, num momento mágico, o qual, apesar de passar, é eterno, pois quem vive encarnado para sempre? Vemos ao fundo uma penteadeira, que é a vaidade, a autoestima, numa Evita que levava quarenta minutos de manhã para se aprumar para um novo dia. O espelho remete a um certo rapaz que conheci, o qual ficava encantado com sua própria beleza frente a um espelho, uma pessoa cuja beleza não lhe garantiu o estrelato, na sabedoria popular: “Beleza não põe à mesa”, sendo estelares pessoas que não são exatamente belas. Os cabelos arrumados da moça são tal garbo, numa pessoa que se preparou para algum compromisso, numa expectativa, como em algum evento social, como numa entrega de prêmio, na competição para ver qual das mulheres no evento tem o vestido mais deslumbrante, na agressividade competitiva por trás de um inocente concurso de beleza. O palácio pode ser uma prisão bela, porém prisão, numa pessoa que precisa fazer algo de produtivo.

 


Acima, Zoológico. Aqui vemos um embate e um confronto, como numa pessoa que, de forma muito repentina, adquiriu as rédeas de sua própria vida, vislumbrando um terrível fundo de poço existencial, numa depressão que estoura com todas as suas forças. O pássaro esverdeado é a beleza, num pavão cortejando uma fêmea, no jogo de sedução entre opostos, como brancos contra pretos no tabuleiro de Xadrez. A ave é a fartura de uma mesa de ceia de Natal, com um belo pássaro assado, numa mesa farta, com cada membro da família levando algum prato para compor a mesa. A mulher com a capa rubra é a exuberância, num voo sendo alçado, nas ambições humanas exploratórias, planejando pisar em Marte num futuro não tão distante, numa Humanidade tão aquém de entender o que é a Vida Eterna, esta força que faz com que nunca findaremos, na prova do poder imensurável de Tao, que é o enigma infinito. A mulher tenta aprisionar o animal, numa domesticação, num condicionamento, na imposição de ordem ao caos na Natureza, esta força que tanta influência causa ao ser encarnado, como observar além de um vidro opaco, que pouco nos revela espiritualmente. O chão aqui é terroso, simples, como numa adega com as bebidas das entranhas da terra, no fascínio dos vinhos, produtos caros, pois há impostos e um alto custo de produção, como nas colheitas, que são obrigatoriamente feitas a mão. Esta capa rubra é a capa que cerca a Eva de Michelangelo, a “cadela” sendo dada a Adão, relegando a mulher a um eterno papel coadjuvante, um mero útero reprodutor a serviço de uma coroa, na tragédia da vida de Grace Kelly, a mulher que abandonou uma carreira brilhante e apolínea, tudo para que se casasse com um caralho coroado, com o perdão do termo chulo. A mulher aqui usa um farto colar de ouro, no fascínio de metais preciosos e pedras preciosas, itens que podem ser um problema, pois quanto mais tesouros tenho, menos seguro estou, como um casal de amigos meus, os quais sofreram um terrível assalto, dando aos bandidos sua coleção de joias preciosas – vão-se ao anéis; ficam o dedos. Ao fundo vemos um cabrito cabisbaixo e humilhado, talvez numa pessoa com sonhos frustrados, chegando ao ponto de querer mudar de carreira, tal a decepção, como no ator Ronald Reagan se tornando político. Atrás do cabrito melancólico, vemos três crianças reservadas, assustadas e submissas, como se estivessem rezando num velório pela alma do falecido, numa homenagem fúnebre, como na lúgubre reabertura do túmulo de uma Evita embalsamada – é sábio deixar os mortos quietos em seus jazigos. Ao fundo vemos uma lareira ardente, que é o desejo ardente, talvez num casal apaixonado, no acalento de uma lareira numa Escócia tão fria e úmida, numa Helen sonhando com um tempo tropical, de calor sedutor, com roupas curtas e frutas exóticas. A lareira é o ardor dos amantes, dos casais apaixonados, no calor de uma Lua de Mel, um calor que pode cair na mesmice e esfriar com o passar do tempo, como uma pessoa que conheço, a qual se separou de um marido que, por sua vez, deve ter deixado tal calor esfriar. Bem ao fundo no quadro vemos arcos, que são a humildade e a reverência, no discernimento taoista de que o Mundo é dos humildes, das pessoas que têm os pés no chão, pois a desilusão fria e dolorosa vem para ajudar a pessoa, acordando esta para a realidade, a qual é dura, mas não é impossível. Muito ao fundo do quadro vemos um cachorro sozinho, que é uma sensação de abandono, de solidão e de carência, numa pessoa se decepcionando com a Vida, tendo que empreender um esforço titânico para reencontrar o tesão pela Vida.  A mulher aqui quer encobrir o pássaro, talvez num acolhimento, num ato de caridade, que significa dar um empurrãozinho para quem precisa, no nome de um certo centro espírita: “Fora da caridade não há salvação”, não no sentido de dar esmola, mas no sentido de dar uma assistência a quem precisa de um auxílio. A capa esvoaçante é o poder da liberdade, nuns EUA que tão a sério levam os conceitos contemporâneos de liberdade, esta força libertadora do Amor, algo tão subestimado pela crueldade humana.

 

Referência bibliográfica:

 

Home. Disponível em: <www.helenflockhart.com>. Acesso em: 1 jun. 2022.

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