quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Ruas de Brunias (Parte 1 de 3)

 

 

O italiano Agostino Brunias (1730 – 1796) foi fascinado pelo Caribe, cujas cenas tanto pintou. “Romantizou” a aspereza da vida agrária. Controverso, foi até considerado subversivo. Está no acervo de grandes museus como o MASP e o Met de Nova York. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Serventes lavando um veado. O veado é o fino que se sobrepõe ao grosso, no discernimento de que fino é forte e de que grosso é fraco. O banho é o ritual civilizatório de higiene, remetendo à insalubridade da Europa durante a Peste Negra, numa época em que higiene era inexistente, como no Antigo Egito, com uma vida tão insalubre que a mortalidade infantil era alta e a expectativa de vida era baixa. Os turbantes são a tradição africana, como nos turbantes das baianas no Pelourinho em Salvador, vendendo suas iguarias baianas e encantando turistas com tal modo de vida exótica, num Brasil tão marcado por suas raízes afro, na estupidez da escravatura, reduzindo seres humanos a burros de carga, num desamor por seu irmão, como uma pessoa equivocada, que se empenha em passar golpes pela Internet ou por Telefone, um espírito equivocado, ao qual só resta o Umbral, a dimensão dos infelizes sofredores, pois quem não tem apuro moral, sofre – nossos irmãos sofredores. Aqui é uma cena de serviço e de trabalho, como na árdua jornada de trabalho de um mordomo, mantendo uma casa limpa, organizada, abastecida de supermercado e com comida pronta na mesa, num espírito que resolveu reencarnar em uma vida tão dura, repleta de labor, talvez vindo de uma encarnação anterior na qual a pessoa viveu ao léu, sem se centrar de forma alguma. O veado é a comida, a alimentação, nos programas de TV que mostram as leis da selva, com leões esfomeados, devorando bichos herbívoros, numa Natureza que pode parecer cruel, mas que faz sentido, no modo como Tao não faz algo em vão, havendo numa encarnação todo um sentido, num “colégio” que tanto exige do aluno, como professores inesquecíveis, que marcam nossas vidas, sendo cada um deles importantes na vida da pessoa, no modo como até hoje mantenho contato com uma pessoa que foi minha professora há quatro décadas, como uma pessoa que passa por vários psiquiatras, ficando estável só no quinto ou sexto médico, mas no fato de que o mérito tem que ser dado a cada psiquiatra que fez parte da trajetória da pessoa. O chão em xadrez é tal jogo, nos versos de Elis: “Vivendo e aprendendo a jogar. Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo. Mas aprendendo a jogar”, no modo como a vida exige que sejamos autodidatas, pois não há livro ou faculdade que nos ensine como viver, até a pessoa adquirir a atitude limpa e minimalista de Tao, fazendo da gostosa preguiça a virtude que nos faz agir fazendo só o essencial. Os rapazinhos infantes são a magia da infância, numa época em que a pessoa se contenta com pouco, longe do rol de exigências e critérios do adulto, numa época em que temos nossos amiguinhos, sem haver amizades por interesse. A porta aberta é uma perspectiva, uma opção, uma saída, numa pessoa que encara um momento de crise, a qual, já me disse uma excelente psicoterapeuta, é positiva, pois a crise assinala um momento necessário de renovação na vida da pessoa, numa reviravolta de vida, a qual só pode acontecer com trabalho e dedicação séria, como eu gostaria de dizer a uma certa pessoa amiga minha: “Você pode estar farto de tudo isso, mas você será um homem, meu filho!”, pois o Mundo é de quem tem os pés no chão a encara a luta, ao contrário de algumas amigas minhas, as quais abandonaram o labor nobre para se tornarem meras donas de casa, pois apenas cuidar de uma casa não dizer a você quem você é. Os turbantes aqui remetem ao cantor Carlinhos Brown, ostentando tal orgulho racial, no modo como um descendente de escravos tem em sua identidade não só séculos de escravatura, mas milênios de arte e cultura africana, como na instigante seção afro do Met em New York, com artefatos de magia, no modo humano de construir mitologias, vindo a Revolução Científica a mostrar que não há deuses e deusas, mas forças naturais da Natureza, num Cosmos tão vasto, longe de ser compreendido pelo Ser Humano. O veado quietinho é a domesticação, o condicionamento, numa pessoa que aprendeu a se comportar.

 


Acima, Três caribenhos livres. A liberdade é a glória, na imagem de esperança do Espírito Santo, no dia de libertação que certamente chegará, a qualquer momento, no modo como ninguém está no Mundo para sempre, havendo um “prazo de validade” em nossos corpos carnais, na libertação como parar de carregar uma mala. A elegante bengala é o abreviamento do pensamento racional, nas orientações de um psiquiatra: Ouça a mente e não o coração, pois o coração é traiçoeiro – este já lhe enganou e voltará a lhe enganar. A bengala é a retidão e a lisura, numa pessoa elegante, que sabe que os que se curvam, governam, como numa demonstração de respeito a alguma família, na essencial lição do respeito, no modo como o rebelde tem que, antes de transgredir, respeitar a tradição, como na tradição caxiense de eleger uma rainha para uma edição da Festa da Uva, numa menina que tem que ter, antes de tudo, alma de artista, alma de diva, marcando assim uma edição da Festa, inspirando o povo caxiense a se unir em torno da Festa, numa manifestação de Cultura Popular, tendo que tal festividade ser suntuosa, grandiosa, tesão, com os comerciantes decorando tematicamente suas vitrines, nas palavras de uma sábia ex rainha: “Nós, os caxienses, não fomos encontrados numa ‘lata de lixo’, pois temos uma história e uma proveniência”. O senhor e as senhoras aqui estão garbosos e elegantes, no momento de interação social, para o qual a pessoa se arruma, como num café elegante, diferenciado, no qual os frequentadores se arrumam para frequentar, em garbos como na cidade de Buenos Aires, numa urbe tão gigantesca, charmosa, cosmopolita, com seus cafés de glamour parisiense, na magia do tango, a dança tão argentina, ao ponto de gerar a célebre cena de Perfume de Mulher, com o personagem cego de Al Pacino dançando com uma mulher bonita e glamorosa, remetendo à malícia de um certo senhor que conheci, o qual usava perfume feminino, o que é uma bobagem, pois tanto perfumes masculinos quanto femininos são deliciosos. Aqui é na ascensão social dos descendentes de escravos, na revolução que foi uma família negra na Casa Branca, num Obama tão excelente como estadista, derrotando os racistas de plantão, os quais dizem o equivalente ao dizer que dobermann não é cachorro – é cachorro sim. A paisagem é exótica, tropical, exuberante, numa tórrida cidade do Rio de Janeiro, com roupas que não eram confortáveis, roupas de costume europeu, como rapazes cariocas vestindo camisas de flanela no auge da era grunge, nos anos 1990, quando rapazes ostentavam cabeleiras enormes – bons tempos de minha adolescência, quando eu próprio fui cabeludão. Aqui é a prova de que elegância não tem raça, pois elegância é universal, no caminho da autoestima, como no ato luxuoso de se perfumar, inebriando as pessoas com tal fragrância fina, no gigantesco mercado mundial de perfumaria, com celebridades lançando suas fragrâncias, no modo como os perfumes remetem a Tao, o essencial, o limpo, como num vão livre no qual crianças andam de bicicleta, fazendo de tal vazio o ponto crucial de dignidade e serventia, como numa mesinha de centro em uma sala de estar – tal móvel tem que estar livre para o uso do cotidiano, pois uma mesinha repleta de enfeites perde tal utilidade, na máxima de que menos é mais, pois a sensualidade reside exatamente nos espaços vazios, os quais exercem uma forma de poder gravitacional irresistível, ao contrário das casas de acumuladores compulsivos, cheias de objetos inúteis e insalubres, no caminho oposto de Tao; no equivalente a não tomar banho. A bengala é tal poder, em prédios altos, pontiagudos, fálicos, no homem rico e poderoso seduzindo mulheres, como na Carrie de Sex and the City, apaixonada por um homem rico e poderoso, num homem que faz uma mulher se sentir uma rainha, erguendo a mulher a um patamar mais elevado, no jogo de sedução entre chic e rico, os quais não são sinônimos, pois o chic está na atitude, e não na carteira. Aqui é como na ascensão da classe burguesa pós Revolução Francesa, como nas menininhas burguesas de Renoir.

 


Acima, Uma família de caribenhos nativos. Aqui é o estágio primitivo pré escrita, pré civilização, como no costume selvagem de canibalismo, algo MUITO aquém do caminho de depuração espiritual, na crença de pessoas de que a Humanidade, num passado longínquo, foi visitada por raças alienígenas que nos ensinaram diretrizes civilizatórias, algo não tão difícil de se acreditar, pois se um dia o Ser Humano pisar em Marte, nós, da Terra, seremos os alienígenas. Apesar de aqui a tradição ser mantida por meio oral, sem escrita, os artefatos e ornamentos são um avanço, na incapacidade dos macacos em produzir arte e artesanato, como pinturas em cerâmicas, no poder transformador das mãos de um artista plástico, associando objetos dissociados e criando algo novo, em gênios que tanto marcam a trajetória humana, como Michelangelo, numa depuração civilizatória que nos deixa pasmos até hoje, no poder de um grande artista em fazer que as pessoas “babem” de admiração, como em filme de grande sucesso e comoção, no eterno exemplo de Titanic, na luta entre sensibilidade e preconceito, havendo numa joia de Rose um fardo, um peso, no modo como pode ser miserável a vida de uma pessoa rica, como num ganhador da loteria, o qual, infeliz, é considerado feliz na Terra. Aqui temos as moradas dos indígenas, feitas de palha, na capacidade humana de construção, em sonhos ambiciosos de Engenharia, no modo como os prédios da Dimensão Metafísica são tão depurados, feitos por arquitetos felizes, num caminho de tanta depuração e aperfeiçoamento, na prova de um talento – você não tem que se mostrar; você tem que mostrar talento. É como numa pessoa de grande condicionamento físico, mas uma pessoa obtusa, que nada mais faz do que puxar ferro numa academia, tomando aqui o exemplo de Gabriel Medina, o qual pega uma prancha, entra no mar e mostra seu talento, fazendo de seu corpo consequência e não causa. Aqui é a inevitabilidade do labor, com as mulheres cuidando das crianças e os homens saindo para caçar e pescar, com a incumbência sisuda de trazer o alimento para casa, na responsabilidade de um pai de família, o qual se esforça para nada deixar faltar dentro de casa, como uma certa pessoa que conheço, a qual, ao colocar no Mundo duas filhas, aprendeu NA MARRA a ter juízo e responsabilidade, na sabedoria popular: “A dor ensina a gemer”. Os adornos de penas são a beleza, como num colorido baile de carnaval, no momento de interação social, como numa missa dominical, na qual as moças flertam com os moços, a salvo casos de homossexualidade, é claro, no modo como faz pouco tempo que a Psiquiatria parou de considerar homossexualidade uma doença, levando um tempo até o Senso Comum absorver tal noção científica, como parar de considerar o Alcoolismo uma perversidade e um desvio de conduta moral. Aqui temos o elo perdido entre tribo e civilização, como no totem negro de 2001, na universalidade civilizatória, com celulares cada vez menos espessos, na democratização das tecnologias, tornando comum o acesso a tal tecnologia, na revolução da Internet – quem está offline, não vive no Mundo real, como na febre das redes sociais, fazendo com que o digital faça metáfora com a afinidade espiritual, a qual nada de física tem. Os seios fartos das mulheres lactantes são a fartura, assegurando o leite das crianças, como numa mesa farta de galeteria, na qual comemos como reis, remetendo a um caso divertido envolvendo uma mulher italiana, a qual, ao ir a uma galeteria caxiense, ficou pasma com tanta fartura “orgiástica”. As crianças aqui são o futuro, na missão de educar e instruir, colocando valores na mente da criança, numa enorme responsabilidade de adulto, ensinando o discernimento de Tao, a virtude que serve ao Mundo, no caminho da dignidade, como numa Susan Boyle revelando seu talento num reality show de talentos vocais, na revelação da beleza interior – de que adianta eu ser belo por fora e ser um incompetente? Aqui é o modo como numa tribo todos são da mesma família, com um só sobrenome. Unidade.

 


Acima, Uma garota florista e duas mulheres de cor livres. As modas vão mudando e o novo sempre vem, em senhoras idosas desagradadas com as modas ousadas da juventude, no modo como é importante a pessoa se manter jovial, como Leonardo da Vinci, o qual se manteve jovem e brincalhão até o fim da vida, morrendo longevo. As flores na bandeja são a feminilidade e a força da natureza, nas belezas naturais do Caribe, a terra que tanto seduziu Agostino Brunias, como em minha memória pelas ilhas Bímini, mergulhando nas águas claras de tal praia. As moças aqui sofrem com o calor tropical, vestindo roupas europeias para dias frios, como no antigo Rio de Janeiro, no qual foi imposta uma lei que proibia homens de caminhar sem camisa pela cidade tórrida, resultando em movimentos como o Modernismo, no momento em que o Brasil partiu em busca de uma identidade própria, como no desafio do Cinema Brasileiro em adquirir uma identidade própria, evitando “copiar” Hollywood, como uma certa atriz brasileira, um tanto chauvinista, uma pessoa que dizia que um filme é maravilhoso só porque é brasileiro, o que é um disparate, sinto em dizer, mesmo porque há filmes hollywoodianos que são péssimos, resultando no prêmio deboche Framboesa de Ouro, na prova de que ninguém está por cima o tempo todo, como um Tom Hanks, o duas vezes oscarizado que neste ano passou pelo deboche do troféu infame, remetendo ao divertido personagem Coiote, nos desenhos animados em que o Coiote só se ferrava, enfrentando insucesso atrás de insucesso – nada mais humano do que tomar no cu, com o perdão do termo chulo. As moças aqui são o recato, com roupas que cobrem a maior parte do corpo, como numa pudica imagem de Nossa Senhora, toda coberta, só restando o rosto exposto, como na burca islâmica, no patriarcado que impede a mulher de ter participação ativa na Vida em Sociedade, castrando a mulher e oprimindo esta, enfurecendo as feministas, resultando em figuras expressivas do Showbusiness, na prova de que o Feminismo não morreu e que a luta pela igualdade persiste fortemente, na coragem de um intelectual em pensar contra o “vento” patriarcal, o qual faz da mulher uma moeda de troca em casamentos arranjados, num Mundo sem a sensibilidade de perguntar à menina se esta está feliz – é um horror. Os turbantes são como cabeças alongadas, como na coroa imperial de Nefertiti, numa coroa que pesa sobre uma cabeça, numa enorme responsabilidade de impor respeito a uma nação, no desafio de Charles III, o homem poderoso que não tem um pingo de carisma, ficando “anos luz” atrás da famosíssima ex esposa, na sabedoria popular de que na Vida não se pode ter tudo, como numa memória de infância eu tenho, quando uma pessoa me ofereceu um álbum de figurinhas e um bolo de figurinhas, e quando eu disse que queria ambos, ela me disse que não era possível, e que eu tinha que fazer uma escolha, no fato de que a vida é feita de escolhas. Aqui branca e negras gozam do mesmo status social de liberdade, remetendo a uma certa senhora que conheço, a qual vende flores na Rua, numa vida tão dura, numa pessoa que vive com o mínimo de conforto, nos abismos sociais que se dissolvem com o Desencarne, no momento da urna democrática em que somos todos iguais perante Tao, o Pai de todos, fazendo de nós príncipes extremamente especiais, num Pai que quer o MELHOR para nós, como na revelação ao fim de O Código da Vinci, no qual uma mulher descobre pertencer à família de Jesus Cristo, numa revelação, como num dia amanhecendo e mostrando que somos todos irmãos, no costume do amado Chico Xavier em chamar as pessoas de “irmão” e “irmã”, num homem tão humilde, que se dizia apenas um “carteiro” – que é humilde vai longe. Ao fundo no quadro, num mínimo detalhe, vemos um negro sem camisa trabalhando, numa vida tão árdua, na humildade de uma Gisele, a qual sabe que não pode parar de trabalhar, numa pessoa com estrutura psíquica forte, não deixando o sucesso subir à cabeça.

 


Acima, Uma mãe com seu filho e um pônei. O pônei e o cachorrinho são o afeto, no animal adorando o dono, numa amiga minha, solteira com dois cães, num companheiro fiel, que demonstra total amor pelo dono. O pônei, menor do que o cavalo, é o costume carinhoso de chamar as pessoas pelo diminutivo, tipo “Danielzinho” ou “Lucianazinha”, como na saudosa Zila, rainha da Festa da Uva de 1958, sendo chamada de “rainhazinha” pelas pessoas da comunidade, no termo italiano “regineta.”, na capacidade de uma menina em inspirar a sociedade em torno da Festa, num momento comunitário em que cada um se sente um pouco dono da Festa. A escada ao fundo é a evolução, passo a passo, num trabalho paciente de formiguinha, indo aos poucos, “comendo pelas bordas”, por assim, dizer, como no espiral de um disco de vinil, aproximando-se vagarosamente do centro, nas palavras sábias de uma pessoa a mim: “Não espere ir de zero a cem num piscar de olhos”. A mulher está elegantíssima, e o quadro tem um certo charme aristocrático, num esporte de elite, na elegância aristocrática do cavalo, no caso aqui o pônei, na recomendação taoista: “Cavalgar pelos campos é bom e excitante, mas vai enlouquecer você se você cavalar demais”, ou seja, tudo o que é demais, enjoa, como dinheiro, por exemplo, no caminho budista do caminho do meio – nem muito pobre, nem muito rico. O cachorrinho aqui é um humilde papel coadjuvante, como num livro infantil escrito por Madonna, a qual se considera, no livro, um ratinho que assiste às cenas do Mundo, algo curioso para uma artista que é para lá de estelar, nada tendo de ratinho anônimo. O pônei é a domesticação e a disciplina, num aluno aplicado, enchendo o professor de orgulho, no modo como a competitividade da Vida em Sociedade já vai se mostrando nos primeiros anos de vida escolar, com os alunos competindo para ver quem brilha mais nas notas, fazendo do aluno aplicado um exemplo a ser seguido pelos não tão aplicados, como no personagem engomado em A Escolinha do Professor Raimundo, como uma colega que tive na faculdade, a qual só tirava notas altas, sendo exceção numa turma de alunos não tão brilhantes, no modo como o mestre Tatata Pimentel chamava de “elite” os alunos excepcionais. A mulher aqui é a responsabilidade, tendo que tomar conta de uma criança, num enorme encargo. Aqui é na ascensão do negro na sociedade, gerando famílias nobres e ricas, negras, com negros com alto grau de instrução. O branco aqui é a pureza, na cor dos uniformes hospitalares, numa farda impecável de chef, como um senhor que hoje mesmo provou que eu o subestimava; um senhor que acabou se tornando chef; um senhor cuja inteligência eu ignorava e desrespeitava, ou seja, nunca devemos subestimar as pessoas, como uma discreta Kamala Harris, a qual, em seu papel coadjuvante, pode se tornar a primeira mulher presidente de um país que nunca foi governado por mulheres, sendo primeira dama o máximo patamar ao qual uma mulher americana pode chegar. Aqui é a prova de que garbo e elegância não têm raça ou cor, como na linhagem dos faraós, os quais não eram loiros de olhos azuis. A mulher está arrumada para uma ocasião especial, como num chá de damas, nos quais as mulheres competem discretamente para ver qual é a mais linda festa, numa mulher que começa a se divertir já no “ritual” de arrumação, como uma prima que tenho, a qual ama ficar horas se maquiando na frente de um espelho, numa mulher bem feminina, divertindo-se com salto alto, remetendo a mulheres batendo perna de salto alto em Gramado – salto alto não foi feito para bater perna, minha amiga. O pônei espera comportadamente, paciente, domado, no modo como a disciplina no colégio exige tal bom comportamento, no temido gabinete do diretor. Aqui, o cãozinho parece ter ciúmes, e quer ser abraçado e contemplado, como num cônjuge ciumento, possessivo, como uma pessoa que conheço, a qual tem um amor doente, fixado, obsessivo e possessivo por outra pessoa, num amor que tem que passar por desapego, pois somos todos irmãos, iguais filhos de Tao, o Rei Nosso.

 


Acima, Vista do rio Rouseau. A competência de Brunias em retratar a Natureza. Aqui é um jardim de delícias, agradável, como num parque em Gramado, num momento de domingo e de descanso, numa pessoa que sabe que não pode ficar o domingo inteiro na frente de uma televisão. O rio é o templo fluindo, com os processos se desdobrando, levando um tempo, como as cidades estão em permanente processo de transformação, como Porto Alegre já não se parece com a urbe que eu conheci nos anos 1990. O rio é a purificação, como na entrada da floresta mística de Lórien, de Tolkien, um córrego de água que, apesar de gelada, purifica, como num remédio amargo que surte doces efeitos, como numa internação psiquiátrica, dura, humilhante, difícil, numa internação que acaba por se tornar algo maravilhoso e benéfico, no fato de que a arrogância precede a queda, como numa Britney Spears em surto, indo compulsoriamente a uma instituição psiquiátrica, sentindo-se humilhada. Aqui é como um parque num domingo, ou um shopping de corredores lotados, fazendo do shopping tal paradigma de consumo e lazer, numa febre que nasceu nos anos 1980 nos EUA e que ganhou o Mundo, remetendo a um certo senhor, o qual dizia que os shoppings são os templos do consumismo, no modo como concordo que o consumismo não é positivo, numa Sociedade de Consumo que inventa necessidades as quais acabam se tornando mentiras e inconsistências, como no marketing ardiloso do Hard Rock Café, no qual o cliente só pode acessar o restaurante se passar uma tentadora loja de produtos de merchandising – coisa de americano. A paisagem é majestosa, no modo como os campos e florestas vestem roupas maravilhosas, num Ser Humano que ignora isto, contemplando os palácios e ignorando a Natureza. Aqui são as extensões majestosas de um reino, nesse caminho difícil da Paz, num Ser Humano sempre aguerrido, como na Rússia querendo anexar a pobre Ucrânia, num conflito mundialmente condenado; num Putin se revelando um Napoleão insano, espalhando terror e devastação; num rei que nunca está contente dentro do próprio reino, ferindo o mandamento “Não cobiçarás a esposa do próximo”. Céu e Terra aqui fazem amor cosmogônico e produzem o Mundo, como num cartão postal, algo que, hoje em dia, em plena era digital, caiu em absoluto desuso, neste galgar frenético de tecnologias, causando perplexidade a pessoas como eu, que nasceram nos anos 1970, na época do telefone de disco. Aqui é como numa região serrana, bucólica, como na estrada gaúcha Rota do Sol, com os vastos Campos de Cima da Serra, verdes como tapetes gigantescos, com matas nativas de araucárias, a árvore que gera o pinhão, numa estrada que, ao descer da Serra para acessar o Litoral Gaúcho, desce cânions de rico recorte geológico – que estrada! Aqui é um rei contemplando seu próprio reino, amando tal terra, na obsessão de um Henrique VIII em produzir um herdeiro varão, num príncipe herdeiro que acabou morrendo jovem, com pouco tempo de reinado. Aqui são como lavadeiras antigas num rio, no labor árduo tão romantizado por Brunias, em ventos de renovação como a Lei Áurea da princesa Isabel, a qual teria sido uma grande rainha se não fosse cassada pelo golpe que foi a Proclamação da República, ou no movimento que destituiu Dilma, nos jogos de poder, fazendo de Brasília uma cidade que não me atrai muito, sem querer eu aqui ser blasé. Aqui é a magia do ar livre, da saúde, num espírito atlético, praticando tais esportes ao ar livre, nas palavras de um pai ou de mãe a um filho: “Quero te ver na Rua praticando esporte!”, no fato de que há pessoas que não possuem perfil atlético, sinto em dizer – cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, parafraseando Caetano. Aqui é como o campo exerce tal fascínio sobre pessoas da cidade, e viceversa, com pessoas do campo fascinadas pela cidade, num Ser Humano que nunca está contente, remetendo, aqui, novamente, ao exemplo do déspota Putin, ditador ao ponto de proibir na Rússia o filme biografia de Elton John, num gostinho da censura brasileira em tempos de ditadura.

 

Referências bibliográficas:

 

Agostino Brunias. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 9 ago. 2023.

Agostino Brunias. Disponível em: <www.masp.org.br/acervo>. Acesso em: 9 ago. 2023.

Agostino Brunias. Disponível em: <www.tate.org.uk>. Acesso em: 9 ago. 2023.

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