quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Ruas de Brunias (Parte 3 de 3)

 

 

Falo pela terceira e última vez sobre o artista italiano Agostino Brunias. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Cena dançante. Já ouvi a grande verdade de que as Artes estão umas dentro das outras – o que seria da Dança sem a Música? Aqui é como um terreiro de Umbanda, com muitos tambores liquidiscentes, rítmicos, marcando a ascendência e a descendência das estações climáticas, no homem de Tao, que observa o Mundo de tal forma, sabendo que os ciclos se renovam e que novas chances sempre virão, na eterna paciência de Deus, o infinito sobre o qual escrevemos nossa trajetória, neste presente inestimável da Eternidade, sobre é qual impossível falarmos, pois se pudéssemos falar, seria finito, delimitado, findável, perecível. É um dia de festa, nos moldes africanos de tambores, marcando para sempre, por exemplo, os estados da Bahia e do Rio de Janeiro, como a axé music e o samba, remetendo-me a um casamento de primos meus em Salvador, quando uma banda, como a célebre Olodum, entrou na festa, subiu no palco e contagiou todos os convidados, num casamento belo e exótico, na beira da praia, fazendo de tais terras cópias fiéis do Éden, como eu apreciando as paisagens de Gramado – apesar de eu saber que a Serra Gaúcha é uma cópia no Metafísico Sacro, ainda assim me apaixono por tais paisagens, como observar a beleza de uma rosa natural por meio de uma rosa de plástico, num contentamento, no divino fato de que ninguém está no Mundo para sempre, no dia de libertação que chegará, meu irmão. Podemos ouvir a multidão contagiada pelos tambores, no termo “batuqueiro”, que denomina os umbandistas, como nos orixás baianos, neste casamento sincrético com o Cristianismo, numa sincronia entre Maria dos Navegantes e Iemanjá, com as oferendas feitas na beiramar, que fica tomada de flores para a Santa, como numa avenida de Capão da Canoa, a qual se chama “Rua da Santinha” por ter uma imagem de tal divindade orixá. Aqui é como no filme Bella Donna, do meu querido Fabio Barreto, na personagem que mergulha de cabeça na cultura local brasileira, deixando-se invadir, na capacidade taoista de humildade e aceitação, pois quanto mais me curvo, mais governo, na recomendação taoista de perder uma queda de braço, pois quem vence, entra em inferno astral; quem perde, torna-se o homem maior. Aqui é uma cena predominantemente feminina, e uma negras estão de seios nus, nas curvas de uma Naomi Campbell, a qual, dizem por aí, não é lá muito educada – fazer o quê? A negra nua é como no filmão Carlota Joaquina, com a escrava sem pudor, sabendo que ocupa tal posição socialmente humilde, como numa auxiliar de limpeza num estabelecimento, no fascismo de elevadores de serviços, uma herança escravocrata, nas terríveis senzalas, com seres humanos confinados como cachorros num canil, numa Escravatura que trouxe toda uma herança social desprivilegiada ao descendente de escravos, como numa África dilacerada por tal perversidade mercantil, com seres humanos vendidos como animais, tudo em nome do maldito Anel do Poder, o qual corrompe homens nobres. A árvore ao fundo é a vida brotando em toda a sua força, nos tambores tocados com tanto ritmo e talento, inteligência emocional, num Tao que só pode ser compreendido instintivamente, estando bloqueado contra as inteligências frias e esquemáticas do sociopata, numa pessoa que ignora aquilo que não é fascistamente claro, numa pessoa que ignora canções lindas ou filmes comoventes, no caminho da insensibilidade. O cachorrinho aqui também se diverte com a festa. Os pés nus no chão de terra são a simplicidade, como neste casamento que narrei, no qual os convidados eram convidados a retirar seus sapatos e calçar chinelos de tira, para o convidado se sentir extremamente confortável, no modo como a festa acontece no coração da pista de dança, e não numa tediosa e arrogante ala vip, a qual é um tédio de tão óbvia. Os seios são as amas de leite, amamentando crianças brancas ricas, na beleza do corpo feminino, em aulas de nu em faculdades de Arte, numa Madonna posando pelada, mostrando a beleza do corpo e da sexualidade a uma América tão protestante e puritana, na qual o cidadão não pode se prostituir.

 


Acima, Dominicana num mercado de linho. Brunia adora essas cenas de mercado, uma atividade tão antiga da Humanidade, com vendedores ávidos por lucro e consumidores querendo pechinchar, num assédio aos consumidores que passam pelos estandes. Os guardachuvas são a proteção e o resguardo, assim como um pai quer proteger o filho, não podendo ser um pai superprotetor, como uma pessoa que conheço, a qual teve uma mãe extremamente superprotetora, que massageava o ego do filho, dando ao filho a ilusão de que ele próprio era um superstar, nas palavras de tal mãe: “Meu filho não merece dez; meu filho merece onze!”. É na necessidade da pessoa em adquirir o controle de sua própria vida, como numa ninhada dando chutes na barriga da cachorrinha. Os paladinos navios mercantis ao fundo no mar são tal coragem de exploração, como nas naus portuguesas explorando o Brasil, numa corrida entre potências europeias para ver de quem seriam tais terras, tomadas de seres humanos os quais os europeus consideravam selvagens e incivilizados, como em atos de canibalismo, fascinando a Europa com tais relatos exóticos, num choque entre civilizações que causou o colapso da América primordial, na agressividade do homem branco, sem pudores para escravizar e exaurir as reservas minerais, como num Brasil sugado pela Europa, pois onde há riqueza, há pobreza: Como são ricos! E roubaram tudo dos pobres! As senhoras elegantes de Brunias se vestem de modo a ostentar tal posição social, como numa Inglaterra tão aristocrata, nos sangues azuis que não podem se misturar com sangue comum, num perturbador cenário de incesto no Antigo Egito, num rei Tut que se casou com sua própria meia irmã, dando à luz natimortos, num Egito no qual eram considerados chiques e necessários os casamentos dentro da família real, achando que os natimortos eram a vontade dos deuses, e não um problema genético recorrente de tal incesto. Aqui é um momento de interação social, como numa missa numa paróquia, com os jovens solteiros interagindo socialmente, na pressão católica em relação à heterossexualidade, no modo como o Senso Comum levará muito tempo para absorver a informação científica de que homossexualidade não é doença, muito menos pecado, estando eu, aqui, discordando de um bom homem, que é o Papa Francisco. Os vestidos brancos são a limpeza e a clareza, na tradicional noiva de branco, nos preconceitos do Mundo Patriarcal, quando a menininha, ao nascer, “ouve” do próprio pai: “Esta eu vou guardar debaixo de sete chaves e entregar pura e casta para o marido na Igreja!”, numa sociedade que tanto tolhe a sexualidade feminina. As casas na cena são a solidificação, num homem firme e centrado, que dá à esposa a sensação de estabilidade, firmeza e segurança, mas numa mulher que, ao mesmo tempo, quer um homem romântico e bom de cama, na metáfora de Dona Flor e seus dois maridos, havendo o contraste entre opostos, em opostos que se complementam, remetendo a um amigo meu, cujo casamento naufragou, talvez num homem que começou a se mostrar pouco romântico, deixando esfriar o mágico calor da Lua de Mel, a qual, já ouvi dizer, dura cerca de três meses, havendo, depois, a dureza do dia a dia, quando um começa a se deparar com os defeitos do outro, tendo que haver paciência num casamento para que este dure – meu amigo, nesta tua nova mulher, certifique-se de que você não deixará murchar o romantismo! Os milhos, na porção inferior do quadro, são a fertilidade e a força da Vida, que vem da terra, das entranhas da terra, como na famosa escultura de Dalí no novaiorquino MOMA, com a moça com uma espiga de milho e formigas andando, na força da vida, na força que sempre encontra um caminho, em cereais nutritivos, trazendo vida, nutrindo, como num bom mingau de aveia, um alimento tão perfeito e barato – qualidade de vida não custa tão caro. Podemos ouvir aqui um burburinho de tal lugar público, em ofertas sendo feitas, na incumbência do feirante em vender e trazer dinheiro para casa no final do dia.

 


Acima, Homem negro, duas mulheres e uma criança. Aqui negro manda em negro, numa hierarquia, num negro que ascendeu socialmente, num sonho de um emergente em ascender, como num rapaz que conheci certa vez, o qual veio de uma família bem simples e pobre, um rapaz que achou que ia conseguir chegar a algum lugar, neste preconceito em relação a tais ambições, como no rigoroso sistema de classes inglês, como numa menina de classe média que se casou com o herdeiro do trono da Inglaterra, numa oportunidade única de ascensão social – quando teria Kate outra chance de colocar no Mundo bebês de realeza e ser Kate a reinar sobre um terço da Humanidade? Aqui é o conceito de Marx de luta entre classes, numa ideologia que gerou o hoje combalido Comunismo, numa China comunista que é capitalista, mas num país onde a maior parte do dinheiro fica com o governo, numa China rica em que o cidadão chinês, em si, não é rico, numa China que é um dos poucos aliados da ditadura nortecoreana, num líder insano, déspota e cruel que investe tudo em armistício, fazendo tal nação paupérrima carecer enormemente de escolas, hospitais e estradas – é um horror. O homem negro mandante aponta para uma direção, numa seta impositiva, no falo do poder patriarcal, como nas abrasivas pirâmides egípcias, num recado claro: Não se meta com o Egito! É no formato de injeção de um prédio novaiorquino, nuns EUA que tanto poder têm, ao ponto de mandar e desmandar em cenário mundial, posicionando-se contra outro déspota insano, que é Putin, cujas ações estão sendo amplamente desaprovadas, numa guerra tão cruel e desnecessária, num insano Napoleão, o qual perdeu a oportunidade de ficar quieto no seu canto e ser um homem de efetivo respeito, como num certo rapper, o qual perde chances douradas de ficar calado, na máxima popular: Quem falo o que quer, ouve o que não quer! Os escravos são tal pressão, como num infeliz workaholic, trabalhando insanamente, sempre desrespeitando a si mesmo, num Mundo que não vai me abonar se eu for um workaholic, como eu mesmo já passei por uma fase assim, num caminho degradante no qual a pessoa não se dá ao respeito. O negro mandante parece ter uma espada escondida na mão esquerda dele, neste símbolo de agressividade, como no símbolo fálico que simboliza o sexo masculino, numa sociedade patriarcal que cobra do homem o êxito e o sucesso, não fazendo tal cobrança para a mulher, a qual, se quiser ser uma humilde e anônima dona de casa, mãe e esposa, pode o ser sem problemas, sendo mal vista a mulher bem sucedida, nos preconceitos que Thatcher enfrentou no início da carreira política, ouvindo perguntas como: “Quem vai cuidar de sua casa e tomar conta de seus filhos?”. A criancinha negra é herdeira de tal opressão social, enfrentando desde cedo tal desvantagem em relação a criancinhas mais ricas, em abismos sociais que o esforço democrático quer anular por meio da igualdade perante a urna eleitoral, nos sonhos comunistas de igualdade, nos sonhos de igualdade da Revolução Francesa, guilhotinando aristocratas, na ascensão da classe burguesa, havendo sempre uma classe dominante, como na elite burocrática comunista, numa ineliminável diferença entre classes. O negro mandante, apesar de ter poder de mando, carece de sapatos, assim como os pobres na cena, fazendo do sapato tal símbolo de status social, em objetos de consumo, em ladrões psicopatas dispostos a matar por tais itens, perguntando ao sociopata o porquê deste ter tirado a vida de um rapaz, ouvindo a resposta do bandido: “Porque ele não quis me dar os tênis dele”. Aqui é uma rotina de labor, na luta sendo enfrentada, como professores reunidos na sala dos professores durante o intervalo, encarando o fato de que, ao tocar o sinal, é hora de voltar para a sala de aula e continuar trabalhando, no caminho de responsabilidade e sisudez, no modo como não é bom ser jovem demais, pois o jovem não tem noção de responsabilidade.

 


Acima, Caribenhos atravessando um riacho. A travessia é um momento de cuidado, como no líder sob a luz de Tao, num líder hesitante, como se soubesse que há perigo na travessia. É no córrego que leva à floresta mágica de Lórien, de Tolkien, um córrego gelado, porém terapêutico, num remédio amargo que surte doces efeitos, no modo como a Vida vai nos ensinando lições de humildade, pois humildade é sabedoria, pois só quem tem os pés no chão pode resistir às tentações da soberba, como num Jesus Cristo resistindo a sedutoras sensações, num homem de tal caráter incorruptível, perfeito em seu apuro moral, deixando tal legado inestimável no Mundo, como uma certa popstar, a qual, ao morrer, deixará no Mundo um legado incrível, num reconhecimento póstumo, como num Van Gogh, no modo como o Mundo pode ser tão duro e difícil, em exemplos felizes de um Andy Warhol, reconhecido ainda em vida, felizmente, estabelecendo um estilo inconfundível e único, neste incrível casamento da Pop Art entre arte mercado, em obras de arte sendo leiloadas, como numa pessoa que resolveu investir em arte, talvez tendo gestos nobres de fazer doações a museus, em museus tão deslumbrantes como o novaiorquino Met, ou na supremacia do Louvre, o qual exige que fiquemos um ano inteiro dentro de tal museu, tal o acervo vasto, no modo como arte é um terreno inesgotável, eterno, fazendo da arte uma das provas da inteligência humana, ao lado das ciências – qual o futuro da Humanidade? Aqui é a humilde vida dos caribenhos nativos, como nas tribos amazonenses em suas moradas de palha, num modo de vida muito aquém da sofisticação europeia, a qual acabou se impondo sobre os selvagens, no modo como os indígenas eram donos e senhores das Américas, tendo hoje descendentes paupérrimos, jogados numa calçada e pedindo dinheiro. De costas para nós, o homem de branco é o poder e a hierarquia. O homem aponta com o dedo, dando expressas ordens, no falo do dedo do mandante, como num cruel narcotraficante, dando ordens de execução para eliminar desafetos ou pobres coitados viciados inadimplentes, num traficante que quer, acima de tudo, dinheiro, mal se importando com o poder das drogas em destruir vidas e em trazer violência às cidades, como no Rio de Janeiro, a cidade bela e violenta, com tiroteios entre polícia e bandidos, com balas perdidas que atingem inocentes, como crianças. O córrego é o antes e o depois, como na passagem de Jesus pela Terra, como no reinado de Elizabeth I, dividindo em duas a História da Inglaterra, numa mulher que, além de viril, algo que é necessário numa regência, levava muito a sério o se arrumar e se enfeitar na hora de vir a público, remetendo a muitas mulheres da política por aí, mulheres que creem que, se arrumarem-se demais, não serão levadas a sério, o que é um equívoco, pois a vida pública exige boa aparência da pessoa, como Collor, com sua aparência impecável que conquistou e enganou muitos milhões de eleitores. O córrego é o curso da vida fluindo, num processo que vai se desdobrando naturalmente, no caminho de maturação da pessoa, na criança que vai adquirindo siso adulto, como na menina que abandona as bonecas para debutar e iniciar sua vida social – o brinquedo pode permanecer no quarto do indivíduo, pois o que irá mudar é a relação do indivíduo com tais brinquedos, partindo do indivíduo a decisão de guardar os brinquedos numa caixa dentro de um armário, nas minhas doces lembranças de infância dos brinquedos relativos ao universo do super herói He-Man, a figura suprema do macho alfa patriarcal. A paisagem é selvagem e devoluta, virgem, como no colono italiano que se deparava, na Serra Gaúcha, com um terreno virgem, cheio de mato, em mãos calejadas de agricultor, numa vida de trabalho árduo que gerou em tal região a cultura de dedicação extrema ao labor. Num detalhe no quadro, uma mãe amamenta do filho, no universal divisão de tarefas entre os sexos, com o homem indo à mata para caçar e pescar, talvez trazendo um banquete selvagem, como carne de cobra, como na China, um país no qual come-se de tudo, até cachorros! O córrego é algo instintivo, fluindo, encontrando um caminho, um jeito e uma solução.

 


Acima, Mulheres com vestidos elegantes. O rapaz, em seu humilde papel coadjuvante, é essencial para fazer sobressaírem as moças, no discernimento taoista dialético, no qual tudo traz em si sua própria contradição: Quando digo que algo é fácil, é porque conheço o oposto, que é difícil, como eu em meu ínfimo papelzinho coadjuvante em O Quatrilho, fazendo com que eu fizesse sobressaírem-se os poderosos protagonistas, como numa mulher baixinha, a qual faz se sobressair o marido mais alto. As moças parecem conversar, talvez discutindo se aceitam ou não o convite de passeio do rapaz, num momento de interação social para o qual as pessoas se arrumam, como num rapaz de barba feita, banho tomado e roupa limpa, ou como na primeira metade do século XX na Rua da Praia, via tradicional portoalegrense, lugar onde as pessoas se aprumavam para passear, havendo furtivos fotógrafos na calçada fotografando as pessoas elegantes, vendendo a estas tais fotos, como o fez minha falecida avó Nelly, a qual, na foto na época, era uma deusa de cintura de miss Universo, no modo como, ao desencarnar e ir ao Plano Superior, a pessoa rejuvenesce e vive jovem e radiante para sempre, numa linda mulher emoldurada por uma luz, com espíritos felizes e atuantes, que estão trabalhando, no lindo caminho da construção da Grande Carreira Espiritual, na qual nenhum trabalho é em vão, como no árduo trabalho de gari na Terra. Os decotes das moças são até provocantes, talvez necessários com o calor caribenho, remetendo ao carioca de antigamente, o qual devia sofrer com tantas roupas em uma cidade tropical, muito longe da neblina fria londrina. Aqui entre as moças temos uma afinidade, pois ambas se vestem mais ou menos da mesma forma, como num grupo de adolescentes, dentro do qual os integrantes se vestem da mesma forma, no caminho das identificações, na influência grupal, como uma amiga minha, a qual começou a andar com uma galera barra pesada, um grupo que consumia cocaína, e esta minha amiga começou a cheirar só por curiosidade, mas acabou viciada, como um certo senhor, o qual certa vez, tentou me aliciar para a droga – vá tomar no cu, meu senhor, com o perdão do termo chulo. Os chapéus aqui são mais do que proteção solar, mas adornos de estilo, talvez num Caribe imitando as tendências de moda europeia, no modo como uma certa popstar disse que Paris a encheu de novidade e excitação, numa cidade a qual, já ouvi dizer, é provinciana, no parisiense se achando o centro do Mundo, no modo como o Ser Humano é provinciano, em qualquer lugar. O rapaz aqui, em demonstração de respeito e cordialidade, tira o chapéu para as senhorinhas, num ato de respeito e cavalheirismo, na capacidade da pessoa em se curvar em sinal de respeito, como respeitar uma determinada família, ou como respeitar uma dinastia vigente, havendo nas famílias de realeza a função representativa de representar uma dimensão superior, fina e atemporal, a dimensão onde todos temos a plena noção indelével de que somos todos príncipes especiais, filhos do mesmo Rei, que é Tao, a presente da vida eterna, no imensurável poder de que jamais findaremos – não é poder demais? O rapaz usa uma elegante bengala, num símbolo de terceira idade, como minha falecida avó, a qual, já idosa, adorou ter recebido de minha mãe uma bengala, num instrumento tão simples e bem pensado. A natureza de Brunias é assim, perfeita, num cartão postal, num pintor europeu tão seduzido pelo Caribe, em terras tropicais distantes, longe da tradicional Europa civilizada. O rapaz é a polidez e a gentileza, numa pessoa que sabe do valor da cordialidade, ao contrário da pessoa grossa, a qual não entende Tao, o fino, pois grosso é fraquinho; fino é fortíssimo. Aqui é a imposição do modo de vida europeu em terras selvagens, como na catequização de povos indígenas no Brasil, num indígena que não entendia o porquê da virgindade de Maria, mesmo porque os selvagens lidavam de uma forma natural com Sexo.

 


Acima, Plantador, sua esposa e servente. A negra escrava tem um papel bem discreto e coadjuvante, anônima perante as pessoas de classe social elevada, numa pessoa acostumada a habitar a áreas de serviço e a tomar elevadores de serviço, num espírito que resolveu reencarnar em um contexto social tão pobre, talvez para ficar mais humilde, no modo como no Desencarne as diferenças sociais acabam, não havendo de fato classes sociais entre os espíritos. O homem aqui, com seu fálico dedo apontado, é a uma ordem, apontando uma direção, dando uma ordem e uma diretriz, numa pessoa obcecada em obter o controle, indo contra Tao, pois quanto mais Tao você tem, menos controle você visará obter, como uma pessoa no topo de uma hierarquia, desrespeitando quem habita uma parte humilde na hierarquia, como em pessoas que se negam a andar de elevador com uma pessoa mais pobre e humilde, no caminho da arrogância, como na arrogante Miranda vivida por Meryl Streep, uma personagem arrogante a qual se negava a andar de elevador junto com uma pessoa abaixo de si na hierarquia, algo que se revela uma grande estupidez e má educação, como uma pessoa que conheço, a qual simplesmente se nega a cumprimentar o zelador do prédio onde mora, e Tao não é assim, pois Tao é gentil e agradável, tratando a todos com respeito e consideração. A moça rica aqui está hesitante, não sabendo se cairá na lábia do rapaz, numa resistência e numa hesitação, como se soubesse que há perigos. A moça usa no peito um crucifixo, que é o recato e a discrição, no modo como cruzes espantam os vampiros, fazendo do sociopata uma pessoa fria que não entende o que é comiseração, não compreendendo o que é se colocar nos sapatos do outro e entender como este se sente, como no sociopata cruel de O Silêncio dos Inocentes, absolutamente alheio aos gritos de súplica e pavor da própria vítima, como em pessoas que fazem brincadeiras muito agressivas, sem saber como o outro se sente, pois sensibilidade é saber como o outro se sente. Aqui há um abismo social representado pelo modo de vestir, na negra com roupas muito mais simples e humildes do que da moça rica, como vi certa vez numa igreja católica, com espaço para os ricos e para os pobres escravos – a parte dos ricos era cheia de arabescos e decorações; já, a dos pobres, era simples, limpa e sem excessos visuais, ou seja, a parte dos pobres era extremamente mais interessante, pois trazia a limpeza de Tao, o minimalista, o limpo, clean, por assim dizer, no modo como o desencarne de um pobre é bem mais fácil e tranquilo do que o desencarne dum homem rico e cheio de riquezas mundanas, na máxima popular: Vão os anéis; ficam os dedos. O homem aqui faz uma proposta, como num homem fazendo uma sólida proposta de casamento, num homem sério e centrado, mas talvez um homem não lá muito romântico, fazendo do sexo algo mecânico, muito fora da magia da Lua de Mel, o momento em que o casamento parece que será um eterno paraíso, o que não é verdade, pois a dureza do dia a dia se revela em toda sua dureza, em casamentos que acabam naufragando frente à sisudez da vida de casados. A moça balança sensualmente seu vestido, talvez querendo seduzir o rapaz, num jogo de sedução entre Yin e Yang. O homem aqui se veste como um europeu, num Caribe tão colonizado, com escravos negros sendo oprimidos, tudo em nome da ganância dos coronéis dos cafezais paulistas, exportando grãos para a Europa, encantando o Mundo com os sabores dos trópicos, numa bebida tão difundida mundialmente, em mercados consumidores pujantes como os EUA, o país em que tomar café é algo absolutamente cotidiano, resultando em redes poderosas como a Starbucks, na segunda bebida mais consumida no Mundo, só ficando atrás da água. A moça rica está com um semblante blasé, entediado, não muito seduzida pelo rapaz, talvez num casamento arranjado, tramado pelos pais da moça, nesta inclinação do Ser Humano em fazer escolhas que não trazem felicidade, no modo como a vida é feita de escolhas, como me disse uma amiga psicóloga, uma pessoa feliz.

 

Referências bibliográficas:

 

Agostino Brunias. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 9 ago. 2023.

Agostino Brunias. Disponível em: <www.masp.org.br/acervo>. Acesso em: 9 ago. 2023.

Agostino Brunias. Disponível em: <www.tate.org.uk>. Acesso em: 9 ago. 2023.

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