quarta-feira, 1 de novembro de 2023

A América de Andrea (Parte 3 de 3)

 

 

Falo pela última vez sobre a pintora americana Andrea Kowch. Os textos e análises semióticas a seguir são inteiramente meus. Boa leitura!

 


Acima, Busca. O cachorro é a fidelidade, a lealdade, como no nome de um certo CGT: Rincão da Lealdade. O cachorro está se divertindo no mar. O cão é tal princípio masculino, frente à mulher, a qual segura um peixe, na esperteza do peixe, fugidio, deslizando e escapando de predadores, como numa pessoa esperta, que sabe que podem haver perigos, como uma certa popstar, a qual, já ouvi dizer, é mais esperta do que inteligente, esquivando-se. É como nos peixes crus vivos devorados pelo Gollum de Tolkien, no modo como o peixe cru japonês ganhou o Mundo, na universalidade da gastronomia, como na universalidade da pizza, de origem italiana, no modo como a cozinha italiana é tão rica, num povo que come muito bem, ao contrário dos americanos, entre os quais é abundante a obesidade mórbida, na luta de um Jamie Oliver em reeducar alimentarmente as crianças inglesas. O peixe ainda se debate, lutando pela Vida, lutando para sobreviver, no modo como a Vida vai exigindo que sobrevivamos e continuemos a tocar a Vida para frente. O mar aqui é a intempérie, a vicissitude, a dureza da Vida, como num rigoroso professor, o qual exige do aluno, como uma dura professora de Filosofia que tive, à qual hoje sou grato, numa profe que me apresentou a Santo Agostinho, um dos pilares da doutrina espírita, no conceito de que somos feitos de carne finita e de alma infinita, no modo vitorioso como a mente sobrevive à morte do corpo; na noção de que somos todos prisioneiros, numa jaula de carne e ossos; na ideia acalentadora de que o dia de soltura chegará, sendo só questão de tempo; no modo como todos precisamos fazer algo de nobre e produtivo de nossos dias nesta prisão bela que é a Terra, com riquezas naturais que são cópia fiel do Éden, o mundo da beleza e da eternidade; num mundo em que tudo é saúde e bondade, na gloriosa sensação de estarmos entre amigos. A mulher aqui é plácida, calma, estável, no termo em inglês “Keep calm”, ou seja, mantenha-se calmo, no modo como a racionalidade traz estabilidade ao coração, protegendo este, pois quando agimos ouvindo somente o coração, este nos trai e nos engana, no termo “coração traiçoeiro”, na libertação que é ouvir à mente, na metáfora da águia livre nos céus, nas figuras dos super-heróis, blindados, racionais, frios em beleza matemática, na fria beleza lógica dos números, e Tao é isto, Deus é isto, a infinidade dos números, a vastíssima infinitude que é o presente da Vida Eterna, na noção incrível, incabível de que jamais findaremos, como num presente nobre, feito de material nobre, que dura por muito tempo – tudo gira em torno da Dimensão Metafísica, o Lar Supremo que a todos nós pertence. O céu cinzento é a dúvida, na junção entre luz e escuridão, no desafio da Fé, pois a imortalidade da alma exige fé de nós, em algo que nunca nos é garantido, mas é o caminho da lógica espírita: Nada teria sentido se findássemos na morte do corpo físico, na recomendação taoista: Se seu corpo morrer, não tem problema, na universalidade da alma humana, fazendo das diferenças culturais uma ilusão, pois o Ser Humano é o mesmo ao redor do globo. Aqui não é uma praia paradisíaca do Nordeste Brasileiro, mas uma praia feia, por assim dizer, cheia de imperfeições e durezas, fria, exigindo vestir um agasalho, como numa praia fora da época de temporada de Verão, como um tio meu, o qual disse que a praia, fora de veraneio, é deprimente, e eu acredito, numa sensação de abandono e desolação. A moça aqui é o recato, com uma roupa que pudica, que a cobre quase por completo, como na burca muçulmana, uma das provas de como o Patriarcado reprime a mulher, com mulheres que simplesmente não podem revelar sua face em público, no modo como tal Patriarcado castra a sexualidade feminina, num pai dizendo ao nascer da própria filha: “Esta eu vou guardar debaixo de sete chaves e entregar pura e casta ao marido na Igreja!”, na questão da galinha e do garanhão: Homem pode tudo; mulher pode nada – é um horror. A moça aqui é a figura provedora de mãe, amamentando, dando o peixe ao cachorro, o qual é a necessidade básica da fome, num Brasil tão pobre, com vários milhões de cidadãos que passam fome.

 


Acima, Capa. Andrea ama estas cenas esvoaçantes, caóticas, instáveis, na Natureza mostrando a sua força em contextos adversos, difíceis, nas dificuldades naturais da Vida. A moça ao violino é a Arte, a opus de um artista, numa ironia de metalinguagem aqui: arte falando de arte, como na ironia de uma atriz interpretando atriz, como na deusa Goldie Hawn, muito à vontade em seu papel na supercomédia O Clube das Desquitadas. Os animais aqui se refestelam com a comida na mesa, na recomendação taoista: Não seja ganancioso em relação a comida, numa recomendação católica: Alimente os que têm fome, como num cordial dono de restaurante de buffet a quilo ao meio dia, dando comida de graça a pobres coitados que mal têm algo no estômago. As velas apagadas pelo vento têm algo de agourento, como numa casa escura e assombrada, suja, pouco acolhedora, cheia de assombrações, com teias de aranha, ao contrário da casa de minha madrinha, na qual tudo é impecavelmente limpo, numa pessoa que tem a grande paciência de passar diariamente uma vassoura na casa, uma paciência que eu, sinto em dizer, não tenho, apesar de minha casa não ser necessariamente imunda. A renda sobre a mesa é o paciente trabalho de artesão, como na teia da aranha, perfeita, pronta para capturar algum inseto distraído, nas leis da Natureza, imperando a básica necessidade de alimentação, como num restaurante chic, no qual temos tal básica necessidade de alimentação, fazendo da Gastronomia uma arte feita para ser destruída, no modo como fico entretido com programas de Culinária na TV. Um cachorro esfomeado sobe na mesa para comer, talvez um bicho pouco adestrado, indisciplinado, ao contrário de treinadíssimos cachorros em aeroportos, adestrados para detectar drogas em bagagens, num bicho de um faro tão aguçado, numa ferramenta indispensável aos policiais federais. A cena aqui é caótica, como no quadro escuro do tríptico Jardim das Delícias, de Bosch, na insana psicose, como no surto em O Iluminado, nos labirintos da mente humana, em mazelas que se revelam em quaisquer contextos sociais. O capim aqui farfalha, no delicioso ruído de farfalhar de folhas numa brisa noturna, num eterno processo de depuração e crescimento. O capim é como um grande carpete, no modo como os campos vestem tal tapete verde maravilhoso, como numa gigantesca sala de estar, limpa, perfumada, confortável, na sensação de se estar em casa de pés descalços, sentindo-se tão à vontade, na máxima de O Mágico de Oz: “Não existe lugar como o lar!”. Os cabelos esvoaçantes são o caos e a indisciplina, talvez num aluno que não está levando o curso muito a sério, na experiência dolorosa que tive ao repetir de ano no Ensino Médio, na canção de Simone: Começar de novo, no modo como a Vida vai nos ensinando duras lições de humildade, fazendo de nós pessoas melhores, mais sábias. A casa ao fundo tem um certo aspecto de abandono e descuido, com as janelas escancaradas e as cortinas esvoaçantes, talvez num lar que se colapsou, talvez num casamento que não deu muito certo, numa desavença, com cônjuges que passaram a querer coisas diferentes um do outro. Aqui temos uma resistência, uma luta, como manter uma casa limpa e organizada, com compras sendo feitas e comida sendo preparada, como uma pessoa que conheço, a qual, infelizmente, abandonou a carreira para se tornar mãe, esposa e dona de casa, nas sábias palavras de uma amiga minha psicóloga: “É tão desinteressante uma pessoa que é somente dona de casa!”, pois ser apenas dona de casa não vai dizer a você quem você é, na questão humana de se buscar uma identidade. Aqui parecem ser trigêmeas, como numa famosa edição da revista Playboy brasileira, com trigêmeas posando nuas, numa revista cujos ensaios de nudez eram de bom gosto, no erótico sem ser vulgar. A caneca de chá aqui está esfriando, num momento que está passando, como na fábula da lebre e da tartaruga, sendo esta subestimada, vencendo a corrida, como num jogador que entra em campo “de salto alto”, achando que a vitória está garantida.

 


Acima, Chama. O incêndio ao longe é a destruição, o caos, remetendo a um infeliz acontecimento de uma família amiga minha, cuja casa de praia incendiou, não sobrando algo do sinistro – sequer um garfo ou uma colher. O cachorro assiste a tudo com muita atenção, como se estivesse preocupado com o sinistro. O sinistro remete às cruéis execuções de pessoas queimadas vivas em fogueiras, na sanguinolenta Mary Tudor, dizendo agir nome de Jesus, mas fazendo algo que Ele jamais faria, nesta incansável inclinação humana para a crueldade, na destruição e na devastação das guerras, as quais deixam rastros malévolos de privação e fome, no modo como não me canso de dizer: Nada mais humano do que ser desumano. A moça aqui está alheia ao acontecimento, pouco se importando, no ditado popular: Pimenta nos olhos dos outros é colírio. Um passador busca domar e domesticar os cabelos revoltos, na tentativa de impor ordem ao caos, numa mulher arrumada, com autoestima, passando muito tempo perante um espelho se arrumando, como numa mulher se preparando para um acontecimento social, no modo como já ouvi dizer: A mulher não se arruma para seu homem, mas para as outras mulheres, no modo como a diversão, para a mulher, começa no “ritual” de arrumação, ao contrário da mulher homossexual, a qual acha um saco se maquiar e colocar salto alto, vendo isto mais como imposições coais do que como prazer – cada um com suas identificações, como neste grande talento estadista de Elizabeth I, a qual levava extremamente a sério o se arrumar na hora de vir a público, como numa Evita Perón, sempre arrumada, sabendo que tal estampa ganharia a confiança do proletariado, o qual idolatrava tal atriz, numa Eva que se tornou controversa, dividindo a Argentina em duas, indo contra a recomendação do sábio e grande Obama: Um presidente tem que governar para todos. A mesa aqui é farta, num belo café da manhã, no modo como me sinto um rei em cafés da manhã de hotéis, com aquele olor de café no refeitório, com aquele Buffet colorido e diversificado, num breakfast digno de ricos em novelas da Globo. Os ovos são o milagre da fertilidade, da Vida que vem ao Mundo, na galinha provedora, numa demanda de confeitaria, com muitos e muitos ovos sendo usados todos os dias, na magia de um ninho de Páscoa, com ovos multicoloridos, na diversão da criança em procurar pela casa o ninho escondido, numa magia manhã colorida de Domingo de Páscoa, no milagre da ressurreição de Jesus, o qual desencarnou e voltou ao Reino dos Céus, ao qual todos pertencemos, pois em nossas veias corre o sacrossanto sangue estelar, pois somos obra do Grande Arquiteto, no modo como Zeus concebeu a Mulher Maravilha, fazendo de nós frutos de Imaculada Conceição, havendo na imagem de Nossa Senhora a intenção de nos fazer entender isto, nas infelizes imagens desrespeitosas de pessoas quebrando imagens de Maria, na máxima de Osho: O rebelde tem que, antes de tudo, respeitar a tradição. As alvas borboletas são tal delicadeza, na explosão de Vida na Primavera, na explosão renascentista que sepultou para sempre a Arte Gótica, em sopros de renovação como a Arte Modernista Brasileira, fazendo da Arte tal tecido maleável, dinâmico, em transformação, no modo dialético no qual tudo é processo, na capacidade de certos artistas em causar comoções, como certas telenovelas arrebatam o Brasil inteiro, como no áureo momento de Que rei sou eu?, num primor de novela: Elenco, argumento, cenários e figurinos, dando-me “pena” de quem não testemunhou tal momento na Teledramaturgia Brasileira. O fogo arde, como nos cabelos ruivos da Rainha Virgem, no modo agressivo humano em impor a ordem por meio da violência, em guerras insanas, as quais não precisariam ter acontecido, na Paz sendo tão subestimada, pois no Plano Superior tudo é Paz, visto que, sem Paz, a Vida é um inferno, no modo como sofre o sociopata imoral, arrastando-se pelas ruas escuras e imundas do Umbral, a dimensão para os que não veem além da Dimensão Material.

 


Acima, Cortesãs. Num mar de mediocridades, vemos algo excepcional, como numa turma num colégio, com o aluno estudioso, o queridinho do professor. A ave excepcional está controlada por uma corda, numa garantia, como algemar o suspeito de um crime. A moça veste um traje exótico e ousado, no brilho do mundo da Moda, um mundo o qual, já ouvi dizer, tem um brilho bem superficial, pois o sexy reside na inteligência, e não no corpo físico, como na decepção de uma grande entrevistadora brasileira ao entrevistar uma artista famosa, a qual não se mostrou uma suma inteligência, no modo como pode ser tão desinteressante uma pessoa que nada mais faz do que malhar, sem brilhar em alguma atividade produtiva, só tendo os próprios músculos para mostrar. O pavão aqui se exibe para cortejar uma ave do sexo oposto, numa pessoa para a qual a aparência é extremamente importante, como num filme do genial Woody Allen, num lindo casal, cuja mulher diz: “Sou vazia, obtusa e nada falo de interessante”, com o homem dizendo: “Eu sou como ela”, no modo como o mundo real é o Metafísico, com tudo girando pelo mental, nunca pelo físico. A moça aqui é tal pavão de exuberância, numa pessoa com estilo e critérios, sabendo que, quando se tem estilo, pode-se vestir em lojas baratas em, ainda assim, estar extremamente bem, quando que uma pessoa sem estilo tem que ser uma escrava de grifes pretensiosas, no abismo que existe entre chic e rico, na revolução de Chanel, com as bijuterias, pois o que interessa não é o preço do adorno, mas o efeito. Andrea gosta dessas cenas cinzentas, de dúvida, como no Castelo de Grayskull de He-Man, sendo cinzento porque junta luz com escuridão, branco com preto, numa guerra entre Bem e Mal, num castelo que pode ser tanto conquistado pelo herói quanto pelo vilão, na noção de que apenas o Bem é válido, uma lição que o Ser Humano tem dificuldade em entender, com guerras cruéis como a da Ucrânia e a de Israel, tudo por causa da sede humana por poder, sempre poder, no Anel de Tolkien corrompendo homens. Aqui temos um vasto criadouro, com aves tão similares, medíocres, numa busca por identidade, em talentos especiais como uma Gisele, destacando-se num mundo tão competitivo, sobrevivendo, por assim dizer, passando por inúmeros testes de câmera, numa Gisele que, apesar de ser a top do Mundo e ditar moda capilar no globo inteiro, fracassou como atriz – na vida não se pode ter tudo, Gisele querida, como Charles III, ocupando o trono mais poderoso da Europa e reinando sobre um terço da Humanidade, mas num Charles que não tem um único pingo de carisma, ao contrário da ultracarismática Diana, a qual perdeu o título oficial de princesa da Inglaterra. Essas casas de Andrea sempre têm um tom melancólico de abandono, numa desolação, como num amor quebrado, numa pessoa apaixonada que muito se machucou com uma separação, como um senhor que conheço, o qual desabou por completo ao se divorciar, começando a beber e ter que baixar numa clínica psiquiátrica, no modo como uma mulher pode devastar a vida de um homem, sem eu aqui querer ser misógino. Quando digo que algo é belo é porque conheço o oposto, que é feio, e neste mar de mediocridade, de pessoas sem brilho, surge uma exceção, como num filme, o qual tem atores em papéis mínimos e atores protagonistas, e se aqui temos uma exceção, é porque conhecemos o oposto, que é medíocre. O pavão é como no conto do Patinho Feio, num cisne que acreditava ser pato, sentindo-se feio, num processo cognitivo, num cisne que, depois de vagar melancolicamente por um lago escuro, descobriu-se cisne, ou seja, ele não se tornou; ele sempre o foi. É o caminho de identidade da pessoa, como num jovem que decide ser padre para, assim, saber qual é o seu lugar no Mundo, como na luta de uma anônima dona de casa, sentindo-se tão sem identidade, sem personalidade, num trabalho anônimo, comum. Aqui temos uma paisagem invernal, com árvores nuas e escuras, num dia desolador, longe da ensolarada Califórnia, nuns EUA acometidos por invernos tão rigorosos. O pavão luxuriante aqui é uma regência, reinando acima de pessoas comuns.

 


Acima, Perseguindo a Lua. A Lua é tal magia noturna, num símbolo de magia e bruxaria, no mito do lobisomem, em clipes tão extraordinários como o em que Michael Jackson vira um ser horrível, num ícone de masculinidade, como no conto do Lobo e de Chapeuzinho Vermelho, no perfume feminino Chanel número cinco seduzindo o Yang agressivo, num jogo de sedução entre masculino e feminino. A moça aqui encara o espectador, como se soubesse que está sendo observada, como no enigma de Monalisa, a obra de Arte que foge de qualquer tentativa de interpretação, na característica da grande obra de Arte, que é render inúmeras interpretações, neste mistério que é a Arte, pois esta é algo tão humano, tão universal, no momento em que o Homo sapiens passou a fazer cerâmicas com adornos pictóricos, superando os macacos, os quais não produzem Arte. Os pássaros ao fundo são a coletividade, nas regras da Vida em Sociedade, como tomar banho, cortar as unhas e ser alguém polido, havendo sistemas naturais de punição aos que desrespeitam tal Sociedade, havendo então os presídios em dura punição, no modo como, já ouvi dizer, o Presídio Central de Porto Alegre é uma sucursal do Inferno, com cem por cento dos detentos sofrendo de verminose – é um horror. Vemos uma plantação de trigo, que é a fertilidade da mente do artista, em ideias sendo concebidas, numa mente tão fértil e produtiva, no milagre da Vida, em artistas que estabelecem um estilo e uma identidade, como num famosíssimo Andy Warhol, recebendo inúmeras encomendas, num ícone sagrado da Pop Arte, o estilo que mesclou Arte com Mercado, com Cultura de Massa, na dureza de uma excelente professora que tive na faculdade dizendo: “Propaganda não é Arte; é técnica de venda”. E, realmente, não me apraz fazer análises semióticas de peças de Propaganda, no modo como esta tem a finalidade de suscitar o desejo que já existe dentro do consumidor, quando que a Arte rejeita tal apelo de consumo, como na lendária dupla de artistas Christo e Jeanne-Claude, os quais não aceitavam doações de governos. Então vem a Arte da Música, num popstar que, apesar de vender ao redor do Mundo, não pode ficar obcecado em vender, vender e vender, pois isto causaria cinismo a tal artista, mal se importando com a função da Arte, que é atingir o nervo da Vida, num artista que não pode levar tão a sério não obter sucesso comercial com algum disco, pois a pessoa acorda no dia seguinte e a Vida continua. A mulher aqui está passiva, e é conduzida pelo homem, como na regra de reunião dançante: É sempre o rapaz quem tira a moça para dançar, sendo malvista a moça que tira o rapaz para dançar, com esta moça correndo o risco de ser considerada vulgar, galinha e desvirtuosa. O carro aqui é um charme, vermelho, conversível, como numa perigosa cena que vi, com uma menininha de barriga para fora de um teto solar de um carro em movimento, num pai um tanto irresponsável. Ao fundo vemos um celeiro, armazenando riquezas alimentares, num país farto como os EUA, sem os problemas brasileiros de fome, como num país como a China, com hábitos alimentares que buscam evitar o colapso de fornecimento de alimentos, num país asiático que serve carne de cachorro e de aranhas! A cena aqui é rubra, ardente e vibrante, como num poente em Los Angeles, anunciando um dia seguinte que será ensolarado, numa cidade glamorosa que pode ser tanto céu quanto inferno, nos versos da canção do Red Hot Chilly Peppers: “A Cidade dos Anjos, sozinha como eu. E juntos choramos!”, no discernimento de que a Vida é dura em qualquer lugar, evitando a ilusão de que minha vida mudará radicalmente só se eu me mudar de moradia. O homem é a responsabilidade da conduta, num juízo, no modo como não é bom ser jovem demais, pois a pessoa muito jovem não tem responsabilidade, vivendo perigosamente, ao sabor do vento. A moça aqui está aprumada, numa autoestima, numa pessoa que sabe que não pode parar de se arrumar. A maçaneta da porta é uma saída e uma opção, uma prerrogativa.

 


Acima, título não informado na referência bibliográfica. Os homens ao fundo são o labor, o esforço, numa mulher esfregando energicamente um chão, encarando a dureza do dia, nas palavras de uma mãe aos filhos de manhã cedo: Vamos encarar a Vida! Uma árvore arde ao fundo, num desejo ardente, numa ambição, num sonho de artista em alcançar fama e prestígio, com tantos e tantos artistas que não obtêm tal fama, no caminho melancólico da frustração. O milharal é o labor a ser encarado, como num amigo meu, o qual se frustrou ao abrir uma cervejaria artesanal, dizendo que a relação custo/benefício não compensa tal negócio. A moça aqui sovando a massa é tal esforço de labor, na responsabilidade de fazer o pão da casa, alimentando filhos, como uma senhora que conheço, a qual, todo santo dia, tem que imaginar algo de jantar para alimentar cinco bocas adultas – ela, o marido e os filhos adolescentes. Aqui é no labor de um programa televisivo de Culinária, mostrando um passo a passo, em ícones internacionais como Nigella Lawson e Jamie Oliver, em talentos que nos deixam com água na boca, trazendo temperos vibrantes para uma Inglaterra tão fria e cinzenta, no título da girlband inglesa Spice Girls, ou seja, garotas com tempero. Aqui é uma cozinha vibrante, cheia de produção, como numa padaria, no delicioso cheiro de pão quente num fim de tarde numa padaria, num alimento tão simples e tão delicioso, no jantar simples, porém maravilhoso, que é vinho com pão, na tradição da Última Ceia, no corpo e no sangue de Cristo, no momento de transubstanciação na missa, numa canção de Adriana Calcagnoto: “Vamos comer Caetano. Degluti-lo. Mastigá-lo”, no ato de se debruçar sobre a opus de alguém, como num biógrafo pesquisando sobre um artista. Nesta cena há um certo caos, e a moça não parece se importar. Um gato derrama leite. O gato é tal elegância, como numa passarela de Moda, numa modelo competente, que sabe pisar em tal passarela, no modo como eu já ouvi dizer: O coração da modelo tem que estar em seus sapatos, num desafio a uma moça em aprender a desfilar, numa Gisele que aprendeu rápido, no caminho da humildade: Se eu quero vencer, tenho que ser humilde para aprender que não sei tudo. A moça aqui está entediada, blasé, e mal se importa com a massa. É como na sensível Tereza de O Quatrilho, uma mulher sensível e sonhadora, que queria ir embora de tal vida agrária para levar uma vida urbana, citadina e glamorosa, apaixonando-se por um homem galanteador, longe do sisudo marido original de Tereza, num filme que deu um trabalho GIGANTESCO para ser produzido, num Fabio Barreto que foi tão respeitado por todos envolvidos com a produção. O gato aqui está feroz, agressivo, sabendo que tem que ter a força para tocar a Vida para sempre. É como uma senhora que conheço, a qual “encheu o saco” de cozinhar almoço todas as manhãs, dizendo querer abandonar tal “vida de Maria”, como numa mulher que ascende à classe média, tendo condições de ter uma faxineira que mantenha a casa limpa. A roupa da moça e a farinha formam um continuum alvo, branco, em tal cor de pureza, como em enfermeiros e médicos, na cor da limpeza, do minimalismo, na questão taoista da limpeza, no modo como a preguiça pode ser tal atitude clean, numa pessoa que se atém ao necessário, nunca ao desnecessário, sabendo que, quando é preciso que se tome ação, faça-se só o que é imprescindível. Esta moça se parece muito com a personagem Dona Florinda, do universo televisivo de Chaves, uma mulher dona de casa, altiva, muito dura em relação ao que a personagem chamava de “gentalha”, sonhando em ir embora da vila para um lugar de classe média, uma mulher eternamente de bobs no cabelo, encarando as árduas tarefas do lar diárias, uma mulher que, apesar de tão dura, derretia-se de amores para o professor Girafalez, o qual sabia “domar” tal mulher dura. Ao fundo, parece que um furacão se aproxima, nuns EUA tão acometidos por tais intempéries climáticas, numa comoção, como num filme estourando ao redor do Mundo, na comoção causada por Titanic, um manifesto contra o cinismo da Indústria do Cinema – quanto menos quero, mais obtenho.

 

Referências bibliográficas:

 

Andrea Kowch. Disponível em: <www.artymag.ir>. Acesso em: 4 out. 2023.

Andrea Kowch. Disponível em: <www.en.wikipedia.org>. Acesso em: 4 out. 2023.

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