quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Xul é show! (Parte 1 de 3)

 

 

O argentino Alejandro Xul Solar (1887 – 1963) foi para Paris em 1924, onde se aproximou do Cubismo, Surrealismo e Expressionismo. Inteligentíssimo, foi poliglota e muito amigo de outro monstro as Artes, que é Emilio Pettoruti. Multimídia, foi também poeta, escritor e músico. Pertence ao acervo de vários museus, inclusive o Malba, de Buenos Aires, cujas obras integram estas três postagens sobre Xul Solar. AXS fez vinte mostras entre 1920 e 2013, várias, é óbvio, póstumas. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Eu, o oitenta. 1923. Os olhos estão invertidos, como nas metades de bola no Congresso em Brasília, em uma oposição, num equilíbrio, no modo como cada um de nós tem dois olhos: um avançado e outro conservador, como na transgressão da pirâmide de vidro no Louvre, numa advertência: O tempo passa, meu amigo. Aqui é um rosto sério, melindroso, como num certo astro, cujo nome não mencionarei, um homem que simplesmente nunca foi visto sorrindo em público, como outra certa popstar, uma mulher a qual, mesmo sorrindo, tem os olhos tristes. O nariz aqui é uma flecha incisiva, exata, racional, abreviando estradas e vendo o Mundo do jeitinho que este Mundo é, no modo como a Filosofia não muda o Mundo, pois, no frigir dos ovos, continua tudo a mesma merda, com o perdão do termo chulo, e isso é um pensamento encorajador, pois a onda, aos olhos do surfista, sempre terá o mesmo tesão e desafio, na questão da pessoa encontrar tal tesão pela Vida, numa árvore que se esforça para ter seu lugar ao Sol, nas palavras de uma certa médium espírita: Deus não quer que nos “atiremos nas cordas”, nas palavras de Dercy: “A Vida é luta!”. A boca aqui tem tal simetria, tal equilíbrio, e está fechada, numa renúncia, como na disciplina de uma pessoa que quer perder peso, no termo “fechar a boca”, nas palavras de Tao, que é “fechar a boca”, no exemplo de um certo ator o qual, muitos anos atrás, expôs-se muito em uma entrevista para a revista Veja, causando ao ator um desgaste público enorme, como nas palavras de um Eminem, que disse que o Pop é um estilo musical para bichas, o que não é verdade, Eminem. Aqui temos uma truncagem de formas com arestas, como numa tensa negociação, como a extensa e desgastante negociação para Marília Gabriela entrevistar Madonna, como se esta estivesse testando a paciência da entrevistadora, na estrela impondo vários embargos até decidir dar tal entrevista, numa dificuldade, num trabalho árduo, no modo como um Leonardo DiCaprio teve que trabalhar tanto na carreira até ganhar seu merecido Oscar, numa Hollywood tão bela e tão dura, com muitos atores que, vendidos como grandes promessas, acabam malogrando. Na porção esquerda do quadro vemos uma torre, uma flecha, no guardachuva fálico no final de Uma Linda Mulher, na donzela sendo libertada de sua torre pelo paladino príncipe fálico, um homem que faz uma sólida proposta de casamento a uma mulher, digno de ganhar o respeito dos sogros, talvez um homem muito pragmático, não muito romântico, num Sexo que começou a se tornar mecânico, numa mulher sensível, que quer romantismo, como sedutores lençóis de cetim. O rosto estilizado aqui tem uma leve vermelhidão, na vermelhidão da pudica Vênus de Botticelli, tapando seu sexo com suas longas melenas de Gisele, a mulher monstruosa que simplesmente se tornou um mestre do Universo, numa menina comum que adquiriu carisma de princesa. O pescoço aqui é firme, ao contrário da aparência frágil do busto famoso de Nefertiti, parecendo que está prestes a quebrar, na feminilidade sutil contra a clareza fálica, numa mulher fálica, revelada, numa mulher que obteve tanto poder num misógino Egito de homens, no mito em torno de grandes nomes como Jaqueline Onassis, a mulher mais notável da História dos EUA, uma rainha no frigir dos ovos, apesar de não ter sangue que remete à realeza de Versalhes. Aqui é um papel dobrado sendo desdobrado, numa análise científica, na resolução de um mistério de Agatha Christie, num dia amanhecendo e anulando assombrações, na dimensão ligeiramente acima da nossa, a maravilhosa e eterna terra da Estrela da Manhã, o lugar que nos mostra que, encarnados ou desencarnados, o Trabalho continua sendo altamente necessário, sem, é claro, sermos workaholics.

 


Acima, Os quatro. 1921. Uma assembléia ordenada, numa reunião de empresa, com cada pessoa na sua função, num organismo que assim funciona. Aqui é como na assembleia de artistas vanguardistas na Arte Moderna Brasileira, o momento de tanta saudável transgressão, num movimento o qual, apesar de neste ano estar completando um século, não teve comemorações à altura, o que é uma pena, pois aos brasileiros cabe cultuar o Brasil, na intensa busca do Cinema Brasileiro em busca de uma identidade própria, livre dos paradigmas hollywoodianos. A enumeração aqui é a ordem civil, com cada cidadão com sua digital e seu número de registro de identidade, nas terríveis e cruéis tatuagens em judeus prisioneiros de campos de concentração, ou como no filme O Último Imperador, com o monarca absolutamente despojado de todos os seus privilégios de realeza, sendo reduzido a um mero número, um mero cidadão comum, na revolução que assassinou os Romanov, inclusive crianças, fazendo com que os comunistas merecessem o termo “devoradores de criancinhas”, nessa ancestral capacidade humana para com a crueldade, como numa bomba atômica, causando sequela terrível ao homem que detonou tal armistício, no modo como ficam psiquicamente sequelados os rapazes que prestam serviço militar, num Brasil onde o indivíduo já nasce prisioneiro de um estado, fazendo das ditaduras cópias MUITO grotescas do homem de Tao, o qual nunca recorre à crueldade. Aqui vemos um sol iluminando a cena, como na representação do disco solar Áton, a transgressão monoteísta que tanto desafiou o paradigma pagão politeísta do Egito Antigo, na capacidade de alguém em se tornar um indivíduo, livre em seu pensamento, ao contrário da estupidez ditatorial em queimar livros e bibliotecas, no modo como o ditador, como covarde, tem medo da liberdade de pensamento, pois tal liberdade colocaria em risco a ditadura cruel – é um horror. O Sol aqui é tal representação de um Deus que simplesmente não tem face, no mistério de Tao, o sem face, na heresia que é retratar Alá como uma figura, mesmo sendo uma conservadora figura patriarcal, remetendo a uma palestra de uma certa médium espírita: “Temos aquela imagem de um Deus duro, desconfiado, o que não é verdade, pois Deus é amor, é amizade, é respeito”. Os homens aqui estão despertos e conscientes, num rei ciente dos problemas de seu reino, debruçado sobre as necessidades do povo, como estradas, escolas e hospitais, ao contrário de uma certa nação miserável, com um déspota que só pensa em armistício, no ancestral e universal egoísmo humano: Nos olhos dos outros, pimenta é colírio. O Sol aqui é tal esclarecimento, na ironia do nome do artista, “Solar”, nesse astro que nutre toda a sua família, naquele pai zeloso, que nunca deixou faltar algo dentro de casa, trabalhando de Sol a Sol para nutrir um lar, uma casa, alimentando bocas todos os dias. Os raios de Sol são tal retilinidade, tal simplicidade, nas linhas simples de casas de arquitetura modernista, casas que, apesar de terem cem anos de idade, parece que foram construídas hoje, em 2022, como em letras simples, sem serifas, sem frescuras, letras modernas, em colunas simples da Antiguidade Clássica, na apolínea morada dos deuses, o modo do antigo grego em classificar as cidades metafísicas invisíveis, que pairam acima de nós, na força imaterial do pensamento, na máxima espírita: matéria é nada; pensamento é tudo. A reunião aqui é séria e sisuda, na sisuda Elizabeth II, a rainha que se viu acuada e confrontada no momento do óbito de uma mulher de esmagador carisma, nas figuras carismáticas em que as pessoas depositam suas esperanças e sua fé, como num carismático Obama, um grande homem, sem dúvidas, ao contrário de um certo senhor, que é uma pessoa ABSOLUTAMENTE deselegante. Cada um dos homens aqui tem seu código, como numa lista de chamada na Escola, o ambiente em que começa a competitividade da Vida em Sociedade, tudo para ver quem tira as notas maiores, numa inevitável hierarquia de apuro intelectual, na formação de nossas elites, as quais pensam acima da média.

 


Acima, Os três. 1923. Na parte superior do quadro, vemos uma altiva flecha, que é a autoridade e a hierarquia, nas rígidas hierarquias militares. É a obsessão de uma pessoa em adquirir controle, no malévolo Sauron de Tolkien, o senhor do Mal que quer manter todo e todos sob controle, como num estado totalitário, opressor, que vê um cidadão não como um indivíduo livre, mas como um mero tijolo impessoal em uma parede de propaganda ideológica, na infelicidade dos países que degustam de tal hierarquia insana, numa fome napoleônica por poder – quanto mais Tao você tem, menos poder e menos controle você que adquirir, pois poder e controle são uma ilusão, como refugiados nortecoreanos indo para a vizinha liberal democrática Coreia do Sul, refugiados estes que têm que passar por uma desinfecção ideológica, em refugiados educados a entender os Direitos Humanos, nos quais o indivíduo nasce livre, adquirindo o controle de sua própria vida, num estado mínimo, que interfere minimamente na Economia, no sonho liberal de Smith do Estado Zero, algo que não é lá muito viável, ao menos não de forma tão radical, no caminho budista do meio, do equilíbrio e da ponderação, nunca recorrendo aos opostos da “corda”, pois, apesar de Comunismo e Fascismo serem sistemas diferentes, eles são, no frigir dos ovos, meras ditaduras – os opostos se assemelham. Aqui vemos imagens truncadas, com linhas tensas de comunicação entre indivíduos e países, na aurora da Internet, esta tecnologia sem a qual o Mundo simplesmente não poderia funcionar, no modo como nos anos 1990 era chic dizer que mandou ou recebeu um e-mail, no modo como, para as novas gerações da Era Digital, tai avanços não causam tanto perplexo como causam aos que foram crianças ou adolescentes nos anos 1980. Vemos aqui pessoas voando, pairando, desdobrando-se como um origami, em linhas tensas oblíquas, em pontes de comunicação, fazendo metáfora gráfica com a Internet, essas linhas digitais que nos unem ao redor do Mundo, numa universalização técnica que faz com que sejam desnecessários correspondentes brasileiros no Exterior. A flecha aqui é tal incisão, numa certa dor, nas inevitáveis dores existenciais, na opção do indivíduo: Devo ou não devo sofrer por tal dor? A vida não dói em todos nós encarnados? Não somos todos prisioneiros, com um dia glorioso de soltura que certamente vai chegar? Aqui são os sons de uma obra, de um prédio sendo incorporado, num trabalho paciente que leva anos para se desdobrar, na paciência de tal incorporador, que sabe que a pressa é insana, numa pessoa adulta que sabe esperar, sem esperar demais, é claro, como me disse uma sábia e elegante senhora: “Espere para se encontrar, mas não espere demais!”, como uma pessoa que conheço, a qual esperou demais – tome ação, meu irmão! Aqui é um desafio cerebral de um quebracabeça, num início amargo e duro, mas num final doce e redentor, como aquelas catarses em filmes, fazendo com que saiamos leves e felizes da sala de Cinema ao término da exibição, ao contrário de filmes horríveis como A Bruxa de Blair, na recomendação de uma certa psicóloga: “Pessoas muito sensíveis não podem assistir a filmes de terror”, e ela está certa. Os olhos aqui estão despertos, como monitores de computador, numa pessoa adquirindo o controle de sua própria vida, observando o Mundo ao redor, na necessidade suma do Yang, que é adquirir virilidade, como numa pessoa que se deu conta de que ser uma mera dona de casa não trará identidade a tal mulher – não seja a cadela de alguém! Aqui estamos no meio de um processo construtivo, ou de um processo de desconstrução e análise, num escopo científico, numa tese de conclusão de graduação universitária, no valor de um professor exigente, que acaba causando um grande crescimento ao estudante, num mestre que vale cada centavo da mensalidade. Aqui, tudo é processo e transformação, no caminho eterno de Vida, no imenso poder de Tao, que faz com que nunca findemos – é muito poder!

 


Acima, Santa dança. 1925. Os seios das mulheres são a fartura, num país rico e farto, que conseguiu se desenvolver. É na deliciosa sensação de se mamar numa caixinha de leite condensado, no modo mamífero de suprir as crias, no modo como os vínculos de família mão se dissolvem com o desencarne, na imortalidade de tais vínculos, diferente do restante dos animais mamíferos, com um filhote que, ao desmamar e crescer, separa-se da própria mãe. Aqui é uma cena de baile e de diversão, talvez de boemia, talvez num bordel, num cabaré, num momento de festa em que é deixada de lado, momentaneamente, a seriedade cinzenta da Vida, nas cores de um carnaval, numa festa tão brasileira, cheia de matizes africanas de tambores, nesse blend, nessa mistura brasileira, um país de tanta miscigenação, no modo como a Cultura Brasileira é tão riquíssima e única, remetendo à recente morte de Jô Soares, uma das maiores cabeças do Brasil, um formidável palhaço que passou pelos duros anos de chumbo ditatoriais, na ilusão ditatorial de que é possível controlar a Vida. Aqui podemos ouvir a música, no casamento inevitável de Música e Dança, no modo como, não canso de dizer, as Artes estão interligadas num só corpo, que é a manifestação humana – nada mais humano do que produzir Arte. Aqui temos a união das veias e artérias que são as serpentinas nos unificando no salão, num momento de comunhão na pista de dança, no final do filme Elizabeth, com a monarca entrando na sala do trono, unindo o povo num só ritmo, na magia de um Rei Momo, na nação em um só ritmo de união, num talento de estadista, no fato de que foi uma mulher quem dividiu em duas a História da Inglaterra, num clamor feminista – o Sexo é uma ilusão, pois o Desencarne faz com que deixemos para trás tal fado, na metáfora da cobra trocando de pele, como na carreira de um ator, desempenhando diversos papéis, diversas encarnações, na construção da divina carreira espiritual, fazendo da Terra tal maravilhosa universidade, na qual tanto aprendemos e crescemos, pois o crescimento é o sentido da Vida. Aqui vemos estrelas como num sedutor céu estrelado, no modo como, no campo, longe das luzes da cidade, o céu noturno é tal espetáculo de luzes, na incrível vastidão do Cosmos: Há mais estrelas no Universo do que grãos de areia na Terra – você já se deparou com quantos grãos de areia existem só na ilha de Florianópolis? Algumas dessas estrelas são judaicas, no pesadelo hitleriano dos campos de concentração, remetendo a uma miserável sociopata que conheci, a qual, implicitamente, louvava Hitler – é um horror, nesse poder de manipulação que os sociopatas possuem. Essa estrela de seis pontas remete ao filme espírita Nosso Lar, na cidade espiritual metafísica cujas ruas se entrecruzam para formar tal estrela, na construção do Monoteísmo, rompendo com o paganismo politeísta, num conceito de simplicidade: Há um só caminho e um só Senhor no Universo, com todos colocados na mesma cesta de ninhada, num poder invisível que mantém unidas todas as dimensões do Universo, nas noções morais norteadoras dos Dez Mandamentos, num código de conduta como o Código de Hamurabi, com o falo patriarcal causando quase medo ao cidadão comum, num aviso: Ande na linha e nada de mal acontecerá a você. Aqui as pessoas dançam de mãos dadas, no engajamento comunitário, no modo como a Cultura Popular une as pessoas da comunidade em torno de algo em comum, como numa Festa da Uva, no momento em que a própria comunidade se vê projetada, representada e simbolizada, no arquétipo da rainha virgem, o Útero Imaculado que nos tem de forma eternamente especial, na metáfora entre virgindade e distância do Plano Material, sendo este uma ilusão. Os corpos aqui são como de bonecos, numa candura de Arte Modernista, com seus desenhos simples, como numa candura infantil de um Basquiat, no rompimento definitivo com a Arte Tradicional Acadêmica, no sopro de renovação renascentista.

 


Acima, Troncos. 1919. Os espinhos são o sofrimento de Jesus, o redentor o qual, em seu tempo, foi considerado bandido, lixo e escória, sendo brutalmente executado, nessa capacidade humana em ser o mais cruel possível, como queimar pessoas vivas numa fogueira, numa Mary Tudor a qual agia dizendo ser em nome de Jesus, fazendo algo que Jesus, em seu poderoso e infinito amor fraternal, jamais faria. Os espinhos são a travessia existencial, no modo como a Vida dói em todos nós, nas eternas palavras de Caetano: “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Os espinhos são uma crise, as quais são positivas, pois assinalam um momento de renovação e desilusão na vida da pessoa em crise, e as desilusões acarretam em uma mortificação, até a pessoa chegar a um ponto clarividente de que “Papai Noel não existe”, nas palavras de Alanis: “Obrigada, desilusão!”. Dois círculos aqui são como olhos, numa pessoa observando a si mesma, observando sua própria vida, vendo a suma necessidade da pessoa assumir as rédeas de sua própria vida, não mais se colocando nas mãos de outrem: Ser apenas uma dona de casa não vai dizer a tal mulher quem ela é, ou seja, não seja a bitch de alguém, ou seja, a cadela. O pássaro é tal libertação, como as desilusões nos libertam, como num feitiço sendo dissolvido, num desencanto, como num jogo de Futebol, num time reagindo a fazendo o gol de abertura da partida, dando a impressão de que um encanto se dissipou, no anjo livre em suas asas de livre arbítrio, no respeito das democracias em tal liberdade, em nações nas quais o indivíduo nasce livre, dono de si mesmo, nunca submetido ao falo patriarcal de terror, como no vilão Esqueleto, o qual executava cruelmente os subalternos que falhavam em suas missões, como num Saddam Hussein, o qual, mesmo despojado de seus poderes mundanos, continuava crente de que era o dono do Mundo, dizendo aos subalternos: “Eu não estou pedindo; eu estou mandando!”. O pássaro é tal beleza, tal amor pela vida e pela liberdade, na tragédia que foi a Revolução Farroupilha, a tragédia que construiu a identidade gaúcha, como num prédio em Brasília com a placa: “Embaixada do Rio Grande em Brasília”, na altivez do laçador gaúcho, aspirando liberdade, como em Coração Valente, num homem dando sua vida pela liberdade, num carismático Che Guevara, executado por ser considerando perigoso demais, na construção de mitos ideológicos, como Lula, tendo como ídolo um ditador, que é Fidel Castro, sem querer aqui falar mal de Lula. Vemos duas serpentes, as quais trazem curvas liquidiscentes ao quadro, desafiando as linhas duras e objetivas, numa sensualidade feminina, numa Cleópatra seduzindo grandes homens, na serpente que vai escorrendo como água, num bicho tão minimalista e elegante como um homem com cabelo penteado com gel, como num cavalheiro se aprumando para um baile de gala, no qual temos que estar no auge de nossas aparências, ao contrário de uma atriz displicente, a qual vai ao Oscar desarrumada, como se a cerimônia fosse uma reunião de condomínio – não é fundamental a autoestima? O céu azul é tal clareza, numa pessoa que encontrou paz e produtividade em seus dias, agindo com calma, respeitando a si mesma, ao contrário de uma mulher workaholic que conheci, a qual simplesmente não se dava ao respeito, podendo até ficar 48 horas sem dormir, tudo em nome da firma – é muito degradante! Aqui os espinhos são as consequências da seleção natural, da luta pela vida, com as roseiras cheias de espinhos, certificando-se de que um inseto, ao querer devorar as flores, fique crucificado em tais espinhos, na crueldade da coroa de espinho em Jesus, no deboche: “Não és um rei? Então eis tua coroa!”. Como um rapaz que conheci, o qual sofreu uma grande agressão na Escola, obrigado por malévolos colegas e vestir uma faixa com termos degradantes, no deboche cruel: “Não és um príncipe sangue azul? Então eis tua faixa!”. É muita crueldade, meus senhores. Os espinhos são as vicissitudes, os obstáculos, os quais devem ser encarados com altivez olímpica, na força do crescimento e da superação. Os espinhos são a obrigação do psicoterapeuta, que é “dar espetadas” no paciente e confrontar este com a realidade. Ai!

 


Acima, Uma brincadeira. 1923. Aqui é como um sanduíche, com várias camadas, como nas camadas de sabor de uma receita complexa, com vários temperos e sabores, na sedução que a Índia, com suas especiarias, exerceu sobre a Europa, em sabores mágicos como a canela, na universalidade do gostoso pecadinho da Gula – permita-se ter algum prazer, sem culpa religiosa. Quase ao centro do quadro vemos um olho, ou um peixe, num olho livre, fluindo pelas percepções, como nos olhos de pinturas egípcias, no paradigma artístico que tantos milênios durou, brevemente desafiado pelo faraó transgressor Aquenáton, lançando este um padrão realista de Arte, algo tão inusitado para a época. O olho é a liberdade de expressão, num feliz país onde o cidadão tem tal reconforto de liberdade, nos versos de uma certa canção pop: “Sem amor, não há liberdade! Sem liberdade, não há amor!”, no modo como blogueiros, por exemplo, não são bem vindos em estados tão terríveis como a Coreia do Norte, no medo que o ditador tem em relação a cidadãos esclarecidos e inteligentes, como jornalistas de alto senso crítico, numa revista Veja que tanto adora das alfinetadas, na recomendação de um certo petista: “Não leiam a Veja”, fazendo, assim, propaganda positiva da Veja para quem é antipetista – dois lados para casa moeda. Aqui é uma sedimentação, em camadas geológicas, ou camadas de pintura num prédio, numa história e numa trajetória, numa carreira, como o chocalho da cascavel: Quanto mais extenso o chocalho, mais longa é a Vida e a peregrinação, no modo como a Sociedade Patriarcal acha charmoso, num homem, rugas, sinais de expressão, cabelos grisalhos e cicatrizes, ao contrário da mulher, a qual sofre pressão para ser, em sua aparência, a mais imaculada possível, no mito de Nossa Senhora, a mulher sem história; a mulher à qual foi negado ter vida sexual, no mito da embalagem de Leite Moça, em caras de santa como Evita, a qual, na realidade, de virgem e santa nada tinha. Neste organismo vemos várias mangueiras, dutos ou veias, numa alimentação, na demandas de urbes desenvolvidas, numa São Paulo de trânsito caótico em dias úteis, como num Jamie Oliver, o qual, ao dirigir uma scooter, evitava os percalços do caótico trânsito londrino – é um problema universal, até mesmo em cidades como Gramado, a meca turística que tanto encanta o visitante (e tanto dinheiro arranca deste!). As veias são intercomunicações, como canais de comunicação, na revolução do Telefone, no modo como grandes invenções nasceram do gostoso pecadinho da Preguiça: Por que sair de minha casa para falar com o fulano se posso telefonar para este no conforto de meu lar? Aqui é um acúmulo de riqueza, ou cultura, numa coleção, como meu falecido cunhado, o qual tinha uma vasta coleção de objetos de Arte, colecionados ao longo de décadas. Aqui é uma pessoa trabalhando duro para acumular dinheiro, podendo assim realizar sonhos de consumo, como um carro ou uma reforma na casa, numa pessoa que busca mudar de vida com uma reforma em sua casa, na capacidade humana em se equivocar, querendo encontrar a si mesma com uma reforma, quando que o autoencontro é sempre dentro da pessoa, com ou sem reforma na casa. Aqui são como livros numa biblioteca, no lamentável incêndio que destruiu a Biblioteca da Alexandria, no Egito Antigo, remetendo ao novo deslumbrante Grande Museu do Cairo, fazendo jus à grandiosidade da Era dos Faraós, como se quisesse competir com o Louvre. Aqui são páginas de um livro, numa cultura sendo assimilada e digerida, numa pessoa quieta no seu canto, lendo, deixando lá fora as inevitáveis vicissitudes do Mundo, na pessoa que aprendeu a força do Yang, mas descobriu que, dentro de si mesma, tem que ser mais Yin, no termo carioca “muvuca”, que é o conforto do lar, na pessoa de pés descalços, sem formalidades sociais, no poder da simplicidade: A Vida é boa quando é simples. Aqui é um acúmulo da passagem do Tempo, numa carreira, em fases e épocas passando, como num artista sempre se reinventando, nas expectativas dos fãs: O que será que tal artista vai aprontar desta vez?

 

Referências bibliográficas:

 

Alexandro Xul Solar. Disponível em: <www.coleccion.malba.org.ar>. Acesso em: 27 jul. 2022.

Alexandro Xul Solar. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 27 jul. 2022.

Alexandro Xul Solar. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 27 jul. 2022.

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