quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Ruas de Brunias (Parte 2 de 3)

 

 

Falo pela segunda vez sobre o artista italiano Agostino Brunias. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Dia de mercado. A criancinha com o tambor é o ritmo, em raízes afro, nas batidas que se mostram com liquidez, com um processo fluindo de forma natural, no curso de um rio, nos rumos naturais da vida da pessoa, no processo da criança se tornando adulta, num encadeamento de processos, como entrar num curso universitário e também no sentido do espírito crescendo em depuração e aprimorando-se moralmente, como num sociopata de raso apuro moral, o qual passará por muitas vidas, aprimorar-se-á e tornar-se-á um grande espírito de luz, bondade e verdade - é o caminho certo das coisas, pois ninguém é sociopata para sempre, no caminho da esperança do Espírito Santo, na promessa do glorioso dia de libertação, como um fardo pesado sendo largado, pois é só com humildade que se entra no Reino dos Céus, o lugar onde a mentira cai por terra totalmente, no modo como só a verdade é eterna; no modo como o sociopata mente sem parar, perdendo-se em suas próprias mentiras, numa alma transtornada, sofredora, andarilho do Umbral. O mercado é tal atividade tão ancestral e universal, com as especiarias do Oriente seduzindo a Europa, em rotas comerciais de navegação, numa China tão pujante, exportando para o Mundo inteiro, na contradição chinesa: comunista de jure; capitalista de facto. É como no início do episódio quatro de Star Wars, falando das rotas de comércio entre lugares de uma mesma galáxia, nesta infindável sopa de galáxias que é o Cosmos, num lugar vasto demais para a compreensão humana, no mistério infinito de Tao, no presente inestimável da Vida Eterna, na inconcebível perspectiva de que jamais findaremos, algo grande demais para caber na cabeça do belicoso Ser Humano, um ser especialista em crueldades como as guerras, deixando cruéis rastros de fome e destruição, em déspotas como Putin, sendo criticado por toda a comunidade internacional, nesta fome napoleônica por poder, e, nessa infindável fogueira de vaidades, Jesus permanece soberano em sua humildade, observando os egos humanos ascendendo e descendendo, como na humilde figura folclórica brasileira do Preto Velho, quietinho no seu canto, só observando o Mundo de forma remota, sem se envolver em disputas de egos e quedas de braço, na recomendação taoista: Numa queda de braço, perca, pois quem vence, entra em inferno astral, ou seja, sofre. Aqui é o poder aquisitivo das mulheres ricas e finas, numa cena que vi certa vez num shopping, com a dondoca fazendo compras em lojas finas e, atrás da perua, uma empregada carregando as sacolas, numa mulher que se acha sexy demais para carregar as sacolas de suas próprias compras, nos abismos sociais que se dissipam com o desencarne, na metáfora dos anéis sumindo e os dedos permanecerem em humilde nudez. Aqui talvez é a compra de tecidos finos, que seduzem em tal sofisticação e delicadeza, no momento em que o Ser Humano parou de usar peles de animais e começou a costurar e tear tecidos, no poder transformador das mãos humanas, do artesanato, no modo como os macacos não têm tal capacidade intelectual, apesar de serem animais relativamente inteligentes. A elegante senhora em pé sofre um assédio de um cavalheiro, num jogo social de sedução, como numa festa, numa menina e um menino se engraçando, beijando-se e “casando na festa”, como crianças no Ensino Médio, na afloração da sexualidade, numa imponente Marta Suplicy, dando uma palestra a uma plateia de adolescentes e dizendo: “A adolescência é uma época em que se masturbar dez vezes por dia é perfeitamente normal!”, impactando os jovens que assistiam. O chão aqui é simples, de terra, sem pavimentação civilizatória, remetendo ao passado de cidades as quais, em dias de chuva forte, os habitantes tinham que andar na Rua com galochas para evitar as poças de lama. A tenda montada é grotesca, simples, um tanto simplória, como num empreendedor que não se importa muito com a aparência de sua própria loja, como num magazine de Capão da Canoa, o qual tem o visual que tinha há muitas décadas atrás, talvez por influência de um velho proprietário que ainda dirige o estabelecimento. Aqui é uma mulher em compras, como já ouvi dizer: Fazer compras levanta o astral de qualquer menina ou mulher.

 


Acima, Embate entre negros ingleses e franceses. A eterna rivalidade entre essas duas nações, na soberania inglesa do Brexit, negando se anexar à zona do Euro, numa Inglaterra desde muito soberana, como na Igreja Anglicana, rompendo com o todo poderoso Vaticano, em cisões como no advento da Igreja Universal, abocanhando fiéis católicos, numa igreja que tanto enriquece, pois não precisa pagar impostos. Aqui é um mundo de homens, uma rixa de galo, na universalidade do Yang, do agressivo, num espírito de guerreiro, que sabe que não há vitória sem luta, como nas tribos amazonenses, com lutas entre homens da tribo, na universalidade das lutas, como capoeira, judô, caratê etc., na figura do deus Marte, o deus da guerra, em sanguinolentos campos de batalha, num dia vermelho, na paz fúnebre dos que pereceram no campo de batalha. As varas com as quais os homens lutam são o falo, como na espada, nos sabres de luz do jedis de Star Wars, no modo como as competições são tão sedutoras, como em jogos de Copa do Mundo, com o Brasil simplesmente parando para ver o jogo com a seleção canarinho, num certo machismo, pois os jogos da seleção feminina não causam tal comoção federal no Brasil. Aqui é um desentendimento, num momento em que o tato diplomático nada pode fazer, havendo no diplomata tal figura fina de paz, sempre primando pelo diálogo, como num homem de Tao, o qual nunca recomendará violência, pois quando Tao é perdido, o caos reina, como nas guerras mundiais, épocas em que se ouviam notícias tão tristes e aterradoras, em impactos comunitários totais, como na interrupção da Festa da Uva em tempos de II Guerra Mundial, num momento em que não havia clima para festa, havendo no ano de 1949 um momento de esforço comunitário para superar as cinzas da guerra e retomar a Festa. O embate aqui é um sucesso de plateia, seduzindo espectadores, como num espetáculo público. O cenário é simples, de chão de terra e uma casa humilde, da pobreza do escravo africano e do descendente deste, gerando os cinturões brasileiros de miséria, nos quais, infelizmente, há muitos negros de pardos, nesta herança social escravocrata, no escravo sendo libertado e assumindo o sobrenome de seu ex senhor, como Silva, por exemplo. Aqui é um impasse diplomático, como num país que, em posição poderosa mundial, quer impor à força suas leis universais, como no colonialismo inglês, impondo tal estilo de vida para terras selvagens e pouco civilizadas, na imposição do modo ocidental de vida, impondo a religião cristã e condenando os hábitos canibalistas de tribos brasileiras, no caminho do apuro moral, com irmão respeitando irmão, nos esforços do padre na missa em dizer que somos todos irmãos, filhos do mesmo Útero Imaculado, a Mãe de todos que nos concebeu de forma tão amorosa e especial, fazendo cada um de nós príncipes especiais, havendo em nossas veias o sacro sangue estelar metafísico, o qual tem como cópia as realezas mundanas, as quais representam tal dimensão atemporal e fina, nobre, pacífica, construtiva – é nossa família sagrada. Os pés descalços são a simplicidade, como uma pessoa de pés descalços dentro de casa, num momento de intimidade e sem frescuras, numa pessoa que aprendeu a ser mais Yin dentro de si mesma, deixando lá, do lado de fora, as lutas de Yang, o guerreiro que sabe que deve haver luta e coragem. Podemos ouvir aqui os gritos dos que assistem, num falatório caótico e confuso. É como ver sangue em octógonos de luta, num chão já manchado pelo sangue de outros lutadores, num lugar simples, de luta, como no chão gasto de luta no fim de O Tigre e o Dragão, num lugar de um cheiro não lá muito agradável, precisando de uma limpeza feminina, como na casa bagunçada de um homem viril que vive sozinho, precisando desesperadamente de uma figura materna, que arrume a casa, como um certo senhor que conheço, cuja casa, antes de se casar, era um caos de desarrumação.

 


Acima, Mercado de linho. Aqui esta predileção de Brunias por mercados públicos, remetendo ao majestoso Mercado Público da cidade de São Paulo, com produtos de alta qualidade e preços módicos. O centro do quadro, numa claridade, é uma senhora muito elegante e arrumada, com o poder aquisitivo de comprar tal linho fino, tecido pertinente em terras de calor tropical, como no Antigo Egito, no qual, em seu clima tórrido desértico, o linho era roupa de faraó, num privilégio para poucos, num tecido que “respira” tão bem em climas quentes. As mulheres negras comerciantes ocupam uma posição mais humilde na pirâmide social, nos moldes sociais do estado da Bahia, na herança colonial na qual o negro pobre trabalhava para o branco rico, gerando então a classe média baiana, na qual o empregado é, normalmente, negro, num caldeirão social narrado a mim por uma mulher branca que morou em Salvador nos anos 1970, uma mulher que disse que, quando pegava um Ônibus para ir ao colégio, entrava num veículo repleto de pessoas negras, no modo como estas olhavam para tal branca perguntando-se: “O que esta branca está fazendo aqui entre nós, negros?”. Aqui são essas tentadoras paisagens tropicais, como na exuberância do Rio de Janeiro, numa deliciosa mescla de urbe com natureza, mas numa cidade na qual a segurança pública é complicada, em toda a violência que se deriva do narcotráfico, destruindo as vidas de usuários e aniquilando carreiras, como numa Whitney Houston, cuja voz foi completamente devastada pelas drogas, num caminho triste, como um senhor narcodependente que conheço, o qual está condenado a passar o resto de seus dias numa clínica psiquiátrica, numa vida devastada, sem qualquer chance de reerguimento ou superação. O mar aqui é paradisíaco. O mar é o prazer, numa delícia, como numa lua de mel no Nordeste do Brasil, num lugar que é cópia fiel do Éden, como uma flor de plástico imitando uma flor natural – tudo na Terra é cópia do Céu, a dimensão perfeita a qual espera por todos nós, na promessa de libertação de Santo Agostino, digo, Agostinho, na carne que perece e no espírito que sobrevive a tal morte carnal. Num grande contraste cultural, vemos nativos quase nus, nesta grande estupidez que é a escravatura, trancafiando seres humanos como se esses fossem cachorros num canil, remetendo ao novelão Sinhá Moça, com a dura vida dos negros na senzala, condenados a uma vida inteira de labor forçado, tudo em nome da ambição dos senhores do café, num grão tão precioso, exportado para uma Europa sedenta por tal bebida universal, no boom de lojas no Mundo da rede Starbucks, num produto caro, mas de alta qualidade, ou seja, um preço que se revela razoável. Aqui, apenas a mulher rica tem um chapéu ocidental, por assim, dizer, quando que as demais mulheres, as mulheres do povo, têm seus tradicionais turbantes africanos, num costume baiano, como na cozinheira parda Bela Gil, arrumando seu cabelo com tal turbante, nos turbantes de adeptos de religiões afrobrasileiras, em tambores complexos, nas religiões dos socialmente execrados, como pretos, pobres e homossexuais. O linho aqui é tal moeda de troca, num privilégio para poucos, no fino que se revela forte, pois na grosseria e na fragmentação não há força, mas destruição, no título do vilão Esqueleto: “O senhor malévolo da destruição”, como islâmicos em júbilo ao cair da torres gêmeas, ou como na torre malévola de Mordor, de Tolkien, ruindo ao final da saga, em rupturas, como no homem europeu escravizando o homem africano, com irmão explorando irmão, tudo em nome do maldito Anel do Poder, pois quando você imagina o que você faria se tivesse o Anel, é porque este já está de apoderando de sua mente, como na recomendação de nunca se dar informações pessoais a um sociopata, o qual é uma comadre malévola, ardilosa e manipuladora. Este quadro é uma revelação de poder mundano, dinheiro, no modo como um agente de viagens ama clientes que compram passagens na primeira classe de um voo, no modo como tudo no Mundo gira em torno de dinheiro, o qual traz tudo, menos o que importa, que é Amor – pode-se ser feliz com pouco.

 


Acima, Mulher com criança e servente. A vara na mão do menino maior é o corte de atalhos, na praticidade do pensamento racional, na fria beleza dos números, em equações sendo resolvidas friamente, nas luzes científicas, fazendo da Ciência uma grande aliada do Espiritismo, o qual funciona por meio do pensamento lógico: Nada teria sentido sem a imortalidade da alma, na diferença entre fé e Ciência, pois esta não consegue ver além da morte do corpo físico, como diz Oráculo ao fim da trilogia Matrix: “Eu nunca soube, mas eu acreditei!”. O menino dá sinais de que se tornará homem feito, no senso de praticidade Yang, num homem centrado, pés no chão, assim como os pobres pés descalços do menino, havendo nos tênis um bem de consumo tão desejado, pois um par de tênis é caro, além do poder aquisitivo de muitos consumidores, nas palavras sábias de uma pessoa para mim: “Cuidado com esses tênis!”, um bem de consumo tão desejado por um assaltante invejoso, o qual mata por um par de tênis, como um rapaz digno e nobre que conheci em Porto Alegre, um jovem que foi assassinado por um bandido que queria o carro da vítima, havendo nesta uma pessoa boa, nobre, a qual certamente ocupa altos cargos no mundo real, que é o Metafísico, havendo nas aparências da carne uma ilusão, como em atletas que se “matam” para ter um condicionamento físico de desencarnado, na beleza da juventude eterna, como uma senhora amiga minha que faleceu recentemente, a qual deve estar hoje, lá em cima, linda como no dia do casamento dela, um espírito amoroso, que foi direto para o Céu. A servente parece dar uma instrução ou direção à senhora rica, como uma placa orientadora de trânsito, instruindo quem não é familiarizado com tais vias, numa pessoa perdida em um labirinto existencial, talvez solitária, respirando o ar pestilento de um submundo, perdendo o contato com algo fundamental, que é o Senso Comum, no modo como nossos pais nos colocaram no Mundo para o Mundo, e não para um submundo. A servente está descalça, havendo no calçado um símbolo de status social, como nos salões nobres do famoso Titanic, numa pessoa que, apesar de estar cercada de regalias, está infeliz, como Rose, uma menina que estava gritando por dentro, querendo se libertar, mandando a própria mãe à merda, com o perdão do termo chulo, no caminho que é a pessoa crescer e sair de casa. A criancinha menor é a vulnerabilidade e a dependência, como num filhote dependente, em pássaros filhotes num ninho, sem conseguir voar ainda, alimentados no bico por uma mãe zelosa, fornecendo vermes ou insetos como alimento. O decote das servente é a sensualidade tropical, nos exóticos trópicos seduzindo Brunias, como turistas do Mundo inteiro que são ao Rio de Janeiro, querendo vivenciar a sedução da América do Sul com sua vegetação exuberante e seus tambores exóticos, num Brasil cujas riquezas minerais foram tão exauridas por Portugal, pois riqueza e pobreza estão relacionadas, como numa pessoa que ostenta riqueza: Como são ricos! E roubaram tudo dos pobres! Como numa África exaurida, paupérrima, com riquezas sendo sugadas por potências europeias, numa herança social que traça até hoje a pobreza do continente negro, ao contrário de um Egito, cujo passado de glória e riqueza dava a tal nação o status de superpotência, militarmente temida pelos reinos vizinhos, os quais não ousavam contradizer o faraó, havendo em Cleópatra o fim de tal linhagem faraônica, num Egito que passou a ser uma mera província de Roma; num Egito que hoje é apenas um sítio arqueológico – os egos de poder humano ascendem e descendem, na eterna fogueira de vaidades humanas. Os trajes da senhora expressam tal status social, num mundo de privilégios e regalias, como no monarca inglês, dono de inúmeros imóveis, numa Inglaterra que só se tornou potência após o reinado emblemático de Elizabeth I, uma mulher que provou ir além do que muitos homens, num ícone feminista que mostra que inteligência não tem gênero.

 


Acima, Mulher com servente negra. Brunias adora esses quadros de motif social, com os abismos entre classes, como na supersérie Downton Abbey, mostrando o modo inglês entre classes sociais, com o Mundo dividido entre dois mundos: acima das escadas, que são os ricos, e abaixo das escadas, que são os pobres – uns com tanto e outros com tão pouco! É como num prédio que conheci em Salvador, com uma minifavela ao lado, com a máxima: Manda quem pode; obedece quem tem juízo! A roupa da mulher rica é suntuosa, majestosa, digna de rainha, com tecidos finos e caros, como um rapaz estiloso que conheci, o qual comprou fina seda e mandou fazer camisas, havendo na suavidade de um tecido metáfora com o cuidado e o carinho, virtudes dos espíritos nobres, de grande apuro moral, numa hierarquia que nunca é imposta à força, como num fino anfitrião numa sala – o fino e caro lustre multicolorido de cristal de nada adiantará com um anfitrião grosseiro e desagradável, na questão de que até a mais linda moldura não poderá valorizar um quadro ruim, no modo como já ouvi dizer que no Louvre as molduras são um espetáculo à parte. A negra servente é a resistência social e racial em meio a uma sociedade tão dura e racista. O peso é tal fardo de trabalho, como um porteiro de prédio, o qual sua em todos os sentidos para manter limpas as áreas comuns do prédio, numa vida tão árdua, como um caminhoneiro, o qual tem que passar os dias e noites de sua vida viajando Brasil acima e abaixo, num trabalho que não rende dinheiro o suficiente para acumular; num trabalho que só serve para pagar as contas – é muita dureza. A árvore é a família, com seus ramos se desenvolvendo e enlaçando-se com famílias vizinhas. A árvore é o lembrete de que somos todos do mesmo cesto, da mesma família, havendo no desencarne a sinalização de que somos conectados, na metáfora da Internet, a qual faz metáfora com o Cosmos todo interligado no arquétipo sensual rei/rainha, nos opostos fazendo amor no orgasmo de uma supernova explodindo, numa sexy operadora de telefonia com voz aveludada, como na voz de veludo de Nat King Cole, seduzindo o Mundo em meio a um talento tão célebre, na capacidade instintiva de certas pessoas em seduzir o Mundo, num caminho autodidata – não há livro ou faculdade que nos ensine a viver. É como na força e no instinto de uma Gisele, a qual enfrentou uma grande provação, que é superar suas raízes humildes para se tornar a princesa do Brasil, num ícone de orgulho nacional, como Senna e Pelé. Ao fundo no quadro uma negra e um menino conversam, talvez numa língua nativa, como no tupiguarani, diferente das línguas mães europeias, no modo tais sociedades pré Escrita desenvolvem oralmente suas tradições, em noções passadas de geração para geração, havendo na Escrita um passo decisivo na Humanidade, no acúmulo de conhecimento, desembocando na Tecnologia Digital, a qual tanto poupa o desperdício de papel, num paradigma indestrutível: Quem não está online, não vive no Mundo real. Ao fundo, morros pedregosos, que são a dureza da Vida, numa pessoa subserviente que não teve acesso a educação ou ensino, como em humildes garis varrendo as ruas de uma cidade, levando uma vida tão dura e difícil, no modo como já ouvi dizer, e assino embaixo: A Vida é dura e difícil em qualquer lugar, nas palavras de Sinatra: “Se posso obter sucesso em Nova York, posso obter sucesso em qualquer lugar!”. A mulher rica é o destaque do quadro, nesta paixão de Brunias por mulheres elegantes, como numa Vênus de Botticelli, protagonista, estelar, no centro das atenções, assistida por uma aia humilde, coadjuvante, no secundário que se revela primordial: Quando digo que vejo uma estrela, é porque vejo ao lado algo menor do que tal estrela. A mulher rica aqui é um demiurgo, restando à negra o duro trabalho braçal subserviente, na imagem que já citei aqui no blog sobre outra obra de Brunias, com a dondoca que se acha sexy demais para carregar as sacolas de suas próprias compras, no modo como uma pessoa rica desocupada é uma pessoa de grande miséria existencial.

 


Acima, Mulheres com crianças e serventes. Aqui é o modo como o estilo de vestir fala sobre status social, com as mulheres ricas em seus adornos exuberantes de cabeça, algo simplesmente negado a mulheres mais pobres, as negras, no racismo que tantos séculos de escravatura gerou, em heranças sociais que perduram até hoje, nos pretos pobres de favelas, fazendo da escravatura um símbolo da crueldade ambiciosa humana, num rei que quer anexar os reinos vizinhos, agredindo assim a Paz, valor tão defendido pelo tato diplomático. Bem ao fundo, num detalhe, vemos uma negra com uma criança branca – é a mãe de leite, ou a mãe preta, no leite de negras que alimentam bebês de famílias brancas ricas, nos apelos dos bancos de leite materno para doação de leite, como uma pessoa que conheço, a qual doa sangue periodicamente, numa intenção nobre de ajudar o próximo. Os cachorrinhos minúsculos são a obediência, na dádiva que é uma criança bem comportada, como um aluno que obtém notas altas no colégio, no caminho da disciplina, havendo a dureza do diretor de escola, tendo que ser duro para manter na linha tantas crianças e adolescentes, no modo humano de impor uma hierarquia por meio da força, e não por meio da virtude, como na rígida hierarquia militar, dura, por vezes cruel, em Caim se achando no pleno direito de matar Abel. Os vestidos brancos são o esclarecimento, a inteligência, numa pessoa que acumula conhecimento, sabendo que há certos comportamentos que não são doenças, no caminho frio racional, numa pessoa que “colocou a cabeça no lugar” e parou de ouvir o traiçoeiro coração para, assim, ouvir a mente, como na personagem Ellen em A Época da Inocência, numa mulher que, no fim do filme, acaba caindo por si e manda o amante Newland à merda, com o perdão do termo chulo – bons filmes não envelhecem em seu apelo universal, numa Hollywood de altos e baixos, com o Oscar e a Framboesa de Ouro, na prova de que ninguém está por cima o tempo todo. Os cachorrinhos são a fragilidade e a vulnerabilidade, numa criança que inspira cuidados, como num íntimo relacionamento mágico, no momento de entrega no qual um se joga nos braços o do outro, encontrando consolo em meio a um Mundo tão duro, no sentido de um abrir suas tristezas para o outro, num momento profundo que NENHUM dinheiro pode comprar. Aqui vemos homens e meninos de farda, de vestes ocidentais, no modo europeu de ditar parâmetros absolutos de comportamento, como na imposição do Cristianismo, num indígena que não entendia o significado de Maria esmagando uma serpente, no modo indígena de lidar com mais naturalidade com o sexo e a sexualidade, longe das culpas negras católicas em relação a sexo e prazer, havendo um imenso prazer nos gostosos pecadinhos capitais, como a Preguiça, da qual nasceram as grandes invenções da Humanidade, como o elevador – porque eu tenho que me matar subindo escadas se posso pegar um elevador? Aqui, os rostos negros colocam em evidência os brancos, nas palavras elitistas da famosa socialite carioca Carmen Mayrinck Veiga, a qual declarou que já trabalho na vida como uma negra, atiçando protestos no Brasil inteiro com uma colocação de fato racista, porém engraçada. O menininho branco tem sapatos, ao contrário dos menininhos pretos, descalços, para deixar bem clara a questão hierárquica, numa pessoa que tem que depender de doações se quiser calçar um sapato, mesmo que usado e esburacado, no conselho taoista de misericórdia: Nunca seja mesquinho em relação a comida, como já vi donos de restaurantes dando comida de graça para homens miseráveis, no modo como eu mesmo tive, certas vezes, que depender da gentileza de estranhos. O que é caridade? Caridade é entender como o outro se sente, na sensibilidade do Yin, na clemência, no Amor entre irmãos, filhos do mesmo Rei Supremo, que é a razão de tudo. Aqui, há a inocência da criança, numa época em que as amizades são sinceras e simples, sem noção de abismos sociais, numa idade em que a criança traz um residual de vida metafísica, na pureza do puro Amor entre irmãos, ao contrário do sociopata, o qual começa desde cedo sua carreira criminosa, agredindo os coleguinhas na escola – é um horror.

 

Referências bibliográficas:

 

Agostino Brunias. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 9 ago. 2023.

Agostino Brunias. Disponível em: <www.masp.org.br/acervo>. Acesso em: 9 ago. 2023.

Agostino Brunias. Disponível em: <www.tate.org.uk>. Acesso em: 9 ago. 2023.

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