quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Xul é show! (Parte 3 de 3)

 

 

Falo pela última vez sobre o artista argentino Alejandro Xul Solar. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Alegre. 1926. Aqui temos uma cena urbana, citadina, em urbes tão grandes e vibrantes como Buenos Aires, com suas demandas diárias de pessoas indo e vindo, cuidando de suas vidas, no conceito liberal de Estado Zero, no qual o indivíduo pertence a si mesmo, no violento contraste ideológico entre as Coreias, fazendo com que o nortecoreano refugiado passe por uma desintoxicação mental, libertando este do estado total, no qual o cidadão pertence a um déspota insano, obcecado em produzir armistício, querendo concorrer com potências ocidentais, num insano jogo de tabuleiro, na confusão fálica, na qual a virilidade é confundida com banditismo – ser homem não é ser bandido; ser homem é caçar bandido. Aqui temos uma tranquila cena, com uma energia de trabalho e produtividade, nas palavras da comunicadora gaúcha Tânia Carvalho sobre a cidade de Caxias do Sul: “Que cidade com uma energia de trabalho!”. Aqui é como na atroz competição publicitária na novaiorquina Time Square, com anúncios competindo para ver quem atrai mais a atenção do consumidor, no modo como, na Sociedade de Consumo, que não tem dinheiro, ninguém é. Aqui é oposto da Avenida Paulista, a qual foi submetida a uma lei de limpeza visual, banindo qualquer anúncio na avenida icônica, cujo maior e mais nobre atrativo é o Museu de Arte da São Paulo, em homens visionários como Assis Chateubriand, querendo colocar o Brasil na sinergia mundial da Arte Fina, em contraste quantitativo com o Louvre, o qual exigiria que você passasse um ano inteiro no museu francês para poder apreender tudo o que lá dentro existe – é muita riqueza. Na rua desta urbe vemos um busto, uma homenagem, de homens dignos, os quais muito bem fizeram à vida e sociedade, em homens que adquirem tamanha grandeza, destacando-se dos medíocres, como na Broadway, na qual os medíocres não têm vez, fazendo com que sejam excepcionais os que arranjam emprego na Broadway, fazendo do troféu Tony um sinal de alta qualificação, ou seja, o ganhador não é a nata, mas a nata da nata, em troféus tão cobiçados, numa Academia de Hollywood que pouco gostou da interpretação que deu a Madonna um Globo de Ouro – que Mundo duro, Madonna! O busto aqui é fálico, como no amedrontador Código de Hamurabi, como em cruéis execuções de pessoas queimadas vivas numa fogueira, num aviso ao cidadão comum: Comporte-se ou você acabará como este infeliz na fogueira! É o terror de um ditador, o qual não quer ser respeitado, mas temido, fazendo com que um ditador morra de medo da liberdade de expressão, pois tal liberdade libertaria a mente do cidadão, num ditador que quer nos aprisionar – é um horror. A cidade aqui é apolínea, perfeita, plácida, sem problemas de congestionamento ou criminalidade, nas maravilhosas cidades metafísicas, nas quais as pessoas boas vivem em um mundo de amor, no alto respeito para com nosso semelhante, nos esforços dos padres em nos dizer que todos viemos do mesmo Útero Imaculado, em figuras como a Virgem Maria, figuras nas quais as pessoas depositam esperanças, como em grandes líderes como um nobre Obama, o horror de neonazistas racistas, no absurdo de se dizer que siamês não é gato... Aqui temos uma intensa produtividade, num lugar mágico onde não há desemprego, com cada sala e apartamento ocupados, num lugar onde se dissipam as tolices dos meros sinais auspiciosos, como nas tediosas alas vip de boates, no maravilhoso modo como uma pessoa, de tanto sair na noite, acaba se enjoando, como uma criança que acaba se desinteressando pelos brinquedos, no caminho de crescimento e mortificação espiritual, como Tao, aquele que observa tudo sem expectativas, pois as expectativas são as mães da frustração. Aqui tudo parece estar em seu devido lugar, e os homens usam elegantes chapéus, que são a proteção e o resguardo, a reserva, numa pessoa que sabe que não estará na Terra para sempre, no modo como clínicas psiquiátricas se intitulam “Lares de passagem”. Aqui, temos um gari impecável, em uma cidade limpa e bem administrada, na organização e na riqueza de nações como a canadense.

 


Acima, Casa colonial. 1924. Aqui temos um acúmulo, como numa pessoa que há tempos não limpa seu apartamento, protelando. Aqui é um maço de papéis informativos, em arquivos vastos, alvos de pesquisas, num centro de cultura, na tragédia do incêndio que consumiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro, na Cleópatra de Liz Taylor, possessa pelos romanos terem incendiado a Biblioteca da Alexandria, chamando estes de “bárbaros”. Aqui é a construção de uma obra, página por página, nas inúmeras manhãs da Globo em que Xuxa tanto entreteve o público infantil brasileiro, num trabalho de formiguinha, passo a passo, na paciente construção da rica galeria de personagens de mestres como Chico Anysio, ou na obra do recém falecido Jô Soares, nessas grandes mentes que nos deixam perplexos em tamanha inteligência e talento. Aqui temos uma pressão, numa pessoa trabalhando, infelizmente sob tal pressão, num ambiente de trabalho nocivo e doente, no qual o funcionário se vê um escravo de todos os tipos de assédio, no modo como eu próprio já senti na pele os efeitos do assédio moral numa empresa, ou como nos infelizes trotes universitário, cuja face mais grave é a seguinte: o reitor da instituição, em sua posição de sumo poder no corpo acadêmico, nada faz para vetar o trote, ou seja, o reitor está nos recebendo na instituição dessa forma estúpida e grosseira, ou seja, isso é uma vergonha, parafraseando Boris Casoy, pois o mais grave disto é que respeito é para quem tem – como posso respeitar uma pessoa que me trata com tamanha grosseria? Aqui são aspectos os quais, reunidos, revelam um conjunto e um sentido, como num intercruzamento de informações, na resolução de um mistério policial, num quebracabeça que vai fazendo sentido, com cada peça sendo encaixada, no caminho da lógica matemática de Tao: parece-se com um cachorro, cheira como um cachorro e late como um cachorro, é um cachorro, no modo como a passagem do tempo nos revela essas verdades no termo latino: A verdade é a filha do tempo. Como num filme, o qual, no momento do lançamento, fracassou nas bilheterias e não agradou o público, em películas como Blade Runner, que, com o passar das décadas, vão acumulando dignidade de filme cult, como num artista sendo postumamente reconhecido, não podendo estar no Mundo para desfrutar de tal realização póstuma – é uma pena. As camadas aqui, como num delicioso doce de mil folhas, revela figuras humanas e uma paisagem de cidade. É como uma história sendo contada página a página, num mistério que vai se desenrolando, como ao ler Moby Dick, chegando um momento em que o leitor tem a sensação de estar num barco ondulado sob as águas marinhas – é mágico. Aqui é um momento áureo de engajamento comunitário, em torno da construção de uma identidade coletiva e de cultura popular, num momento doce de engajamento, no qual cada membro da comunidade quer fazer sua parte em prol da coletividade, no modo como cada carioca se sente um pouquinho dono do Carnaval do Rio, no momento em que a festa busca se assemelhar à alegria e à beleza metafísica, a dimensão onde há duas coisas: alegria e produtividade. Aqui é como uma persiana sendo aberta e revelando algo além, num novo dia, no milagre do Desencarne, no momento em que Jesus volta ao Plano Superior, na maior figura na qual os humanos depositam esperanças, numa esperança em meio a uma encarnação tão construtiva, a qual acaba ocasionando um crescimento espiritual enorme ao vivente, no modo como não me canso de dizer: O crescimento é o sentido da Vida, pois que utilidade teria uma vida perfeita, na qual não cresço frente a percalços? É como me disse uma grande amiga psicóloga: As crises são positivas. Aqui é um paciente trabalho de incorporador imobiliário, num processo de construção que leva anos, entregando finalmente os apartamentos e salas, num homem que vai se construindo na Vida, na paciência para juntar tijolo e tijolo, como um grande amigo meu, o qual é centrado no trabalho – centre-se, meu irmão!

 


Acima, Cidade e abismos. 1946. Aqui remete ao clássico Metropolis, do Cinema Mudo, na revolução que foi a chegada do som aos filmes, inaugurando a assim chamada Sétima Arte, fazendo do Cinema tal ícone cultural que marcou definitivamente o Século XX. Aqui vemos vias e pontes que são como links entre as pessoas, num artista poderoso, que penetra fundo na mente do espectador, fazendo tais pontes de ser humano para ser humano, num filme de esmagador sucesso, como Jurassic Park, numa Humanidade a qual, quem sabe, poderá futuramente trazer à vida animais há muito extintos, trazendo a famosa sequência do T-Rex, o dinossauro de extensa agressividade, pronto para estraçalhar suas presas herbívoras, na capacidade de um artista em se tornar tal monstro, com tal brilho avassalador, como numa Evita, a atriz medíocre que surpreendeu a todos ao se tornar tal monstro político, ou como num Jô Soares, o qual, depois de trilhar uma carreira de humorista, surpreendeu a todos ao se tornar tal monstro entrevistador, na morte de um mestre que talvez poderá ser tema de enredo de alguma escola de Samba carioca – é esperar para ver, no maior espetáculo da Terra, num país tão pobre e tão belo como o Brasil, um país que devemos amar na saúde e na doença, como num torcedor de algum time de Futebol, nos versos do hino gremista: “Até a pé nos iremos, para o que der e vier, mas o certo é que nós estaremos com o Grêmio, onde o Grêmio estiver!”. Aqui temos um sonho de engenharia futurista, como no desenho de Os Jetsons, com suas moradas apolíneas, que tocam o mínimo possível no chão, numa moderna cidade futurista metafísica, no caminho positivista de que a razão fria é o que salvará a Humanidade, numa pessoa que aprendeu a tomar decisões ouvindo a cabeça, e não o coração, num coração o qual, apesar de aparentemente maravilhoso, revelar-se-á traiçoeiro, enganando-nos sempre em caminhos de atalhos duvidosos, no modo como o Pensamento Racional serve para que nos sintamos melhor, sem tanto sofrimento por dores, na tarefa de um psicólogo ou psiquiatra em fazer com que o paciente saia feliz e estável do consultório após a sessão de Psicoterapia. Nesta cidade do futuro não vemos as vicissitudes terrenas como bandidagem, como uma amiga minha que se mudou para Portugal, dizendo que em tal país há uma enorme qualidade de vida, fazendo com que um morador possa caminhar na Rua a qualquer hora do dia ou da noite sem medo de ser assaltado, distante do outro lado do Atlântico, no Rio de Janeiro, a cidade bela e problemática, nas palavras de Fernanda Abreu: “Cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos”. Aqui cada cidadão caminha cuidando de sua vida, pagando suas contas e sentando para tomar um café com um amigo, no prazer de amizades profundas, as quais são inoxidáveis, nunca expostas à passagem do Tempo, um amigo no qual olhamos nos olhos e vemos uma pessoa próxima e íntima, mesmo se até o fim da Vida nunca mais vejamos tal amigo. Aqui é um sonho de Niemeyer numa Brasília futurista, com suas linhas retas, simples e racionais, numa identidade brasileira arquitetônica, no caminho da Cultura Modernista no rompante da Semana de Arte Moderna, na transgressão impressionista que trouxe todo um frescor jovial a uma arte tão tradicional e rançosa, nas palavras de Osho: O rebelde, antes de tudo, tem que respeitar a tradição. Ou seja, para conquistar, tenho que, antes de tudo, curvar-me, no caminho da humildade. Quase ao centro do quadro vemos uma ponte, em sonhos de engenharia para que as pessoas possam atravessar lagos e rios, na impecável engenharia da estrada gaúcha Rota do Sol, ligando a Serra Gaúcha ao Litoral Norte Gaúcho, desafogando, assim, a Freeway, que liga tal litoral a Porto Alegre. Os prédios aqui são como paladinos falos, na revelação de uma verdade clara, num dia que vai amanhecendo e dissipando as dúvidas, na magia da passagem do Tempo, num romance policial chegando ao fim, como no final do filmão redentor O Gângster, com levas de policiais corruptos sendo presos.

 


Acima, Disparidade entre o longo e o baixinho. 1924. Aqui é a questão da base de comparação, no discernimento taoista: Quando digo que algo é belo, é porque conheço o oposto, que é feio. É como num casal heterossexual: vemos que o homem é alto porque ele está ao lado da mulher, que é mais baixinha. Ou seja, nesse discreto papel coadjuvante da mulher, esta se torna imprescindível, no poder dos papéis coadjuvantes. É o mesmo em uma logomarca, por exemplo, do Jornal da Pampa, de uma rede de TV gaúcha: as palavras “jornal” e “pampa” são grandes, próximas à palavra “do”, que é pequenina, ou seja, há uma base de comparação, nas palavras de um certo senhor pensador: o Bem é sempre agradável; o Mal, desagradável. E o Mal existe exatamente para que saibamos quando nos deparamos com uma pessoa boa, com uma pessoa honesta, com uma pessoa agradável e construtiva, como um grande amigo que tenho, de uma energia muito boa e construtiva, em amigos que tanta alegria trazem a nossos corações, no ouro da Vida, que brilha exatamente em tais relacionamentos saudáveis, que dão sentido à Vida. Aqui há um sistema complexo de listras, em retilinidades aristocráticas, disciplinadas, num cavalo domado, dócil, cavalheiresco, no poder de um cavalheiro em ser cordato e agradável, perfumado, na vitória da virtude sobre a vulgaridade, num nu artístico que foge do vulgar. Aqui temos um binômio mãe/filho, na poderosa imagem da Madona com o filho, no poderoso mito de Nossa Senhora, mito que foi construído para que as pessoas entendam a Imaculada Conceição que a todos nós gerou, numa concepção limpa, apolínea, racional, impecável, num Tao que dota de tanta singularidade cada um de sue filhos, jamais fazendo dois filhos iguais, no mito de Zeus criando a Mulher Maravilha, a paladina amazona que se tornou o Espírito da Verdade, um dos poderosos espíritos que ajudaram Kardec a escrever O Livro dos Espíritos, o baluarte inicial de toda a Doutrina Espírita, fazendo com que um diamante mundano seja uma mera cópia de um espírito autêntico e verdadeiro, brilhando em seu impecável apuro moral, numa pessoa que simplesmente odeia mentir, no modo como a palavra de um homem é o maior bem de tal homem, num homem que definitivamente não quer enganar ou ludibriar as pessoas, passar para trás os irmãos a sua volta – não engano quem amo. No boneco de tamanho menor, vemos um coração no peito, como o coração de Dom Pedro I, relíquia que veio ao Brasil para comemorar o Bicentenário da Independência do Brasil, em restos mortais que tanta reverência causam, na exigência católica de que tais restos sejam obrigatoriamente sepultados, mesmo que em forma de cinzas. O coração é a Vida que pulsa, na pulsante natureza da cidade do Rio, nessa deliciosa mescla de urbe com Natureza, nos encantos que os trópicos exercem sobre as partes mais invernais do Mundo. As figuras aqui são de perfil egípcio tradicional, com os olhos desenhados de forma frontal, em paradigmas artísticos que por tantos milênios permaneceram intocados no Antigo Egito, com exceção da breve transgressão do faraó herege Aquenáton, lançando uma arte realista, distante da academia egípcia de então, no poder transformador das transgressões. Aqui é o padrão patricarcal de superioridade masculina, o que é uma alta ofensa para as feministas, como num baixinho Tom Cruise, o qual, reza a lenda, exige que suas esposas ou namoradas apareçam publicamente a seu lado com um sapato de salto baixinho, no homem eternamente num nível acima da mulher, na supremacia do falo, da espada, do pênis, da verdade fálica do obelisco, relegando a mulher a tal eterno papel coadjuvante, o qual, em seu minimalismo, revela-se grandioso, na máxima popular: O que seria a luz sem a sombra? A Terra não tem dias e noites? Aqui é uma coleção colorida de fitinhas do Senhor do Bonfim, símbolos da Bahia, na cultura colorida tropical de uma terra tão singular, de uma culinária tão única, maravilhosamente mesclada com a Cultura Afro, a cultura que definitivamente tanta singularidade trouxe ao Brasil, como o Samba e os tambores em geral. A figura maior aqui tem um pescoço delgado de Nefertiti, um ícone de beleza e elegância.

 


Acima, Jura por sua cruz. 1923. A cruz é a passagem, a travessia, num caminho que é o único caminho, numa hierarquia – todos temos que passar por Jesus e Sua perfeição de apuro moral. A cruz é a religiosidade, como uma certa popstar, a qual, apesar de ser uma figura provocadora, agressiva e transgressora, é uma mulher extremamente careta e religiosa, no modo como tudo traz em si sua própria contradição, na diferença entre o agressivo e tenaz Yang e o quieto e confortável Yin, pois há dois lados para cada moeda. A figura humana aqui é a articulação, na capacidade de uma pessoa de liderança, que une o corpo social em torno de algo nobre, num cidadão que merece o respeito da comunidade, numa comunidade que busca por uma identidade, no modo como as festas comunitárias se espraiaram no Rio Grande do Sul, sendo a Festa da Uva de Caxias do Sul a mãe de todas essas festividades. Aqui temos algo característico de Xul Solar, que é o jogo de transparências e sobreposições, na magia das cores, num mágico prisma se desdobrando num leque de cores, na magia de luxuosos lustres de cristal, numa sala agradável, com um anfitrião fino, que nos deixa à vontade, na capacidade de um psicoterapeuta em fazer com que nos sintamos bem em relação a nós mesmos, no caminho da autoestima, numa pessoa que gosta de ser quem é, sem querer ser outra pessoa ou estar em outro lugar, na questão da pessoa se aceitar, no caminho do amor incondicional, no modo como Tao ama cada um de seus filhos, mesmo os sociopatas, espíritos toscos que estão na rabeira da fila de aquisição de apuro moral – é um crescimento lento e gradual, num futuro maravilhoso que espera cada um de nós. A pessoa aqui está livre, leve e solta, numa deliciosa sensação de liberdade, como na beira da praia, no olor de oceano, a Mãe da Vida na Terra, nessa incrível biodiversidade da Terra, de fazer inveja a qualquer outro planeta do Cosmos. Acima no quadro vemos uma ponta de círculo, que é o Sol, a fonte da Vida, o calor que nos dá a Vida, num espaço sideral tão escuro e frio, longe do acalento metafísico, em cidades com clima ameno e agradável o ano inteiro. Vemos uma serpente tortuosa e insinuante, no modo como o sugestivo, o subjetivo acaba sendo objetivo e claro, no poder da sutileza e da sugestão, no modo como a passagem do tempo vai colocando “os pingos nos is”, na sabedoria popular: A verdade vem à tona. A serpente é a força da vida, na luta pela vida, numa pessoa com fome e tesão de viver, embarcando na poderosa onda do Yang, no estilo dos guerreiros, que sabem que Tao não quer ver seus próprios filhos “atirados nas cordas”, num Pai que tem infinito amor por nós, seus filhos preciosos e divinos, cheios de beleza e virtude, num Pai que quer o melhor para nós, na revelação do grande plano divino ensolarado, no qual vemos que somos todos irmãos. A serpente tem uma língua insinuante, vermelha, na cor da maçã do pecado do Éden, culpando a mulher pelos males do Mundo, num Adão pueril, ingênuo, que se deixou levar por Eva, na imagem de Botticelli com Vênus entorpecendo Marte, no Yin do conforto de dentro de casa, deixando do lado de fora os ímpetos olímpicos e furiosos de Yang, a vontade de viver e de lutar pela Vida. O cabelo da pessoa aqui é ralo e desbastado, é pouco, é o mínimo, no modo como certos homens, mesmo jovens ainda, estão completamente calvos, um problema que não acomete as mulheres. O cabelo é a criatividade brotando, numa energia criativa que precisa muito ser canalizada para algo nobre e produtivo, fazendo dos desajustados as pessoas cujas energias não estão canalizadas – a mente foi feita para ser usada e exercitada, fazendo com que as pessoas laboriosas tenham os pés no chão, como num humilde gari varrendo uma calçada, pois não há trabalho em vão, e tudo faz parte de nossa grande carreira espiritual, num Pai que quer nos ver numa pomposa formatura, tendo orgulho de nós. A figura aqui se joga em ímpeto, numa provocação destemida, numa pessoa que sabe provocar o público, no poder da Arte em causar comoções, unindo as pessoas em torno da concepção de um artista feliz.

 


Acima, Quatro olás. 1923. As cabeças são como balões de festa, numa vila sendo enfeitada para um festival da boa vizinhança, num momento de engajamento em que as pessoas esquecem momentaneamente de suas diferenças, como no Brasil em época de Copa do Mundo. Aqui há uma assembleia, uma reunião de pontos de vista, num sharing, num compartilhamento, como numa agência de Propaganda, nas chamadas brainstorms, tempestades cerebrais cujo objetivo é encontrar um conceito para que se vendam produtos e serviços, ou, como disse certa um professor meu, surubas mentais(!). Os cabelos aqui são no estilo rastafári, com tranças disciplinadas que tentam “domar” os cabelos de ascendência afro, no modo como cada época tem suas modas capilares, como na duradoura moda dos cabelos ondulados de Gisele, a menina comum que, no frigir dos ovos, tornou-se a princesa do Brasil, na vitória do talento e da força de viver, pois, dos fracos, a história nada conta. Vemos uma mão aqui fazendo uma advertência, um aviso, como algo sendo negado, como uma porta sendo fechada, a qual acaba por ajudar a pessoa e a guiar esta, pois os momentos de crise antecedem uma renovação e um refôlego, fazendo das crises algo tão positivo e construtivo. A mão é alguém querendo se fazer expressivo, abanando, acenando, querendo chamar a atenção para algo, como fãs assediando um ídolo num show, querendo chamar a atenção deste, numa vida de astro que não deve ser tão glamorosa assim, num megastar o qual, infelizmente, não pode caminhar na Rua, como num Michael Jackson, um prisioneiro da própria fama, ou como uma Xuxa, a qual só pode sair de casa no Rio de Janeiro escoltada por um catatau de seguranças – a fama pode ser algo muito louco e insano. Nesse sofisticado jogo de transparências, ninguém ofusca ninguém, e há um engajamento entre partes, numa pessoa vendo através de mágicos vitrais de igreja, na magia das cores, numa riqueza tão grande, num plano o qual, apesar de imaterial, é tão riquíssimo, dando inveja a qualquer mansão sobre a face da Terra, no paradoxo do Plano Metafísico: Há riqueza, mas não há necessariamente dinheiro. Aqui é o lema “Amigos nunca são demais”, e tudo aqui respira numa leveza, e nada aqui é demais ou excessivo, como numa combinação harmônica de peças de roupa, no modo como uma pessoa com estilo, que tem nobres critérios dentro da cabeça, não precisa ser uma escrava de roupas caras, pois uma pessoa com estilo pode se vestir em lojas baratas e, ainda assim, parecer ter gasto milhões no look, e estilo é algo que só pode ser aprendido de forma autodidata, pois não há livro que nos ensine a ter estilo. Vemos aqui novamente uma corpulenta serpente, grossa, saudável, libidinosa, como numa gata em cio, louca para acasalar, na explosão de vida primaveril, com flores brotando e borboletas polinizando, como numa araucária cheia de pinhões, num sabor tão sulbrasileiro, nos altivos galhos de araucária, virados para o Céu. Vemos na porção superior um ziguezague, como índices de bolsa de valores, ou como dados estatísticos, na forma gráfica de mostrar com clareza dados escritos de forma textual. O ziguezague é os inevitáveis altos e baixos da Vida, no modo como não me canso de dizer que o sucesso é um amante infiel – hoje está com você; amanhã, não se sabe. É a liquidiscência da Vida com suas oscilações, num cantor com álbuns populares e outros álbuns não tão assim populares – é assim mesmo! Todos os olhos aqui estão abertos e despertos, numa pessoa consciente de seu próprio desencarne, encarando o retorno ao Plano Espiritual, Metafísico, o Único Lar Verdadeiro, numa dimensão na qual há um “filtro” – só entra quem tem apuro moral, ao contrário do Umbral, a dimensão de sofrimento e desolação, na questão do livre arbítrio, na qual o espírito vai para onde quiser ir, num espírito mundano, que se identifica com a Matéria e com o Mal. Aqui é um combo num serviço de televisão paga, com vários canais, no paradoxo atual: quanto mais canais tenho à minha disposição, menos programas de meu interesse encontro!

 

Referências bibliográficas:

 

Alejandro Xul Solar. Disponível em: <www.coleccion.malba.org.ar>. Acesso em: 27 jul. 2022.

Alejandro Xul Solar. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 27 jul. 2022.

Alejandro Xul Solar. Disponível em: <www.pt.wikipedia.org>. Acesso em: 27 jul. 2022.

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